terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Voz que clama no deserto - 2


Voz que clama no deserto - 2

Péricles Capanema

Tempos atrás publiquei artigos denunciando perigos da aproximação do Brasil com a China. Pelo que me recordo, o primeiro foi de janeiro de 2016, ainda no governo Dilma. Sob o título “O Brasil servo” explicava os riscos mortais da aproximação insensata com a China, então vivamente estimulada pelos deputados federais do PT. Citei nele partes do documento da bancada petista que exigia crescente alinhamento comercial com a China comunista: “A China tem um conjunto de bancos de fomento que ofertam linhas de crédito e investem em projetos no exterior. Esses bancos têm incrementado sua presença na América Latina”.

O título da matéria, “O Brasil servo”, resumia tudo; a direção econômica exigida pelo PT naquele documento no futuro acabaria com a efetiva independência nacional. Depois de numerosas peças sobre a mesma questão, em 18.2.2016 escrevi “Clamando no deserto”. Parecia-me estar isolado em minhas denúncias. Ninguém ventilava o tema. Lamentava eu: “Vez por outra sucede eu ter a sensação de clamar no deserto. Verifico, entre surpreso e desolado, ninguém está dando bola para aquilo por mim tido por importante. [...] Vejo com horror o avanço do capital estatal chinês sobre ativos brasileiros. De fato, são gigantescas propriedades no Brasil passando celeremente para o governo do PCC (Partido Comunista Chinês), que vai utilizá-las, mais dias, menos dias, para seus objetivos de dominação de nossos assuntos internos e de hegemonia mundial”.

Não podia imaginar que, quase três anos depois, o assunto retornaria acalorado. Lendo as notícias a respeito da comitiva de deputados federais brasileiros (parece-me, também uma senadora) na China, entristeceu-me e me apavorou o desconhecimento palmar do conteúdo, o balbucio inconclusivo das justificações, a superficialidade arrogante, o primarismo ovante, ▬ perdoem-me a próxima palavra, mas a verdade tem seus direitos ▬ a boçalidade desinibida de muitas das intervenções no debate. Pobre do país que padecer tal representação popular (rezo a Deus que o plantel lá na China não seja amostra válida da totalidade de nossos representantes). É difícil aqui não recordar o dito amargurado de Ulisses Guimarães: “Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espere a próxima: será pior”.

Vou repetir agora o que escrevi dias atrás: 87% das inversões chinesas no Brasil são de empresas estatais. Os eufemismos, no caso sintoma de subserviência e temor, correm soltos, disfarçando tal realidade. Expressões preferidas, “capitais chineses”, “investidores chineses”, “capitais da China”. E, de novo, martelo no óbvio: a imensa maioria dos diretores das estatais pertence ao Partido Comunista Chinês. Congruentemente, sua ação favorece os interesses do comunismo chinês que na América Latina, entre outros objetivos, quer minar a influência dos Estados Unidos e apoia abertamente Venezuela e Cuba. Nenhum diretor de estatal faz a menor ação que possa prejudicar os interesses do comunismo chinês. Os 13% restantes do capital  investido, na maior parte, provêm de empresas com ligações próximas com o governo chinês. Vou fazer uma previsão. Você não vai ser informado que 87% do capital chinês aplicado no Brasil provêm de estatais dirigidas pelo Partido Comunista Chinês. Vai continuar a ler e escutar “investidores chineses”, “capitais chineses”, “capitais da China”, eufemismos, repito, que ocultam a realidade amedrontadora. Continuo a clamar no deserto. Clamor no deserto-1, digamos.

Mas não quero tratar hoje da disputa acima. Vou falar de outro assunto, mais imediato, reforma agrária. Aqui também já estou começando a clamar no deserto (no caso, clamor no deserto - 2). A verdade evidente, de um óbvio ululante, é que a reforma agrária precisa acabar, já fez mal demais ao Brasil. Prejudicou os pobres, abaixou salários no campo, diminuiu a produção, trouxe insegurança jurídica, tornou improdutivas ou pessimamente aproveitadas terras que poderiam estar produzindo com tecnologia de Primeiro Mundo, gerando riquezas, aumentando a oferta e baixando o preço dos alimentos. São bilhões e bilhões de reais que ao longo dos anos foram para o ralo (quando não para o bolso de espertalhões, grandes e pequenos). A educação poderia estar mais bem atendida, a saúde, a segurança, sei lá mais o quê. A reforma agrária, disparate sem fim, pesadelo delirante para qualquer um de bom senso, já vitimou 880 mil quilômetros quadrados do território nacional.

Visitem os assentamentos, se puderem (se as patrulhas do MST permitirem), conversem com os vizinhos deles para conhecer na prática o que domina lá dentro. A intimidação, os negócios escusos, as bebedeiras, os roubos, o desrespeito às leis. Tudo isso apoiado pelo INCRA, cuja ação deletéria fez realidade a maldição da reforma agrária para o Brasil. Transcrevo Xico Graziano, ex-presidente do INCRA: “Em 2015, ao completar 45 anos, o Incra divulgou que em sua existência havia assegurado o acesso à terra para 968.887 famílias, agrupadas em 9.256 assentamentos fundiários, distribuídos por 88 milhões de hectares de terra. Para comparação, basta dizer que toda a área colhida na safra passada somou 78,2 milhões de hectares. O Brasil realizou a maior distribuição de terras, pela via democrática, no mundo. [Os assentamentos são] verdadeiras favelas instaladas no meio rural. Bilhões se investiram nessa agenda. [Não existem dados} que permitam aquilatar a contribuição produtiva dos assentamentos. Não se sabe quanto nem o que produzem. A lacuna é intencional. Uma rosca sem-fim. As entidades que lutam pela reforma agrária sempre foram contra a titulação das terras distribuídas. Por quê? Porque preferem ver os ‘sem-terra’ vivendo, décadas, de forma precária, subordinados ao Estado. Somente dessa forma, os MST da vida conseguem manter sua dominância sobre os pobres coitados, fazendo-os comer na sua mão. E, desgraçadamente, aproveitar-se dessa situação para morder nacos do dinheiro públicos. Não promove, pelo contrário, é contrária à emancipação dos agricultores pobres no campo. Os ‘movimentos sociais’ gostam de criar submissão, a mais desgraçada das misérias humanas. Atualmente, já funciona um enorme mercado, paralelo, de venda de lotes, com a conivência do poder público e a participação dos ‘movimentos sociais’. Existe uma brutal concentração fundiária dentro dos assentamentos rurais, onde quase tudo está, irregularmente, arrendado para outrem. Rola uma tremenda picaretagem agrária nas barbas das autoridades. Que ficam de bico calado.”

Apesar da realidade evidente, continua a conversa fiada de que é preciso fazer uma reforma agrária criteriosa. O bom critério aqui é acabar já com a reforma agrária, parar tudo, desfazer os estragos em curso, e passar a trilhar rumo sensato que ajude produtores, aumente a produção e favoreça de fato os pobres.

Outro ponto que agride os tímpanos: de momento não existe dinheiro para aplicar no programa. Se houvesse recursos, seria moralmente criminoso torrar o escasso dinheiro público na reforma agrária. Crime contra os pobres, crime contra os produtores, crime contra o bem comum.

Terceiro ponto, a partir de agora, sem levar em conta as invasões, vai se aplicar a legislação. Também é enganador dizer que não haverá reforma agrária para invasor. O normal é nem para invasor, nem para ninguém. A medida que vai favorecer os pobres é sumir com a reforma agrária. Terra para quem quer plantar? Sim, a pública. E nãoo indiscriminadamente, comsujeição ao MST e aos apaniguados do INCRA, mas em quadro novo para quem tem capacidade técnica e habilidade comercial.

Uma palavra final sobre a legislação. A legislação brasileira a respeito é péssima em vários de seus aspectos fundamentais, já deu e tem dado margem a toda sorte de abusos, precisa ser urgentemente revista e consertada, quando não extinta.

O presidente marxista Salvador Allende comunistizou o Chile, arrebentou sua economia, aplicando legislação existente, anterior à sua ascensão ao poder. A estatização das empresas no Chile, iniciada em fevereiro de 1971, foi feita com o uso dos então chamados “resquícios legais”.

A legislação existente hoje no Brasil, como a do Chile à época de Allende, tem muitos “resquícios legais”, eufemismo para indicar legislação facilmente utilizável por governantes de esquerda. Se tal legislação não for extinta, propiciará condições para que um futuro governo de coloração petista nos leve no agro à situação hoje padecida pela Venezuela.

Apenas um exemplo entre dezenas de disparates na legislação. A medida natural, lógica dos defensores da propriedade rural (preocupação para a bancada ruralista) é promover já a aprovação de uma PEC que elimine a essência demolidora do artigo 184 da Constituição.

Reza o monstrengo: “Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. §1º: As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação”.

A verdade que salta aos olhos: desapropriar por interesse social é uma gazua, que permitiu sucessão de disparates (roubos, depois de arrombada a porta). Todo mundo sabe que desapropriar por interesse social, espada de Dâmocles, no Brasil é enganação. Logo a seguir vem a foiçada da desapropriação. O título da dívida agrária na prática é o instrumento legal do esbulho. A desapropriação sai por valor inferior ao real (quando não há tramoia e a desapropriação dispara, aí existe comilança para muita gente) e, a mais, o TDA é negociado com grande deságio. Espoliado o proprietário, ali se instalada a doideira dos assentamentos.

Infelizmente já vou avisando, vou clamar no deserto (o clamor-2) reclamando uma PEC que extraia o tóxico do artigo 184. E é veneno que pode no futuro jogar o Brasil no coletivismo agrário. Falta reatividade viva, interesse lúcido, senso efetivo de proteção aos pobres. Inexiste coragem ▬ a patrulha vai cair de quatro ▬ para propor esta medida de necessidade evidente.

A verdade é que parte do Brasil que conta tem tumores de estimação, xodós cultivados, acariciados e alimentados.  Gosta de manter tumores cancerosos. E são vários, dos quais lembrei um, a reforma agrária. Poderia lembrar outro, as estatais. No campo das ideias e emoções, a pena romântica (não efetiva) pelos pobres e o igualitarismo difuso. Tantos mais. Por que não o INCRA? Também o INCRA e sua fedentina. Para boa parte dos dirigentes políticos e mesmo para alguns produtores rurais, é tumor de estimação. Precisa ser tocado de leve, nutrido.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Edificação e escândalo


Edificação e escândalo

Péricles Capanema

Durante longos períodos na Idade Média e, mesmo depois, o Papa agiu repetidas vezes como árbitro em conflitos de nações e povos. Dava a última palavra, acatada por imperadores, reis, outros dirigentes temporais. Não era função ligada intrinsecamente ao múnus petrino, mas, entre outros fatores, a enorme respeitabilidade do Soberano Pontífice o empurrava naturalmente, pela força das coisas, para o centro da vida temporal europeia. Tarefa edificadora, outros tempos. A laicização da esfera civil limitou enormemente seu papel em tais matérias. A Santa Sé, relativamente, poucas vezes agiu como árbitro de forma oficial nos últimos tempos. Mas dessa longa e benéfica presença dos Papas em matérias temporais, ficou o hábito de ouvir o Soberano Pontífice, cuja voz não fere apenas os tímpanos dos católicos, mas de incontáveis pessoas interessadas em conhecer suas tomadas de posição, por sua evidente relação com o destino dos povos.

Contudo, ainda relativamente recente, em nossa época, tivemos eco importante da outrora grande relevância dos Vigários de Cristo na resolução de disputas temporais. Em fins de 1978, a Argentina e o Chile estiveram à beira de conflito armado por causa do Canal de Beagle, no sul do continente; brigavam pela posse das ilhas Picton, Lennox e Nueva. Fracassados os esforços diplomáticos, em 21 de dezembro, tropas argentinas se puseram em marcha para ocupar as ilhas e, se necessário, até partes do Chile continental. O 4º Batalhão de Infantaria da Marinha tinha ordens para nelas desembarcar em 22 de dezembro. As consequências do conflito militar entre Argentina e Chile, imprevisíveis, mas certamente amazônicas, repercutiriam provavelmente por décadas em todas as Américas. Basta alinhar o que hoje é admitido em suas linhas gerais. O alto comando argentino previa aproximadamente 50 mil baixas nas três primeiras semanas. O Equador entraria no lado da Argentina. O Peru e a Bolívia apoiariam a Argentina. Os chilenos pretendiam atacar a usina nuclear de Atucha. Não se sabe que posição tomaria o Brasil. A guerra com certeza deixaria sequelas destruidoras, traria dilacerações dificilmente suturáveis na América do Sul.

Poucas horas antes do choque, talvez minutos, Argentina e Chile aceitaram a mediação de João Paulo II, que enviou à região, como seu representante, o cardeal Antônio Samoré. Tendo como pano de fundo a respeitabilidade pontifícia, os dois países, depois de negociações difíceis, chegaram a um acordo, ilhas para o Chile e controle marítimo da área para os argentinos. Em 29 de novembro de 1984 no Vaticano assinaram declaração conjunta de paz e amizade. Hoje, sem sequelas, são duas potências amigas. Ação papal edificadora ou edificante, se quisermos. Atitudes que constroem.

Viro a página, mas permaneço na América do Sul (e Central) e também em assuntos temporais. Na mensagem de Natal de 2018 (25 de dezembro), o Papa Francisco afirmou “que este tempo de bênção permita à Venezuela encontrar de novo a concórdia e que todos os membros da sociedade trabalhem fraternalmente pelo desenvolvimento do país, ajudando os setores débeis da sociedade”. Sobre a Nicarágua disse: “diante do Menino Jesus os habitantes da Nicarágua se redescubram irmãos para que não prevaleçam divisões e discórdias, mas que todos se esforcem em favorecer a reconciliação e em construir juntos o futuro do país”. Só.

Em 5 de janeiro, vinte ex-presidentes e chefes de governo latino-americanos, entre os quais Oscar Arias, Prêmio Nobel da Paz (1987), ex-presidente da Costa Rica, Eduardo Frei, ex-presidente do Chile, Vicente Fox e Felipe Calderón, ex-presidentes do México, César Gaviria, Andrés Pastrana e Álvaro Uribe, ex-presidentes da Colômbia, Fernando de la Rua, ex-presidente da Argentina, divulgaram severa carta que haviam enviado ao Papa Francisco. De forma serena e respeitosa se confessam escandalizados com a atitude papal por favorecer as ditaduras venezuelana e nicaraguense, assassinas da liberdade e promotoras da miséria popular.

Diz a missiva: “Conhecemos sua preocupação pelo sofrimento que hoje padecem, sem distinções, todos os venezuelanos e, agora, os nicaraguenses. Os primeiros são vítimas da opressão de uma narcoditadura militarizada, que pisa de maneira sistemática os direitos a vida, liberdade, integridade pessoal e, a mais, como consequência de suas políticas públicas deliberadas e de uma deslavada corrupção que escandaliza mundialmente, submete-os a fome generalizada e falta de remédios. Os segundos, em meados do ano, foram vítimas de onda de repressão com quase 300 mortos e 2.500 feridos. De modo que nos preocupa o chamado de Vossa Santidade à concórdia, já que no contexto atual pode entender-se sua fala como um pedido aos povos, que são vítimas, para que entrem em acordo com seus algozes; no particular, o caso venezuelano, com um governo que causou 3.000.000 de refugiados, numa diáspora que a ONU julga chegará a 5,4 milhões de pessoas em 2019”. Lembra a seguir o texto, com base em João XXIII, que os que oprimem não contribuem à unidade.

A censura dos vinte presidentes e chefes de governo é gravíssima: para eles, o Papa Francisco está equiparando vítima e algoz, opressores e oprimidos. Com isso favorece o opressor e o algoz. É acusação de conduta escandalosa, demolidora.

Poucos dias depois da carta, em 8 de janeiro, documento oficial da Conferência Episcopal Venezuelana declarou ilegítimo o novo governo Maduro que se iniciaria no dia 10 de janeiro. Afirma o texto: “É um pecado que clama ao céu querer manter a toda custa o poder e pretender prolongar o fracasso e ineficiência dessas últimas décadas. É moralmente inaceitável. A convocação [da eleição presidencial] foi ilegítima como o é a Assembleia Nacional Constituinte imposta pelo Poder Executivo. Portanto a pretensão de iniciar um novo período presidencial em 10 de janeiro de 2019 é ilegítima”. E reconheceu a Assembleia Nacional como único poder legítimo: “A Assembleia Nacional, eleita com o voto livre e democrático dos venezuelanos, atualmente é o único órgão do poder público com legitimidade”.

No dia 10 de janeiro tomou posse o novo governo, festejado ruidosamente por representantes da China, Rússia, Cuba, Irã, Turquia, Vietnam, Coreia do Norte (Gleisi Hoffmann, presidente do PT, estava lá, o PC do B também mandou representante, havia ainda outros enviados da extrema esquerda brasileira), ▬ ausentes a maior parte dos países da América do Sul, União Europeia, OEA, Estados Unidos. No meio daquela “societas sceleris” (a expressão brota incoercível, já que ali se reuniam para promover um governo opressor), com luz soturna brilhava monsenhor George Koovakod, encarregado de negócios da Santa Sé, enviado especial, a quem Nicolás Maduro agradeceu a presença no início do discurso. Vem natural à mente a denúncia de Paulo VI de 7 de dezembro de 1968 do “misterioso processo de autodemolição” que se havia instalado na Igreja Católica.

Edificação e escândalo. As intervenções papais nos assuntos temporais edificavam, isto é, construíam. Nossa época tem deixado claro que, para escândalo dos fiéis, podem também demolir. Paro por aqui, as palavras faltam; morrem na boca, sufocadas pelo respeito filial. Deus tenha pena de nós.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Artigo sem título



Artigo sem título

Péricles Capanema

Medida inicial promissora foi o título que dei de saída para o presente artigo. Cancelei-o, não encontrei substituto. Esperançado, iria discorrer sobre a notícia seguinte “Governo Bolsonaro paralisa reforma agrária e demarcação de territórios quilombolas. Segundo o INCRA, cerca de 250 processos foram interrompidos; órgão está subordinado ao Ministério da Agricultura”, veiculada na rede por vários órgãos de divulgação em 8 de janeiro.

Assegurava a informação, como está acima, o governo Bolsonaro havia determinado a paralisação da reforma agrária e da demarcação de territórios quilombolas. Aleluia! Ufa! Até que enfim, no caso, a verdade evidente, depois de levar surras cruéis por várias décadas, começava a ganhar a disputa contra a mistificação!

Minha alegria durou 24 horas; a paralisação deixou de existir, segundo fontes do governo em comunicado do dia 9 de janeiro. Decorrência lógica, a farândola demolidora poderia voltar logo a infernizar a vida dos brasileiros. A satisfação murchou, sufocada pela preocupação.

Por que coloquei de primeiro no título, medida inicial promissora? Era passo inicial (desculpem o jogo de palavras, paralisar aqui seria um grande passo); havia razões para crer, continha promessa de caminhada na mesma direção. Durou pouco o alívio de ser informado, finalmente se começava a estancar a sangria em corpo ferido.

Todo mundo ligado ao agro sabe, nesse assunto, a medida normal, enraizada fundo no mais elementar bom senso, vai muito além. É de um óbvio ululante: extinguir a reforma agrária. Ponto final. Sumir com ela do panorama. Simples assim. E, congruente, abolir a legislação tingida de vermelho que a embasa, devolvendo, em seguida, quando ainda factível [essa maluquice no Brasil já tem mais de 50 anos, a SUPRA é de 1962, o Estatuto da Terra é de 1964 e a Revisão Agrária Paulista é anterior, de 1960], aos donos legítimos, muitos em situação desesperadora, o que o governo roubou, para que, de olho no mercado, façam a terra produzir. A providência favorecerá a paz no campo, o aumento da produção, a harmonia nas relações patrão-empregado, bem como ajudará a diminuir, quando não eliminar, a pobreza rural.

Largas faixas da opinião nacional têm sido escravas dóceis desde há décadas de preconceito politicamente correto, delirantemente absurdo. Qual preconceito? De que a reforma agrária é exigência da justiça, ajuda os pobres. Assim, ser contra a reforma agrária equivaleria a ser contra os pobres e a favor do latifundiário.

Os fatos provam, é falsidade deslavada. A reforma agrária no real piora a situação dos pobres e ajuda aproveitadores, agitadores e desonestos. Relembro a opinião abalizada e serena do agrônomo Xico Graziano, antigo presidente do INCRA: “Devastador. Assim classifico o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre os assentamentos de reforma agrária no Brasil. Foram identificados 479 mil beneficiários irregulares. Escandaloso. Esbórnia agrária. Foi nesses termos que a Folha de S. Paulo tratou o assunto em editorial (edição de 08/04/2016), afirmando que tamanho desvio ‘não surge do nada, só se constrói, anos a fio, com a omissão ou a conivência de servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)’. Triste conluio do governo do PT, com a parceria do MST e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). A malandragem é assustadora: foram identificados 248,9 mil assentados com local de moradia diferente do lote concedido; 23,2 mil já contemplados antes pela reforma agrária; 144,6 mil funcionários públicos; 61,9 mil empresários; 1.017 políticos titulares de mandato eletivo, sendo 847 vereadores. Sem-vergonhice. Tétrico. O TCU aponta 37,9 mil pessoas mortas na lista dos beneficiários da reforma agrária. Entre os vivos, 19.393 cadastrados são donos de veículos de luxo, como Porsche, Land Rover e Volvo. Picaretagem pura. [...] Vem de longe a existência de um "mercado de terras", em que se vendem, se compram e se arrendam lotes nas barbas do INCRA. Tudo proibido, mas rola fácil. Propina descarada. A cada análise crítica, os ideólogos da chamada "esquerda agrária" bradam contra nossos alertas. Para nos desqualificar, acusam-nos de defensores do agronegócio. Eles, os puros, defendem a "agricultura familiar" e, mais recentemente, a "agroecologia". Caiu a máscara. Já mostrei anteriormente como uma série de convênios governamentais destina milhões às organizações agrárias ligadas ao esquema da corrupção no campo. Dinheiro público na veia do "exército vermelho", aquele que Lula diz comandar. Basta acessar meu site www.xicograziano.com.br e conhecer a lista completa das ONGs, com os respectivos valores que receberam nos últimos 10 anos. Definitivamente, acabou a utopia da reforma agrária. [...] Há muita sujeira escondida debaixo do tapete. Podridão agrária.”

Quem age contra a reforma agrária, na prática já atua a favor dos pobres. E ajuda o Brasil a evitar o destino da Venezuela (10.000.000% de inflação anual, êxodo dos miseráveis, ladroagem, fora o resto). A aliança espúria, beirando a oficial, MST-INCRA-CIMI-PT-ONGs-CONTAG, protegida por cima pelo estímulo ou conivência dos partidos que governaram o Brasil nos últimos lustros nos empurravam para o destino da Venezuela.

Lembro alguns dos males da reforma agrária brasileira, obsessão besta e destruidora da academia, de políticos e de eclesiásticos desde os anos 50. Dificulta a produção, lesando o bem comum. Inibe investimentos na pecuária e na lavoura, empobrecendo investidor, patrão e operário. Cria insegurança jurídica, diminuindo emprego e renda. Torra dinheiro público, sem aumentar a produção e salários, impedindo a aplicação de montanhas de dinheiro em educação, saúde e segurança. Sem falar na comilança e roubalheira que propicia para políticos, dirigentes de órgãos públicos, chefes de ongs, negociantes de lotes nos assentamentos.

Por que fiquei sem título? Pela notícia seguinte: “O presidente substituto do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Nascimento, revogou os memorandos circulares do próprio órgão do último dia 3 que haviam paralisado o programa de aquisição de terras para reforma agrária no país. A decisão foi tomada às 22h13min desta terça-feira (8)”.

O que houve? Repito o que afirmei em artigo passado, de conhecimento público: o INCRA fede. Dentro de seus escritórios ao longo dos anos foram planejadas invasões de terras no Brasil, milhares talvez, a ali depois protegidas. Seus relatórios em sem número de vezes falsearam a situação da propriedade ameaçada, desvalorizavam-na (roubo), para assim tornar mais fácil a sanha expropriatória. Suas superintendências sempre foram valhacoutos de políticos extremistas, incompetentes e corruptos. Seus assentamentos são foco permanente de criminalidade, bebedeira, roubalheira. Perguntem aos vizinhos dos assentamentos como é trágica a situação deles. E agora, o INCRA manda dizer que a coisa não mudou? Santo Deus!

Logo a seguir falou Luiz Antônio Nabhan Garcia, secretário especial de Assuntos Fundiários. Suas palavras, de sabor agridoce, não espancaram a preocupação. Afirmou em resumo que o INCRA não tem recursos para fazer a reforma agrária no País [se os tivesse, faria?]. Segundo ele, as atividades de reforma agrária tocadas pelo INCRA não foram paralisadas: “É claro que o INCRA vai continuar funcionando, só que dentro da lei. A realidade hoje é que não tem mais dinheiro no INCRA, não tem dinheiro para fazer a reforma agrária.” Seria extraordinário se essa máquina de destruição parasse de funcionar.

Ainda vai continuar a moer o Brasil? Sabem quantos hectares já foram utilizados para a reforma agrária? 88 milhões, 880 mil quilômetros quadrados. Torraram bilhões de reais (dinheiro seu) que poderiam ter sido utilizados para melhorar a situação dos pobres na saúde, educação, segurança. E essas terras hoje estariam produzindo muito mais, exportando mais, pagando melhores salários aos que nela labutassem. Sem falar que boa parte da dinheirama foi para ongs, políticos, aproveitadores, MST, funcionários do INCRA e vai por aí afora.

Espero que um dia no Brasil triunfe o bom senso mais elementar, e aí extinguiremos esse disparate ▬ vou mudar, extirparemos esse tumor cancerígeno. Continuamos, por enquanto, esbofeteando o óbvio ululante. Talvez daqui surgisse um bom título para o artigo, mas, por comodidade, fica hoje sem cabeçalho. Última confissão, tenho esperança que o bom senso acabe triunfando, pois tenho visto passos nessa direção. Não falei da questão quilombola. Faltou espaço. Mas é semelhante em suas linhas gerais.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Livro que veio para ficar


Livro que veio para ficar

Péricles Capanema

Livros são parecidos com objetos celestes. Estrelas alguns, fazem lembrar às vezes até mesmo a estrela de Belém, esclarecem, marcam época, indicam rumo. Agora o reverso, também temos os meteoritos, livros que despencam na Terra, devastam, deixam crateras na alma e na sociedade. Entre milhares de exemplos, de uma banda está A Cidade de Deus de santo Agostinho; na oposta, O Capital de Karl Marx.

Certos livros brilham intensa e momentaneamente. Chamam a atenção, embevecem e somem, quais meteoritos ou estrelas cadentes (meteoros). Outros vão e voltam igual cometas, atraídos à ribalta ou deixados de lado pela força dos temas em voga na sociedade.

Alguns ainda, comparáveis a asteroides, orbitam em âmbitos conhecidos de poucos, ali permanecem por décadas, sina corrente de importantes publicações técnicas, destinadas a público delimitados. A planetas se parecem algumas compilações, grandes tiragens, mas, sáfaros de originalidade, vivem de luzes importadas.

Finalmente, existem os parecidos a estrelas, pairam lá em cima, cintilam de luz própria, criativos, encantam e orientam.

Tais imagens passeavam agradavelmente pelo meu espírito enquanto lia com enorme proveito “Islam and the suicide of the West -the origin, doctrine and goals of Islam” (O Islã e o suicídio do Ocidente – origem, doutrina e objetivos do Islã) de Luiz Sérgio Solimeo, publicado em fins de 2018 pela American Society for the Defense of Tradition, Family and Property – TFP ▬ texto com luz própria, esclarece e aponta o norte para muitas iniciativas fundamentais nos Estados Unidos. Não só para aquele país, mundo afora.

Contudo, bom ter em vista, lá espiga, mais que aqui e alhures, um público sério com grande presença na política, nos meios de divulgação, nos ambientes corporativos, na academia e em ambientes religiosos, para os quais o livro está talhado. Cortado na medida, alerta baseado em estudos objetivos e análise lucida, apto para influir nas esferas de importância do país mais importante do mundo. Aviso aos interessados, o trabalho, ainda sem edição em português, está sendo vendido na Amazon por 16,95 dólares mais frete.

Os temas tratados no trabalho são essenciais para um juízo proficiente sobre imigração, terrorismo, segurança no fornecimento de commodities, defesa militar, política de alianças. No terreno psicológico e moral esmiúça os perigos de uma relação desprovida dos conhecimentos essenciais do que é a doutrina do Islamismo e do que foi a história das potências maometanas. E aqui destaca as ilusões que tantas vezes perpassam o diálogo inter-religioso, acarretando a queda em armadilhas. Luiz Solimeo deixa em especial evidente o caráter totalitário da sharia, a lei islâmica e a ameaça que representa para a prática religiosa e a fruição das liberdades civis às quais o Ocidente está acostumado.

Não sem razão oficiais superiores das três armas nos Estados Unidos têm aconselhado vivamente a leitura do livro. Entre eles, o general William G. Boykin, vice-subsecretário da Defesa para Inteligência (2002-2007) “monumental em concepção, simples de ler, lógica serena e surpreendente”. No que foi secundado pelo almirante James A. Lyons, antigo comandante da frota do Pacífico que escreveu em apoio ao livro “o Islã é uma ideologia totalitária que busca a dominação universal”. Na mesma direção foi o general Benjamin R. Mixon, antigo comandante do Exército no Pacífico, “trabalho importante sobre o Islamismo que deve ser lido por todos os americanos”. E aqui fica o conselho, também por todos os brasileiros preocupados com nosso futuro como nação cristã e ocidental.

Na presente quadra histórica “Islam and the suicide of the West” nunca sairá da atualidade. Já é e para sempre será obra de referência nos Estados Unidos.