terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Práticas de piedade atuais

 

Práticas de piedade atuais

 

Cristiano Martins da Costa

 

Atualidade encoberta. No primeiro artigo da presente série de três, de forma sucinta embora, foram realçadas duas características centrais ▬ reparação e desagravo ▬ da devoção ao Sagrado Coração de Jesus que se propagou universalmente a partir das revelações de Paray-le-Monial (1673 ▬ 1675). Jamais deverão ser esquecidas ou subestimadas no espírito dos fiéis; estão na origem (ou foram estímulo) de um conjunto de práticas de piedade que têm marcado a vida da Igreja por séculos e sobre algumas das quais falaremos a seguir. Trata-se agora de jogar luz intensa sobre tais formas de culto, mostrar sua atualidade, aproveitando o quadro de fundo das comemorações do 350º aniversário de tais aparições e a ampla divulgação da encíclica “Dilexit vos” do Papa Francisco. Trazendo para o centro algumas das principais, embora certos círculos as possam preferir encobertas por julgá-las arcaicas e obsoletas, apenas as colocamos onde sempre deveriam estar, fulgurando virtude para todos.

 

Foco na Comunhão nas Nove Primeiras Sextas-feiras do mês. Também intitulada Comunhão Reparadora. É hábito piedoso que o fiel faça sua confissão poucos dias antes de comungar. E igual, se possível, comungue durante a assistência à Missa. Deve receber a comunhão nas nove primeiras sextas-feiras durante nove meses consecutivos. Esta prática é denominada com razão de “a grande promessa”. Emergindo das aparições de Paray-le-Monial, contém a promessa da perseverança final: “Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu coração, que meu amor onipotente concederá a todos os que comunguem nas primeiras sextas-feiras de mês, durante nove meses consecutivos, a graça da penitência final, e que não morram em minha desgraça, nem sem receber os Santos Sacramentos, assegurando-lhes minha assistência na hora final. para aqueles que a realizarem com intenção reta”. Contudo, a 1ª Sexta Feira do mês é ocasião para outras prátic as de piedade além da Nove Comunhões Reparadora. Com efeito, na primeira sexta-feira do mês convém ao fiel se lembrar de que ela é dedicada ao Sagrado Coração de Jesus e é dia de atenção especial ao perdão dos pecados. Para fortalecer os bons propósitos neste dia pode-se outrossim rezar a Ladainha, a Consagração, o Ato de Reparação ao Sacratíssimo Coração de Jesus e a Oração ao Coração de Jesus na Eucaristia ▬ estão na rede. Pio XI ensina, a oração deve ser “humilde, confiante e perseverante”. Continua o Pontífice: “A nenhuma outra obra piedosa foram feitas pelo Senhor Onipotente promessas tão abundantes, tão universais e tão solenes”. Bastaria a fidelidade às práticas das 1ªs Sextas-Feiras para mudar para muito melhor o clima no interior da Igreja, oxigenando-o, e abrir enormes perspectivas missionárias. Teríamos práticas mais atuais e eficazes? E, ao mesmo tempo, são singelas, simples, ao alcance da mão.

 

O retorno das consagrações. De outro modo, faz falta o regresso de prática que jamais deveria ter sido virtualmente abandonada, pelo menos em círculos influentes. A consagração ao Sagrado Coração é decorrência lógica do propósito de reparar. Pela consagração, percorrendo o austero caminho da dedicação, é desagravado o Sagrado Coração, esbofeteado em seus direitos. Enquanto é particular a prática das 1ªs Sextas-Feiras do mês, a consagração tanto pode ser particular como envolver sociedades. De um lado, uma pessoa pode se consagrar privadamente e até no silêncio de sua alma. Como ilustração, deixo a seguir uma das fórmulas: “Eu [nome], para Vos testemunhar o meu reconhecimento e reparar as minhas infidelidades, Vos dou o meu coração e me consagro inteiramente a Vós, ó meu amável Jesus, e com o vosso socorro proponho não pecar mais”. De outro, também as sociedades, ou seja, famílias, escolas, empresas, e até mesmo Estados, podem se consagrar validamente ao Sagrado Coração de Jesus, atraindo para si sua proteção e suas bênçãos. Foi prática comum em décadas passadas, em especial no século 19, produziu grandes frutos, balizou por décadas a direção geral da piedade católica. Ápice desse movimento foi a consagração do gênero humano feita por Leão XIII (1878-1903) em 11 de junho de 1899, em união com bispos, sacerdotes e fiéis; consagração anunciada, justificada doutrinária e pastoralmente pouco antes, em 25 de maio de 1899 na encíclica “Annum Sacrum”. Seu sucessor, são Pio X (1903-1914), quando ainda cardeal-patriarca de Veneza, definiu bem, com a singeleza dos santos, o objetivo da prática piedosa das consagrações, da qual era grande adepto: “Restabelecer os direitos que Nosso Senhor possui de ser amado e servido enquanto Rei, como Ele o era nas épocas de fé”. Na presente quadra histórica, com as circunstâncias imperantes, uma maneira factível de retomada e reconquista é a ênfase na consagração das famílias católicas, ato privado que depende apenas dos pais e, de certa maneira, dos filhos. Não nos esqueçamos, a família é a primeira e mais natural das sociedades; e, sob vários aspectos, a mais importante delas. Tudo o que acontece no interior das famílias reverbera para a sociedade inteira, por vezes de forma decisiva. Sua consagração pode ser largamente praticada e atrairá as bênçãos do Sagrado Coração para as que a ele aderirem com retidão e fé. E terá enorme repercussão social; serão ondas benfazejas, levando bênçãos, espalhando-se meio indefinidamente pelos oceanos das populações sofredoras, tantas vezes ávidas de sobrenatural.

 

Entronização do Sagrado Coração nos lares. É prática naturalmente complementar da consagração das famílias, que o colocam (entronizam), mediante, por exemplo, sua imagem sobre uma peanha em lugar destacado da casa. Ali fazem orações, particulares ou em conjunto, sua presença cria ambiente de elevação, pureza e respeito. O fim próximo é da entronização fazer com que o Sagrado Coração reine naquela família, ou naquele ambiente. O fim remoto é que este reino se estenda a toda a sociedade. Não estou falando aqui especificamente da Obra da Entronização, fundada pelo padre Mateus Crawley-Boevey (1875-1961), digna de todos os elogios, mas apenas da prática privada.

 

O bentinho do Sagrado Coração de Jesus. O bentinho, proteção contra tentações e calamidades, é um objeto de devoção que traz inscrito “Alto! O Coração de Jesus está comigo, Venha a nós o vosso Reino”. É muito conveniente sua mais ampla difusão; depois de bento por um sacerdote, pode ser guardado, por exemplo, na bolsa ou na carteira.

 

Incentivo a todas as formas de devoção. A devoção ao Sagrado Coração deve ser considerada estímulo às outras formas de devoção. Pio XII, na “Haurietis Aquas”, pontuou: “Ninguém pense que esta devoção prejudique no que quer que seja outras formas de piedade”. Contudo, pelas suas características, tem maior relação com a devoção ao Verbo Encarnado, Eucaristia, Paixão, Cinco Chagas, Nossa Senhora.

 

As doze promessas do Sagrado Coração de Jesus. Para fechar o presente artigo deixo abaixo as chamadas 12 promessas do Sagrado Coração, compilação piedosa feita a partir das Grandes Revelações de 1673 a 1675, cujo conhecimento (ou recordação) estimula as mais diversas formas de adoração ao Sagrado Coração.

 

1ª) Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.

2ª) Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.

3ª) Eu os consolarei em todas as suas aflições.

4ª) Serei seu refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte.

5ª) Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.

6ª) Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.

7ª) As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas pela prática dessa devoção.

8ª) As almas fervorosas subirão, em pouco tempo, a uma alta perfeição.

9ª) A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de Meu Sagrado Coração.

10ª) Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos.

11ª) As pessoas que propagarem esta devoção terão o seu nome inscrito para sempre no Meu Coração.

12ª) A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

 

Nota: escrevi três artigos sobre o Sagrado Coração, já divulgados em outras publicações com o pseudônimo que uso às vezes: Cristiano Martins da Costa. Vou postá-los hoje no meu blog.

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