O povo vai tomar na
cabeça
Péricles Capanema
Reconhecimento, contrição, reparação. Pedro Malan, Armínio Fraga e Edmar Bacha, economistas
conceituados, sentiram-se incomodados com as desconcertantes e demolidoras
declarações de Lula zombando da responsabilidade fiscal, da alta do dólar e da
queda dos índices da Bolsa. Afinal, parte da credibilidade do novo governo
petista veio do apoio deles que, infelizmente jogando fora a responsabilidade
que deveriam ostentar e fazendo uso da respeitabilidade, declararam apoio a
Lula, sem que opetista\ oferecesse contrapartida. O cheque em branco está sendo
compensado. Alckmin, Tebet, Malan, Armínio, Bacha, Meirelles, tantos outros,
dezenas, queiram ou não, são corresponsáveis pelo desastre. A carta de Armínio,
Malan e Bacha, texto c laramente redigido às pressas, é um primeiro
distanciamento, um grito de angústia que poderá sanar, havendo reparação à
altura, o mal que já foi feito. O caminho é conhecido e já foi trilhado por
muita gente. É a rota dos penitentes. Reconhecimento da falta, contrição pelo
que fez, reparação do mal. Cantado ao longo das gerações, ensinado sem cessar, pregado
com insistência, gravando nas mentes a prece inigualada do salmo 50: “Miserere mei
Domine secundum magnam misericordia tua”. É o que falta na carta de conselho,
advertência e esclarecimento. E que poderá vir a ser premonitória.
Pobres, as maiores vítimas do descontrole fiscal. A carta dos três economistas é didática. Corta
o passo para aa demagogia fácil e mentirosa: “A
responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade
social. O teto de gastos não tira dinheiro da educação, da saúde, da cultura,
para pagar juros a banqueiros gananciosos. Não é uma conspiração para desmontar
a área social”. Nega que o passado de rigor fiscal, presente em boa parte do primeiro
governo de Lula seja garantia para o futuro, pois os primeiros passos e
declarações no governo de transição apontam para o descalabro nas contas
pública\s: : “Seu histórico de disciplina fiscal basta? A verdade é que os
discursos e nomeações recentes e a PEC (proposta de emenda à Constituição) ora
em discussão sugerem que não basta”. Conclui com o que virá (e já aconteceu
onde as políticas da esquerda foram aplicadas”: “Quem vai sofrer mais é o povo simples”.
Esvaziando o balão da demagogia. Os três economistas manifestam, ainda didaticamente,
seu desconforto com a demagogia delirante que perpassa as falas do presidente e
de muitos corifeus da nova situação que ameaça o Brasil: “O dólar e a Bolsa são
o produto da ação de todos. Muita gente séria e trabalhadora. O dólar alto
significa certo arrocho salarial. A Bolsa é hoje uma fonte relevante de capital
para investimento real”.
Tenha dó dos pobres, Presidente. Sob certo aspecto, a carta pode ser resumida na súplica: tenha dó dos
pobres, Presidente, pare de fazer demagogia. Diz a missiva: “Quando o governo perde o seu crédito, a economia se
arrebenta. Quando isso acontece, quem perde mais? Os pobres!”. Advertem contra
a irresponsabilidade que paoca em várias manifestações na transição, em particular
nas palavras de Lula: “O crédito público no Brasil está evaporando. Hora de
tomar providências, sob pena de o povo outra vez tomar na cabeça”.
Carta
sem resposta. Lula fugiu de
responder à missiva, disse algumas generalidades, continuam pairando sobre a economia
as ameaças da gestão irresponsável, intervencionismo desbragado, asfixia da
iniciativa, ameaças à segurança jurídica e à propriedade. Em resumo, retrocesso,
queda do emprego e renda, empobrecimento.
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