Neste momento triste
Péricles Capanema
Na manhã de 3 de setembro, diante da imagem de
Nossa Senhora Aparecida nos jardins do Vaticano o Papa Francisco, dói dizê-lo, feriu
a maioria dos católicos brasileiros. Estavam presentes o cardeal arcebispo de
Aparecida, outros bispos mais, o embaixador brasileiro junto à Santa Sé, no
total umas trezentas pessoas. Palavras do Pontífice: “Estou contente com a
imagem de Nossa Senhora aqui nos jardins. Em 2013 prometi voltar a Aparecida.
Não sei se será possível. [...] Convido-lhes a rezar para que ela continue a
proteger todo o Brasil, todo o povo brasileiro, neste momento triste. Que ela
proteja os pobres, os descartados, os idosos abandonados, os meninos de rua.
Que ela salve o seu povo com a justiça social”. A CNBB rapidamente acertou o
passo em nota divulgada em 7 de setembro: “Vivemos um triste
momento. [...] A histórica desigualdade social não foi superada. Corremos o
risco de vê-la agravada pela desconstrução de políticas públicas, que resultam
em perda de direitos”. E as manifestações, por ela bafejadas, o 22º Grito dos
Excluídos, realizadas Brasil afora na data da independência, tiveram como
parceiras MST, CUT além de partidos como PSOL, PCO, PC do B, PCR e PT
distribuindo panfletos e berrando o “Fora Temer” e
“Diretas Já”.
Volto ao Papa Francisco. Onde está a ferida? Claro, causaram
perplexidade as três palavras: neste momento triste. É triste o momento pelo
qual passa o Brasil? Agravou a estranheza o cancelamento da viagem a Aparecida
em 2017. Não foi ambígua a declaração, constituíram apoio à presidente cassada
e a suas políticas. Era notório, pelo caráter augusto da investidura petrina,
não ser politicamente prudente avançar mais na expressão do pensamento, sob
pena de ruidosa inconformidade da grossa maioria das escandalizadas ovelhas,
cuja defesa dos lobos foi confiada por Cristo ao Sucessor de Pedro. Sentiriam
que estava sendo escancarada a porta do redil. A declaração trouxe à memória
palavras de frei Betto em Cuba, sob silêncio dos órgãos da Santa Sé, um ano
atrás: “Toda a esquerda latino-americana que conheço está muito feliz com o Papa
Francisco”. Atendo-me aos fatos: não sei se inocente útil; de qualquer maneira,
sem lesionar o respeito filial, o curso da lógica leva até lá, companheiro de
viagem. E o ponto final da viagem na mente os que comandam a jornada é o regime
comunista.
Sob muitos pontos de vista, neste momento o Brasil não
tem razão para estar triste, mas para pular de alegria. Antes, estava angustiado
pelas algemas de 13 anos de retrocesso e exclusão. Retrocesso em suas
possibilidades de caminhar na rota da prosperidade, exclusão de políticas que
favorecem os pobres no longo prazo. Havia inclusão social: o povo estava incluído
na rota que passa pela Venezuela e leva à situação de Cuba. Não custa lembrar,
em 2016, segundo o Latinobarómetro, no caso insuspeito, 72% das pessoas na
Venezuela confessaram, nos últimos 12 meses para eles faltou comida. Sem
eufemismos, passaram fome.
Diante da grave caminhada do Brasil, os católicos
brasileiros estavam especialmente aflitos ao constatar que a CNBB permaneceu obstinada
em favorecer a ascensão ao poder e a apoiar um governo promotor de políticas
destruidoras da moral católica na vida familiar e social (e agora, mantendo a
rota, sôfrega, aproveita-se das palavras do Papa Francisco para uma vez mais
proclamar que tem lado).
Acima falei em
alegria no começo. Outro motivo de felicidade, esse permanente, ler ensinamentos
de grandes Papas do passado, desanuviam o espírito. São Pio X advertiu: “Os
verdadeiros amigos do povo não são inovadores nem revolucionários, mas
tradicionalistas”. E Pio XII, jamais utilizando a linguagem habitualmente imprecisa
e favorecedora dos objetivos revolucionários da CNBB (só lembro aqui a dose de
hoje: a histórica desigualdade social não foi superada), ensinou: “Num povo digno de tal nome, todas as desigualdades
decorrentes não do arbítrio, mas da própria natureza das coisas --desigualdades
de cultura, de haveres, de posição social, sem prejuízo, bem entendido, da
justiça e da mútua caridade -- não são, de modo algum, um obstáculo à
existência e ao predomínio de um autêntico espírito de comunidade e
fraternidade. Mais ainda, longe de ferir de qualquer maneira a igualdade civil,
elas lhe conferem seu legítimo significado; ou seja, que perante o Estado cada
qual tenha o direito de viver honradamente a própria vida pessoal, na posição e
nas condições em que os desígnios e disposições da Providência o colocaram."
Reitero, são motivos
perenes de júbilo, paz e certeza. Neste momento de tristeza e perplexidade, por
outras razões.
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