Ocultando a realidade ameaçadora
Péricles
Capanema
Manchete em destaque do
Estadão de 11 de outubro: “Com compra de US$ 1,2 bilhão, chinesa CTG vira a
maior geradora privada do país”. Geradora privada. Na mesma notícia: “Em apenas
três anos, a elétrica China Three Gorges
Corporation (CTG) se transformou na maior geradora privada do Brasil”. De
novo, geradora privada. Continua: “O último lance para a conquista da posição
foi anunciado nesta segunda-feira, 10, com a compra dos ativos brasileiros da
americana Duke Energy.[...] No ranking
geral, entre públicos e privados, a chinesa ficará em quarto lugar, atrás das
estatais Eletrobrás, Chesf, Furnas e Eletronorte”. Outra vez, ranking de
públicos e privados. Públicas seriam as empresas públicas daqui. No setor elétrico,
teríamos nos quatro primeiros lugares estatais brasileiras, com suas sequelas
de roubalheira, empreguismo, favoritismo e incompetência. Logo a seguir uma
grande empresa privada, a CTG, de capital chinês. Lá pelo meio do artigo, contudo,
informação rápida: “A CTG é uma estatal chinesa”. Demorou, mas chegou ao ponto.
De outro modo, dirigida inteiramente pelo Estado chinês, é longa manus do Partido Comunista Chinês. Todos os diretores
precisam do aval do PCC para exercer seus cargos.
O site da CTG informa
que a corporação, por meio de suas subsidiárias CTG International e CTG
Brasil comprou 100% dos ativos da Duke
Energy no Brasil. A notícia do Estadão informa ainda que “a exemplo da
conterrânea State Grid, que comprou a
CPFL em julho deste ano, a participação da CTG no setor elétrico não deve parar
por aí, segundo fontes do mercado”. A State
Grid é outra enorme estatal chinesa.
A compra de
gigantescos ativos pelas estatais chinesas traz o Partido Comunista Chinês para
dentro da economia brasileira; para dentro da política brasileira. Com maior ou
menor discrição, com maior ou menor disfarce, tais empresas trabalharão para
alinhar o Brasil aos interesses do comunismo chinês, no caso, de imediato,
fortalecer na região os intuitos de Pequim e minar a influência norte-americana.
Os mesmos objetivos, com métodos iguais, estão sendo levados a cabo na
Argentina, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia. E em tantos outros países. Ditos propósitos
imperialistas eram ativamente favorecidos pelo PT no poder. Infelizmente, continuam
vivos na atual situação.
Por que silêncio em
todos os quadrantes? Destampo o caso em um de seus mais cruciais aspectos. A
China é o maior parceiro comercial do Brasil, cerca de 20% de nosso comércio
exterior. Em números, já chegou a mais de 80 bilhões de dólares, pode
ultrapassar a barreira dos 100 bilhões em poucos anos. Temos com ela relação
comercial parecida com a existente entre potência colonial e regiões colonizadas.
Vendemos em especial matéria-prima (commodities),
sobretudo minério de ferro, soja, óleos brutos do petróleo, em geral por volta
de 80% do total, itens com pouco valor agregado. E compramos mercadorias com
alto valor agregado, máquinas, aparelhos elétricos, aparelhos mecânicos,
produtos químicos orgânicos, em torno de 60% do total. Conta ainda na pauta de
exportações a presença crescente de produtos do agronegócio, como carnes,
couro, açúcar. É um imenso universo de fornecedores, de cujo vigor depende a
sanidade da balança comercial brasileira.
E a China pode trocar
fornecedores com demolidora rapidez, caso o governo brasileiro atue de forma
eficaz contra interesses expansionistas seus dentro do território nacional. Passaria
a comprar de outras procedências o que hoje para ela vendemos. Com isso vibraria
golpe fundo na economia brasileira, com queda do PIB, aumento do desemprego,
quebra de empresas atuando na cadeia dos fornecedores. Assim, é congruente que
setores econômicos brasileiros e autoridades governamentais não queiram ventilar
referido tema. Conveniências de curto prazo determinariam conduta que
desconsidera interesses irrenunciáveis e perenes do Brasil. Ainda que ninguém com
envergadura de vistas negue a premência do assunto, que a cada dia se torna
mais angustiante. No horizonte, está em jogo o efetivo e desimpedido comando de
nossos negócios.
Em curto, a
independência e soberania nacionais já se encontram condicionadas, agredidas
pelos rumos de nossa política exterior nos últimos lustros, que descuidou e até
viu com antipatia o fortalecimento de laços com Estados Unidos e União
Europeia. E ainda, em conexão, por atitudes de política interna nas quais se
pode perceber, enfiando os óculos do otimista imaturo, atonia, despreparo,
incúria, desleixo, incompetência. Tirando os óculos, fácil divisar cumplicidade
e traição. Estamos morro abaixo em trilha escura. Não abandonada, lá na frente seremos
saqueados de nossa independência e soberania.
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