sábado, 3 de setembro de 2016

Prefeitos e vereadores goela abaixo

Prefeitos e vereadores goela abaixo

Péricles Capanema

Dilma cassada, 61 a 20, Temer definitivo (até agora, depois da reviravolta preocupante bafejada pelo ministro Ricardo Tinindo nos Cascos Lewandowski e pela senadora Kátia Vira-casaca Abreu, ex-presidente da CNA). Começaram para valer as campanhas eleitorais, embora o povo ainda não esteja com os olhos nelas postos por causa da crise política que convulsiona Brasília. Não importa, daqui a menos de quatro semanas, novos prefeitos e vereadores, Brasil de cara nova.

O que teremos de retrato autêntico do País? Um pot-pourri de dados pode ajudar. Pesquisa recente, maio de 2016, conduzida pela GfK Verein, organização especializada alemã, verificou, apenas 6% dos brasileiros confiam nos políticos em geral. Quanto aos prefeitos, 10% acreditam neles.

Assunto ligado ao anterior, o apoio à democracia. Constatou o celebrado Latinobarómetro, em 2016 o apoio à democracia no Brasil é de 32%, menos de um terço. Outro item conexo, o voto facultativo. Boa parte dos favoráveis ao voto facultativo está dizendo: se pudesse, não apareceria na seção eleitoral, só vou lá debaixo de vara. Em 2014, véspera da eleição presidencial, o DataFolha pesquisou sobre voto obrigatório. 61% eram contra, queriam o facultativo. Entre os pesquisados com ensino superior, 71%. Dos eleitores de Dilma, 47% deixariam de votar se não fosse obrigatório. Dos eleitores de Aécio, 67% deixariam de votar se não fosse obrigatório. Resultado semelhante e até mais expressivo apresentou pesquisa promovida no site do Senado pelo DataSenado em 2012; 85% foram a favor do fim do voto obrigatório. Não mudou nada; acho, as porcentagens agora seriam maiores, as decepções se amontoaram muito nos últimos anos.

Em resumo, é com profundo desagrado que a maioria se arrastará até as seções eleitorais em 2 de outubro. Não há como escapar, os vereadores e prefeitos vão ser empurrados goela abaixo do eleitorado.

Este é um fenômeno bom? Direi, tem lados admiráveis que justificam esperanças. A desilusão lúcida favorece escolhas certas. Por outros aspectos, preocupa. O desinteresse pela coisa pública e o egoísmo míope sempre levam a desastres.

Vou virar a página. Compulso pesquisa antiga, conserva atualidade, foi responsável por ela a Associação Brasileira de Magistrados, publicada em agosto de 2008. Entre os numerosos itens, respigo alguns. Para 68% dos entrevistados era muito importante que o político fosse simpático. 61% conhecia gente que aceitaria votar em candidato em troca de vantagens pessoais. Para 42%, era obrigação dos políticos pagar despesas de hospital e de enterro para pessoas necessitadas. A maioria achava que os políticos deveriam arranjar emprego para quem precisasse. A situação continua igual. De outro jeito, é comum, nós não gostamos dos políticos, mas exigimos o auxílio estatal. É fraca a noção de que o Estado, instituição benéfica e imprescindível, deve ter papel subsidiário em relação à sociedade. Daí a simpatia, pelo menos em raiz, por formas de intervencionismo e estatismo. Desde o populismo até formas extremadas de socialismo se abeberam em eleitorados assim.

Como estava redigindo o presente texto, por curiosidade, fui à rede para ver quem se candidata a vereador em minha cidade natal. Deixo logo abaixo alguns dos postulantes, pessoas direitas, respeitáveis, mas que por vezes, até injustamente, retratam a falta de programas e nitidez ideológica presentes no Brasil inteiro (veja você também a lista dos candidatos em sua cidade natal, não será diferente): Ganso do Padre Libério, André do Picolé, Buzina, Antônio Pipoca, Carlinhos do Queijo, Coco do Futebol, Fubá Pedreiro, Tigrão Motorista, Vai Vaca do JK, Novinho TBA, Fábio Animal, Geraldo Boi do Caminhão, Geraldo Doidão, Goiaba, Baiano da Aparição, Willian Morcego.

Em 1932, escrevendo no Legionário, o então jovem líder católico Plinio Corrêa de Oliveira foi longe e fundo ao analisar a anarquia mental presente no Brasil inteiro, o que impedia programas coerentes na política e na economia: “Já que tanto se fala em renovação, seja na política, seja nas leis, seja na economia nacional, é tempo que se cuide da renovação fundamental de que o Brasil carece, isto é, a renovação da mentalidade pública. Quebrada a unidade de pensamento estabelecida pela Igreja na Idade Média, a diversidade de tendências religiosas e filosóficas foi gradualmente tomando tal incremento, que a anarquia triunfou completamente no domínio da vida intelectual. [...] O Brasil sofre a tal ponto das desastrosas consequências desse mal, que é impossível constituir-se hoje uma grande corrente de pensamento que seja capaz de se concentrar em um programa completo de reorganização nacional. É frequente presenciar pontos de vista radicalmente inconciliáveis defendidos por uma mesma pessoa com igual calor [...] conservadores socialistas, os comunistas que desejariam a abolição da propriedade e a manutenção da família, os liberais socialistas, os reacionários liberais etc. [...] Enquanto subsistir esse caos no mundo do pensamento, será absolutamente impossível instituir uma ordem durável no domínio da política e da economia.”


O caos aumentou, o Brasil aqui mudou para pior. De momento só chamo a atenção para um ponto: vamos observar bem antes de votar, sufragando candidatos com programa bom, mesmo que sejam pouco conhecidos como o André do Picolé, o Buzina ou o Fubá Pedreiro. Agiríamos a favor do Brasil. Serão melhores que os doutores de PhD vistoso, propondo programas de destruição da vida familiar e econômica.

Nenhum comentário: