Brasil em péssima companhia
Péricles Capanema
Liberdade econômica no mundo. Sediada em Washington, a Heritage Foundation, think
tank conhecido e respeitado, defensor da liberdade econômica, de outro
modo, da propriedade privada e da livre iniciativa, publicou seu índice (pontuação)
anual de liberdade econômica de 2021 (Index of Economic Freedom, está na
rede). Estão listados 178 países, desde os que mais favorecem o empreendedorismo
e a iniciativa econômica, até os que reprimem brutalmente a liberdade de o
homem empreender, crescer, ser dono de bens e garantir o futuro para si e sua
família. De outro modo, no fundo, resumidamente, livre iniciativa versus
comunismo.
Critérios do índice. O indicador é composto de muitos componentes, considera
vários critérios, aqui só vou informar o índice síntese (ou pontuação, ou
escore). Ele vai de 0 a 100. Considera país livre, isto é, com espaçosa liberdade
econômica, o que obtiver pontuação de 80 a 100. A pontuação de francamente
livre ou via de regra livre vai de 70 a 79,9 (mostly free). O país que
está entre 60 e 69,9 tem o rótulo moderadamente livre (moderately free).
O que se espreme entre 50 e 59,9 é classificado como em geral não-livre (mostly
unfree). De 49,9 a 0, (repressed) reprimido, país de fato sem
liberdade econômica real.
Cingapura campeã, Coreia do Norte lanterninha. O primeiro posto da listagem pertence a Cingapura
(89,7), cidade-estado de 5,6 milhões de habitantes, no mundo o país que mais
estimula investimentos e emprego; breve, ativa o crescimento pela proteção da propriedade
privada e da livre iniciativa. O segundo lugar é da Nova Zelândia (83,9). A Suíça
(81,9) está em quarto. Relação das vinte primeiras posições: Cingapura, Nova Zelândia,
Austrália (82,4), Suíça, Irlanda (81,4), Taiwan (78,6), Reino Unido (78,4),
Estônia (78,2), Canadá (77,9), Dinamarca (77,8), Islândia (77,4), Georgia
(77,2), Ilhas Maurício (77,0), União dos Emirados Árabes (76,9), Lituânia
(76,9), Holanda (76,8), Finlândia (76,1), Luxemburgo (76,0), Chile (75,2),
Estados Unidos (74,8). Importa notar, existem na lista três países que foram
comunistas, vegetavam no pântano soviético e, em redondos trinta anos, adotaram
medidas que os colocaram no topo do grupo dos países que estimulam a
prosperidade de suas populações. Breve, aplicaram na legislação cavalo de pau
vigoroso e dispararam no rumo oposto. Vamos agora para o fim da lista, o charco
da paradeira. O país de economia mais fechada no mundo [melhorando, do conjunto
dos países pesquisados, dos quais é possível obter dados suficientes] é a
Coreia de Norte (5,2). Não espanta. Está no 178º lugar. Até o começo da década
de 50, as duas Coreias (que ainda não existiam) tinham nível econômico
semelhante. Hoje, embora os dados não sejam muito objetivos, estima-se em geral
que o PIB per capita da Coreia do Sul seja 20 vezes o da Coreia do Norte. Em 177º
aparece a Venezuela (24,7). O antepenúltimo é Cuba (28,1). São os mais
fechados, coletivistas, próximos ao comunismo integral, locais de repressão,
miséria e falta de perspectivas para o povo. Os dois da América Latina são
modelos para o PT e xodós de Vladimir Putin, seu grande protetor. E da China
também.
Brasil em má companhia. Já sei, o leitor está querendo saber onde está o Brasil.
Já digo, está em colocação deprimente em 2021, o 143º de 178, pontuação 53,4
(mostly unfree). Os anos anteriores trazem pontuação e colocação semelhante. Estão
em condição melhor que o Brasil na lista de 2021 (claro, nem vou falar que em
posição honrosa estão todos os países ricos do mundo), entre outros: Bulgária, Cazaquistão,
Polônia, Romênia, Eslovênia, Croácia, Hungria, Mongólia, Rússia, Egito, China,
Camboja, Ucrânia. Paro por aqui, sem deixar de notar numerosos países que
fugiram do comunismo há pouco e hoje têm economia mais abertas que o Brasil. É
de corar frade de pedra.
Somos pobres por opção. Aqui vão as pontuações do Brasil a partir de
2010 no Index of Economic Freedom: 2010 (55,6); 2011 (56,3); 2012 (57,3);
2013 (57,7); 2014 (56,6); 2015 (56,6); 2016 (56,5); 2017 (52,9; 2018 (51,4);
2019 (51,9); 2020 (53,7). Antes de 2010 não era muito diferente. Outrossim, estamos
empantanados em pontuações próximas a 49,9, começo da zona dos países
não-livres. Não espanta que Paulo Guedes tenha dito dias atrás que a extração
do petróleo poderia ser até quatro vezes mais rápida se a Petrobrás estivesse
em mão privadas. E que a Eletrobrás precisa investir 15 bilhões de reais por
ano, mas só consegue aplicar 3 bilhões. “Precisamos libertar (privatizar) a
empresa ou ela vai ser reduzida à insignificância. Somos pobres por opção”. Lamentou desconsolado
a não privatização da Eletrobrás e Correios que espera acontecer em 2022:
“Esperamos que em quatro anos consigamos vender duas estatais. Não é possível
que um governo que se elegeu prometendo isso [a privatização], não possa vender
duas empresas que estão descapitalizadas e não conseguem manter suas fatias de
mercado.” Como fundo de quadro, havia a constatação, levantada pela reportagem:
no governo Bolsonaro, nenhuma estatal foi vendida. Apenas como comparação,
durante o primeiro governo de FHC foram vendidas 80 estatais. E Salim Mattar,
batalhador pela iniciativa privada, lamentou sua credulidade: “O governo não é liberal e eu acreditei no candidato
Bolsonaro. No candidato que falava em privatizar a 'TV da Dilma', a empresa do
trem bala. Mas foi um discurso de campanha”.
Sair do atoleiro. Posta a situação,
não é fácil sair do brejo ▬ fonte de sofrimento popular, renda baixa, menos
empregos. O Brasil em 1980 era 50º na renda per capita. Hoje, é 85º. Contra
essa tendência mórbida de estatização e intervencionismo (engessamento da economia),
com inevitável empobrecimento da população, temos no Brasil fortes correntes de
opinião partidárias da livre iniciativa e da propriedade privada. Penso,
faltaria ainda enfatizar suficientemente a importância central do princípio de
subsidiariedade, que aponta o papel supletivo do Estado em relação à sociedade.
E aqui a defesa de política enérgica de privatizações. Sei bem, a entrega de
setores e empresas estatais para a iniciativa privada não esgota o programa de
liberdade econômica, e muito menos engloba agenda inteira de restauração social,
mas é imprescindível e constitui sintoma importante do rumo geral.
Retificar rumos e
ampliar horizontes. Pouco antes de morrer, diante de três ex-ministros do
governo Bolsonaro (Abraham Weintraub, Ricardo Salles e Ernesto Araújo), Olavo de
Carvalho teve reparos que apontam para necessidade premente de retificar rumos
e ampliar horizontes, ouvidos aliás em silêncio pelos mencionados antigos
participantes do governo: “A briga já está perdida. Não existe direita, só
bolsonarismo”. De outro modo, falta formação doutrinária, posições claras em um
leque grande de matérias, articulação. As ponderações suscitam temas de
reflexão para quem aspira ver o Brasil no rumo certo. Martelo, refletir, pensar. A ação virá
logicamente depois; e aí terá impacto maior. A propósito, sempre me impressionaram
particularmente comentários do prof. Plinio Correa de Oliveira sobre a maneira
de agir do marechal Ferdinand Foch (1851-1929), sob algum ângulo, o vencedor da
1ª Guerra Mundial. Dali eu recolho: “Foch, homem imperturbável. [...] a regularidade e a calma geram um clima de confiança e
serenidade, condição essencial para se realizar um trabalho sério. Ou, muito
mais do que isso, uma luta séria. Porque lutar é mais do que trabalhar. Mais do
que lutar, é pensar; e mais do que pensar, é rezar”. Concluo, reafirmo o convite
inicial: refletir a respeito dos temas suscitados na matéria, mas acrescento adento
imprescindível: rezar, com fé. Que Deus nos ajude.
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