sexta-feira, 18 de novembro de 2022

O povo vai tomar na cabeça

 

O povo vai tomar na cabeça

 

Péricles Capanema

 

Reconhecimento, contrição, reparação. Pedro Malan, Armínio Fraga e Edmar Bacha, economistas conceituados, sentiram-se incomodados com as desconcertantes e demolidoras declarações de Lula zombando da responsabilidade fiscal, da alta do dólar e da queda dos índices da Bolsa. Afinal, parte da credibilidade do novo governo petista veio do apoio deles que, infelizmente jogando fora a responsabilidade que deveriam ostentar e fazendo uso da respeitabilidade, declararam apoio a Lula, sem que opetista\ oferecesse contrapartida. O cheque em branco está sendo compensado. Alckmin, Tebet, Malan, Armínio, Bacha, Meirelles, tantos outros, dezenas, queiram ou não, são corresponsáveis pelo desastre. A carta de Armínio, Malan e Bacha, texto c laramente redigido às pressas, é um primeiro distanciamento, um grito de angústia que poderá sanar, havendo reparação à altura, o mal que já foi feito. O caminho é conhecido e já foi trilhado por muita gente. É a rota dos penitentes. Reconhecimento da falta, contrição pelo que fez, reparação do mal. Cantado ao longo das gerações, ensinado sem cessar, pregado com insistência, gravando nas mentes a prece inigualada do salmo 50: “Miserere mei Domine secundum magnam misericordia tua”. É o que falta na carta de conselho, advertência e esclarecimento. E que poderá vir a ser premonitória.

 

Pobres, as maiores vítimas do descontrole fiscal. A carta dos três economistas é didática. Corta o passo para aa demagogia fácil e mentirosa: “A responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social. O teto de gastos não tira dinheiro da educação, da saúde, da cultura, para pagar juros a banqueiros gananciosos. Não é uma conspiração para desmontar a área social”. Nega que o passado de rigor fiscal, presente em boa parte do primeiro governo de Lula seja garantia para o futuro, pois os primeiros passos e declarações no governo de transição apontam para o descalabro nas contas pública\s: : “Seu histórico de disciplina fiscal basta? A verdade é que os discursos e nomeações recentes e a PEC (proposta de emenda à Constituição) ora em discussão sugerem que não basta”. Conclui com o que virá (e já aconteceu onde as políticas da esquerda foram aplicadas”: “Quem vai sofrer mais é o povo simples”.

 

Esvaziando o balão da demagogia. Os três economistas manifestam, ainda didaticamente, seu desconforto com a demagogia delirante que perpassa as falas do presidente e de muitos corifeus da nova situação que ameaça o Brasil: “O dólar e a Bolsa são o produto da ação de todos. Muita gente séria e trabalhadora. O dólar alto significa certo arrocho salarial. A Bolsa é hoje uma fonte relevante de capital para investimento real”.

 

Tenha dó dos pobres, Presidente. Sob certo aspecto, a carta pode ser resumida na súplica: tenha dó dos pobres, Presidente, pare de fazer demagogia. Diz a missiva: “Quando o governo perde o seu crédito, a economia se arrebenta. Quando isso acontece, quem perde mais? Os pobres!”. Advertem contra a irresponsabilidade que paoca em várias manifestações na transição, em particular nas palavras de Lula: “O crédito público no Brasil está evaporando. Hora de tomar providências, sob pena de o povo outra vez tomar na cabeça”.

 

Carta sem resposta. Lula fugiu de responder à missiva, disse algumas generalidades, continuam pairando sobre a economia as ameaças da gestão irresponsável, intervencionismo desbragado, asfixia da iniciativa, ameaças à segurança jurídica e à propriedade. Em resumo, retrocesso, queda do emprego e renda, empobrecimento.

 

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Intolerância

 

Intolerância

 

Péricles Capanema

 

Intimidação inibitória. Outro subtítulo que poderia ser utilizado: a volta de intolerância insolente. Disparados pelos próximos donos do poder, aumentam os pontiagudos avisos aos navegantes, vem perseguição por aí; de ordem moral, profissional, judiciária. Cancelamentos; estão na moda. Um dos avisos, a freada (várias já) nas indicações para os tribunais superiores. Outro, a tentativa desastrada de minar a indicação de Ilan Goldfajn para a presidência do BID. Põe a nu o regresso do aparelhamento, a pertinácia em entupir o serviço público de cupinchas e comparsas.

 

A pior face do PT. O PSDB, em enérgica nota, tendo como motivo a canhestra manobra de impedir Ilan Goldfajn de assumir a presidência do BID (posição vantajosa para o Brasil), advertiu sobre o retorno da gestão autoritária, vício enraizado, antes mesmo da posse ▬ tais vezos demolidores trazem à memória a fábula do escorpião carregado pelo sapo; a picada mortal era inevitável, estava na natureza dele: “Ao boicotar a candidatura de Ilan Goldfajn à diretoria do BID, o ex-ministro Guido Mantega, além de atropelar os trâmites da instituição, mostra a pior face do PT: a incompreensão de certos processos democráticos. Profissional respeitado [...] foi indicado por um governo legitimamente eleito e o futuro governo deve respeitar a decisão”. Mais exatamente, não foi incompreensão, foi contestação. Quando os referidos processos não o favorecem, joga-os pela janela.

 

Patrulhas ideológicas eriçadas. Mas pretendo falar de outra coisa, à primeira vista pequena, contudo, vista com lupa, enormemente sintomática, pois é exemplo revelador da intolerância desvairada ▬ “ex pede Herculem”.

 

Chicotadas prenunciativas. Eliane Catanhêde, comentarista da GloboNews, em programa televisivo, de forma natural e argumentada, examinou atitudes recentes de Janja (Rosângela) esposa de Lula. consideradas inadequadas pela jornalista, por excessivas e inapropriadas. Apontou despropósitos, o que deixou fora de si os patrulheiros lulopetistas. A profissional de imprensa estava na função dela; só sugeriu mais discrição e comedimento. Foi o que bastou. Tomou saraivada de lambadas da intolerância eriçada. Subiu nas redes a hashtag “Respeita a Janja”. Ela não havia sido desrespeitada pela jornalista, diga-se de passagem.

 

O leitor que julgue. O (a) leitor (a) que julgue a sova pedagógica, veja se tem alguma proporção com o fato real. Mas serviu como aviso; que tenha efeito nulo ou contraproducente. Então, para facilitar o juízo objetivo e circunstanciado, segue o comentário inteiro da d. Eliane: “O presidente é o Lula. Tudo o que é excesso pode criar problemas. Tudo tem limite. Tudo o que excede pode dar problema. E há um incômodo com o excesso de espaço que a Janja tem ocupado. Ontem, por exemplo, quando Lula fez aquele discurso em que ele chorou quando falou de fome, quando derrapou ao desqualificar a estabilidade fiscal, a responsabilidade fiscal, ela estava ali sentada. Ela não é presidente do PT, não é líder política, ela não é presidente de partido. Enfim, por que que ela estava ali? Qual é o papel da primeira-dama? A gente tem vários exemplos de primeiras-damas, desde a ditadura militar, dona Yolanda Costa e Silva, super maquiada, super artificial, tinha a mulher do Geisel, que era muito discreta, dona de casa. Em compensação, ninguém esqueceu a Rosane Collor jogando a aliança fora, fazendo confusão, todo dia tinha briga, e diziam que ela fazia, sei lá, coisas religiosas meio estranhas na Casa da Dinda, ou seja, isto não é bom. Eu acho que um bom exemplo de primeira-dama foi a Ruth Cardoso que, como a Janja, tinha um brilho próprio, era uma professora universitária, era uma mulher super respeitada na área dela, fundou Comunidade Solidária. Mas ela não tinha protagonismo, ela não tinha voz nas decisões políticas. Se tinha, era a quatro chaves no quarto do casal. Ou seja, já incomoda sim. Porque ela vai começar a participar de reunião, já começou a participar de reunião, já vai dar palpite e daqui a pouco vai dizer, esse pode ser ministro, esse aqui não pode. Isto dá confusão. Se é assim na transição, imagina no governo”. Foi o que disse.

 

Desprezível. Imaginem, d. Eliane ousou educadamente expor reservas, crime de lesa-majestade. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, rapidamente divulgou nota ácida: “Me apavora o machismo incrustado na cabeça de mulheres ditas esclarecidas, onde estereótipo dos papéis delegados a nós é o importante. Desprezível fala de Eliane Cantanhêde s/ @JanjaLula.Ter opinião e participação política é direito de TODAS nós mulheres! Sem essa de primeira-dama”. Desprezível, sabemos, está no Dicionário Informal, tem como sinônimos abjeto, asqueroso, ignóbil, infame, imundo, hediondo, sórdido, nojento, degradante, vergonhoso. Paro por aqui. Algum desses qualificativos poderia ser aplicado adequadamente ao comentário sereno da d. Eliane? A deputada Gleisi Hoffman, como ela confessou, ficou apavorada com o comentário. É caso de pavor? A Secretaria Nacional de Mulheres do PT foi atrás, disparou no mesmo alvo com nota oficial de repúdio, afirmando ser contra qualquer “tipo de violência”. No caso, a d. Janja sofreu violência? Nenhuma. Dois exemplos, respigados entre as centenas de ataques que Catanhêde sofreu na imprensa e nas redes, em que avultaram, ter outros, para tristezaz nossa, a grosseria, arrogância, petulância, desdém, indigência intelectual.

 

“No opposition, Thomas”. Tudo isso aviva na imaginação cena conhecida do filme “A man for all seasons” (em português “O homem que não vendeu sua alma”) em que Henrique VIII adverte várias vezes a santo Tomás Morus com o “no opposition, Thomas”. O santo foi decapitado por ordem do monarca pela suposta oposição muda que lhe teria feito. Nem o mutismo lhe foi tolerado.

 

Educação por admiração, imitação e osmose. Educação nunca foi nem é principalmente instrução ▬ essencial embora. É ainda formação do caráter, exercício de hábitos, agudizar inteligência, fortalecer a vontade, ornar com mais sensíveis antenas as múltiplas potencialidades da sensibilidade. Estimular ações nessa direção constituem maneiras superiores de governar, altamente favorecedoras do bem comum; avanços civilizatórios inestimáveis. Retorno à matéria imediata. A d. Janja, a d. Elaine, a deputada Gleisi são mulheres com presença na vida pública. A Secretaria Nacional de Mulheres do PT, igualmente presente no Brasil que se publica, trata de assuntos femininos. É incoercível, por analogia, o espírito é solicitado para cenas em que haja notável presença feminina, aqui e alhures, não importa a esfera e âmbito de influência. De imediato, aa mais chamativa. Há pouco faleceu a rainha Elisabeth II (1926-2022), das mais importantes e emblemáticas figuras femininas no século XX e XXI. Exerceu com maestria, além das funções institucionais do cargo, uma forma de governo crescentemente valorizada, a exemplaridade. Exemplaridade, muito relacionada com admiração, imitação e osmose.

 

Exemplaridade. Tratar hoje de governo e empoderamento (palavra em moda) sem colocar o centro a exemplaridade transluz sintoma claro de arcaísmo. É a região da repressão ao conhecimento oxigenador, pântano de concepções retrógradas, enfim; obstáculo a avanços civilizatórios. Infelizmente, e é sintomático, nas reações furibundas acima elencadas (e em outras de matriz parecida) nunca apareceu este aspecto: governar é também dar bom exemplo e, por esse meio, formar personalidades de valor. E é o principal. Javier Gomá Lanzón, grande erudito espanhol, especialista no tema, observa a respeito: “O espaço público está cimentado sobre a exemplaridade, esse é seu cenário mais genuíno e próprio. Só o exemplo prega de forma eficiente”. Volto a Elisabeth II.  Às mulheres de sua família. Nas últimas décadas, com delicadeza e tato, inspirando comportamentos, despertando anseios, consolidando convicções, enfim, formando personalidades, em atuação pautada, repito, por propósito, discrição e educação (e pelas atitudes evidenciando, a ‘contrario sensu’,  o grave prejuízo para as relações sociais de modos encharcados de arrogância, grosseria, desdém e prepotência) três mulheres se fizeram credoras de forma especial da gratidão do Reino Unido: a rainha Elisabeth, sua mãe, Queen Mother (1900-2002) e sua avó, Queen Mary (1867-1953). Vale para elas, vale para qualquer um não importa a posição que ocupe.

 

Bom exemplo como bússola. Quando o rei Jorge VI faleceu em 1952, Elisabeth II, agora rainha, recebeu carta da avó paterna (Queen Mary), lembrando-lhe o dever: “Caríssima Lilibeth, você deve estar devastada como eu estou pela perda. Contudo, você deve colocar estes sentimentos em segundo plano diante das obrigações do dever. A dor pela morte de seu pai [filho da missivista] será sentida imensamente. Seu povo precisará de sua força e liderança”. Recorda à neta, existem duas Elisabeths, a esposa casada com Philip Mountbatten, o duque de Edinburgo, e a Elisabeth Regina [Elisabeth Rainha].  As duas Elisabeths estarão frequentemente em choque, observa: “A Coroa deve vencer, sempre vencer”. Conselhos de 1952.

 

Inspiração universal. A digna conduta das três mulheres, cuja compostura luminosa atravessou sob intenso escrutínio, mais de cem anos [1867 a 2022], apresentou sem-número de exemplos didáticos, que ecoavam beneficamente no mundo inteiro. Contribuíram em grau dificilmente aferível para o aperfeiçoamento das relações humanas, facilitaram a harmonia e a paz social. Assim se constrói, em larga medida, o bem comum. Para finalizar, o procedimento ao longo de décadas das três grandes damas inglesas tem, quase nem precisaria acentuar, enorme atualidade para o Brasil, país onde ministro do Supremo se volta desdenhoso para simples particular e dispara com soberba vulgaridade, arrogância e prepotência: “Perdeu, mané, não amola”. A atitude inesperada, mesmo para público já acostumado com insolência debochada, põe a nu o retrocesso em expansão que nos ameaça. Vivemos em país onde avança o retrocesso, corremos riscos de nos transformarmos em vanguardas do atraso..

 

sábado, 12 de novembro de 2022

Escravos do óbvio

 

Escravos do óbvio

 

Péricles Capanema

 

Verdades apunhalam. O que traz prestígio? Tanta coisa. Uma delas, saber espalhar otimismo, mesmo sem base sólida? Pode acontecer; temos o conhecido “keep smiling”. Prometer êxitos, ainda que altamente improváveis? Também. Livros de autoajuda e defender o tal pensamento positivo são formas de prometer êxitos, quase sempre fumaças da imaginação; contudo, viraram moda, prestigiam em geral quem os maneja bem. Ser leniente com ameaças crescentes? Aconteceu historicamente e às vezes rendeu popularidade. Abaixo, vou tratar de um homem público prestigiado no fim da vida, mas que passou anos anunciando as piores perspectivas, vaticinando derrotas, recriminando a leniência. Não escondeu o sacrifício provável, não ocultou traços vergonhosos de seu meio social, advertiu contra a desídia na consideração do perigo. No fim do caminho, ficou célebre, ninguém, a muitos títulos, teve maior prestígio que ele. Até hoje.

 

Enfiar a cabeça na areia. Repete-se muito, diante da ameaça, o avestruz enfia a cabeça na areia. É falso, a ave foge quando se vê em apuros; é veloz, tem pernas imensas, passadas largas. Não importa o fato da vida selvagem, a imagem expressiva se enraizou no imaginário popular, o uso a consagrou. Diante da ameaça crescente do hitlerismo, boa parte, se não a grossa maioria, da classe dirigente inglesa escolheu enfiar a cabeça na areia: foi otimista, crédula e leniente. Como muita gente agora no Brasil está enfiando a cabeça quente na areia fresquinha, evitando olhar de frente o perigo que cresce. Vou tratar em traços muito gerais de um homem público que foi banido dos círculos de prestígio e desterrado dos gabinetes de decisão por anos a fio em sua própria terra por haver escolhido manter o pescoço erguido, a cabeça alta e os olhos abertos. A verdade parecia dura, amarga, decepcionante e trágica. Depois concluirei voltando o olhar para o Brasil. Será artigo de muitas e longas citações.

 

O bom exemplo inglês. Vamos ao assunto. Foi o que, em amplíssima proporção, fez Winston Churchill (1874-1965). Padeceu degredo interno, bebeu o cálice de um “émigré à l’intérieur”, exilado entre os seus por muitos anos, em especial no seu partido e nos meios intelectuais e sociais que frequentava, até que, em situação desesperadora, a Inglaterra se voltou para o experiente homem público, colocou-lhe nas mãos as rédeas do governo e lhe confiou seu destino por cinco anos terríveis (maio de 1940 a maio de 1945). Expatriado moralmente, quando pareceu um pessimista obstinado, passou a ser visto anos depois como homem de lucidez extraordinária.

 

Respigando exemplos. Leio de momento biografia elucidativa de Winston Churchill. Quase 1.300 páginas, trabalho fruto de pesquisa séria, tem maturidade e profundidade de análise, minuciosa e densamente informativa. Por alguns críticos vem sendo considerada a melhor obra até hoje escrita sobre a vida do estadista inglês. Andrew Roberts é o autor, o título em português “Churchill, caminhando com o destino” (Churchill: walking with destiny, em inglês), primeira edição em 2018.

 

Ostracismo. O que agora pretendo destacar é que, por muitos anos, quase vinte, em especial nos seis anos que precederam a 2ª Guerra Mundial, qualificados pelo autor de “anos de desterro”, Churchill foi um pária moral; de outro modo, isolado, banido e proscrito em seu próprio país. De forma especial, entre políticos e eleitorado conservadores. O homem de Estado passou boa parte de sua vida pública relegado a cruel ostracismo por razão simples: era objetivo, não fantasiava, foi escravo do óbvio. Deixarei aqui apenas um exemplo. Hitler queria a anexação dos sudetos, região tcheca habitada majoritariamente por população de origem alemã. Winston Churchill preconizava a resistência, a aliança com a Tchecoslováquia como forma de evitar a entrega e ainda a guerra. Advertiu na Câmara dos Comuns em março de 1938: “Se não enfrentarmos os ditadores agora, estaremos apenas preparando o dia em que teremos de enfrentá-los em condições muito mais adversas. Dois anos atrás era seguro, três anos atrás era fácil, e quatro anos atrás um simples despacho poderia ter retificado a situação. Mas onde estaremos daqui a um ano? Onde estaremos em 1940?”. A incúria generalizada levou a Inglaterra à guerra mundial.

 

E o vento levou. Continuou: “Tenho visto esta famosa ilha descer sem moderação nem prudência pela escada que leva a um abismo tenebroso. No começo é uma bela escadaria larga, mas, um pouco depois, termina o tapete. Um pouco mais adiante, só há as lajes do pavimento. E ainda um pouco mais adiante, elas se quebram sob os pés de vocês”. Adverte: [Os historiadores] nunca entenderão como foi que uma nação vitoriosa, com tudo nas mãos, tolerou ser subjugada e que se jogasse fora tudo o que ganhara com imensurável sacrifício e absoluta vitória ▬ e o vento levou”.

 

Total e absoluta derrota. Pouco depois, setembro de 1938, o primeiro-ministro Neville Chamberlain foi a Berlim e de lá retornou com um tratado de paz que supostamente garantiria a paz na Europa por uma geração. Foi aclamado no país inteiro, popularidade lá em cima. Comentou com suas irmãs, Hitler “era um homem em quem se podia confiar, quando dava sua palavra; sou o homem mais popular na Alemanha”. Minado pela popularidade esmagadora de Chamberlain e sufocado pela esperança aliciante da paz duradoura, Winston Churchill, na ocasião apreço público muito baixo, iniciou discurso na Câmara dos Comuns com a seguinte frase: “Quero, portanto, começar dizendo a coisa mais impopular e mais indesejável. Começarei dizendo o que todos gostariam de ignorar ou esquecer, mas que, mesmo assim, precisa ser declarado, a saber, que sofremos uma total e absoluta derrota”. Estava certo, era derrota acachapante. Chamberlain hoje afundou no desprezo público por sua conduta. Naqueles dias, não, vivia nos galarins; Churchill se arrastava nos grotões, bradando verdades que apunhalavam, ainda que pouco levadas em conta.

 

O óbvio ululante. Dou um cavalo de pau na narrativa. Aparentemente. O fio será mantido. Saio da Inglaterra de 1938, vou para o Rio de Janeiro. Ali viveu e morreu Nelson Rodrigues (1912 – 1980). O célebre jornalista criou e popularizou a expressão “óbvio ululante”, que até hoje frequenta os meios de divulgação. Certa vez, lá pelos anos 70, na crônica “Vai falar o óbvio ululante” escreveu ele que nada tinha feito de relevante em sua vida até que, imaginando uma pergunta de Deus, veio-lhe iluminação súbita: “Eu promovi e consagrei o óbvio. aí está o grande feito de toda a minha vida. O óbvio vivia relegado a uma posição secundária ou nula. Fui eu que, com minha pertinácia, arranquei-o da obscuridade, da insignificância. Hoje, o óbvio tem trânsito em todas as áreas. O óbvio já adquiriu personalidade internacional. Todavia, ao apresentar o óbvio, eu fiz a seguinte e fundamental ressalva ▬ ninguém o enxerga. Milhões de sujeitos são cegos para ele. E acrescentei: ‘Gênio, santo ou profeta é aquele que enxerga o óbvio’”.

 

Remate. Tudo o que ficou para trás foi para permitir maior facilidade na constatação óbvia. Repito: óbvia. Cresce o desconcerto da opinião letrada do Brasil (a que acompanha noticiário) com os sintomas cada vez mais preocupantes do rumo a ser tomado pelo próximo governo petista, que só venceu apertadas eleições pela dose maciça de credibilidade e respeitabilidade gratuitamente a ele oferecida, sem nenhuma contrapartida (cheques em branco em profusão) por Geraldo Alckmin, Meirelles, Malan, FHC, Armínio Fraga e dezenas de outras figuras de influência e orientação parecida. Os cheques entregues em br nco começam a ser preenchidos e compensados. Provocam estranhezas, recusas, até reações contundentes. A situação vai piorar, é so esperar. Em artigo postado em 7 de outubro passado, intitulado “Embuste” constatei o óbvio (se preferirem expus o óbvio): “Outra razão alegada pelos adesistas (kerenskys de 2022), a expectativa de condução responsável da economia, mesmo com atropelos na prática democrática. Haverá tal condução? Análise madura, enraizada na longa e repetida experiência anterior, padecida pelo povo em especial pelos mais desassistidos, bem como na capivara amazônica de partidos com inspiração semelhante, apontam para destruição dos fundamentos saudáveis da economia, três dos quais, já se vê, inexistirão certamente: âncora fiscal, segurança jurídica, atração de investimentos. Daí, menos emprego, menos renda, salários mais baixos. O que se ouviu até agora da parte de economistas e figuras do setor financeiro foi decepcionante, para dizer o mínimo, era, no bruto, a entrega incauta de um cheque em branco. Na prática, a coligação lulista recebe os apoios, mas continua nadando no pântano das ambiguidades. Nenhuma clareza, nenhum compromisso formal”.

 

Favorecimento do retrocesso, do atraso e do obscurantismo. Afirmei então a seguir, era favorecimento do retrocesso, atraso e obscurantismo, características da possível nova administração: “A ausência de limpidez, a fuga célere dos esclarecimentos, a obscuridade empregada como arma política, a persistente e difusa ambiguidade, a manutenção obstinada incerteza quanto aos rumos, a confusão em que potenciais aliados são mantidos, a opacidade cultivada (não transparência) geram profunda suspeição quanto à conduta futura, degradam a vida pública e adensam o ambiente obscurantista, já pesadamente tóxico. São retrocessos na dura caminhada nacional rumo a uma vida pública decente. Esta ambiguidade, contudo, no caso esconde clareza solar, facilmente perceptível para observadores atentos. As razões últimas do procedimento petista são diáfanas: já existem os compromissos e as intenções e eles não serão abandonados”.

 

Clareza solar. Clareza solar iluminava a manobra, para olhares experimentados estavaa diáfano o ar, as conclusões brotavam do óbvio ululante: existiam compromissos, existiam intenções, mas eles estavam ocultos para os novos e simplórios (qualificação minimalista) aliados. Só não seriam enunciados (nem a pau) por inviabilizar possibilidades eleitorais de vitória da coligação petista. Começam agora a ser implantados com a caça já capturada, ainda que com enunciado discreto e paulatino. Desvelados pela aplicação clara, ainda que incipiente, passam a ser percebidos por magotes que antes se encantou em encenar o apoio otimista, dava prestígio e popularidade, papel semelhante ao desempenhado por Neville Chamberlain. Ainda há tempo para reagir, mas os custos serão maiores. Aumentarão a cada dia que passa. Sejamos escravos do óbvio, mesmo quando impopular.

domingo, 6 de novembro de 2022

Avisos velhos, aviso novo

 

Avisos velhos, aviso novo

 

Péricles Capanema

 

Falsa calmaria.  Em 30 de junho de 2020, em números redondos, dois anos e meio atrás, postei em meu blog artigo intitulado “Atualidade do caso Dreyfus”. Está na rede, consulta fácil. Era uma espécie de metáfora para situações de alcance nacional e até mundial, algumas delas ainda algum tanto embrionárias, que via tomar corpo de forma ameaçadora e crescente. O artigo voltou a ficar palpitante.

 

Retrocesso civilizatório. Em suma, preocupavam-me sintomas de expansão da esquerda. O inchaço acarretaria asfixia de direitos e liberdades naturais, bem como pobreza maior e agravamento da falta de perspectivas para a maioria mais necessitada. Nas palavras, promessas de políticas inclusivas; nos fatos, cruel crescimento da exclusão. Sufocação dos melhores sonhos no âmbito pessoal, no social, atrofia de iniciativas; obscurantismo e atrasos, enfim. Na América Latina, viria (veio) a devastação de uma nova “onde rosa”, que varreria (está varrendo) resistências, abrindo caminho para epígonos castristas, chavistas e sandinistas. Para a modesta advertência, escolhi de indústria tema já antigo, o caso Dreyfus, relegado a arquivos empoeirados, mas sempre episódio histórico de enorme significado para a vida da França ▬ pública e privada. Poderia ter respigado outros acontecimentos, igualmente relevantes, seriam também atuais como padrão para comparações. Contudo, não teriam tanta carga simbólica, presente de modo inigualado no caso Dreyfus.

 

Assunto desconhecido para muita gente. Sabia, era inusitado o título, poderia até soar singular; ademais, o caso nenhuma atualidade pareceria ter. Seria atual? Era atual como metáfora; repito, alarmava-me a possibilidade da avalanche esquerdista, pipocavam sintomas de estar forte e próxima. Mas também pressentia, perdoem-me a linguagem informal, ninguém ia dar bola para o texto, distante dos fatos candentes do cotidiano. Aconteceu o que previ, o texto passou em branco. Não me importo; precisava deixar constância, representava imposição de consciência. Urgia pôr na tinta preta sobre papel branco, advertências, de fato avisos aos navegantes, lições elucidativas que o fato histórico propiciava, faróis para a tempestade, ainda nas brumas, que se formava no horizonte.

 

Miragens? Nada indicava. A figura assustadora surgia fácil. Era suficiente um olhar desintoxicado de otimismos balofos. Muito do que no artigo expunha como perspectiva ruim hoje já é realidade. Viraram avisos velhos, pouca ou nenhuma serventia, podem ir para o arquivo. Vou apenas recordar abaixo uma pequena parte, informações para compor melhor o texto. Mas meu foco é o aviso novo. Nem poderia deixar de ser.

 

Aviso novo. Sei, é antipático, pode adiantar pouco ou nada, mas está na hora do aviso novo. Será curto, poderia ser extenso, não será, vou me fixar em apenas um ponto, que não está sendo ventilado, talvez propositadamente, mas de fundamental importância para o futuro do Brasil. Lula e sua equipe proteiforme estão no início de caminhada. Primeiros sintomas, a marcha está sendo preparada para ser longa e demolidora ▬ como a de seu ídolo, o tirano Fidel Castro, que décadas a fio sufocou e empobreceu Cuba, “o maior de todos os latino-americanos”, segundo o delirante ditirambo do presidente eleito. Aumentam os riscos de despencar na barbárie, de onde será difícil voltar, lá já estão Coréia do Norte, Cuba, em boa parte, Rússia.

 

Disfarçado, mas efetivo protetorado chinês. Nesta etapa inicial, a nova equipe ainda conta com apoio insensato (o mínimo a dizer) de figuras e correntes, cujo suporte acelerará o processo, já avançado, de empurrar o Brasil para a órbita chinesa, afastando-o paulatinamente da área de influência norte-americana e europeia. É para onde rolam os amigos de Lula no Chile, Colômbia, Argentina, Cuba, Nicarágua. Nos próximos meses teremos, é o conjeturável, notícias perturbadoras.

 

Resgate urgente da esperança. É incoercível o deslizamento com o apagamento real, ainda que camuflado, da soberania nacional? Não, existem esperanças vivas e robustas de reação salvífica. Foram muito fortes as primeiras resistências ao lulismo, trazem um frescor de 2013. Raízes boas, cumpre nutri-las, diria o conselheiro Acácio. Como? De forma particular, energizando esperanças fundadas na realidade. O ministro Paulo Guedes notou que as regiões que deram vitória ao antipetismo na última eleição representam 86% do PIB nacional. De outro modo, o Brasil mais dinâmico recusa o petismo, dele tem horror. É base forte para iniciar arremetida de recuperação e vitória. E então, buscando o factível, dentro da lei, evitando promessas ilusórias, fonte de desânimos, decepções e desnorteamento, muito se poderá obter.

 

Sintomas crescentes de borrasca. Para concluir, recordo trechos (excertos) do referido artigo. Ilustram o presente, contribuem para tornar mais clara a caminhada, espancando as sombras do obscurantismo mental. Donald Trump governava os Estados Unidos, campanha de reeleição no começo, por muitos, aqui e lá, tida como garantida. Bolsonaro surfava no meio do mandato. Escrevi então: “Acho que é opinião geral, nada mais anacrônico que o caso Dreyfus. Tenho conjetura diferente, é palpitante. A situação pela qual passamos o evoca. Vislumbro perspectivas difíceis para os próximos anos. Tratarei delas nas hipóteses abaixo; e aí ficará clara, espero, a atualidade do caso Dreyfus ▬ ferramenta de interpretação”.

 

Caso Dreyfus, aqui simples ferramenta de interpretação. Se quisermos, metáfora ▬ símbolo, imagem, semelhança ▬ para entender com maior objetividade e profundeza o que estava se delineando. Continuava o texto: “‘Historia magistra vitae’, Cícero. Virou chavão, não deixa de ser verdadeiro e instrutivo. Para os leitores que ainda não o conhecem, durou 12 anos o caso Dreyfus, 1894 a 1906. Rachou a França de alto a baixo repercutindo nos âmbitos religioso, militar, político, social, moral, psicológico. Foi o maior escândalo do fim do século XIX, dos maiores da História gaulesa. A França então se dividiu em duas ▬ sem-número de famílias fendidas, pai contra filho, mulher contra marido ▬, de um lado, “dreyfusards”; na banda oposta, “antidreyfusards”. No primeiro campo, visão por alto, posicionaram-se republicanos, esquerda radical, esquerda socialista, intelectuais antimilitaristas, pacifistas, maçons. No segundo, também a “vol-d’oiseau”, monarquistas, defensores do Exército, católicos conservadores e tradicionalistas, parte da Hierarquia eclesiástica, antissemitas; de forma especial, boulangeristas e outros grupos do nacionalismo extremado. Os dois lados tiveram imprensa violenta tensionando o ambiente. Até hoje não se sabe bem como o caso começou”.

 

Marcos do caso Dreyfus. Mais informações no referido artigo: “Em pinceladas rápidas, alguns episódios. Alfred Dreyfus (1859-1935), personagem central, servia como oficial de artilharia, origem alsaciana, família judia. Então capitão, foi acusado de espionar para a Alemanha, inimigo histórico, acabou condenado pela justiça militar em 22 de dezembro de 1894 à degradação e prisão perpétua. Partiu preso para as Guianas em 21 de fevereiro de 1895. O coronel Marie-Georges Picquart, em 2 de março de 1896, descobriu que o espião provável era o major Esterhazy. O coronel Picquart investigou a situação e nele a suspeita se transformou em certeza. O caso começou a tomar rumo distinto. Em 11 de janeiro de 1898 o Conselho de Guerra absolveu Esterhazy. O “J’accuse” de Émile Zola foi estampado na primeira página do “L’Aurore” de Georges Clemenceau, 13 de janeiro de 1898. Foi anulada a sentença contra Dreyfus em 3 de junho de 1899; ele imediatamente deixou a Ilha do Diabo, onde cumpria pena. Dreyfus foi condenado novamente por tribunal militar em 9 de setembro de 1899, agora a 10 anos de prisão com atenuantes, perdoado dez dias depois pelo presidente da República. Nas eleições de 1902, vitória das esquerdas; Jean Jaurès em 7 de abril de 1903 relançou o caso Dreyfus. Em 13 de julho de 1906 a Câmara votou lei que reintegrou Dreyfus ao Exército com grau de major. Em 12 de julho de 1906, a Corte de Cassação anulou o julgamento do Conselho de Guerra, reabilitou o capitão, reconhecendo inocência. Alfred Dreyfus, 21 de julho de 1906, recebeu a mais alta condecoração francesa, a Legião de Honra, grau de cavaleiro. Em 26 de outubro de 1906, o (agora) general Marie-Georges Picquart foi nomeado ministro da Guerra”.

 

Vantagens revolucionárias. Enumerava então alguns efeitos do caso Dreyfus, são ensinamentos: “Em seu conjunto, o caso fortaleceu a república, enfraqueceu o movimento monarquista; lançou nota de descrédito sobre a alta hierarquia da Igreja, bafejou o anticlericalismo do início do século XX, favoreceu o laicismo oficial e a perseguição às congregações religiosas. Facilitou a vitória nas eleições legislativas do Bloco das Esquerdas. A mais, deslustrou o Exército, em especial a oficialidade de origem aristocrática. Finalmente, foi trombeteado como vitória da razão e da justiça (enraizadas na esquerda) contra o preconceito e a intolerância (aninhados na direita e em setores conservadores). Uma parte da direita se consolidou com base em justificativas que causarão sua demolição em anos futuros”.

 

O rumo dos Estados Unidos. Tratava mais embaixo do papel dos Estados Unidos: “Ponto fundamental, como agirão os Estados Unidos? Estamos a quatro meses da eleição presidencial. De momento, são boas as chances de Joe Biden bater Donald Trump. Notório, parece-me, Donald Trump está com a reeleição ameaçada. Nas últimas eleições presidenciais, Hillary Clinton obteve 65.853.514 votos, Donald Trump, 62.984.828; perdeu por 2.868.686 votos (no Colégio Eleitoral, Trump ficou com 304 votos, Hillary 227). Sua aprovação não subiu; existem fatores que podem baixá-la: economia em declínio, pandemia em ascensão, agitações sociais em vários pontos do país. A vitória de Biden animará as esquerdas no mundo inteiro”.

 

Boicote a governos conservadores. Continua o já antigo artigo: “Governos de direita serão boicotados, em especial na Europa e na América Latina, com bafejo à oposição interna de esquerda. Outro ponto provável, a agenda chamada “social” terá mais virulenta aplicação. Social aqui significa estimular a desagregação da sociedade com fortalecimento de movimentos LGBT, ideologia do gênero, liberalização ainda maior do aborto, entre outros”.

 

Resistência, reação, reconstrução. I adiante: “Para as forças conservadoras, se as perspectivas aqui rabiscadas se realizarem no todo ou em parte, serão anos de resistência, reação e reconstrução. Importa lembrar, para um movimento muitas vezes mais vale a legenda que dele evola que a realidade que expressa. Para o retorno triunfante (ou, pelo menos, exitoso) preservar a aura, a legenda, mais caseiramente, o bom nome, é fundamental. A reconstrução será favorecida se ao conservadorismo estiverem ligadas as noções de ordem, razoabilidade, senso de proporção, limpeza ética, religiosidade. Tudo será mais difícil se no espírito público aos grupos conservadores, no poder ou fora dele, por meio de campanhas conduzidas de forma eficaz ficarem correntemente associadas as pechas da irreflexão, irresponsabilidade e insensibilidade. Mais ainda, corrupção e falta de escrúpulos. Como infelizmente se deu após o caso Dreyfus, parte da reconstrução poderia trabalhar sobre alicerces corroídos. Em resumo, o que acontecer agora poderá determinar ou limitar condutas nos previsíveis períodos de resistência, reação e reconstrução. E será utilizado implacavelmente por forças revolucionárias para sufocar quaisquer movimentos que se oponham a seus objetivos. Fui pessimista? Espero que não. Olhemos ao redor. Foram simples conjeturas, feitas com intenção de ajudar a lutar num futuro que pode ser difícil”.

 

Conclusão. São reflexões já antigas, que agora readquiriram atualidade diante do futuro preocupante. Concluí assim: “Para poder enfrentá-lo, se acontecer. Sem ilusões. Tenho presente a ‘boutade’ de Agripino Grieco: “O pior dos erros é acertar sozinho contra muita gente”. Às vezes é preciso errar.