Confissões petistas
Péricles Capanema
Em 17 de maio último o Diretório Nacional do PT divulgou
“Resolução sobre conjuntura”, documento roteiro para encontro extraordinário do
partido marcado para novembro próximo, antecedido de reunião ampliada do
Diretório Nacional, já agora em julho.
Referida orientação petista privilegia a reconstrução
do partido e deixa em segundo plano conveniências de alianças abertas ao centro
político. A mais da autocrítica, reafirma princípios e proclama objetivos que
recolocam o partido no caminho onde começou: estuário de esquerdas radicalizadas
com anexos de vários tipos, o que o tornava, no quadro político, sucessor natural,
viável eleitoralmente, do Partido Comunista Brasileiro.
Posto entre a necessidade, de um lado, de formar
alianças em direção ao centro para tornar viável a conquista do poder e, de
outro, a reafirmação de objetivos revolucionários para impedir que suas bases
apodreçam, escolheu no momento a segunda via. Em consequência, conscientemente,
restringiu a possibilidade de conseguir os 28 votos (ausência vale) no Senado, necessários
para o retorno de Dilma Rousseff ao Planalto. Modo outro, tirou o modernoso
paletó socialdemocrata e enfiou a puída jaqueta vermelha do comunismo, ainda
que disfarçado e por etapas. Se continuar assim, será o normal, logo à frente lá
de dentro ouviremos críticas crescentes à política de Dilma, que foi testa de ferro
da orientação partidária de caminhar rumo ao centro. Até quando? Sei lá. Até
quando for conveniente manter esse discurso.
A resolução enfatiza o objetivo petista de, governando
de novo, sabotar oficiais das Forças Armadas e funcionários públicos na Polícia
Federal, Ministério Público, Itamaraty de orientação profissional, ao mesmo
tempo que promoveria ativamente pessoal alinhado ideologicamente ao PT. É uma
forma peculiar de entrismo. Vai mais longe, o roteiro promete ingerência inaudita
nas instituições do Estado, entre as quais a de modificar o currículo das
Agulhas Negras e de outras escolas militares para formar oficiais que
marchariam com o petismo. Ainda no texto analisado, encher de dinheiro blogues
sujos e assemelhados e cortar verbas publicitária de órgãos de imprensa não subservientes:
“Fomos
igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria
impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e
do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares;
promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala
mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de
verbas publicitárias para os monopólios da informação”.
Volta-se contra a Operação Lava Jato “instrumento
político para a guerra de desgaste contra dirigentes e governantes petistas”. Agride
a atuação de procuradores, delegados e juízes: “A [Lava Jato] revela o
alinhamento de diversos grupos do aparato repressivo estatal – delegados,
procuradores e juízes – com o campo reacionário”. Falando mais claro, em
governo petista Lava Jato só contra adversários.
De forma velada lamenta a diminuição do apoio à China,
a potência que mais ameaça os Estados Unidos: “Caso consolidado, este
retrocesso político [do qual faz parte o governo Temer] influirá sobre a
evolução do bloco BRICS, cujo potencial econômico e financeiro coloca em xeque
a velha engenharia mundial das potencias capitalistas”. Em tal quadro, a
resolução deplora igualmente a baixa no apoio aos governos “progressistas” como
Venezuela, Bolívia e Equador, circunstância favorável aos Estados Unidos. Já se
vê, no horizonte petista, como utopias mobilizadoras, estão, num plano, Venezuela
e Cuba. Esperam, ainda empurrarão o Brasil a situação parecida. Em outro, arena
internacional, a ascensão da China finalmente tornaria possível considerar
seriamente o fim da influência dos Estados Unidos. O Delenda est Carthago do PT é a destruição dos Estados Unidos. Costumam
terminar seus documentos alardeando essa obsessão, aliás ecoa berreiros iguais
de todas as esquerdas no mundo.
O Diretório Nacional começa a autocrítica dos últimos
14 anos (vem mais coisa por aí): “Confiamos na governabilidade institucional a
partir de alianças ao centro, como coluna vertebral para a sustentação de nosso
projeto. [...] Mas fomos acanhados ao impulsionar a luta social [...] Acabamos
reféns de acordos táticos. [..] A vida interna se estiolou. [...} Milhares de
novos filiados foram incorporados sem quaisquer vínculos com o pensamento de
esquerda”. Em resumo, confessa o apodrecimento interno, antes disfarçado,
decorrência em boa medida da fase paz e amor, indispensável lá atrás para chegar
ao governo.
Hora de fechar. Em resumo, ainda que tenha imposto ao
Brasil apenas parte do costumeiro receituário socialista, os resultados, os de
sempre, foram empobrecimento, desemprego, carestia e ladroagem. O PT, claro, não
reconhece, quanto mais colocado em prática tal receituário, mais desastres
acarreta; bastaria considerar hoje os casos dantescos da Venezuela e Cuba;
ontem, os da Europa Oriental. No total, o partido, para formar militância e
reconstruir a situação interna, mostrou de novo a face intolerante do velho
comunismo. Para tal, jogou ao mar possibilidades de apoios no centro e até na
direita; posição necessária para não deperecer, pensarão estrategistas de lá.
Falta a última confissão petista: lhes importam pouco as
sequelas de pobreza e tirania das experiências socialistas, continuarão sempre,
inamovíveis e obstinados, arautos da igualdade social. Virá um dia, podem
esperar.
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