De novo a opção preferencial pela exclusão
Péricles
Capanema
A
jornalista Mônica Bergamo divulgou na “Folha de São Paulo”, 26 de julho, “carta
ao povo de Deus”, manifesto assinado por 152 bispos (boa parte, resignatários),
que deveria ser dado à publicidade um pouco antes, 22 de julho. Signatários dela, pelo que afirma a
colunista, queriam, antes de propagá-la, esperar a opinião da Comissão
Permanente da CNBB, cuja reunião para análise do texto e sua oportunidade está
marcada para 5 de agosto próximo. E temiam que a chamada ala conservadora da
CNBB impedisse sua divulgação. Tem sólidos fundamentos o temor do choque em
setores conservadores. E não só da CNBB, em qualquer lugar, pois é traumático o
conteúdo; trata-se de lídimo libelo petista, poderia ser assumido pela Comissão
Executiva Nacional do PT. De fato, na 2ª feira, 27 de julho, em nota a CNBB se
distanciou (pelo menos, por enquanto) da mencionada tomada de posição, “nada
tem a ver”, é “responsabilidade dos signatários”. Teria então havido um
vazamento para impedir o engavetamento do texto. Aqui não se trata de apoio ao
governo Bolsonaro. É normal a oposição, cumpre papel necessário, terá
justificativas que devem ser ponderadas. O chocante no caso é a assunção da
linguagem e das bandeiras da esquerda, mesmo a mais extremada, o apelo a um
trabalho coordenado, cujo êxito colocará o Brasil em situação próxima à da
Venezuela ou Cuba, retrocesso cruel para todos, em especial para os pobres.
Desde
décadas, tem sido excluída a maioria silenciosa dos católicos. Existem cerca de 500 bispos atuando no
Brasil, pouco mais de 300 efetivos, pouco menos de 200 resignatários. Dos 152 subscritores,
repito, parte importante é resignatária. O fato tem sua importância. Convém
recordar, o bispo emérito não tem obrigações de pastorear diocese, está mais
distante dos fiéis e do Clero, sente-se assim mais livre para agir segundo suas
preferências ronceiras; no caso, a militância esquerdista, que por razões
prudenciais preferiria esconder quando à frente de dioceses. Ali, precisariam
pelo menos fingir levar em conta o clamor da maioria silenciosa e silenciada do
povo; recordando linguagem bíblica, não poderiam atirar uma pedra para filhos
pedindo pão, nem poderiam arrojar uma serpente ao escutá-los pedindo peixe. Com
efeito, observando a orfandade em que se encontra desde décadas a imensa
maioria do laicato católico, excluída de forma intolerante pela opção
preferencial pela esquerda levada a cabo por parte dos pastores, é normal se
lembrar de passagens bíblicas atinentes. “Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no
Egito, e tenho ouvido o seu clamor” (Ex 3, 7). “E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão,
lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma
serpente?” (Lc 11, 11). Para os aflitos, a política habitual tem sido pedras e
serpentes. O manifesto em análise constitui, dói dizê-lo, mais um dos episódios
lacerantes do misterioso processo de autodemolição da Igreja, em que tantas
vezes o pastor espanca a ovelha indefesa, abre as portas do redil e saúda
alegremente o lobo que avança.
Radicalização da exclusão. Mais
um ponto a ter em vista. Os 152 signatários podem estar redondamente iludidos a
respeito da real influência que seu demolidor libelo terá na opinião nacional,
em especial na católica. Na prática, vai demolir pouca coisa, se tanto. O
brasileiro é pacato, abomina agitações e dilacerações. E o intolerante texto as
instiga. Imaginarão que sua condição de bispos da Igreja Católica dá à sua voz
eco que no caso não existe? Na prática, incomodado com a ácida linguagem revolucionária,
o laicato majoritariamente fechará os ouvidos à mensagem. Outro aspecto
importante. Nosso Senhor no Evangelho ensinou: “As minhas ovelhas conhecem a
minha voz” (Jo, 10, 27). O sensus fidei faz com que o católico conheça o
timbre da voz do bom pastor. Quando é estranho o timbre, dele se afasta. Em
resumo, o palavrório amazônico terá repercussão escassa. Os católicos, em geral
desgostosos com o disparatado do texto, sentir-se-ão ainda mais excluídos.
Outra
maioria silenciosa.
Certamente bem mais que 152 bispos foram sondados para dar seu apoio ao texto
intoxicado por um esquerdismo primário e descabelado. Recusaram. Temos aqui uma
maioria silenciosa, um pouco menos de 350 ▬ destes, quantos foram sondados, não
tenho como saber ▬, que por razões as mais várias, inclusive desconhecimento,
imagino, abstiveram-se. Preferiram guardar distância do texto revolucionário.
Isolaram-se assim dos 152 signatários, tangidos pelo vezo incoercível de se
juntar às reinvindicações da esquerda, mesmo as mais radicalizadas.
Em 1976,
o professor Plinio Corrêa de Oliveira publicou livro de grande repercussão “A
Igreja ante a escalada da ameaça comunista ▬ Apelo aos bispos silenciosos”. O
trabalho continha o pedido para que os então bispos silenciosos, maioria clara,
tomassem a frente do palco, tirando o protagonismo quase monopolístico dos
bispos de esquerda. Agora, também, a maioria está silenciosa. Dizia ele na
ocasião: “Importa, com efeito, não ver em tal silêncio apenas a posição cômoda
de quem está longe da luta. Mas também o desapego e a retidão que evitam
obstinadamente a complacência ativa com o mal. [...] Nas mãos dos silenciosos,
pôs Deus todos os meios que ainda podem remediar a situação: são eles
numerosos, dispõem de posições, de prestígio e de cargos. Atuem. Nós lhos
imploramos. Falem, ensinem, lutem”. Estamos hoje em situação parecida. Os
excluídos na Igreja, ansiando por inclusão e compreensão, hoje não pedem outra
coisa a seus pastores. Não aprofundem ainda mais as valas da exclusão.
Apelo à
união da esquerda em torno de programa demolidor. O libelo dos 152 está na rede e na imprensa
escrita. Dele extraio trechos de maior significado. Ponto central, recusa
qualquer complacência com o governo: “É dever [...] posicionar-se claramente.
[...] A narrativa que propõe a complacência frente aos desmandos do Governo
Federal, não justifica a inércia e a omissão”. Aos que não têm nenhuma
complacência (os sem complacência) com o governo, a proposta: “O momento é de
unidade. [...] Por isso, propomos um amplo diálogo nacional”. A finalidade de tal frente popular salta do
texto apaixonado: “As reformas trabalhista e previdenciária mostraram-se como
armadilhas. [...] É insustentável uma economia que insiste no neoliberalismo.
[...] uma ‘economia que mata’. [...] O desprezo pela educação, cultura, saúde e
diplomacia também nos estarrece. [...] Demonstrações de raiva pela educação
pública. [...] escolha da educação como inimiga. [...] No plano econômico, o
ministro da economia [...] privilegiando apenas grandes grupos [...] grupos
financeiros que nada produzem. [...] O governo federal demonstra rechaço pelos
mais pobres e vulneráveis” [...] Este tempo não é para divisões”.
Esperemos
que a CNBB recuse seu apoio a um texto favorecedor de retrocessos e exclusões.
E que, enfim, para o bem do Brasil, falem os silenciosos do Episcopado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário