terça-feira, 30 de agosto de 2022

Relho no agronegócio

 

Relho no agronegócio

 

Péricles Capanema

 

Na superfície, afagos; na profundidade, recado com ameaças. Em relação ao agronegócio, as palavras de Lula na recente entrevista ao Jornal Nacional tiveram duas profundidades. Na superfície, a renovada tentativa de dissolver resistências, buscar aproximação, tudo fazer para obter votos. Mais fundo, foram advertência, aviso; potencial, mas efetiva declaração de guerra, condicionada à atitude do agronegócio em relação ao possível novo governo de esquerda. Se a reação for ativa e lúcida, o petismo tentará esmagá-la até as raízes, como foram triturados os adversários em Cuba, Venezuela e Nicarágua, cujos governos ▬ sempre convém lembrar, a recordação sinaliza possíveis rumos futuros entre nós ▬ são admirados e festejados pelos líderes do PT.

 

“No opposition, Thomas”. Enquanto lia ou assistia a trechos da referida entrevista, em sequência me assaltavam a mente cenas impressionantes do filme “A man for all seasons” ▬ “Um homem para qualquer situação” em tradução livre; aqui no Brasil teve o título “O homem que não vendeu sua alma”. No trecho memorado, Henrique VIII estava em visita a são Tomás Morus, então chanceler do Reino (1529-1532), espécie de primeiro-ministro. O rei convidou o anfitrião para caminhada no amplo parque da residência, bonito casarão rural. No meio de amabilidades, de quando em quando, o monarca inglês repetia: “No opposition, Thomas, no opposition”. Não admitiria oponentes ao seu novo casamento, nem mesmo do homem público mais importante da Inglaterra. Aviso claro. A conversa entre os dois retomava o tom jocoso e cordial. Em suma, são Thomas Morus poderia fazer o que quisesse, teria honras ainda maiores das que já havia recebido, desde que não fosse, nem parecesse opositor ao repúdio arbitrário de Catarina de Aragão e enlace posterior com Ana Bolena. “No opposition Thomas”. No caso, foi intolerável até o silêncio de Tomás Morus (à vera eloquente e inequívoco) a respeito do divórcio real. O crime venceu; depois de processo escandaloso, o chanceler foi decapitado em 1535, tinha 57 anos. A Igreja Católica o canonizou como mártir. O paralelismo das situações ficava marcante para mim. Na entrevista referida, cordialidade, certo tom jocoso, brincadeira; pelo meio, recados. Será perseguido o agronegócio se fizer oposição eficaz ao eventual novo governo petista. A ameaça valia em particular para seus setores mais atuantes na esfera pública. Como aconteceu com as oposições na Nicarágua, Cuba e Venezuela (trucidadas), governos amigos e apoiados pelo petismo, reitero.

 

Confusão dissimulação, ameaças. A entrevistadora Renata Vasconcellos (RV) afirmou, o agronegócio [em linguagem caseira, os fazendeiros, os produtores rurais, os que vivem do campo e fazem negócios relacionados com a agricultura e pecuária] ou pelo menos “grande parte” dele não apoiava o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (LILS). Lula respondeu: “A nossa luta contra o desmatamento faz com que eles sejam contra nós”. RV treplicou: “Mas o agronegócio e o meio ambiente caminham juntos”. Lula discordou: “Eles são contra”. Ou seja, o agronegócio é contra o meio ambiente; de outro modo, agride o meio ambiente. RV ponderou que Lula parecia dizer que o agronegócio “faz oposição ao meio ambiente”. LILS foi claro: “Faz”. RV discordou: “O que não é verdade”. Lula reiterou em frase confusa, mas de intenção e compreensão clara: “O agronegócio sabe que é fascista, é direitista, porque os empresários sérios que trabalham no agronegócio, que têm comércio com o exterior, que exportam para a China, esses não querem desmatar. Mas você tem um monte que quer”. Saem do foco os exportadores (por interesse); a acusação de “fascista”, direitista” e “desmatador” cai sobre o “monte” de empresários do agronegócio, presumivelmente a maioria. Política clara, derrocar o monte. Continua a cantilena, apontando o futuro para a região amazônica: “Nós não precisamos plantar milho, soja ou cana, nem criar gado na Amazônia”. RV pergunta sobre um ponto central: “E qual será o papel do MST no seu governo?”. Lula não responde, saiu pela tangente, dizendo que o MST hoje produz e que está muito diferente do que era trinta anos atrás.

 

O agro sentiu o clima tóxico e percebeu as ameaças de perseguição. O “monte” foi gratuita e injustamente acusado de “fascista” e “desmatador”. De outro modo, composto de gente criminosa. O agro sentiu que, com instrumentos de governo da mão, esta será a atitude do petismo quando no governo. Foi advertência, recado. Ou acerta o passo, ou será perseguido implacavelmente pelos gabinetes do ódio do petismo, já hoje estruturados.

 

Retrocesso e exclusão. Virão à pencas acusações aptas para estear processos, tão ou mais gratuitas e vazias que as objurgações de Lula arremessadas na entrevista ao JN contra um setor que está garantindo o avanço econômico do Brasil, impedindo o retrocesso que virá com a aplicação do programa demolidor. Retrocesso cheio de espinhos, empobrecimento, agonia da liberdade, asfixia das possibilidades de crescimento. Fortíssima exclusão dos brasileiros das trilhas da prosperidade.

 

Em legítima defesa, enérgicas tomadas de posição. De norte a sul, associações de produtores rurais reagiram com intrepidez, autorizando esperanças de um futuro brasileiro livre e próspero. O “monte” se revelou repositório de promessas salvíficas, oxalá nunca sofra derrocadas. Destaco aqui algumas poucas manifestações, tiradas de baú onde se juntam dezenas, talvez centenas, de brados de indignação semelhantes. Resumem a inconformidade dos produtores rurais e expressam com fidelidade o teor dos argumentos esgrimidos. A FAEC (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará) divulgou nota de repúdio, na qual afirma, as acusações de Lula foram “levianas e criminosas”. Apregoa ainda a nota: “Ao qualificar o agronegócio como ‘fascista’ o candidato demonstra completo desconhecimento da realidade. Diferente do candidato, que nega o assalto aos cofres públicos da Nação quando estava no poder ▬ crime confessado por seus partidários ▬ os produtores rurais que fazem o agronegócio brasileiro são trabalhadores incansáveis. Durante a crise da covid o agronegócio brasileiro não parou. Fez isso, apesar dos delinquentes que invadem terras e atrapalham quem verdadeiramente produz. Delinquentes que contam com o apoio do candidato. A FAEC subscreve as palavras o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, que afirmou ‘não há mais espaço nesse país para uma equipe corrupta e incompetente; e muito menos para o retorno de um candidato que foi processado e preso como ladrão’”. Por seu lado, a Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul denunciou igualmente a forma leviana e criminosa com que Lula qualificou os integrantes do agronegócio no Brasil. Finalmente, a Associação Brasileira de Criadores de Zebu, por intermédio de seu presidente, divulgou nota de repúdio da qual destaco: “A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu vem a público manifestar seu repúdio às declarações do candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, proferidas nesta quinta-feira (25) em entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo. Durante sua participação no telejornal, Lula nominou como ‘fascista’ o agronegócio brasileiro, demonstrando completa ignorância sobre a importância e a realidade do nosso setor”.

 

Relho no agronegócio. Foi dado o recado, está posta a tentativa de intimidação. Como enfrentá-la? Pela inconformidade cada vez mais acesa, lúcida e refletida. Fervor, devoção, sacrifício, lucidez, reflexão. Só assim o chicote do autoritarismo de inspiração soviética, ameaça de fato contra todo o povo brasileiro, não lanhará as costas do agronegócio. Perseverando em tal conduta, o setor conseguirá com rapidez o oposto: a expansão, aumento da credibilidade assim como da respeitabilidade; e finalmente, a vitória de seus objetivos.

 

domingo, 28 de agosto de 2022

O logro do arroz orgânico

 

O logro do arroz orgânico

 

Péricles Capanema

 

Estacas firmes nos pântanos da credulidade. O PT vive de iludir. Tem vida para muitos anos, infelizmente existe gente à beça que é desatenta, ingênua, ou até que gosta de ser enganada. Caso recente, o elogio do MST como produtor rural, feito por Lula na recente entrevista ao Jornal Nacional. Vamos esmiuçá-lo, olhar de perto, é exemplo valioso do vezo petista de tapear.

 

É essencial diminuir a rejeição. Para ganhar a eleição, o morubixaba petista precisa baixar a rejeição a ele e ao PT, associados no imaginário popular a roubalheira, carestia, amizade com ditaduras. Um dos pontos em carne viva é o MST e logo atrás, na mesma linha, INCRA, invasões de propriedades e reforma agrária. O MST é ainda associado ao terrorismo. Na campanha de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro chegou a declarar: “Nós temos que tipificar suas ações [do MST] como terrorismo”. E aqui, decorrência lógica, perseguição ao produtor rural. O pacote macabro tem outros componentes. Em suas gestões, Lula e Dilma, o PT entregou o INCRA às suas bandas mais extremadas. A presidência do INCRA e as superintendências regionais eram consideradas quase como couto da corrente interna Democracia Socialista, que abrigava os setores mais extremados da seita petista. Aboletados no INCRA, os corifeus da Democracia Socialista agiam em sintonia com os chefes do MST. Lula, José Dirceu e outros da direção partidária se distanciavam assim dos desmandos da organização chefiada por Pedro Stédile, ainda que solidários com ela. O bloco controlador do partido pertencia ao grupo Construindo um Novo Brasil (CNB), abrigo dos políticos que alardeavam programa menos assustador. Não nos iludamos. Se Lula ganhar, volta renovado e fortalecido, por inteiro, esse show lúgubre. O INCRA, de novo, será entregue às alas mais extremadas. E boa parte de suas superintendências. Nos bastidores, o acordo já está feito e prometido o botim. O MST, sob o comando de Pedro Stédile, sintonizado com a nova direção do órgão estatal pilotado por extremistas, voltará a aterrorizar o país.

 

Me engana que eu gosto. Na sua necessidade inafastável de baixar a rejeição, Lula declarou na entrevista ao Jornal Nacional: “O MST está fazendo uma coisa extraordinária: está cuidando de produzir. Não sei se você sabe, o MST, hoje, tem várias cooperativas e o MST é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil. Você tem que visitar uma cooperativa do MST, Renata. Você vai ver que aquele MST de 30 anos atrás não existe mais”. Nada mais simpático que a produção de alimentos orgânicos. Nada impressiona melhor que ser, na modalidade orgânica, o maior produtor nacional de alimento básico na mesa do brasileiro, o arroz. Cereja no bolo, o MST mudou, está manso, produz.

 

Os fatos. O candidato petista se referia à produção do MST no Rio Grande do Sul, que colhe 70% do arroz orgânico produzido no Brasil. Na safra de 2022, os assentamentos do MST (dados deles) colheram 15,5 mil toneladas ▬ Cooperativa Agropecuária Nova Santa Rita, assentamento Capela, região metropolitana de Porto Alegre, expectativa de produção, 15,5 mil toneladas de arroz orgânico. O Brasil é autossuficiente na produção do arroz, colheita e consumo em torno de 11 milhões de toneladas anuais. Exporta em torno de 1,5 milhão de toneladas, importa arroz da Argentina e Paraguai. O consumo diário de arroz no Brasil está por volta de 33 mil toneladas. Esteado sobre tais dados, a produção de arroz orgânico trombeteada pelo MST daria para atender a aproximadamente 11 horas de consumo no Brasil. Menos da metade de um dia. E aqui estou admitindo como inteiramente idôneos os dados fornecidos pelo MST (useiro e vezeiro na utilização de fraudes e mentiras), total de produção e inexistência do uso de agrotóxicos.

 

Mais fatos. Em 26 de agosto, Vlamir Brandalizze, engenheiro agrônomo altamente considerado no ramo, teve palavras esclarecedoras, divulgadas pela Gazeta do Povo: “O consumo diário de arroz pelo brasileiro é de 33 mil toneladas. Se fosse viver do arroz orgânico do MST, teríamos alimento só para meio dia de consumo da população, ou nem isso, apenas 10 horas. E nem sei se é garantido que se colha tudo isso, porque o arroz é uma cultura exigente no controle de pragas e doenças”. Continuou o especialista: “É um nicho muito específico, que atende uma fatia muito pequena da população. E para conseguirem viabilizar isso, eles têm que vender muito caro”. A “Gazeta do Povo” pesquisou os preços. Arroz orgânico Tio João custa R$15,89 o quilo. Arroz convencional do mesmo tipo R$5,19 o quilo. De outro modo, o MST produz para nichos ricos, é produto “premium”. Pobre não compra arroz orgânico. Observou ainda Vlamir Brandalizze, para ser viável economicamente, é preciso colher entre 8 e 10 toneladas de arroz por hectare. Enfatizou: “Em qualquer lugar do mundo, seja na China, na Tailândia, na Indonésia ou no Brasil. O pessoal do orgânico colhe de 3 a 4 toneladas, eles não conseguem produtividade. Daí, não tem como ser barato. Podem não gastar com fertilizante e defensivos, mas também não colhem”.

 

O logro do MST pacificado. O MST será, no governo petista, não o produtor do arroz orgânico, mas, como sempre foi, o espantalho a ser brandido para tornar mais flexível a classe de produtores rurais às imposições do governo petista. O arroz orgânico colhido pelo MST é mais uma mistificação do arsenal petista de artimanhas para embair a opinião pública. Deixando de lado fantasias, o partido pode até ter êxito na manobra, mesmo que parcial, o que já seria meia vitória: existem crédulos em todos os lugares e condições sociais, impressionam-se facilmente com patranhas bem empacotadas.

sábado, 27 de agosto de 2022

Democracia sem hipocrisia e cegueira

 

Democracia sem hipocrisia e cegueira

 

Péricles Capanema

 

Avalanche publicitária acachapante. Nas últimas semanas o Brasil assistiu a enorme avalanche publicitária em apoio da democracia ▬ entrevistas sem conta e alguns manifestos, sobressaindo-se a “carta” às brasileiras e brasileiros lida em 11 de agosto nas Arcadas. Nesse clima, o Datafolha constatou o maior índice histórico de brasileiros a seu favor: 75% (democracia é sempre melhor). Em fevereiro de 1992, segundo o mesmo instituto, o índice patinava em 43%. Nada tenho contra a defesa das liberdades naturais, a limpidez na votação e o respeito ao resultado das urnas. Sou a favor, sempre fui, reitero-o agora. hoje está cada vez mais necessário enfatizar o óbvio.

 

Fuga do efeito manada. Não gosto, contudo, de chover no molhado; de diferente ângulo, praticar a adesão fácil, que pode levar ao efeito de manada mental. E, todos viram, houve adesão fácil ao movimento, tinha ficado bonito e muitos baixaram a guarda. O que me faria tendente ▬ razão circunstancial, não determinante ▬ a não me juntar ao bando que então se manifestava. São águas passadas. Aponto agora ponto relevante da questão.

 

Veracidade e lucidez, pré-condições de arena pública saudável. A avalanche virou enxurrada, está se transformando em filete. “Flopou”. Por quê? Faltou autenticidade. Ficou notório, o movimento era inautêntico no miolo, eivado de contradições: de fato, tinha rumo, favorecia a candidatura petista. Marco Aurélio Mello, ministro aposentado do STF, ecoando sentimento generalizado, declarou à CNN: “"Se soubesse que o manifesto seria usado como instrumento político para fustigar o atual governo e apoiar um candidato de oposição, no caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eu não o teria assinado. Se arrependimento matasse, vocês estariam encomendando a minha missa de sétimo dia”. Embeiçado pelo palavreado sedutor, foi na onda. Pulou fora ddo retrocesso que até então patrocinava. Com ele, incontáveis. Desvelada a falsidade, recuaram; com a lucidez recobrada, deram as costas para o logro.

 

Inautenticidade e contradições. Ponto fundamental da autenticidade é a ausência de contradições; coerência, enfim. A apologia da hoje tão celebrada democracia precisa ser ampla, geral e irrestrita. Ser a favor dela aqui e com sinceridade também defendê-la lá fora. Não foi o que aconteceu. Um sem número de políticos e pessoas com presença nos meios de divulgação, partidários notórios da ditadura na Rússia, China, Venezuela, Nicarágua e Cuba, apresentaram-se e foram aceitos como lídimos paladinos da democracia. Esta incoerência logo que melhor percebida, esvaziou o entusiasmo da ala que recusava a inautenticidade. A duplicidade (dos simpatizantes de ditaduras) estava intoxicando o ambiente.

 

Ilustração amarga. Deixo aqui apenas um exemplo, sintoma relevante de posições de efeitos nefastos para o futuro brasileiro, infelizmente bastante generalizadas. A| ex-presidente Dilma Rousseff foi palmeada por ter firmado a carta lida em 11 de agosto nas Arcadas. Por aqueles dias deu declarações turibulárias sobre a ditadura comunista chinesa, onde o PCC oprime centenas de milhões de pessoas. A China, afirma ela, é “modelo admirável”. Modelo para quem? Certamente para o Brasil, chamado para babar de admiração pelos dirigentes do Partido Comunista que a aplicam. “Representa uma luz nessa situação de absoluta decadência e escuridão que é atravessada pelas sociedades ocidentais”. Sendo assim, as sociedades ocidentais, trevosas, são ofuscadas pelo fulgor da política aplicada pelo Partido Comunista da China. Contradições assim, aberrantes e ovantes, eliminam a seriedade na assinatura de qualquer manifesto a favor da democracia. Quem as aceifa, evidencia cegueira. Quem as pratica, como poderá evitar o epíteto de conduta hipócrita, que nasce natural, impulsionado de forma incoercível pela força da lógica?

 

Conluio da cegueira com a hipocrisia. Aliança mistificadora, ainda que inconfessada e até despercebida, mais comum que se costuma pensar, esteada no romantismo e na superficialidade, sempre prenhe de catástrofes. Entre outros efeitos, leva a opinião nacional a se acostumar com o engodo e a dissimulação. À vera, é caldo de cultura para miséria material e moral, fortalecendo condições para perpetuação de governos ditatoriais. Em especial nesse clima eleitoral, a opinião nacional estará sujeita a mistificações que ofuscarão seus olhos e farão os ouvidos mais abertos à hipocrisia. Quanto não à mentira descarada.

sábado, 20 de agosto de 2022

Submissão total aos objetivos comunistas ou implacável perseguição religiosa

 

Submissão total aos objetivos comunistas ou implacável perseguição religiosa

 

Péricles Capanema

 

Perseguição religiosa na campanha presidencial brasileira. A campanha política no Brasil (eleições em outubro próximo) começa com tema inesperado: o assunto quente da perseguição religiosa. Nada tem de artificial; é gravíssimo, à vera, para qualquer católico. Lula, em repetidas ocasiões, tenta escapar do tema. Quer varrê-lo do debate. Poderá ser colocado por baixo do tapete, mas continua realidade a ser considerada com muita seriedade.

 

Falso anacronismo. Colocou0o na ordem do dia pessoa queridinha da esquerda brasileira ▬ xodó intocável. O ditador da Nicarágua destampou o caixão e escancarou para todos a realidade escondida. Ou os católicos acertam o passo com a revolução ou serão perseguidos. Foi assim no passado, continua igual. A perseguição religiosa parecia realidade longínqua, coisa para Coreia do Norte, fato quotidiano dos regimes soviéticos, já desaparecidos, e, ainda hoje, do chinês, disfarçado embora. Por aqui, não. Ortega evidenciou: por aqui, sim.

 

A companheira de viagem fortaleceu o carrasco. Um fato deformava o quadro real. Por décadas a esquerda católica vem sendo companheira de viagem do petismo. A esquerda no poder favoreceria atividades da Igreja, era a esperança. Com uma condição, cuidadosamente escondida: subserviência e colaboração.

 

De volta a agressão. Por razão brutal a perseguição religiosa deixou de semelhar anacronismo: sem rebuços, um dos maiores e mais queridos aliados do PT (o ditador Daniel Ortega) está perseguindo a Igreja Católica na Nicarágua. Acusa-a de “golpista”, “terrorista”. Ou o que lhe vier aos lábios; para justificar o retrocesso, qualquer mentira vale, aos montes teremos “fake news” em estado puro. O governo sandinista prende bispos, padres e leigos, fecha rádios e organizações católicas, reprime na Igreja quem ousa levantar a cabeça. Por quê?

 

Pão e liberdade. A razão é simples: os católicos estão sofrendo com a tirania e a miséria dominantes e crescentes na Nicarágua. Revoltam-se, têm reivindicação singela, pão e liberdade. Afinal, o sandinismo, menina dos olhos da esquerda católica e do petismo, manda no país há décadas e já passou da hora de melhorar alguma coisa na vida dos . E não mudou nada (aliás, mudou muito, e para pior): miséria no povo, o somozismo é fichinha diante da repressão sandinista, continua o favorecimento dos apaniguados, a roubalheira corre solta. Crescente presença imperialista da China. Com apoio, claro, dos irmãos Castro, de Maduro, da esquerda latino-americana, muito especialmente do PT e aliados no Brasil.

 

Ortega, o intocável. Querem sintoma expressivo? Alguém conhece algum dirigente do PT que censure Daniel Ortega  pela roubalheira, fraude nas eleições, perseguição religiosa e favorecimento escandaloso de familiares? Pelo contrário, é objeto de admiração. Sobre Daniel Ortega, em novembro de 2021, afirmou Lula: “Temos que defender a autodeterminação dos povos. Sabe, eu não posso ficar torcendo. Por que que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?” Havendo condições, não nos iludamos, repetirão no Brasil o que Maduro, Ortega e Castro ▬ os intocáveis ▬ impuseram e infligem a seus povos. E aqui se inclui a perseguição religiosa. Há precedente macabro: a perseguição religiosa, com sem-número de mártires existiu gravíssima na antiga Cortina de Ferro, seus epígonos latino-americanos farão o mesmo aqui, se a tal as conveniências revolucionárias os aconselharem.

 

Recordações dolorosas e reveladoras. Em fevereiro e março de 1980, o progressismo católico, dele então corifeus dom Paulo Evaristo Arns, dom Pedro Casaldáliga e frei Betto, entre outros, promoveu em São Paulo grande celebração da revolução sandinista. Dom Pedro Casaldáliga, na ocasião, afirmou: “Eu me sinto, vestido de guerrilheiro, como me poderia sentir paramentado de padre. É a mesma celebração que nos empurra à mesma esperança. Apenas para terminar, gostaria de pedir para todos vocês, que sejamos consequentes. O que estamos celebrando, o que estamos aplaudindo nos compromete até o fim. Nicarágua nos deu o exemplo: todos nós, todos os povos da América Latina, todos os povos do Terceiro Mundo, vamos atrás!” E dom Paulo Evaristo Arns fechou da seguinte maneira: “Como concluir? Não há uma conclusão. A coisa apenas começou. Vejam esta pergunta — chega de teologia e vamos à prática: onde estão os grupos que vão para a Nicarágua, para aprender? Eu respondo: sei que, em São Paulo, há grupos se preparando e de malas prontas para partir. Até com a permissão do Arcebispo de São Paulo”. Os pastores bradavam em defesa dos lobos. E, então, os lobos uivavam em defesa dos pastores.

 

Nicarágua hoje. Tomo como base informações divulgadas pela swissinfo.ch, instituição reputada como das mais sérias da Europa. São sintomas de situação que pode se agravar. Dom Rolando Álvarez, bispo da diocese da Matagalpa foi preso na madrugada de 6ª feira 19 de agosto. Policiais invadiram violentamente, 3h20, hora local, a sede da cúria episcopal. É acusado de “organizar grupos viOlentos” para “DESESTABILIZAR O Estado da Nicarágua e atacar as autoridades constitucionais”. Com o bispo foram presos sete colaboradores e um operador de câmera. Quatro sacerdotes foram presos, dois seminaristas. A polícia distribuiu comunicado: “Na madrugada de hoje foi realizada nas instalações da cúria\ da cidade de Matagalpa uma operação que permitiu que as famílias e a cidadania de Matagalpa recuperassem a normalidade”. Como se vê, comunicado à altura do que divulgaria qualquer governo da antiga União Soviética.

 

Submissão total aos objetivos comunistas ou implacável perseguição religiosa. Coloquei como título do artigo “submissão total aos objetivos comunistas ou implacável perseguição religiosa”. Não foi exagero. É isso mesmo. O resto é ilusão e mito.