Ficar doidão
Péricles Capanema
Franklin Martins não é um petista qualquer. Entre
outras posições, foi alto funcionário das Organizações Globo e ministro de Lula
(Comunicações). Na juventude, líder estudantil e guerrilheiro do MR-8. Nos anos
da guerrilha, em 1969, idealizou o sequestro de Charles B. Elbrick, embaixador
dos Estados Unidos. É radical, pertence à intelligentsia
do PT, sabe e mede o que diz, não é doidão.
Em 14 de setembro se declarou satisfeito com a
reintrodução do controle social da imprensa nos programas dos partidos de
esquerda, em especial nos do PT e do PSOL. Controle social da imprensa, todo
mundo sabe, é eufemismo para evitar dizer a realidade crua; em verdade é sujeição
da imprensa pelo Estado, por sua vez pilotado por grupelhos revolucionários. Trata-se
de atavismo incurável dos partidos de esquerda, atacar e extinguir a liberdade
de informar.
Franklin falou no meio de gente farinha do mesmo saco
no encontro sob o título “Radicalizar a Democracia ▬
por uma nova governabilidade”, que se deu no Hotel Nobilis em São Paulo. Ali se
analisaram perspectivas
para a esquerda no Brasil no esforço de regulamentar a imprensa ▬ amordaçá-la.
É a nova governabilidade.
Virar doidão para
radicalizar a democracia
Declarou na ocasião o antigo guerrilheiro: “Temos
todos que virar doidões, ou seja, virar democratas”. Virar doidões significa
correr riscos até agora evitados, entrar por caminhos aventurosos, acelerar
etapas. Democratizar, na linguagem daquele meio, é no caso diminuir a força da
propriedade privada e aumentar a importância da propriedade coletiva (intervencionismo
e estatismo) nos meios de divulgação. Aqui vai a razão, a esquerda brasileira necessita
da regulação da mídia para fazer viáveis seus objetivos, por exemplo expressos nos
regimes de Cuba, Venezuela e China.
Dois outros pontos da pauta ali debatida, “doidões”
também, empurram para o mesmo e trágico destino: "democratização
das forças armadas" e "desmilitarização da polícia”. Apenas o
programa do PSOL a eles alude, mas é aspiração de toda a esquerda dirigente.
Totalitário e coerente, o atual programa de governo do PT fala em controle
social do Judiciário e do Ministério Público, eufemismo, repito, para
domesticação das duas instituições. Se a esquerda ganhar em 7 e 28 de outubro,
podemos estar certos, uma pauta doidona ganhará vida instantaneamente.
Consciente ou inconscientemente, Franklin Martins ecoava
palavras de José Dirceu de duas semanas antes. Em entrevista de 29 de agosto, Pedro
Caroço (nome pelo qual foi conhecido em Cruzeiro do Oeste quando ali vivia
clandestino) foi didático: “Temos um programa radical e a maioria do Parlamento
precisa ser combinada com uma grande pressão popular”. Exemplo de pressão popular
lembrada por ele, o cerco da militância à Câmara e ao Senado. Dobrar
autoridades pelo amedrontamento sempre foi tática revolucionária. Vai na mesma
direção da fala de Franklin, admitir riscos até agora evitados para impor um “programa
radical”.
A asfixia das
liberdades existentes
José Dirceu também não é doidão. De fato, ambos se
dirigiam em primeiro lugar a setores radicalizados da esquerda, impacientes com
as demoras ditadas pela resistência conservadora do público. Pretendiam assim animar,
despertar esperanças, impedir dispersões e desânimos na militância. Mas não são
apenas palavras ocas de estímulo à militância crédula.
Elas vão além. Para eles e tantos outros da direção
petista já daria para começar a forçar o passo no rumo da radicalização. No
caso, asfixiar paulatinamente a liberdade de informação, destruir a Lava Jato,
domesticar ainda mais o Judiciário, avassalar o Exército e as Polícias. Ótimo
para tal seria se vencessem as próximas eleições.
Franklin garante (e está certo), com controle da
imprensa não teria havido o impeachment de Dilma (que ele chama de golpe). “[O
golpe] nos obrigou a pensar que a democracia só existe com força se não houver
oligopólio da mídia”.
Ficar doidão na arena política não é programa de quem promova
o “comitas gentium”, expressão proveniente do Direito Internacional, mas que se
aplica bem à arena pública interna (com muita liberdade se poderia traduzir por
civilidade) e que constitui o clima adequado ao Estado de Direito. Pelo
contrário, é programa de quem deseja exasperação das tensões, indiferente às dilacerações,
para assim impor totalitariamente seus objetivos.
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