terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Privatização à brasileira


Privatização à brasileira

Péricles Capanema

Em 10 de fevereiro de 2019 escrevi artigo, “Vale, privatização de mentirinha”. Lembrei-me dele quando li no Estadão de 30 de novembro último que o governo planejava vender refinarias da Petrobrás. São passos da política de privatização; ela visa aqui diminuir a presença do Estado e colocar concorrência no setor, assim aumentam a eficiência e baixam os preços que pesam no cangote dos brasileiros. Em termo. Em termos. Vamos ver.

Transcrevo parte da delação de Joesley Batista, consta do mencionado artigo: “Aí ele [Aécio] falou, ‘não pode porque eu já nomeei’. Parece que a Vale tem uma governança pra ter uma independência pra escolher presidente, mas parece que eles têm algum jeito de fraudar esse troço e virar presidente alguém com nomeação política. Ele [Aécio] me explicou isso, disse ‘nós fizemos um treco lá que em tese é independente, mas na prática o candidato da gente acaba ganhando’. Ele disse que eu poderia escolher qualquer uma das quatro diretorias, que eu escolhesse e que ele botava quem eu quisesse, se fosse o Dida, ele botava o Dida”.

A privatização da Vale é de 1997. Vinte anos depois, meter um cupincha seu na presidência, naquele momento não podia, porque os políticos já tinham feito a nomeação. Mas Joesley poderia escolher um nome para as quatro diretorias restantes, que não haveria problema. Observei ainda no referido texto: “Boa parte das empresas privatizadas depois de 1997 hoje se encontra nas mãos de estatais chinesas (ou, por outra, nas mãos do Partido Comunista Chinês) e também nas mãos de estatais de países ocidentais”.

Agora trato da privatização das refinarias da Petrobrás: Informa o Estadão: “A Petrobrás selecionou  a chinesa Sinopec, o fundo Mubadala e os grupos brasileiros Ultra,e Raizen para a segunda fase do processo de vendas de quatro refinarias”. Deixo de lado de lado os grupos ultra e Raizen. Pinço outra informação: “A gigante de petróleo Saudi Aramco teria desistido do processo.” E ainda outra: “O histórico de controle de preços dos combustíveis no Brasil e o modelo de privatização que deixará a Petrobrás com forte presença no refino do Sudeste, região mais rica do Páis, reduziram a disputa pelas refinarias da estatal. As estimativas iniciais de que a petrolífera poderia arrecadar até 18 bilhões de dólares pelas refinarias foram reduzidas para menos de 10 bilhões de dólares”.

Passo a passo:

1) A Sinopec é estatal chinesa, mais de 250 mil empregados, e já tem enorme presença na economia brasileira. De outra forma, a Petrobrás, estatal brasileira, pretende entregar à Sinopec, estatal chinesa (dirigida pelo governo chinês, isto é, pelo Partido Comunista Chinês) uma parte de suas refinarias. O Partido Comunista Chinês aumentará sua influência na economia brasileira. Privatização, como se vê.

2) O fundo Mubadala é propriedade do governo do Abu Dhabi. A Petrobrás, estatal brasileira, pretende entregar para o fundo Mubadala, estatal do Abu Dhabi, uma parte de suas refinarias. O governo de Abu Dhabi dirigirá parte do refino no Brasil. Privatização, como se vê.

3) A Saudi Aramco estava disputando refinarias da Petrobrás. Parece que desistiu. A Saudi Aramco é estatal saudita. O governo de Riad aumentaria sua influência sobre a economia brasileira.

4) “O histórico do controle de preços no Brasil e o o modelo de privatização que deixará a Petrobrás com forte presença no refino do Sudeste, região mais rica do País,  reduziram a disputa”. As empresas temem que o governo e a Petrobrás continuem controlando preços, o que reduziria concorrência. As ineficiências e a roubalheira podem ser disfarçadas com aumento dos preços. Sofre o povo, sofre a eficiência. Privatização à brasileira. 

5) O programa de desestatização (no caso venda de refinarias) reservou para a estatal Pegtrobrás as refinarias do Sudeste, região mais rica. O grosso e o mais atraente continuam estatais. A arrecadação prevista caiu de 18 para 10 bihões de dólares. Claro, vai sofrer a eficiência, vão sofrer programas sociais, o Brasil continuará no retrocesso. E as condições para um petrolão futuro continuam as mesmas das existentes quando o PT subiu ao poder em 2002.

Privatização em qualquer idioma da Terra significa transferir o bem estatal para a iniciativa privada. E, com isso, obter ganhos de eficiência, diminuir a perigosa ingerência do Estado na economia e, cm a economia melhorada, possibilitar melhor atendimento aos pobres. No Brasil, não. Privatização significa transferir a propriedade de estatais brasileiras para estatais de outros países, em especial às estatais chinesas. Essa privatização, que traz no bojo o aumento da influência do Partido Comunista Chinês sobre a economia brasileira, fará o PT dar cambalhotas de alegria.

Tem mais: a privatização vai ser pelas beiradas. O núcleo mais valioso continua nas mãos do Estado. É a autêntica privatização à brasileira, coisa nossa, não vista em nenhum país do mundo. Entre meus últimos artigo, estava o “Preocupa” que trata do caso. Este aqui poderia ser chamado “Alarma”. É preciso mudar o rumo. Já.


Nenhum comentário: