sábado, 21 de maio de 2016

Confissões petistas

Confissões petistas

Péricles Capanema

Em 17 de maio último o Diretório Nacional do PT divulgou “Resolução sobre conjuntura”, documento roteiro para encontro extraordinário do partido marcado para novembro próximo, antecedido de reunião ampliada do Diretório Nacional, já agora em julho.

Referida orientação petista privilegia a reconstrução do partido e deixa em segundo plano conveniências de alianças abertas ao centro político. A mais da autocrítica, reafirma princípios e proclama objetivos que recolocam o partido no caminho onde começou: estuário de esquerdas radicalizadas com anexos de vários tipos, o que o tornava, no quadro político, sucessor natural, viável eleitoralmente, do Partido Comunista Brasileiro.

Posto entre a necessidade, de um lado, de formar alianças em direção ao centro para tornar viável a conquista do poder e, de outro, a reafirmação de objetivos revolucionários para impedir que suas bases apodreçam, escolheu no momento a segunda via. Em consequência, conscientemente, restringiu a possibilidade de conseguir os 28 votos (ausência vale) no Senado, necessários para o retorno de Dilma Rousseff ao Planalto. Modo outro, tirou o modernoso paletó socialdemocrata e enfiou a puída jaqueta vermelha do comunismo, ainda que disfarçado e por etapas. Se continuar assim, será o normal, logo à frente lá de dentro ouviremos críticas crescentes à política de Dilma, que foi testa de ferro da orientação partidária de caminhar rumo ao centro. Até quando? Sei lá. Até quando for conveniente manter esse discurso.

A resolução enfatiza o objetivo petista de, governando de novo, sabotar oficiais das Forças Armadas e funcionários públicos na Polícia Federal, Ministério Público, Itamaraty de orientação profissional, ao mesmo tempo que promoveria ativamente pessoal alinhado ideologicamente ao PT. É uma forma peculiar de entrismo. Vai mais longe, o roteiro promete ingerência inaudita nas instituições do Estado, entre as quais a de modificar o currículo das Agulhas Negras e de outras escolas militares para formar oficiais que marchariam com o petismo. Ainda no texto analisado, encher de dinheiro blogues sujos e assemelhados e cortar verbas publicitária de órgãos de imprensa não subservientes: “Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”.

Volta-se contra a Operação Lava Jato “instrumento político para a guerra de desgaste contra dirigentes e governantes petistas”. Agride a atuação de procuradores, delegados e juízes: “A [Lava Jato] revela o alinhamento de diversos grupos do aparato repressivo estatal – delegados, procuradores e juízes – com o campo reacionário”. Falando mais claro, em governo petista Lava Jato só contra adversários.

De forma velada lamenta a diminuição do apoio à China, a potência que mais ameaça os Estados Unidos: “Caso consolidado, este retrocesso político [do qual faz parte o governo Temer] influirá sobre a evolução do bloco BRICS, cujo potencial econômico e financeiro coloca em xeque a velha engenharia mundial das potencias capitalistas”. Em tal quadro, a resolução deplora igualmente a baixa no apoio aos governos “progressistas” como Venezuela, Bolívia e Equador, circunstância favorável aos Estados Unidos. Já se vê, no horizonte petista, como utopias mobilizadoras, estão, num plano, Venezuela e Cuba. Esperam, ainda empurrarão o Brasil a situação parecida. Em outro, arena internacional, a ascensão da China finalmente tornaria possível considerar seriamente o fim da influência dos Estados Unidos. O Delenda est Carthago do PT é a destruição dos Estados Unidos. Costumam terminar seus documentos alardeando essa obsessão, aliás ecoa berreiros iguais de todas as esquerdas no mundo.

O Diretório Nacional começa a autocrítica dos últimos 14 anos (vem mais coisa por aí): “Confiamos na governabilidade institucional a partir de alianças ao centro, como coluna vertebral para a sustentação de nosso projeto. [...] Mas fomos acanhados ao impulsionar a luta social [...] Acabamos reféns de acordos táticos. [..] A vida interna se estiolou. [...} Milhares de novos filiados foram incorporados sem quaisquer vínculos com o pensamento de esquerda”. Em resumo, confessa o apodrecimento interno, antes disfarçado, decorrência em boa medida da fase paz e amor, indispensável lá atrás para chegar ao governo.

Hora de fechar. Em resumo, ainda que tenha imposto ao Brasil apenas parte do costumeiro receituário socialista, os resultados, os de sempre, foram empobrecimento, desemprego, carestia e ladroagem. O PT, claro, não reconhece, quanto mais colocado em prática tal receituário, mais desastres acarreta; bastaria considerar hoje os casos dantescos da Venezuela e Cuba; ontem, os da Europa Oriental. No total, o partido, para formar militância e reconstruir a situação interna, mostrou de novo a face intolerante do velho comunismo. Para tal, jogou ao mar possibilidades de apoios no centro e até na direita; posição necessária para não deperecer, pensarão estrategistas de lá.


Falta a última confissão petista: lhes importam pouco as sequelas de pobreza e tirania das experiências socialistas, continuarão sempre, inamovíveis e obstinados, arautos da igualdade social. Virá um dia, podem esperar.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Certificados de excelência

Certificados de excelência

Péricles Capanema

Nem bem assumiu, o novo governo brasileiro recebeu inesperados certificados de excelência. Foi violentamente criticado pelos governos de Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua, assim como pela Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América / Tratado de Comércio dos Povos (ALBA/TCP). Ah, El Salvador também. Um país está satisfeito com a nova situação, Argentina. Só ela conta mais que as manifestações dessa miuçalha de governos sem relevância. Ortega, Maduro, Fidel, Rafael Corrêa, Evo Morales, uma fauna predadora nunca antes reunida na história desta América Latina. São kakistocracias, o governo dos piores, infelicitam seus países. Também tínhamos entre nós uma kakistocracia.

“Diga-me com quem andas, dir-te-ei quem és”. O Brasil andava feliz com essa gente, ditadores, ladrões, assassinos, comunistas, agora virou-lhes as costas. Estão furiosos. Podemos também dizer com o mesmo acerto: diga-me quem te odeia, dir-te-ei quem és. Quem é odiado por gente tão ordinária, alguma coisa de boa deve ter.

Segundo o Estadão de 16 de maio, de momento quem dirige a ofensiva contra o Brasil é Cuba. Piada, né? O governo de Cuba enviou nota para Organização Internacional do Trabalho, Organização Mundial do Comércio, Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Vou parar por aqui. São mais de cem destinatários. Claro, em vista do prestígio do remetente a maioria dos visados, sem lê-la, jogou a nota na cesta de papeis, De fato, vou atualizar, chega por e-mail. Deleta.

A nota diz: “Trata-se, na realidade, de um artifício armado por setores da oligarquia desse País, apoiada pela grande imprensa reacionária e pelo imperialismo, com o propósito de reverter o projeto político do Partidos dos Trabalhadores (PT)”. Continua na verborreia própria ao comunismo cubano.

De outro modo, na primeira fila da pantomina contra o Brasil estão Fidel e Raúl Castro, ditadores, comunistas, carcereiros e assassinos de milhares de cubanos. Armando Valladares, prisioneiro por 22 anos na ilha, escreveu em 23 de janeiro de 1998 na Folha: “Fui testemunha, com dezenas de presos da tristemente célebre La Cabaña, do ódio antirreligioso do regime castrista. Como narro em minhas memórias, nos primeiros anos da revolução, todas as noites havia fuzilamentos. Os gritos dos patriotas de ‘Viva Cristo Rei! Abaixo o comunismo!’ estremeciam os fossos centenários daquela fortaleza. O fato de ouvir aqueles jovens católicos cheios de valor morrerem diante dos paredones gritando ‘Viva Cristo Rei!’ redobrava nossas forças espirituais e contribuía para nos fazer receber enormes graças de conversão”.

A mesma edição do Estadão informa dos horrores vividos hoje pela população da Venezuela, governada por uma casta cleptocoletivista, também envolvida na pantomina contra o Brasil. Moisés Naim relata, desde 2009 centenas de milhões de dólares foram destinados à construção de usinas hidrelétricas. Até hoje não se prestou conta do dinheiro, todos sabem, foi roubado pelos vorazes bolivarianos, em ação de fazer inveja aos petistas enrolados na Lava Jato. Só que lá não tem investigação. Na mesma edição, Nicholas Casey descreve o horror dos serviços de saúde pública em que, exemplo entre vários, o índice de mortalidade de bebês de até um mês cresceu 100 vezes de 2012 a esta parte (era 0,02%, agora, 2%). Nicolás Maduro, chefe dos bolivarianos, recentemente declarou: “Duvido que em algum lugar do mundo, exceto Cuba, exista um sistema de saúde melhor do que este”. Lembra a bazófia de Lula sobre nosso sistema de saúde: “Ah, se tivesse um SUS nos Estados Unidos como seria bom para os pobres. Eu, na próxima conversa que eu tiver com o Obama, eu falo: ‘Obama, faça um SUS. Custa mais barato e é de qualidade’”.

O mesmo Nicolás Maduro meteu a colher de pau no caso brasileiro: “Não tenho nenhuma dúvida de que atrás deste golpe de Estado está a marca made in USA. A Venezuela rechaça esta canalhada feita contra esta grande líder”.

O apoio estridente ao PT de bolivarianos e afins mais atrapalha que ajuda a construção de oposição internacional à nova situação. Para setores isentos à vera constituem certificados de excelência. Até aqui nenhum motivo de preocupação. E o Itamaraty tem tratado a questão com notas duras e bem merecidas.

Preocupa, isso sim, artigos aqui e ali contra a nova situação em jornais como New York Times e The Guardian. Podem servir de base para movimentos de opinião em cidades decisivas como Washington, Nova York, Madri, Paris, Londres, Roma, Bonn. Nelas e em outras cidades de padrão similar, uniões de esquerda do tipo estudantil, acadêmico, sindical e político certamente tentarão montar campanhas contra o Brasil. Facilmente, elas repercutirão internamente. Sempre existem pessoas que se impressionam ouvindo que lá fora, em ambientes mais endinheirados ou intelectualizados, se vê com reserva a situação nacional. Hora para a diplomacia brasileira nesses locais sair do casulo, deixar de falar só para pequenos públicos e enfrentar a céu aberto, com argumentos amplos, tal investida.


PS: Kakistocracia (governo dos piores), neologismo criado por Michelangelo Bovero para indicar a combinação da tirania, oligarquia e demagogia; outro modo, o péssimo governo com mando dos piores. Designa comumente o Estado gerido por incapazes e corruptos, defensores das piores ideias econômicas e políticas.

domingo, 15 de maio de 2016

Não à desmobilização

Não à desmobilização

Péricles Capanema

Em ambiente de esperança, pisando firme, começou o governo Michel Temer. Não fazendo barbeiragem ou tomando trombada, o novo chofer dirige o Estado até dezembro de 2018. Trombada? No Senado, para o afastamento, sua equipe ganhou com 55 votos, bem acima dos naquele momento necessários 39, mas só um além do número indispensável para o impeachment no julgamento final. Com 53 votos favoráveis à cassação, Dilma volta ao Planalto.

Surgindo fato chocante, e a Lava Jato tem produzido eventos inesperados, renasceria a esperança petista.

Hoje, porém, tudo o indica, é pouco provável uma votação abaixo de 54 votos na Câmara Alta, quando do julgamento final daqui a semanas. Assim, o normal, sem abalroamento, Michel Temer fica no volante até 31 de dezembro de 2018. A dúvida, pequena embora, atinente ao desfecho do julgamento, impede a distensão no público.

De qualquer maneira, ainda antes da presumível cassação do mandato de Dilma Rousseff, a desmobilização é grande perigo. Será maior com Temer presidente definitivo. Para mim, claro como água do pote: assim como a mobilização dos espíritos possibilitou enorme vitória, a desmobilização carrega no bojo a derrota.

O que entendemos por desmobilização? O termo na linguagem corrente evoca o retorno à vida civil dos soldados que voltam da guerra. Derrotados ou vencedores, recomeça para eles a vida anterior. O desmobilizado muda o foco das preocupações, os campos de batalha vão se tornando memória distante.

Como um todo, a esquerda está profundamente desmoralizada. Vai sofrer hemorragia em seus setores de simpatizantes e militantes de menor adesão. Contudo, o setor radicalizado, que de fato dirige miríades de organizações, não vai se desmobilizar. Só lhe importa o sofrimento popular, o desemprego, o desastre das políticas petistas na exata medida em que prejudica suas possibilidades de expansão. Esse segmento continua a sonhar com uma sociedade igualitária de homens necessariamente estiolados em suas potencialidades de ascensão. Sempre estará à espreita da primeira ocasião propícia para atacar e ganhar. Assim, continuará ativo o cerne ideológico enquistado no PT, universidades, Igreja, movimentos reivindicatórios, nas várias condições sociais. Terá pedras novas no caminho, entre as quais avulta o fim do financiamento público de suas publicações, via propaganda paga dos governos dirigidos por petistas, Caixa, Petrobrás, tanta coisa mais. Então, numerosas publicações orientadas por esse miolo encarniçado, lembro os blogues sujos, vão fechar. Convém lembrar, contudo, não serão poucos os que no núcleo duro da esquerda preferirão a situação nova à precedente, em que precisavam ser advogados dativos de um governo impopular e falido.

Em outubro de 2014, Dilma Roussef venceu com margem apertada (51,64% a 48,36%). Contudo, a vitória eleitoral soou como estridente derrota moral, pois Aécio Neves ganhou com maiorias folgadas no Brasil que pensa, trabalha e produz mais ativamente. E este Brasil mais ativo, informado e inconformado, moralmente vitorioso, reagiu rijo ao longo dos últimos meses. Os atentados graves contra a lei de Responsabilidade Fiscal dormiriam em gavetas empoeiradas do Congresso e do Executivo, inexistisse a candente rejeição popular desta faixa do público.

Falei em reação rija e em rejeição candente. O maior perigo no horizonte é tal faixa, decisiva para o Brasil, ficar gelatinosa e morna. Por quê? Por uma real ilusão de ótica política: o sumiço do inimigo poderoso que a ameaçava.

Em meados de 2007, estimulado por empresários conhecidos e algumas celebridades, teve grande e passageira repercussão o movimento Cansei. Com claro caráter antilulista, exprimia a convicção de que o Brasil, horrorizado com o mensalão, denunciado em junho de 2005, estava cansado do governo petista e queria coisa nova. Exprimia insatisfação popular real, mas teve reflexo eleitoral discutível. Por exemplo, depois de sua atuação, Dilma Rousseff obteve dois mandatos.

Estamos em meados de maio. Daqui a três meses, em 16 de agosto começa a propaganda eleitoral. Em 2 de outubro, teremos eleições para vereadores e prefeitos. Podem ser decisivas, especialmente como símbolo, para o Brasil do futuro. Com campanhas desfocadas com facilidade teremos um mundaréu de eleitos terrivelmente decepcionantes. Dois especialistas celebrados poderiam nos ajudar a entender melhor as próximas eleições. James Carville, marqueteiro de Bill Clinton em 1992, criou (repetida com variações) a frase it’s economy, stupid (é a economia, estúpido) para indicar que o eleitor, na hora do voto, em geral tem em vista o que considera seu interesse econômico mais próximo. Tempos depois, Barrington Moore, analisando as manifestações dos últimos anos, com base naquela frase, criou uma outra: it’s morality, stupid (é a moralidade, estúpido). Ficou famosa igual. As manifestações têm sobretudo razões morais como motor (contra a corrupção, a maior delas). Então, apenas em parte os resultados eleitorais refletem a exasperação popular nelas observada. Se acontecer algo assim em outubro próximo, não será fenômeno novo.


Por que lembrei? Contribuição para uma análise objetiva da presente situação, pode ser vacina contra o abatimento de alguns, e assim estimulo à permanência do ativismo. Despertos e espertos, a presente alegria não desembocará daqui a algum tempo na amargura, fruto da despreocupação e inércia. Nada de desmobilização.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Está fazendo falta uma Nuremberg tupiniquim

Está fazendo falta uma Nuremberg tupiniquim

Péricles Capanema

Só para lembrar, terminada a 2ª Guerra Mundial as potências aliadas instituíram o Tribunal Militar Internacional em Nuremberg para julgar crimes cometidos pelo nazismo. As sessões tiveram lugar entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 1946. Em fins deste ano começaram, também em Nuremberg, os chamados Processos de Guerra. Só vieram a terminar em outubro de 1948.

Além das condenações penais, a opinião pública, ouvindo o eco dos processos, tomou conhecimento detalhada e documentadamente dos pavorosos crimes cometidos pelo governo e partido nazistas. Constituíram talvez a maior vacina antinazista produzida na História.

No Brasil, tudo leva a crer, estão se fechando as cortinas dos treze anos de domínio petista. Em cambulhada, nesse período, o pobre brasileiro do seu sofá vendo a televisão teve notícia da ladroagem, incompetência nunca imaginada, intervencionismo maluco, demagogia sem peias, empobrecimento, carestia, destruição do parque industrial, colaborações surpreendentes, cegueira obstinada, leniência com o crime, cumplicidade com desmandos, oportunismos chocantes e silêncios inexplicáveis. Fora o resto. Tudo levava água para um projeto de poder que, para os ideólogos do petismo, propiciaria a criação do homem igualitário e libertário de suas utopias. O PT nunca teria chegado ao poder de que dispôs sem o concurso de pessoas em situações acima aludidas, algumas vezes como companheiras de viagem, outras como inocentes úteis.

Ainda bem, houve reação. O povo escorchado, em sucessivas passeatas ao longo de 2015 e 2016, vociferou seu descontentamento. Atentos ao ronco das ruas, agiram os políticos e o governo tombou. Um pouco precipitadamente escrevi tombou, é o que de momento parece mais provável.

Chegou a hora do balanço. Por óbvio, não estou reclamando tribunais. Inspirando-me em Nuremberg, proponho tão só, de forma algum tanto pesadona, mas no momento necessária, trabalho de pesquisa e análise para conhecer o que aconteceu, uma vacina, se quisermos, benéfica ao povo, que assim terá condições melhores para formar opinião. Sem ela, temo, daqui a pouco estaremos de novo sujeitos aos mesmos vírus que causaram o desastre.

Coloco abaixo alguns dos pontos a serem iluminados. Foi a antipatia ao lucro, à propriedade privada, à livre iniciativa, e ao mercado, acoplada com a credulidade demolidora nas possibilidades do Estado o que, na economia, nos rojaram ao fundo do poço. Era o caminho que nos arrastaria indefectivelmente à situação da Venezuela e de Cuba. Tal mentalidade revolucionária, pouco ativa no povo simples, está muito presente na universidade, nas sacristias e até na alta burguesia. São pessoas formadoras de opinião. Via de regra este, pelo menos, pendor esquerdista vem junto com opiniões libertárias em matéria moral. Um exemplo característico foi o casal Eduardo-Marta Suplicy. É câncer social agressivo, de extirpação difícil e lenta. Não combatido, mata. Ter o problema claro já é um bom primeiro passo.

Outro ponto. Fomos arrastados até aqui pela cegueira, quando não pela cumplicidade, de boa parte das lideranças que, por missão natural, tinham o dever de defender, como disse acima, a propriedade privada, a livre iniciativa, o lucro e o mercado contra uma seita ideológica cujo objetivo final, nunca abjurado, é a generalizada coletivização do campo e da cidade. Junto exemplos esclarecedores e tristes. Entre os atuais ministros, dois foram presidentes das entidades patronais dos industriais e dos fazendeiros, CNI e CNA. E podem voltar para o Senado para votar contra o impeachment. O vice de Lula foi empresário riquíssimo, ex-presidente da FIEMG; sua presença na chapa agia de forma a anestesiar setores das classes produtoras, e até no povo em geral, de si tendentes à reação ao desastre no qual afundava o Brasil. E foi essa a razão de sua escolha. De outro modo, beneficiam por vezes de maneira decisiva, consciente ou inconscientemente, um grupo político que em prazo dilatado quer liquidar a influência dos fazendeiros e dos industriais na vida nacional. Pior, não são exceções gritantes. À vera, são situações que se repetem. Exprimem uma forma de anemia das classes produtoras.

Essa constatação me empurra para outras lideranças, agora de âmbito religioso. A esquerda católica foi responsável maior, em trabalho que vem pelo menos desde a década de 40, pela ascensão do PT. Na prática seu apoio favoreceu o homossexualismo, a legalização do aborto, a secularização agressiva. E ainda hoje seus adeptos continuam agindo para impedir que o Brasil escape ao destino da Venezuela e de Cuba. Aqui podemos lembrar a Ação Católica, a Nova Teologia, as comunidades de base, a Teologia da Libertação, a Pastoral da Terra, o CIMI, Comissões Justiça e Paz, e até a própria CNBB. Tanta coisa mais. É outro câncer social, mais virulento que o mencionado acima.


Os três fenômenos aqui apontados são exemplos típicos de autodemolição, enfermidade que ajudou enormemente a ascensão lulopetista. Já se vê, montes de coisa contra o que vacinar.