Privatização à brasileira
Péricles
Capanema
Em 10 de fevereiro de 2019 escrevi artigo, “Vale, privatização de
mentirinha”. Lembrei-me dele quando li no Estadão de 30 de novembro último que o
governo planejava vender refinarias da Petrobrás. São passos da política de
privatização; ela visa aqui diminuir a presença do Estado e colocar concorrência
no setor, assim aumentam a eficiência e baixam os preços que pesam no cangote
dos brasileiros. Em termo. Em termos. Vamos ver.
Transcrevo parte da delação de Joesley Batista, consta do mencionado artigo:
“Aí ele [Aécio] falou, ‘não pode porque eu já nomeei’. Parece que a Vale
tem uma governança pra ter uma independência pra escolher presidente, mas
parece que eles têm algum jeito de fraudar esse troço e virar presidente alguém
com nomeação política. Ele [Aécio] me explicou isso, disse ‘nós fizemos um
treco lá que em tese é independente, mas na prática o candidato da gente acaba
ganhando’. Ele disse que eu poderia escolher qualquer uma das quatro
diretorias, que eu escolhesse e que ele botava quem eu quisesse, se fosse o
Dida, ele botava o Dida”.
A privatização da Vale é de 1997. Vinte anos depois, meter um cupincha seu
na presidência, naquele momento não podia, porque os políticos já tinham feito
a nomeação. Mas Joesley poderia escolher um nome para as quatro diretorias restantes,
que não haveria problema. Observei ainda no referido texto: “Boa parte das
empresas privatizadas depois de 1997 hoje se encontra nas mãos de estatais
chinesas (ou, por outra, nas mãos do Partido Comunista Chinês) e também nas
mãos de estatais de países ocidentais”.
Agora trato
da privatização das refinarias da
Petrobrás: Informa o Estadão: “A Petrobrás selecionou a chinesa Sinopec, o fundo Mubadala e os
grupos brasileiros Ultra,e Raizen para a segunda fase do processo de vendas de
quatro refinarias”. Deixo de lado de lado os grupos ultra e Raizen. Pinço outra
informação: “A gigante de petróleo Saudi Aramco teria desistido do processo.” E
ainda outra: “O histórico de controle de preços dos combustíveis no Brasil e o
modelo de privatização que deixará a Petrobrás com forte presença no refino do
Sudeste, região mais rica do Páis, reduziram a disputa pelas refinarias da
estatal. As estimativas iniciais de que a petrolífera poderia arrecadar até 18
bilhões de dólares pelas refinarias foram reduzidas para menos de 10 bilhões de
dólares”.
Passo a passo:
1) A Sinopec é estatal
chinesa, mais de 250 mil empregados, e já tem enorme presença na economia brasileira.
De outra forma, a Petrobrás, estatal brasileira, pretende entregar à Sinopec,
estatal chinesa (dirigida pelo governo chinês, isto é, pelo Partido Comunista
Chinês) uma parte de suas refinarias. O Partido Comunista Chinês aumentará sua
influência na economia brasileira. Privatização, como se vê.
2) O fundo Mubadala é
propriedade do governo do Abu Dhabi. A Petrobrás, estatal brasileira, pretende
entregar para o fundo Mubadala, estatal do Abu Dhabi, uma parte de suas
refinarias. O governo de Abu Dhabi dirigirá parte do refino no Brasil.
Privatização, como se vê.
3) A
Saudi Aramco estava disputando refinarias da Petrobrás. Parece que desistiu. A
Saudi Aramco é estatal saudita. O governo de Riad aumentaria sua influência sobre
a economia brasileira.
4) “O
histórico do controle de preços no Brasil e o o
modelo de privatização que deixará a Petrobrás com forte presença no refino do
Sudeste, região mais rica do País, reduziram a disputa”. As empresas temem que o
governo e a Petrobrás continuem controlando preços, o que reduziria concorrência.
As ineficiências e a roubalheira podem ser disfarçadas com aumento dos preços.
Sofre o povo, sofre a eficiência. Privatização à brasileira.
5) O programa
de desestatização (no caso venda de refinarias) reservou para a estatal
Pegtrobrás as refinarias do Sudeste, região mais rica. O grosso e o mais
atraente continuam estatais. A arrecadação prevista caiu de 18 para 10 bihões
de dólares. Claro, vai sofrer a eficiência, vão sofrer programas sociais, o
Brasil continuará no retrocesso. E as condições para um petrolão futuro
continuam as mesmas das existentes quando o PT subiu ao poder em 2002.
Privatização
em qualquer idioma da Terra significa transferir o bem estatal para a iniciativa
privada. E, com isso, obter ganhos de eficiência, diminuir a perigosa
ingerência do Estado na economia e, cm a economia melhorada, possibilitar
melhor atendimento aos pobres. No Brasil, não. Privatização significa transferir
a propriedade de estatais brasileiras para estatais de outros países, em
especial às estatais chinesas. Essa privatização, que traz no bojo o aumento da
influência do Partido Comunista Chinês sobre a economia brasileira, fará o PT
dar cambalhotas de alegria.
Tem mais:
a privatização vai ser pelas beiradas. O núcleo mais valioso continua nas mãos
do Estado. É a autêntica privatização à brasileira, coisa nossa, não vista em
nenhum país do mundo. Entre meus últimos artigo, estava o “Preocupa” que trata
do caso. Este aqui poderia ser chamado “Alarma”. É preciso mudar o rumo. Já.
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