terça-feira, 17 de maio de 2016

Certificados de excelência

Certificados de excelência

Péricles Capanema

Nem bem assumiu, o novo governo brasileiro recebeu inesperados certificados de excelência. Foi violentamente criticado pelos governos de Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua, assim como pela Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América / Tratado de Comércio dos Povos (ALBA/TCP). Ah, El Salvador também. Um país está satisfeito com a nova situação, Argentina. Só ela conta mais que as manifestações dessa miuçalha de governos sem relevância. Ortega, Maduro, Fidel, Rafael Corrêa, Evo Morales, uma fauna predadora nunca antes reunida na história desta América Latina. São kakistocracias, o governo dos piores, infelicitam seus países. Também tínhamos entre nós uma kakistocracia.

“Diga-me com quem andas, dir-te-ei quem és”. O Brasil andava feliz com essa gente, ditadores, ladrões, assassinos, comunistas, agora virou-lhes as costas. Estão furiosos. Podemos também dizer com o mesmo acerto: diga-me quem te odeia, dir-te-ei quem és. Quem é odiado por gente tão ordinária, alguma coisa de boa deve ter.

Segundo o Estadão de 16 de maio, de momento quem dirige a ofensiva contra o Brasil é Cuba. Piada, né? O governo de Cuba enviou nota para Organização Internacional do Trabalho, Organização Mundial do Comércio, Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Vou parar por aqui. São mais de cem destinatários. Claro, em vista do prestígio do remetente a maioria dos visados, sem lê-la, jogou a nota na cesta de papeis, De fato, vou atualizar, chega por e-mail. Deleta.

A nota diz: “Trata-se, na realidade, de um artifício armado por setores da oligarquia desse País, apoiada pela grande imprensa reacionária e pelo imperialismo, com o propósito de reverter o projeto político do Partidos dos Trabalhadores (PT)”. Continua na verborreia própria ao comunismo cubano.

De outro modo, na primeira fila da pantomina contra o Brasil estão Fidel e Raúl Castro, ditadores, comunistas, carcereiros e assassinos de milhares de cubanos. Armando Valladares, prisioneiro por 22 anos na ilha, escreveu em 23 de janeiro de 1998 na Folha: “Fui testemunha, com dezenas de presos da tristemente célebre La Cabaña, do ódio antirreligioso do regime castrista. Como narro em minhas memórias, nos primeiros anos da revolução, todas as noites havia fuzilamentos. Os gritos dos patriotas de ‘Viva Cristo Rei! Abaixo o comunismo!’ estremeciam os fossos centenários daquela fortaleza. O fato de ouvir aqueles jovens católicos cheios de valor morrerem diante dos paredones gritando ‘Viva Cristo Rei!’ redobrava nossas forças espirituais e contribuía para nos fazer receber enormes graças de conversão”.

A mesma edição do Estadão informa dos horrores vividos hoje pela população da Venezuela, governada por uma casta cleptocoletivista, também envolvida na pantomina contra o Brasil. Moisés Naim relata, desde 2009 centenas de milhões de dólares foram destinados à construção de usinas hidrelétricas. Até hoje não se prestou conta do dinheiro, todos sabem, foi roubado pelos vorazes bolivarianos, em ação de fazer inveja aos petistas enrolados na Lava Jato. Só que lá não tem investigação. Na mesma edição, Nicholas Casey descreve o horror dos serviços de saúde pública em que, exemplo entre vários, o índice de mortalidade de bebês de até um mês cresceu 100 vezes de 2012 a esta parte (era 0,02%, agora, 2%). Nicolás Maduro, chefe dos bolivarianos, recentemente declarou: “Duvido que em algum lugar do mundo, exceto Cuba, exista um sistema de saúde melhor do que este”. Lembra a bazófia de Lula sobre nosso sistema de saúde: “Ah, se tivesse um SUS nos Estados Unidos como seria bom para os pobres. Eu, na próxima conversa que eu tiver com o Obama, eu falo: ‘Obama, faça um SUS. Custa mais barato e é de qualidade’”.

O mesmo Nicolás Maduro meteu a colher de pau no caso brasileiro: “Não tenho nenhuma dúvida de que atrás deste golpe de Estado está a marca made in USA. A Venezuela rechaça esta canalhada feita contra esta grande líder”.

O apoio estridente ao PT de bolivarianos e afins mais atrapalha que ajuda a construção de oposição internacional à nova situação. Para setores isentos à vera constituem certificados de excelência. Até aqui nenhum motivo de preocupação. E o Itamaraty tem tratado a questão com notas duras e bem merecidas.

Preocupa, isso sim, artigos aqui e ali contra a nova situação em jornais como New York Times e The Guardian. Podem servir de base para movimentos de opinião em cidades decisivas como Washington, Nova York, Madri, Paris, Londres, Roma, Bonn. Nelas e em outras cidades de padrão similar, uniões de esquerda do tipo estudantil, acadêmico, sindical e político certamente tentarão montar campanhas contra o Brasil. Facilmente, elas repercutirão internamente. Sempre existem pessoas que se impressionam ouvindo que lá fora, em ambientes mais endinheirados ou intelectualizados, se vê com reserva a situação nacional. Hora para a diplomacia brasileira nesses locais sair do casulo, deixar de falar só para pequenos públicos e enfrentar a céu aberto, com argumentos amplos, tal investida.


PS: Kakistocracia (governo dos piores), neologismo criado por Michelangelo Bovero para indicar a combinação da tirania, oligarquia e demagogia; outro modo, o péssimo governo com mando dos piores. Designa comumente o Estado gerido por incapazes e corruptos, defensores das piores ideias econômicas e políticas.

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