Certificados de excelência
Péricles Capanema
Nem bem assumiu, o novo governo brasileiro recebeu inesperados
certificados de excelência. Foi violentamente criticado pelos governos de Cuba,
Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua, assim como pela Aliança Bolivariana
para os Povos de Nossa América / Tratado de Comércio dos Povos (ALBA/TCP). Ah,
El Salvador também. Um país está satisfeito com a nova situação, Argentina. Só
ela conta mais que as manifestações dessa miuçalha de governos sem relevância. Ortega,
Maduro, Fidel, Rafael Corrêa, Evo Morales, uma fauna predadora nunca antes
reunida na história desta América Latina. São kakistocracias, o governo dos
piores, infelicitam seus países. Também tínhamos entre nós uma kakistocracia.
“Diga-me com quem andas, dir-te-ei quem és”. O Brasil
andava feliz com essa gente, ditadores, ladrões, assassinos, comunistas, agora
virou-lhes as costas. Estão furiosos. Podemos também dizer com o mesmo acerto:
diga-me quem te odeia, dir-te-ei quem és. Quem é odiado por gente tão
ordinária, alguma coisa de boa deve ter.
Segundo o Estadão de 16 de maio, de momento quem dirige
a ofensiva contra o Brasil é Cuba. Piada, né? O governo de Cuba enviou nota
para Organização Internacional do Trabalho, Organização Mundial do Comércio,
Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Vou parar por aqui. São mais de cem
destinatários. Claro, em vista do prestígio do remetente a maioria dos visados,
sem lê-la, jogou a nota na cesta de papeis, De fato, vou atualizar, chega por
e-mail. Deleta.
A nota diz: “Trata-se, na realidade, de um artifício
armado por setores da oligarquia desse País, apoiada pela grande imprensa
reacionária e pelo imperialismo, com o propósito de reverter o projeto político
do Partidos dos Trabalhadores (PT)”. Continua na verborreia própria ao comunismo
cubano.
De outro modo, na primeira fila da pantomina contra o
Brasil estão Fidel e Raúl Castro, ditadores, comunistas, carcereiros e
assassinos de milhares de cubanos. Armando Valladares, prisioneiro por 22 anos
na ilha, escreveu em 23 de janeiro de 1998 na Folha: “Fui testemunha, com
dezenas de presos da tristemente célebre La Cabaña, do ódio antirreligioso do
regime castrista. Como narro em minhas memórias, nos primeiros anos da
revolução, todas as noites havia fuzilamentos. Os gritos dos patriotas de ‘Viva
Cristo Rei! Abaixo o comunismo!’ estremeciam os fossos centenários daquela
fortaleza. O fato de ouvir aqueles jovens católicos cheios de valor morrerem
diante dos paredones gritando ‘Viva Cristo Rei!’ redobrava nossas forças
espirituais e contribuía para nos fazer receber enormes graças de conversão”.
A mesma edição do Estadão informa dos horrores vividos
hoje pela população da Venezuela, governada por uma casta cleptocoletivista,
também envolvida na pantomina contra o Brasil. Moisés Naim relata, desde 2009
centenas de milhões de dólares foram destinados à construção de usinas
hidrelétricas. Até hoje não se prestou conta do dinheiro, todos sabem, foi
roubado pelos vorazes bolivarianos, em ação de fazer inveja aos petistas
enrolados na Lava Jato. Só que lá não tem investigação. Na mesma edição,
Nicholas Casey descreve o horror dos serviços de saúde pública em que, exemplo
entre vários, o índice de mortalidade de bebês de até um mês cresceu 100 vezes
de 2012 a esta parte (era 0,02%, agora, 2%). Nicolás Maduro, chefe dos
bolivarianos, recentemente declarou: “Duvido que em algum lugar do mundo,
exceto Cuba, exista um sistema de saúde melhor do que este”. Lembra a bazófia de
Lula sobre nosso sistema de saúde: “Ah, se tivesse um SUS nos Estados Unidos
como seria bom para os pobres. Eu, na próxima conversa que eu tiver com o
Obama, eu falo: ‘Obama, faça um SUS. Custa mais barato e é de qualidade’”.
O mesmo Nicolás Maduro meteu a colher de pau no caso
brasileiro: “Não tenho nenhuma dúvida de que atrás deste golpe de Estado está a
marca made in USA. A Venezuela
rechaça esta canalhada feita contra esta grande líder”.
O apoio estridente ao PT de bolivarianos e afins mais
atrapalha que ajuda a construção de oposição internacional à nova situação. Para
setores isentos à vera constituem certificados de excelência. Até aqui nenhum
motivo de preocupação. E o Itamaraty tem tratado a questão com notas duras e
bem merecidas.
Preocupa, isso sim, artigos aqui e ali contra a nova
situação em jornais como New York Times
e The Guardian. Podem servir de base
para movimentos de opinião em cidades decisivas como Washington, Nova York,
Madri, Paris, Londres, Roma, Bonn. Nelas e em outras cidades de padrão similar,
uniões de esquerda do tipo estudantil, acadêmico, sindical e político certamente
tentarão montar campanhas contra o Brasil. Facilmente, elas repercutirão internamente.
Sempre existem pessoas que se impressionam ouvindo que lá fora, em ambientes
mais endinheirados ou intelectualizados, se vê com reserva a situação nacional.
Hora para a diplomacia brasileira nesses locais sair do casulo, deixar de falar
só para pequenos públicos e enfrentar a céu aberto, com argumentos amplos, tal investida.
PS: Kakistocracia (governo dos piores), neologismo criado
por Michelangelo Bovero para indicar a combinação da tirania, oligarquia e
demagogia; outro modo, o péssimo governo com mando dos piores. Designa comumente
o Estado gerido por incapazes e corruptos, defensores das piores ideias
econômicas e políticas.
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