domingo, 28 de agosto de 2022

O logro do arroz orgânico

 

O logro do arroz orgânico

 

Péricles Capanema

 

Estacas firmes nos pântanos da credulidade. O PT vive de iludir. Tem vida para muitos anos, infelizmente existe gente à beça que é desatenta, ingênua, ou até que gosta de ser enganada. Caso recente, o elogio do MST como produtor rural, feito por Lula na recente entrevista ao Jornal Nacional. Vamos esmiuçá-lo, olhar de perto, é exemplo valioso do vezo petista de tapear.

 

É essencial diminuir a rejeição. Para ganhar a eleição, o morubixaba petista precisa baixar a rejeição a ele e ao PT, associados no imaginário popular a roubalheira, carestia, amizade com ditaduras. Um dos pontos em carne viva é o MST e logo atrás, na mesma linha, INCRA, invasões de propriedades e reforma agrária. O MST é ainda associado ao terrorismo. Na campanha de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro chegou a declarar: “Nós temos que tipificar suas ações [do MST] como terrorismo”. E aqui, decorrência lógica, perseguição ao produtor rural. O pacote macabro tem outros componentes. Em suas gestões, Lula e Dilma, o PT entregou o INCRA às suas bandas mais extremadas. A presidência do INCRA e as superintendências regionais eram consideradas quase como couto da corrente interna Democracia Socialista, que abrigava os setores mais extremados da seita petista. Aboletados no INCRA, os corifeus da Democracia Socialista agiam em sintonia com os chefes do MST. Lula, José Dirceu e outros da direção partidária se distanciavam assim dos desmandos da organização chefiada por Pedro Stédile, ainda que solidários com ela. O bloco controlador do partido pertencia ao grupo Construindo um Novo Brasil (CNB), abrigo dos políticos que alardeavam programa menos assustador. Não nos iludamos. Se Lula ganhar, volta renovado e fortalecido, por inteiro, esse show lúgubre. O INCRA, de novo, será entregue às alas mais extremadas. E boa parte de suas superintendências. Nos bastidores, o acordo já está feito e prometido o botim. O MST, sob o comando de Pedro Stédile, sintonizado com a nova direção do órgão estatal pilotado por extremistas, voltará a aterrorizar o país.

 

Me engana que eu gosto. Na sua necessidade inafastável de baixar a rejeição, Lula declarou na entrevista ao Jornal Nacional: “O MST está fazendo uma coisa extraordinária: está cuidando de produzir. Não sei se você sabe, o MST, hoje, tem várias cooperativas e o MST é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil. Você tem que visitar uma cooperativa do MST, Renata. Você vai ver que aquele MST de 30 anos atrás não existe mais”. Nada mais simpático que a produção de alimentos orgânicos. Nada impressiona melhor que ser, na modalidade orgânica, o maior produtor nacional de alimento básico na mesa do brasileiro, o arroz. Cereja no bolo, o MST mudou, está manso, produz.

 

Os fatos. O candidato petista se referia à produção do MST no Rio Grande do Sul, que colhe 70% do arroz orgânico produzido no Brasil. Na safra de 2022, os assentamentos do MST (dados deles) colheram 15,5 mil toneladas ▬ Cooperativa Agropecuária Nova Santa Rita, assentamento Capela, região metropolitana de Porto Alegre, expectativa de produção, 15,5 mil toneladas de arroz orgânico. O Brasil é autossuficiente na produção do arroz, colheita e consumo em torno de 11 milhões de toneladas anuais. Exporta em torno de 1,5 milhão de toneladas, importa arroz da Argentina e Paraguai. O consumo diário de arroz no Brasil está por volta de 33 mil toneladas. Esteado sobre tais dados, a produção de arroz orgânico trombeteada pelo MST daria para atender a aproximadamente 11 horas de consumo no Brasil. Menos da metade de um dia. E aqui estou admitindo como inteiramente idôneos os dados fornecidos pelo MST (useiro e vezeiro na utilização de fraudes e mentiras), total de produção e inexistência do uso de agrotóxicos.

 

Mais fatos. Em 26 de agosto, Vlamir Brandalizze, engenheiro agrônomo altamente considerado no ramo, teve palavras esclarecedoras, divulgadas pela Gazeta do Povo: “O consumo diário de arroz pelo brasileiro é de 33 mil toneladas. Se fosse viver do arroz orgânico do MST, teríamos alimento só para meio dia de consumo da população, ou nem isso, apenas 10 horas. E nem sei se é garantido que se colha tudo isso, porque o arroz é uma cultura exigente no controle de pragas e doenças”. Continuou o especialista: “É um nicho muito específico, que atende uma fatia muito pequena da população. E para conseguirem viabilizar isso, eles têm que vender muito caro”. A “Gazeta do Povo” pesquisou os preços. Arroz orgânico Tio João custa R$15,89 o quilo. Arroz convencional do mesmo tipo R$5,19 o quilo. De outro modo, o MST produz para nichos ricos, é produto “premium”. Pobre não compra arroz orgânico. Observou ainda Vlamir Brandalizze, para ser viável economicamente, é preciso colher entre 8 e 10 toneladas de arroz por hectare. Enfatizou: “Em qualquer lugar do mundo, seja na China, na Tailândia, na Indonésia ou no Brasil. O pessoal do orgânico colhe de 3 a 4 toneladas, eles não conseguem produtividade. Daí, não tem como ser barato. Podem não gastar com fertilizante e defensivos, mas também não colhem”.

 

O logro do MST pacificado. O MST será, no governo petista, não o produtor do arroz orgânico, mas, como sempre foi, o espantalho a ser brandido para tornar mais flexível a classe de produtores rurais às imposições do governo petista. O arroz orgânico colhido pelo MST é mais uma mistificação do arsenal petista de artimanhas para embair a opinião pública. Deixando de lado fantasias, o partido pode até ter êxito na manobra, mesmo que parcial, o que já seria meia vitória: existem crédulos em todos os lugares e condições sociais, impressionam-se facilmente com patranhas bem empacotadas.

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