Quando olhar para
trás faz ver adiante
Péricles Capanema
Não é anacronismo, nem melúrias saudosistas. Também
não quis martelar o chavão “a História é a mestra da vida”. Contas feitas, contudo,
é isso mesmo, pretenderia oferecer subsídios para a ação, análise de fatos que
nos permita pisar mais firmes nas veredas do futuro. Experiência de outros.
Aos fatos. Dias atrás passei os olhos em tese
universitária publicada em 2018, redigida com seriedade por estudioso que não conheço,
Moacir Pereira Alencar Junior, apresentada na Universidade de São Carlos.
Título do trabalho: “Conservadorismo católico na era Vargas (1930 – 1945):
liberais, integralistas e comunistas segundo Plinio Corrêa de Oliveira”. Está
na rede. Não farei recensão da tese. O objetivo é outro: respigar pontos que de
momento me chamaram mais a atenção pela atualidade.
Foram anos de formação do prof. Plinio Corrêa
de Oliveira, já militante no movimento católico desde 1928. Em 1930 tinha 22
anos; em 1945, 37 anos. Mas revelam, é esclarecedor, maturidade e uma linha
política da qual nunca se afastou. O jovem líder, diretor de jornal católico,
na maior parte daqueles anos dirigente de organização católica e ex-deputado
federal constituinte, precisava tomar posição, orientar bases, preservar e
promover interesses. Suas atitudes de então ajudam nas tomadas de posição de quem
hoje quer agir com real proveito para a causa católica. Quais movimentos eram
atuantes no Brasil e no mundo daquele período? Os principais, nazismo,
fascismo, comunismo, liberalismo político e econômico, integralismo.
Em relação a nazismo, fascismo e comunismo,
oposição clara, combater aberto. Afirmava ele, o século XX padecia duas grandes
heresias, uma o comunismo; a outra a “idolatria pagã do Estado”, que tinha no
“nazismo sua expressão mais completa”. Via no nazismo e no comunismo
“solidariedade ideológica, as diferenças que se possam notar são acessórias”. E
propugnava o Direito Natural, fundado na pessoa humana, inimigo do coletivismo
e da idolatria estatal: “[Para tais movimentos], o homem não tem nenhum
direito, que lhe seja inerente, o que equivale dizer que o homem não tem nenhum
conteúdo que lhe seja substancial e especificamente próprio, não tem realidade
por si, mas é um mero acidente da coletividade e, por consequência, do Estado”.
E, de forma coerente, vergastava o totalitarismo: “É totalitário todo e
qualquer regime com toda e qualquer dominação, governado por um, alguns, ou
muitos homens, no qual o Estado pretenda invadir esferas que não lhe são
próprias, atentando assim contra os direitos da Igreja, da família, e das
pessoas, incluindo o direito de propriedade com toda a extensão que o Direito
Natural lhe confere”.
O prócer católico em sua luta contra o
comunismo propunha confluência de esforços entre o integralismo e os partidos
burgueses. Ninguém, em sua visão, deveria ter o “monopólio da luta
anticomunista”. As afirmações logo abaixo são de 1936, governo constitucional, antes
do golpe de novembro de 1937. Desaconselhava os católicos a “abrigar-se à
sombra protetora de uma entidade messiânica”. Em sentido diferente, advertindo contra
supostos salvadores da pátria, sugeria alianças: “No Brasil, a divisão entre os
integralistas e os burgueses dos partidos liberais abriria uma deplorável
brecha na frente anticomunista. E, portanto, seria gravemente antipatriótico
qualquer investida contra o atual governo”.
Concluo. Com presença ativa na vida pública,
Plinio Corrêa de Oliveira, já naquela época (abaixo texto de 1935, tinha 27
anos na ocasião) via solução efetiva apenas na restauração da ordem temporal
cristã: “Não lutamos pela violência. A nossa confiança não está no
integralismo, nem em qualquer outra organização, mas apenas na Igreja.
Autênticos soldados da cruzada iniciada por Jackson de Figueiredo, ainda
estamos em que o mundo de hoje está tão perdido que só uma ação puramente
católica o poderá evitar”. Continuou na mesma trilha até seu falecimento em
1995.
Deixou exemplo de enorme utilidade para os
que batalham nos arraiais católicos, um constante zelo a um tempo ativo e
arguto. Agir de outro modo trinca as muralhas da cidadela católica. É
autodemolição.
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