Homenagem a Maria Xavier Capanema

Inauguração do Centro de Referência em Educação Prof. Maria Xavier Capanema

21 de setembro de 2006

A Maria Xavier Capanema,
saudades e homenagem
A Gustavo Xavier Capanema e Maria Augusta de Carvalho,
tributo de gratidão de seus descendentes
Casa do Alto

Autoridades presentes
Senhoras e senhores

Estas singelas palavras substituem, por força das circunstâncias, outras que teriam expressividade e representatividade, e ainda nelas se revelaria o timbre inconfundível das grandes riquezas de alma, que as inspiravam. Muitos poderiam estar aqui agora no meu lugar para óbvia vantagem de todos. Entre eles, por amor à brevidade, destaco apenas o Rafael, que entre tantos títulos, tem a preeminência natural de ser o neto mais antigo desta casa. Contudo, dias atrás, recebi a incumbência de falar neste ato, e por obediência à voz de mãe, cumpro o determinado.

Muitos dizem, com aguda percepção, que a gratidão é a mais rara das virtudes. Tendo diante dos olhos esta constatação, começo com palavras de gratidão. Nesse momento festivo em que a Prefeitura de Pará de Minas, pelos seus representantes, assume, de forma simbólica, a posse desta casa, agora não mais servindo de abrigo e ponto de encontro de uma família, mas ao município inteiro na área importantíssima da educação, compete a nós, membros da família que um dia foi proprietária desta residência, em primeiro lugar e com ênfase muito especial, manifestar nosso agradecimento aos simpáticos habitantes do Alto, ainda aos de toda a cidade e até da região, pela defesa de um patrimônio pertencente à história de Pará de Minas. Não queremos de forma alguma que esta bela atitude do hoje já distante ano de 2002, esvaia-se no tempo e afunde esquecida nas trevas do passado. Ela tocou as fibras mais sensíveis de nossos corações e ficará para sempre, perenizada pelo afeto da recordação, nos escaninhos de nossa memória. E que também permaneça no espírito de muitos aqui e em documentos que as traças não corroem.

Relembro agora rapidamente alguns fatos a respeito. Compreendemos bem que, logo após o falecimento da tia Maria, em janeiro de 2001, por razões práticas, tenha sido proposta a demolição desta residência. De fato, as dificuldades para preservá-la eram imensas e, em certo momento, pareceram insuperáveis a tantos de nós. Minha mãe, contudo, nunca cedeu. Repetia para quem quisesse ouvir: “Demolir esta casa é um sacrilégio”.

Mas ela parecia sozinha. E a casa iria ser derrubada pela onda irresistível das conveniências práticas. Naquele contexto de abatimento e apreensão, a demolição despontava como inevitável. Contudo, inesperadamente, vimos nos céus da serena frieza dos fatos um raio fulgurando e logo depois estrondeou o trovão. Foi assim: para alegria nossa, de repente, no silêncio, ecoou forte, cristalina, a voz inconformada do povo. O brado da inconformidade popular mudou o rumo das coisas.

A firme atitude de parte expressiva da população de Pará de Minas, refletida na força do abaixo-assinado, nas entrevistas de rádio, nos telefonemas a autoridades do município, e até nas palavras sussurradas de boca a ouvido, virou o jogo, salvou a situação. Foi nesse contexto que a casa foi declarada patrimônio histórico do município, na ocasião o único prédio privado tombado em Pará de Minas.

Sabemos bem que a nobre iniciativa para que fosse preservada esta residência, tão ligada ao passado de nossa terra, honrou mais a quem a teve do que a quem dela foi objeto, pois manifestou com muita vivacidade o senso histórico e o amor ao torrão natal, apanágio dos grandes povos, e que está ausente nos povos decadentes, que presenciam indiferentes a destruição dos monumentos preciosos de seu passado e se deixam arrastar indolentemente rumo a um fim melancólico. Nosso comovido muito obrigado a cada um dos que participaram dessa pacífica, mas verdadeira insurreição dos inconformados.

Cabe também agora, e de forma especial, o agradecimento ao lúcido e empreendedor ex-prefeito de nossa cidade, o dr. Inácio Franco, que desde o início acolheu, e tão bem compreendeu, a postulação justa de incontáveis munícipes. Algumas vezes, chegou-nos aos ouvidos que ele respondia, quando alguém, sôfrego, lhe pedia autorização para meter o trator: “Como posso autorizar? Sou político, escuto o povo”. Nossa gratidão se estende ao atual prefeito, filho digno de destacado administrador e homem público. Somos ainda gratos à Câmara Municipal que agiu com discernimento e possibilitou a realização desse desejo de tantos entre os pará-minenses. De forma muito especial, estamos reconhecidos ao saudoso e pranteado Pelota que batalhou com particular empenho por esta causa. Pelota freqüentou muito esta casa quando menino. Vinha aqui chupar jabuticabas. E ao longo dos anos, teve muito mais saudades da doçura do tom da voz de d. Mariazinha, mostrando a ele e amigos os galhos das frutas mais doces, que da doçura das jabuticabas.

Esta casa tem traços tradicionais, tem amplitude, representa em certo sentido a Pará de Minas antiga. Mas sua expressão especial não vem só da antiguidade da construção, nem das formas arquitetônicas, inspiradas no colonial mineiro, nem da localização na esquina central do bairro, e nem da disposição de seus cômodos. Tudo isto tem seu valor, deve ser devidamente apreciado. Mas sua expressão emana também de outras realidades, tão ou mais importantes, e é especialmente sobre elas ― em geral lançadas em injusto e prejudicial olvido ― que aqui direi algumas palavras.

Podem ficar tranquilos, não serei longo. Quando o sol se põe, seu calor permanece, ainda por horas, nas pedras do chão, nos tijolos das paredes, no ar; enfim, em todos os materiais que têm a nobre propriedade de, por algum tempo, reter algo de seu poder vivificador, mesmo quando o astro-rei já desapareceu majestosamente no meio do espetáculo feérico de cores e formas, que brincam alegres no horizonte. É que ele, parecendo estar triste por partir, ainda por algum tempo prolonga sua presença entre nós. O calor deixado pelo sol, que já se ocultou a nossos olhos, favorece o vicejar das melhores energias que, de outra forma, continuariam latentes nos animais e nas plantas. A vida na Terra depende desse calor. Tal animação, que existe mesmo na noite, oculto o sol, tão fácil de sentir e compreender na natureza, é linda imagem de uma realidade presente também entre os homens. Estamos aqui reunidos, muito particularmente, para homenagear uma luz, que já nos deixou, fonte de calor para tanta gente e iniciativas: Maria Xavier Capanema. Mais ainda: homenagear luzes, pois ela foi, de fato, exímia continuadora e aperfeiçoadora do legado que recebeu nesta casa. Não permitiu que apagasse e sumisse. Pôs óleo nas lâmpadas durante toda sua vida. E as luzes brilharam sem parar.

A expressão particular que tem essa casa para o bairro que hoje a circunda e para a cidade inteira vem também, e muito, da irradiação da personalidade e da retidão do caráter de Maria Xavier Capanema, filha mais velha do casal que aqui viveu, em tantos sentidos a que mais lhes entendeu a mentalidade e mais preservou sua herança espiritual. Ela viveu nesta residência a vida inteira: aqui nasceu, aqui cresceu, aqui faleceu. Foi sua única residência. Por mais de 90 anos, (é de 1910), atravessando todo o século 20, foi boa menina, filha exemplar e respeitada dos pais, dona de casa conscienciosa, professora estimada, tabeliã de grande competência, irmã e tia que sabia distinguir tão bem, transmitindo a cada um, pelas palavras e gestos, a impressão de que lhe reservava um lugar especial em seu coração. Para mim é difícil lembrar alguma pessoa, das muitas que conheci, que soubesse tão bem exprimir afeto e consideração. Estou falando em um centro de referência em educação que traz o nome dela, cercado por pessoas, cujo ofício primeiro é instruir. Tia Maria não educou apenas instruindo. Educou também, e muitíssimo, pela irradiação de seu exemplo. E pelo embebimento. O ambiente desta casa estava embebido de valores que emanavam de sua personalidade. E moldava quem por aqui passava. Instrução, exemplo e embebimento, três formas de educar da professora Maria Xavier Capanema, e que agora é oportuno realçar.

Teve personalidade envolta pelo respeito, irradiante de compostura e bondade, sempre foi refletida e precisa nos comentários, jamais maledicente, escrínio precioso da forma de viver de seus pais, que ela, em muitos sentidos, apurou. Foi ainda marcada pelo espírito religioso e pelo senso do dever (dela se poderia dizer o que de poucos se pode afirmar com veracidade: foi escrava do dever); caritativa, de caráter bom e honestidade sem mácula. Depois de sua morte, compulsei com cuidado livros de sua biblioteca. Em francês, me chamaram a atenção o Goffiné, conhecido livro de piedade muito difundido nas primeiras décadas do século passado, e ainda alguns livros de apologética católica. Eram ecos dos estudos sérios que fez entre 1923 e 1928, como aluna interna do Colégio Sagrado Coração de Jesus das freiras Servas do Espírito Santo, localizado na rua Professor Morais, em Belo Horizonte. Ali, naquele prédio severo, de inspiração clássica, recebeu educação cuidadosa, com muitos traços da disciplina e cultura alemãs e de lá saiu com seu diploma de professora.

Sou levado a resumir sua longa existência com a frase, aliás bem conhecida, e de ressonâncias bíblicas: passou a vida fazendo o bem. Estável nas afeições, estável nos hábitos, aqui nesta casa d. Maria permaneceu, qual sentinela isolada e guardiã de valores que recusavam a derrota.

Sentinela do quê? Guardiã do quê? Dona Maria Capanema foi um modelo vivo da continuidade. Foi estável numa mesma rota a vida inteira. Preservou a memória, difundiu os valores de vida e aperfeiçoou o estilo dos pais que marcaram com traços inconfundíveis a casa. Ninguém nunca compreenderá o ambiente que aqui reinou, se não fixar o olhar indagativo em Gustavo Xavier Capanema e Maria Augusta de Carvalho.

Estamos aqui reunidos, em certo sentido, para homenagear também esta luz, que se ocultou a nossos olhos há aproximadamente 50 anos; minha avó faleceu em 1950; meu avô, em 1955. E, por surpreendente que possa parecer, ainda sentimos sua irradiação e seu calor. De forma a bem dizer única ― acho que posso dizer, afinal, sou filho, e os filhos têm seus direitos ― entre todos nós, alguém os sente com sensibilidade especial: minha mãe. Ela nesta casa se deleitava com esse calor reconfortante; percebia confusamente como que promessas que pairavam no ambiente; para ela existia aqui uma espécie de presença atraente, que nunca deveria desaparecer. E ela sempre cultivou com carinho esse ambiente, de fato, um imponderável, mas tantas vezes na vida, sabemos todos nós, o imponderável vale muito mais do que aquilo que podemos ponderar. E faz com que estes valores de difícil avaliação cintilem nas recordações, quando sua memória saudosa se volta para décadas já tragadas pelo tempo, mas para ela muito vivas, porque as viveu intensamente, e depois não as deixou apagar em sua alma.

Desta forma, também eu presenciei em minha vida, no âmbito doméstico, uma linda “recherche du temps perdu”, recordação impulsionada pelo afeto que, no caso de Marcel Proust o levou à consagração nos fastos excelsos da literatura francesa e, no meu, encaminhou-me para uma compreensão mais exata do que foi a essência da vida nesta casa em décadas que hoje só vivem nas memórias dos que por aqui passaram. Vi e percebi algo disso, talvez até muito, mas só minha mãe pode dizer com convicção, inspirada em Gonçalves Dias:

E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: “Meninos, eu vi!”.

Meninos, eu vi. Ela viu. Outros também perceberam. Manifesta ela apenas com a naturalidade do temperamento expansivo, o que habita no espírito de muitos. Sei bem que para vários dos presentes minhas palavras não surpreendem. Muitos dos que por aqui passaram, experimentaram o calor dessa presença, tão fácil de sentir, tão difícil de descrever, o imponderável que tomava tudo. Dava a impressão de estar na casa inteira, animava conversas, serenava ânimos, inspirava confiança, sobretudo pairava no ar como algo acolhedor e benévolo. Esse calor difusivo também foi sentido, de longe, por muitas pessoas que vivem nesse bairro e até nessa cidade. E, em parte foi ele que as moveu a agir para que as picaretas não tocassem essas paredes, que pareciam refletir alguma fulguração do sagrado. Aqui se radica a razão mais profunda do comentário enfático de minha mãe: “Demolir esta casa é um sacrilégio”. A frase põe em cores fortes o que estou procurando mostrar. Aliás, minha função hoje parece ser essa: tirar o véu, desvelar, exprimir em palavras pobres a realidade rica.

Por isso, a todos nós da família, nada poderia ser mais adequado e oportuno que denominar a biblioteca deste centro de excelência pedagógica de Prof. Mônica Capanema Ferreira e Melo. Quem teve a ideia, entendeu bem a realidade e acertou em cheio. A todos, muito tocados pela homenagem, agradecemos de coração.

Esta foi uma casa luxuosa? Não. Foi muito ornada? Também não. Era outra coisa, em certo sentido, menor, talvez melhor: refletia uma grande autenticidade; despretensiosa, modesta; era de fato o que aparentava ser, uma residência de fazendeiros dignos, católicos, cuja família, mineira por todos os costados, estava muito enraizada na região. Eles tiveram suas ufanias, tão justificáveis, mas não foram vaidosos. Graças a Deus, aqui não houve ostentação vazia. Seu ambiente, reflexo da mentalidade de seus antigos donos, exprimiu, em todas as horas, discretamente, uma forma séria, lúcida, compreensiva e benquerente de encarar a vida, em que houve traços marcantes de concepções superiores da existência. E ele não existiria se aqui não tivesse vivido um casal que por décadas, entre estas paredes, constituiu e educou, com esforço, grande senso do dever e nobreza de caráter, uma família honrada.

Sua vida, talvez insuficientemente observada, quando eles habitavam aqui, tinha luz. Dali provinha o calor aconchegante do amor sincero aos necessitados, a qualquer tipo deles, e ainda o calor do contato humano expressivo. Se não fosse assim, tudo isso já teria sido esquecido e o caminhar do tempo teria varrido da memória popular a figura daquele casal de fazendeiros simples, religioso, caritativo, esmoler. Mas também forte.

Esse casal que ora homenageamos também chamou a atenção pela força do caráter e segurança da própria situação. Representou uma forma de grandeza humana, familiar e rural, proporcional ao ambiente em que viviam, e que estava mais na raiz e no tronco rugoso, do que nas folhas e flores. Aqui ele recebeu muitas vezes, sempre com sua simplicidade segura, em anos que já vão longe, alguns dos homens públicos de maior relevância no Brasil da época. Acolhidos com cordialidade e afeto, uns eram parentes dos donos da casa, sempre chegavam como mais um que vinha visitar, do mesmo modo que era recebido com respeito o mendigo, que vinha buscar seu prato de comida, e o filho da casa que nela entrava para rever tios e primos. Esse foi, aliás, dos traços marcantes deste ambiente: acolhimento despretensioso, mais caloroso na substância que na forma, reflexo de uma vida em que não cabiam artificialismos.

O povo em torno da casa, sem se preocupar com muitas palavras de explicação e sem esquentar a cabeça com explicitações trabalhosas, soube ver essas realidades com limpidez. E essa clareza de vistas o ajudou a reagir com firmeza quando surgiu a ameaça de destruí-la. Com o fim da casa, viria logo depois o desaparecimento da lembrança do casal que foi dono dela, e fez dela, sem se dar conta, um pedestal de onde cintilou sua fisionomia moral. Perguntem aos mais antigos daqui, quem foi Nhonhô Capanema e d. Mariazinha. Eles lhes dirão. Perceberíamos todos, imediatamente, o timbre inconfundível do relato verdadeiro, que talvez eu não consiga transmitir.

Por que permaneceu viva em tantos, já por meio século, a memória desse casal, numa época em que tudo passa tão rápido? Por que ainda hoje, nesse bairro de Pará de Minas, na cidade e até na região, fala-se, aqui e ali, de Nhonhô Capanema e de d. Mariazinha, e da casa em que viveram? Em grande parte, pela ação de presença da filha mais velha, Maria Xavier Capanema, um exemplo de continuidade. A presença moral de d. Maria Xavier Capanema só pode ser entendida, se a considerarmos guardiã e sentinela de valores que recebeu como herança dos pais.

Na luz de seu exemplo, também gostaríamos de ser continuadores desse jeito de ser. E agora ― permitam-me ―, nesse dia que é solene a seu modo, e tem algo de festivo, a família que aqui teve origem, daqui partiu, espalhou-se pelas cidades do Brasil, e até por continentes, pelos seus componentes, de momento reunidos nesta casa, certos de expressar um sentimento que é comum a todos, volta à sua fonte e, saudosa e agradecida, se inclina reverente diante da memória de Gustavo Xavier Capanema e Maria Augusta de Carvalho, e lhes tributa emocionada a modesta homenagem desse encontro. Pequeno tributo, é verdade, mas que provavelmente terá pelo menos a importância do fato único: talvez nunca mais se repita. E isso lhe dá certa grandeza.

Chegou o momento, vamos virar a página. Acabou uma etapa da história dessa casa. Hoje, começa outra. Antes, tinha finalidade privada, familiar. Agora, tem finalidade distinta, mais relacionada com o bem comum, servir de apoio a educadores. Mas não há ruptura, em certo sentido continua o passado. O que faz o educador senão completar a educação iniciada no lar? A escola suplementa a família, faz o que ela não pode fazer.

Aurora, hora de promessas e esperanças. Hora de perceber a força das sementes. Estou certo que nesta etapa nova, a casa tem potencialidades de ir mais longe que na fase anterior. Fiel à inspiração de vida de quem lhe dá o nome, com entusiasmo pela docência, tratando com discernimento dos temas pedagógicos, em especial não deixando escorrer pelo ralo a experiência acumulada por gerações de professores, progredindo sempre na mesma rota por décadas sucessivas, os que aqui trabalharem poderão servir de forma excelente aos mais decisivos interesses dos alunos de Pará de Minas e da região. Um dia que não está distante esta casa brilhará dos imponderáveis da educação. Aqui se ensinará pela instrução, mas também pelo exemplo, e quem a frequentar aprenderá até por osmose. É nossa esperança. E, se em alguma ocasião futura, daqui a muitos anos, alguém quiser demoli-la por imperiosas razões de circunstância, certamente então se levantará uma professora, que, voltando o olhar para tanta benemerência, tanta experiência acumulada, tanta significação pedagógica, mais uma vez exclamará tomada pela justa indignação: “Demolir esta casa é um sacrilégio”. Muito obrigado.
*** *** ***

Este discurso foi pronunciado por mim em 21 de setembro de 2006 por ocasião da inauguração da Escola de Referência em Educação Maria Xavier Capanema. É a residência onde viveu meu avô. Vale a pena ver abaixo a nota do Museu Histórico de Pará de Minas a respeito da mencionada casa.

Casa Maria Capanema

       A Casa Maria Capanema resguarda em sua arquitetura de quase duzentos anos parte da história do Pará de Minas. O casarão é estrategicamente localizado no caminho de Pitangui, polo regional desde o desbravamento da Capitania de Minas. 
        O casarão foi adquirido por Gustavo Xavier Capanema, filho do médico e deputado provincial Gustavo Xavier da Silva Capanema. Antes dele dois outros moradores já haviam residido ali, sendo Joaquim Peregrino Varela, juiz da Comarca do Indaiá, na Vila do Pará, o primeiro deles.
        Por volta de 1909, Gustavo Xavier Capanema (Nhonhô Capanema) comprou o sítio no caminho de Pitangui, abrindo na casa sede um ponto de venda para o comércio de gêneros básicos. Casado com Maria Augusta de Carvalho (Dona Mariazinha), o casal gerou dez filhos.
        A histórica casa ficou popularmente conhecida como Casa Maria Capanema, nome de sua última moradora, filha e herdeira de Gustavo Xavier Capanema, professora e tabeliã de Pará de Minas, falecida em 2001.
        Localizada na esquina das Ruas Joaquim Peregrino e Melo Guimarães, esquina central do bairro, o Solar dos Capanema, provavelmente erguido entre 1850 e 1860, remanesce do Colonial Brasileiro. Oriundo de estilo arquitetônico predominante no Brasil Colônia, a Casa Maria Capanema é um testemunho inquestionável das raizes Coloniais Barrocas que definiram o surgimento da ocupação e povoação da cidade de Pará de Minas, preservando entre poucas edificações remanescentes, um passado áureo de conjunto arquitetônico, já perdido, de inúmeras construções de grande valor histórico.
       Único prédio privado tombado pelo Município até a sua aquisição pela municipalidade, para nele ser implantado o Centro de Referência em Educação Professora Maria Xavier Capanema, cuja inauguração ocorreu em 21de setembro de 2006. 
       A edificação foi tombada pelo Patrimônio Cultural Municipal pelo Decreto Nº 3535, de 04.04.2003. Situa-se na Rua Joaquim Peregrino, nº 38,  Bairro Xavier Capanema.


Reforma da casa
6 DE NOVEMBRO DE 2018
Obras preservaram estilo colonial da construção.

O imóvel conhecido como Casa Maria Capanema, localizado próximo à Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, está sendo recuperado pela Prefeitura de Pará de Minas. As obras seguem projeto orçado em aproximadamente R$ 100 mil. Tombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, a construção será totalmente recuperada com recursos do próprio município.
As obras consistiram principalmente em intervenções na laje do piso, na substituição do telhado e da rede elétrica. O assoalho, que ameaçava ruir, recebeu cuidados especiais. Parte do imóvel ainda conserva paredes feitas de adobe, técnica construtiva artesanal que utilizava barro seco ao sol, sem a queima, fibras naturais e formas de madeira.“A preservação do imóvel é de grande importância para Pará de Minas. Primeiro, por ter poucos exemplares desse estilo de construção em nossa cidade, o estilo colonial, que foi predominante no Brasil Colônia”, explica a arquiteta Cleysi Mara Pinto de Souza, presidente do Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de Pará de Minas. “Preservar essa edificação tombada é preservar nossa história e nossa identidade. Ela é de grande importância para a cidade e para a memória coletiva do Município”, ressaltou.
Após as obras, o imóvel deverá sediar a Casa dos Conselhos. A destinação da Casa de Conselhos para a edificação tombada não foi aleatória. “Tivemos reuniões dentro do conselho, de forma a analisar a edificação e avaliar qual seria o seu melhor uso, de modo a priorizar sua preservação e conservação. Diante disso, decidimos que a Casa dos Conselhos seria a melhor ocupação, para resguardar a estrutura original e delicada do imóvel, explica Cleysi Mara.
História
A Casa Maria Capanema resguarda em sua arquitetura de quase duzentos anos parte da história do Pará de Minas. O casarão é estrategicamente localizado no caminho de Pitangui, polo regional desde o desbravamento da Capitania de Minas. O casarão foi adquirido por Gustavo Xavier Capanema, filho do médico e deputado provincial Gustavo Xavier da Silva Capanema. Antes dele dois outros moradores já haviam residido ali, sendo Joaquim Peregrino Varela, juiz da Comarca do Indaiá, na Vila do Pará, o primeiro deles. Por volta de 1909, Gustavo Xavier Capanema (Nhonhô Capanema) comprou o sítio no caminho de Pitangui, abrindo na casa sede um ponto de venda para o comércio de gêneros básicos. Casado com Maria Augusta de Carvalho (Dona Mariazinha), o casal gerou dez filhos. A histórica casa ficou popularmente conhecida como Casa Maria Capanema, nome de sua última moradora, filha e herdeira de Gustavo Xavier Capanema, professora e tabeliã de Pará de Minas, falecida em 2001.
Localizada na esquina das Ruas Joaquim Peregrino e Melo Guimarães, esquina central do bairro, o Solar dos Capanema, provavelmente erguido entre 1850 e 1860, remanesce do Colonial Brasileiro. Oriundo de estilo arquitetônico predominante no Brasil Colônia, a Casa Maria Capanema é um testemunho inquestionável das raízes coloniais barrocas que definiram o surgimento da ocupação e povoação da cidade de Pará de Minas, preservando entre poucas edificações remanescentes, um passado áureo de conjunto arquitetônico, já perdido, de inúmeras construções de grande valor histórico. Único prédio privado tombado pelo Município até a sua aquisição pela municipalidade, para nele ser implantado o Centro de Referência em Educação Professora Maria Xavier Capanema, cuja inauguração ocorreu em 21 de setembro de 2006. A edificação foi tombada pelo Patrimônio Cultural Municipal pelo Decreto Nº 3.535, de 04/04/2003. Situa-se na Rua Joaquim Peregrino, nº 38, no Bairro Xavier Capanema..