Imagens de um Brasil
que queremos esquecer
Péricles Capanema
A última entrevista de Dilma Rousseff à imprensa
internacional foi no começo de setembro. Não leu texto, respondeu a perguntas.
Meu espaço é curto, vou para as três perguntas finais.
Analisou declaração da doutora Janaína Paschoal de que
a respeitava: “Olha, eu vou te dizê, acho que vocês assistiram o comportamento
da doutora. O comportamento da doutora é o comportamento de uma pessoa cujo
cujo as convicções não se parecem com as minhas. Nem do ponto de vista
político, nem do ponto de vista cultural, nem do ponto de vista humano. Não,
não respeito”. Alguém conseguiria explicar o que é uma convicção do ponto de
vista humano?
Próxima pergunta. Um jornalista árabe pediu mais
atendimento: “Eu gosto muito do mundo árabe, quero te dizê. Posso falá uma
coisa? Eu vou te explicá purque que eu gosto do mundo árabe. Tá, purque eu acho
qui o mundo árabe tem uma cultura altamente sofisticada, que só, que só, tem
muita gente hoje no mundo que acha que a cultura árabe é uma cultura simplista,
que é uma cultura de terroristas. Eu discordo disso, radicalmente. [...] Eu
estarei sempre disposta a receber os jornais, revistas. Só que cês hão de
convir comigo, que nesse período, eu recebi bastante, cês tem de convir comigo.
Recebi e recebi individual, coletivamente, individual. Então, agora começa uma
nova etapa, quer dizer novamente que estou à disposição, obviamente cês vão me
dar um tempinho, né?, um tempinho, e assim que eu me implantar no meu local, eu
recebo, cumeço a receber novamente”. Ela vai se implantar (voltar a morar) em
Porto Alegre.
Última. Uma jornalista chilena indagou à Dilma por que
havia ido ao Chile em fevereiro último em viagem rápida: “Ah, purque la
presidente de CEPAL me invitó para fazer una conferência. E yo queria, ocê num
acredita, yo no conocía CEPAL, no tinha ido personalmente. Soy de una geracione
en que CEPAL fué muy importante para el pensamento de la, de la economía
latinoamericana. Entonces para mi fué importante hacer una discusión a respeito
do qué acontecia en Brasil. CEPAL es un centro de formación de pensamento
latinoamericano. Isto es una cosa. La outra cosa es que considero que Bachelet
es una de las más importantes lideranças de Latinoamérica. No só purque por
toda su trajetória, mas por sus posiciones que combinam la firmeza y la
capacidade de diálogo. Por isso, é, sempre que pudo en várias circunstâncias no
necessariamente solo en Chile, pero en otras circunstâncias, yo sempre hablé
com Bachelet. No solo yo, pero lideranças latinoamericanas e internacionales.
Diria que usted enfrenta la mesma crisis que nosotros y que en las fases de
ascensión del ciclo econômico las personas tienen una tolerância mayor. En las
fases de descienso del siglo, del ciclo, o que está em questión? Quién, quién, serão
las personas que pagarán por la crisis. No hay, no hay demagogia, se paga
siempre. En la crisis hay que pagar algunos, alguna cosa. Todos los países. No
solo Chile, todos. Entonces, hay em países como os nossos, o Chile, o Brasil
que têm uma tradição conservadora muito forte, que têm uma tradição em que as
elites quando não gostam de uma situação criam toda sorte de barreiras, de
problemas, eu acho que em vários locais isso tá ocorreno. Não só aqui, aqui na
América Latina. Agora, o que qui cê não vê? Cê teve uma crise profundíssima nos
Estados Unidos. Milhões de pessoas perderam suas casas. Milhões de pessoas
perderam seus empregos. Ninguém, ninguém depôs o presidente Obama. É só isso a
diferença. Eu espero que no Chile tenha
a maturidade para saber que o país tem de enfrentar a crise e manter a
democracia".
Aqui, num arremedo de espanhol hilário (para quê?),
fiapos de pensamento tosco, frases truncadas, acacianismos enfáticos como se descobrisse
a América, ausência de fio lógico. Toda a entrevista tem esse nível, está na
rede, é de fácil consulta para quem se dispuser a ouvir esse padrão de exposição
por mais de uma hora. Repete, uma vez mais, o que sempre sucedeu quando a ex-presidente
não tinha à mão o texto escrito. Enfileirava, sem nexo, num português medonho, cortando
raciocínios, poucas vezes chegando às conclusões lógicas, bobagens, disparates,
obviedades, apriorismos, tristes imagens, supunham os ouvintes, de mente
facilmente presa a preconceitos, teimosias e ideias fixas. O primitivismo da
fala não tinha o dom de disfarçar a espinhenta arrogância. Pessoa assim tem
condições de formular políticas, coordenar esforços, propor rumos? O governo podia
dar certo?
O PT tem centro de estudos e pesquisa, a Fundação
Perseu Abramo. Rui Falcão convidou Dilma Rousseff para presidir o tal centro;
ela pediu tempo para pensar. Quer saber? Acho, não aceita, para alívio dos escassos
petistas com um resto de bom senso, já por demais cansados de passar tanta vergonha.
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