sábado, 23 de julho de 2022

O anestesista multifunção

 

O anestesista multifunção

 

Péricles Capanema

 

Anestesista polivalente. Geraldo Alckmin, médico anestesista, em 2022 escolheu ser político anestesista. No início da vida profissional anestesiava pacientes em geral deitados em macas, padeceriam cirurgias dolorosas, traumáticas e com risco de morte. Subiu de patamar. Busca agora anestesiar todo o eleitorado brasileiro que, espera, encontrará passivo, como seus pacientes de antanho, resignados, deitados em maca. Na chapa petista para a presidência da República, tem o triste papel de diminuir resistências à operação violenta e traumática, retrocesso pavoroso que a nação pode sofrer a partir de outubro próximo. Aqui também há risco de morte, o Brasil pode agonizar como nação cristã, ligada aos valores ocidentais. E se alinhar a Cuba, Venezuela, China, Rússia.

 

Sedação profunda para criar espaço ao extremismo. Onde em especial se localizará o trabalho de sedação, encomenda que recebeu o tucano vira-casaca, direta ou tacitamente, dos estrategistas da campanha petista para, com seu auxílio, dominar a máquina pública brasileira? Setores visados de forma particular: agronegócio, Brasil da roça (interiorzão), política externa, área social. Aqui, serão aplicadas altas as doses políticas de propofol, lidocaina e bupivacaina. Com efeito, o radicalismo petista ocupará largas faixas da política e da máquina pública, já prometidas em acordos de bastidor, convenientemente ocultados do público, no eventual novo governo. Fica então indispensável diminuir já, antes das eleições, o horror do futuro que nos espera, sob risco de inviabilizar a possível vitória eleitoral. A conta será pesada. Seremos aliados, confessos ou pelo menos efetivos, de frente antiocidental, capitaneada pela China, procurará minar a influência dos Estados Unidos no mundo. Alinhados, ajudaremos Cuba, Nicarágua, Venezuela e outros governos de esquerda. No Brasil, o INCRA, como aconteceu nas anteriores administrações petistas, será entregue aos extremados do partido, para gáudio de João Pedro Stédile e apaniguados do MST.

 

Contradição aberrante e silenciada. Melhorando, não é apenas silenciada, é escondida. Para ter êxito em sua empreitada como anestesista político, o médico anestesista Alckmin, era o normal, deveria ter se abrigado em partido ligado ao agronegócio, aos interesses ocidentais, ao Brasil empreendedor, amigo da propriedade privada e da livre iniciativa. Não foi o que fez. Correndo, foi buscar abrigo em partido com programa extremista, soviético. Ali festejou, com nutrida assistência, sua adesão de fato, mas escondida, a objetivos soviéticos. Resultados da aplicação de tal programa? Atraso, roubalheira, ditadura, pobreza. Ao se filiar ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), é inevitável a constatação, declarou-se de acordo com o Estatuto, Programa e Manifesto do Partido. Repito, situação silenciada, ninguém sobre ela escreve. Resolvi andar na contramão, e uma das razões é que o antigo governador de São Paulo está escalado para falar com o agronegócio e interior do Brasil para ali angariar votos e sedar. Vamos às metas para o campo, expostas pelo PSB em programa oficial, sonho seu para o Brasil do futuro.

 

O radicalismo rural do PSB. Aqui está, “ipsis verbis” a estrutura do campo como a deseja o PSB: “Da terra: A socialização progressiva será realizada segundo a importância democrática e econômica das regiões e a natureza da exploração rural, organizando-se em fazendas nacionais e fazendas cooperativas assistidas, material e tecnicamente, pelo Estado. O programa de latifúndio será resolvido por este sistema de grandes explorações, pois sua fragmentação trará obstáculos ao progresso social. Entretanto, dada a diversidade do desenvolvimento econômico das diferentes regiões, será facultado o parcelamento das terras da nação em pequenas porções de usufruto individual, onde não for viável a exploração coletiva”. A tática é do passo a passo “socialização progressiva do campo” (estatização), rumo a porvir de miséria e ditadura, como o revelam os precedentes históricos. O futuro terá quase só grandes propriedades. Só que as grandes propriedades não serão privadas: serão estatais (nacionais) e comunitárias (cooperativas de trabalhadores). O conjunto será, é claro, dirigido por burocratas socialistas (como aconteceu na URSS), com emprego amplo das patotas sindicais que sugarão a “plusvalia” (para lembrar a tolice marxista) mirrada das explorações. É, via de regra, pessoal chegado numa propina. Aqui está o futuro da agricultura brasileira, desenhado pelos socialistas. A vida como ela é, para recordar Nelson Rodrigues.

 

Usufruto, e olhe lá, para o pequeno. Notei acima, o futuro terá quase só grandes propriedades. Não haveria um cantinho para o pequeno proprietário? Para o pequeno, sim. Para o proprietário, nem pensar. Será usufrutuário, o dono será o Estado. Imagina, o pequeno pode querer ficar médio; e o médio virar grande. Onde iríamos parar? Usufruto já está bom. Mais que isso, de jeito nenhum. Servos da gleba, na prática.  Seriam tolerados os servos da gleba (usufrutuários) no paraíso socialista para o qual nos convida hoje o neoconverso Geraldo Alckmin, o anestesista polivalente. Mesmo o usufruto (a condição de moderno servo da gleba) será concedido a contragosto: será apenas facultado, quando inevitável. O ideal é gente trabalhando nas gigantescas fazendas estatais ou nas fazendas de cooperativas de trabalhadores. Dependem do Estado e das burocracias sindicais. Em pleno século 21, estamos diante de programa ditatorial, asfixiante da prosperidade, delirantemente coletivista. Representa retrocesso cruel, generaliza miséria, favorece exclusão social.

 

Coerência. Quem divulga programa desse naipe, não pode, sem manifesta hipocrisia, defender a liberdade, a autonomia, o empreendedorismo. Mesmo que sejam políticos como Geraldo Alckmin que deram as costas para seu passado. Um político correto deve ter, como condição prévia para a vida pública,  a decência de defender o próprio programa. Indica coerência e transparência. O contrário é abrir campo para a acusação fundada de hipocrisia.

 

Coletivismo generalizado. Quem defende a agricultura sovietizada, logicamente não pode favorecer a iniciativa privada em outros campos. É o que acontece com o programa do PSB. Para o comércio exterior, a fórmula é: “O comércio exterior ficará sob controle do Estado até se tornar função privativa deste”. Estação final, função privativa do Estado. Estatização total, selvagem. O trabalho? Será considerado direito, mas também obrigação O Estado obrigará todo mundo a trabalhar. Diferença de rendas, fundadas no esforço e no mérito? Serão eliminadas, o trabalho manual terá o mesmo valor que o intelectual: “O trabalho será considerado direito e obrigação social de todo cidadão válido, promovendo-se a progressiva eliminação das diferenças que atualmente separam o trabalho manual do intelectual.”.

 

Estatização da indústria. O setor industrial, é coerente, não escapará do estatismo selvagem. Será todo estatal, processo que começará pela estatização dos setores básicos: “Socialização progressiva dos meios de produção industrial, partir-se-á dos ramos básicos da economia.” Socialização, todos sabem, pertencer à sociedade, é eufemismo para estatização, termo que vem sendo evitado, pois é associado com os efeitos macabros que as políticas, nele inspiradas, apresentam historicamente, a saber, porrete, miséria e roubalheira.

 

Resumo do pesadelo, estatização ampla, geral e irrestrita. Ainda que gradual, evitando agressões causadoras de graves prejuízos políticos (a gradualidade anestesia), o objetivo não difere das metas clássicas dos partidos comunistas ao longo da História. Como última alusão ao Programa jurássico do PSB, a afirmação de que o Partido quer estatizar todos os meios de produção (fazendas, indústrias, lojas, oficinas): “O objetivo do Partido, no terreno econômico, é a transformação da estrutura da sociedade, incluída a gradual e progressiva socialização dos meios de produção, que procurará realizar na medida em que as condições do país a exigirem”. Ocultar tais aspectos, proclamados oficialmente, do programa socialista ajuda a anestesiar a opinião pública. O médico anestesista Geraldo Alckmin infelizmente embarcou em tal empreitada.

 

Reversão dos efeitos da anestesia. Sugamadex reverte os efeitos da anestesia em até três minutos ▬ elimina consequências de doses fortes do propofol. Alerta, esclarecimento, clareza é do que estamos necessitados ▬ sugamadex ▬ para caminhar certo e votar bem. Nunca silenciamento ▬ propofol.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Dom Luiz governou o Brasil

 

Dom Luiz governou o Brasil

 

Péricles Capanema

 

Permanece fúlgida a marca imorredoura. Sepultado no Cemitério da Consolação na capital paulista em 18 de julho, faleceu em 15 de julho dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil. Sua bisavó, a Princesa Isabel foi a última da família que, interinamente, segurou as rédeas do governo ▬ foi Regente do Império pela terceira vez entre junho de 1887 e agosto de 1888. Tardinha começando a cair, primeiras sombras, frescor intenso no ar, profusão de coroas de flores adornadas com textos emocionantes alinhavam-se, como sentinelas, ao longo da alameda que conduzia ao túmulo já aberto. Misturei-me silente ao respeitoso magote que esperava a chegada do corpo ao cemitério. Enquanto observava a ativa movimentação de tropas da Marinha, um ou outro uniforme de alto oficial, um sacerdote que supervisionava trabalhos, a mente divagava. Reflexões sucediam-se naturalmente; como num filme, a fantasia buscava aspectos da vida e da personalidade do príncipe que em instantes ali receberia as últimas homenagens. Para os que tiveram a ventura de conhecer dom Luiz, deixa marca imorredoura. Soube unir na personalidade paternal, com cativante harmonia, qualidades raramente próximas: modesto, senso perfeito e discreto da posição, batalhador, convívio suave; mais ainda, sofredor, penitente, resignado, piedoso. A enfermidade o estigmatizou, jamais o derrotou moral e psicologicamente.

 

Governo dos comportamentos. Repentina saltou constatação: “Pena, dom Luiz nunca governou o Brasil”. Logo após assomou a pergunta: “Nunca governou?” Brotava rápida a resposta, parecia simples, incontroversa; melhorando, nem tanto, borbotava à vera simplificadora e simplória: dom Luiz nunca governou, nunca assinou um decreto, por mais desimportante que fosse. Concomitante, aparecia outra resposta, subia do fundo do espírito e ia ganhando forma; matizada, revelava realidade mais funda: “Em termos, dom Luiz, sob um ângulo, governou o Brasil. Como nenhum outro governante”. Qual ângulo?

 

Renovação de doutrina antiga. É antiga, muito conhecida, a concepção que exporei abaixo, mas nos últimos anos vem ganhando teóricos de importância, entre os quais cabe destacar Javier Gomá Lanzón (em 2012 e 2014 a revista Foreign Policy, edição em espanhol, colocou-o entre os 50 intelectuais iberoamericanos mais importantes). Na esteira de muitos outros e até do bom senso comum, o celebrado erudito espanhol afirma, o mais importante em um governante é a exemplaridade. Dar bom exemplo, em português singelo. A doutrina vai além, se há o dever do bem exemplo, o governante que dá mau exemplo causa dano moral ao povo. Acontece com frequência, o dano moral não vem só. Muitas vezes há tragédias materiais envolvidas. Em resumo, a exemplaridade é a mais importante característica do governante. E dar mau exemplo é a pior. O governante (não só o governante político, todas as pessoas em posição de destaque, a qualquer título, a começar pelo pai e pela mãe) inspira comportamentos, favorece hábitos, combate costumes. Para a obtenção do bem comum de um povo, esse deve ser o grande objetivo do dirigente político. Influi fundo, marca por décadas, até séculos.

 

Governo estaqueado na exemplaridade (ou bom exemplo). Vamos ao que afirma Javier Gomá Lanzón: “O espaço público está cimentado sobre a exemplaridade, esse é seu cenário mais genuíno e próprio. A política é a arte da exemplaridade”. Para estear bem o bom governo, garante o intelectual espanhol, o dirigente deve “pregar com o exemplo. Só o exemplo prega de forma eficiente”. Promessas, discursos, atos administrativos, sem o exemplo, caem no vazio. Na Grécia antiga, da democracia direta, o cidadão participava do governo debatendo e votando na praça pública (ágora). Nos tempos modernos, de democracia indireta, igualmente não só o voto configura participação na construção do bem comum. Debater, opinar, protestar, apresentar programas, sugerir soluções, à maneira do grego antigo na ágora, também é contribuir para a obtenção do bem comum. Dentro de tal quadro, dar bom exemplo é a primeira e mais importante participação. Influi no tom moral da sociedade, na criação de seus rumos e expectativas, marca o que é estimulado, o que é desaconselhado, o que é proibido. E assim, vai mais fundo que a coação legal (que age nos atos externos), alcança o interior das personalidades, pensamentos, anseios, convicções.

 

O bom exemplo de dom Luiz. Don Luiz participou da obtenção do bem comum nacional de forma insigne pelo extraordinário bom exemplo de uma vida inteira. Nesse sentido, padrão moral perene, governou na mais alta acepção. E os brasileiros de bem, diante de sua memória virtuosa ▬ e de seu governo, como Chefe da Casa Imperial e sucessor legítimo da Princesa Isabel ▬ inclinam-se hoje reverentes e agradecidos. Em certo sentido, muito real, continua a governar. Como seu ancestral, são Luiz IX (1214-1270), cujo bom exemplo até hoje orienta em alguma medida o espírito dos franceses. Assim, com inteira exatidão, sob o ângulo do bom exemplo, podemos afirmar, Dom Luiz governou. E ainda governa.