O Cristo Redentor do Corcovado na mira
Péricles
Capanema
Prossegue
intensa nos Estados Unidos a campanha de destruição de estátuas simbólicas. Foram
derrubadas estátuas de Cristóvão Colombo; várias estátuas de generais heróis na
Guerra Civil sofreram a mesma sorte, também algumas de são Junípero Serra.
Estátua de são Luís IX, rei da França, foi rapidamente recolhida em Saint Louis
para não ser vandalizada. E ainda ameaçadas estátuas dos chamados pais
fundadores da nação líder do Ocidente. A destruição continua, nada parece
escapar à fúria vandálica. Além de arrancadas violentamente dos pedestais, têm
sido corrente, para completar a liturgia caricata, cusparadas, chutes, berros,
pinturas afrontosas. Não são raras mutilações e decepações.
A
mensagem lampeja clara: a figura dos homenageados evoca realidades já não mais
toleráveis. Primeiro o símbolo e depois as realidades simbolizadas serão
banidos da superpotência. Acusam-nos de representar uma civilização
escravocrata, imperialista, genocida, opressora, em especial de negros e
índios. Um passo a mais: é a civilização europeia que está no cadafalso. Outro
passo na mesma direção: é a civilização cristã europeia. E a fonte última da
Europa cristã é Nosso Senhor Jesus Cristo. Questão de tempo, chegarão lá, as
estátuas de Jesus Cristo, símbolo de sua doutrina e igreja, também serão
abatidas.
Aliás, já
estamos nas primeiras etapas de tal demolição revolucionária ▬ não convém
evitar o qualificativo que cabe: satânica. Coerente com o espírito do
movimento, foi o que sintomaticamente já anunciou o escritor Shaun King,
ativista social, fundador do “Real Justice PAC” e apoiador do movimento “Black
lives matter”: as imagens de Jesus Cristo também precisam ser derrubadas, pois
lembram “uma forma de supremacia branca”. Imposição da justiça real, parece,
ditadura dos novos tempos.
No
começo, o vozerio pela derrubada virá da extrema esquerda, de movimentos
anarquistas e assemelhados, como já exigido por Shaun King. Depois, vozeadas do
centro ecoarão os protestos, propondo a medida como necessidade de harmonia
social. No fim, uma suposta maioria centrista achará melhor tirar todas as
estátuas de Nosso Senhor dos lugares públicos para preservar o caráter laico do
Estado. E, no trajeto, algumas estátuas serão vandalizadas, sem nenhuma
punição, forma de impor celeridade maior ao processo demolidor. Alguns, com
subestima, às vezes calculada, dirão, são meros atos simbólicos, não mexem no
fundo das realidades que importam, que continuarão as mesmas. Serão as mãos que
apagam, as vozes que adormecem.
Símbolos
não importam? Pulo as décadas, retorno para longe. Em 23 de junho de 1813,
Napoleão encontrou Metternich em Dresden. Ali se jogava a sorte da Europa, a
vida, quem sabe, de milhões de homens. Foram quase quatro horas de conversas,
por vezes amável, por vezes tensa e ríspida. De um lado, o general
representante da investida revolucionária. Do outro, o representante da Europa
conservadora. Em certo momento de tensão, os dois em pé, Napoleão gritou
ameaças e atirou o chapéu no chão. Ele era imperador, o outro, apenas ministro.
Esperou um gesto de cortesia de Metternich, recolhendo e lhe devolvendo o
chapéu. Nada. O corso passou ao lado do chapéu, empurrou-o com o pé. O
chanceler austríaco não se mexeu, fingiu nada ter percebido, continuou a
argumentar. Napoleão ameaçou:
▬ Para um
homem como eu, a vida de um milhão de homens, vale nada”
Metternich
olhou o chapéu no chão. Continuou Napoleão:
▬ Perdi
300 mil homens na Rússia, entre eles não havia mais que 30 mil franceses. Os
outros, italianos, poloneses, alemães.
O
ministro atalhou:
▬ Vossa
Majestade se esquece que fala a um alemão.
Napoleão
sentiu o golpe, apanhou o chapéu e o enfiou na cabeça. Derrota simbólica
enorme. Ao se despedir, Metternich lhe disse: “Majestade, sua situação está
perdida. Pressentia-o, quando cheguei. Agora, levo comigo a convicção”.
O encontro
de Dresden, pleno de frases e gestos simbólicos, repercutiu. Repercute até hoje.
É visto como um dos marcos importantes da queda de Napoleão. A Europa tomou um
rumo detestado pelo imperador da França. Um gesto simbólico, a recusa de
apanhar um simples chapéu (no caso, indício de temor e traço de subserviência)
até hoje é vista como resumo de uma reunião de mais de três horas. Gestos
simbólicos têm efeito enorme, são lances da guerra cultural. Além da
importância em si, são observados como atitudes prenunciativas.
Será
derrota enorme para a Cristandade que diante das estátuas derrubadas (no frigir
dos ovos o que está sendo atacado é a Cristandade), não haja resposta à altura
com desagravos proporcionais e revide legais, mas altamente significativos.
Donald
Trump está em campanha pela reeleição. Qual estátua os dirigentes da propaganda
escolheram como a mais representativa para ser derrubada? À primeira vista,
seria alguma de um “foundigng father”. Ou alguma célebre na Europa pelo valor
artístico.
Nada
disso, foi selecionada a do Cristo Redentor do Corcovado, braços abertos para o
mundo, inaugurada em 1931, eco lídimo do movimento pela realeza social de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Ato de enorme simbologia, visto pelos chefes da campanha
presidencial republicana como de forte repercussão eleitoral. O fato é
conhecido. Em propaganda divulgada por todos o país, encimada pelo Cristo do
Corcovado, o texto dizia: “O Presidente deseja saber quem o apoiará contra a
esquerda radical”. Está dado a entender, queiramos ou não, estamos diante de
uma batalha universal.
Dia virá,
e não está longe, em que se exigirá no Brasil a derrubada da estátua do Cristo
Redentor do Corcovado. A exigência virá de grupos ideológicos, inflamados pelas
mesmas doutrinas que hoje trabalham nos Estados Unidos pela destruição de suas
raízes históricas e aparecimento de uma sociedade rasa e ateia, parecida com o
mundo comunal imaginado por Marx como etapa final do comunismo.
Um comentário:
Existe uma Estátua de Cristo em Valinhos SP, fica próximo a Fonte Sônia. Por enquanto existe a Estátua de Cristo em Valinhos SP, talvez deixe de existir nos próximos anos.
Existe um projeto que prevê a abertura de um parque público e construção de um residencial na Fonte Sônia, em Valinhos (SP), mas há notícias de que a maioria dos protetores do meio ambiente são contra.
A área com 2,5 milhões de metros quadrados, o equivalente a 350 campos de futebol, está fechada para visitações há três anos, desde a compra pela empresa FS Empreendimentos Imobiliários.
No local há casarões e capelas com estruturas danificadas, pedalinhos expostos às condições climáticas e uma estátua do Cristo pichada e rodeada por garrafas descartadas. Quem percorre a entrada principal se depara com lagos, antigos quiosques, um bar desativado e, atrás da estrutura antes usada por um hotel, há espaço que lembra uma queda d'água.
Além disso, gados e cavalos são mantidos pela companhia em trecho mais distante da principal portaria de acesso, onde estão previstos parte dos 1,2 mil lotes que devem formar o condomínio.
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