Omissões reveladoras
Péricles Capanema
A
senadora Kátia Abreu (PP-TO) preside a Comissão de Relações Exteriores do
Senado. Nessa situação de poder, escreveu sintomático artigo “Diplomacia na
balança” (Estado de S. Paulo, 29.8.2021). Nele, as omissões são mais
importantes que o afirmado, do qual boa parte não passa de generalidades e
acacianismos. Pelos silêncios, é peça eloquente, nas omissões revela muito, são
significativas as ênfases. Posições como a da senadora estão se alastrando nas
mais diferentes esferas, grassam impulsionadas pelo oportunismo.
Pisando em desvio antigo.
É verdade, Kátia Abreu deixou pelo seu atribulado caminho na vida pública boa parte
da credibilidade que um dia possuiu. Todo mundo sabe, infelizmente tem itinerário
de contradições; duas ocasiões chocaram particularmente. Foi presidente prestigiada
da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em boa parte por representar com
energia os interesses dos produtores rurais no Congresso Nacional. Decepção, licenciou-se.
Foi ser ministra do governo do PT, o partido que perseguia os produtores
rurais. Quando deixou o cargo de ministra de Agricultura, João Martins, então presidente
em exercício da CNA declarou que era impossível sua volta ao cargo antigo pois
a senadora “traiu os produtores rurais”. E continuou: “Em vez de optar por ficar do lado do produtor, ela
optou por ficar do lado da presidente. Então ela cortou o cordão umbilical com
os produtores rurais”. Segunda decepção; agora no interior do MDB. Foi expulsa
do partido por unanimidade pelo Conselho de Ética. Motivos, voto contra o
impeachment da presidente Dilma, ter-se colocado contra os projetos de reforma
trabalhista e da previdência, prioritários na administração Michel Temer, além
de criticar o governo. Na prática, a senadora Kátia Abreu nas duas ocasiões procedia
como linha auxiliar do PT. Suas contradições têm um fio coerente: sempre ajudam
os interesses do comunismo, no caso favorecendo o programa do PT; assim, tem
sido fiel companheira de viagem da esquerda, mesmo a mais extremada.
Linha auxiliar do PT. No caso em questão, repete-se sua
coerência na contradição: agora se apresenta como companheira de viagem dos
interesses do comunismo chinês. Vamos ao assunto. A política de aproximação com
a China comunista vem, grosso modo, desde a administração Itamar Franco.
Nenhuma administração a favoreceu tanto como os dois governos Lula e o período Dilma.
É congruente, o petismo odeia os Estados Unidos, sempre quis o Brasil ligado
por numerosos e fortes laços com as ditaduras comunistas ▬ Rússia Soviética,
Cuba, Venezuela, China. O artigo da senadora Katia Abreu, hoje membro do PP
(Centrão), favorece tal impulso. No caso, os objetivos do Partido Comunista
Chinês (PCC).
Orientação da política exterior
brasileira. Começa a
senadora com uma generalidade: “a necessidade de buscar o crescimento econômico
por meio de medidas que acelerem as exportações e atraiam investimento externo,
para assegurar prosperidade ao nosso povo”. Por onde aumentar exportações? Onde
buscar investimentos externos? Estados Unidos? União Europeia? Silêncio. “Hoje
os países asiáticos são o destino mais relevante dos produtos brasileiros”. Ênfase
especial na relação com o Japão, talvez? Nada disso. Com a Coreia do Sul? Silêncio.
A única ênfase existente no artigo aparece logo: “O Brasil compartilha com a
China identidades. Temos imenso potencial para a cooperação”. Silêncio absoluto
sobre a ditadura totalitária chinesa, trabalhando com método, inteligência para
colocar o Brasil em sua área de influência ▬ satélite. Como cooperou com o PT,
a senadora se dispõe igualmente a ser linha auxiliar dos donos do poder em
Pequim. O objetivo maior de seu esforço atual fica claro: fortalecer os laços
com Pequim. A senadora reclama realismo na análise. Aceito. Com realismo, a política
por ela propugnada pavimenta caminho que tem em certo ponto a redução do Brasil
a protetorado inconfessado, mas efetivo da República Popular da China. Do PCC. E
os direitos humanos pisoteados na China? Silêncio eloquente. Protetorado não fala
com voz forte.
Generalidades que ocultam o
principal. “Somos
países em desenvolvimento de dimensões continentais, e ambicionamos um processo
de desenvolvimento inclusivo, que oferece novas perspectivas e oportunidades
aos nossos povos”. O principal não pode ser ignorado. A China é uma potência
expansionista, tem governo de partido único, dirigido tiranicamente pelo
Partido Comunista Chinês. Pretende isolar os Estados Unidos e para tal está
constituindo área de influência na América Latina, dentro da qual, largamente,
já se encontram Cuba e Venezuela. Os investimentos chineses em geral são feitos
no Brasil por estatais chinesas, dirigidas diretamente pelo governo chinês, um
braço do PCC. O fortalecimento dos laços com a China, posta a presente quadra
histórica, nos levará a situação parecida à da Finlândia com a Rússia
soviética. Não estou aqui reivindicando corte de relações com nenhum país. Nem
retaliação, nem nada. Reivindico outra coisa, a fuga da finlandização e para
tal fortalecimento dos laços com países ocidentais; aqui incluo Índia, Japão,
Coreia do Sul e assemelhados. É a opção preferencial pelo avanço da
prosperidade no Brasil. Do contrário teremos retrocessos, enfraquecimento da
soberania e fortalecimento interno de correntes coletivistas e autoritárias.
Sou a favor de outro fortalecimento, o das liberdades naturais.
O padre Antônio Vieira foi jogado na
confusão. O artigo
da senadora Kátia Abreu, reitero, é vazio de fundamentação sólida. Talvez
percebendo o oco dos argumentos, foi buscar estacas no padre Antônio Vieira
(1608-1697), com dito a ele atribuído: “O futuro não se prevê, apenas se constrói
coletivamente”. Santo Deus, pobre padre Antônio Vieira! Mais de três séculos
após sua morte, desenterra-se trecho seu para estaquear medidas que ▬ realismo,
exigiu a senadora ▬ empurrarão o Brasil para a vexaminosa condição de
protetorado inconfessado. Quer saber, vou defender o padre Antônio Vieira. É
falsa a frase. O jesuíta era homem de alto voo, não diria tal obviedade, mais
adequada ao conselheiro Acácio. E assim ficaria muito surpreso se a citação estivesse
correta. Mas não espanta o recurso. Gente da esquerda é useira e vezeira em sua
utilização e parece, constato desolado, a senadora vem aprendendo essa triste
“arte” com seus amigos de caminhada. Se for desmentido, baixarei a cabeça,
agradecido pela necessária correção. Contudo, é óbvio, minhas posições acima continuarão
as mesmas, com a argumentação intocada. Padre Antônio Vieira, rogai pela
independência do Brasil, que o senhor tanto amou.
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