Prefeitos e
vereadores goela abaixo
Péricles Capanema
Dilma cassada, 61 a 20, Temer definitivo (até agora,
depois da reviravolta preocupante bafejada pelo ministro Ricardo Tinindo nos Cascos Lewandowski e pela
senadora Kátia Vira-casaca Abreu,
ex-presidente da CNA). Começaram para valer as campanhas eleitorais, embora o
povo ainda não esteja com os olhos nelas postos por causa da crise política que
convulsiona Brasília. Não importa, daqui a menos de quatro semanas, novos
prefeitos e vereadores, Brasil de cara nova.
O que teremos de retrato autêntico do País? Um pot-pourri de dados pode ajudar.
Pesquisa recente, maio de 2016, conduzida pela GfK Verein, organização especializada alemã, verificou, apenas 6%
dos brasileiros confiam nos políticos em geral. Quanto aos prefeitos, 10%
acreditam neles.
Assunto ligado ao anterior, o apoio à democracia.
Constatou o celebrado Latinobarómetro, em 2016 o apoio à democracia no Brasil é
de 32%, menos de um terço. Outro item conexo, o voto facultativo. Boa parte dos
favoráveis ao voto facultativo está dizendo: se pudesse, não apareceria na
seção eleitoral, só vou lá debaixo de vara. Em 2014, véspera da eleição
presidencial, o DataFolha pesquisou sobre voto obrigatório. 61% eram contra,
queriam o facultativo. Entre os pesquisados com ensino superior, 71%. Dos
eleitores de Dilma, 47% deixariam de votar se não fosse obrigatório. Dos
eleitores de Aécio, 67% deixariam de votar se não fosse obrigatório. Resultado
semelhante e até mais expressivo apresentou pesquisa promovida no site do Senado
pelo DataSenado em 2012; 85% foram a favor do fim do voto obrigatório. Não
mudou nada; acho, as porcentagens agora seriam maiores, as decepções se
amontoaram muito nos últimos anos.
Em resumo, é com profundo desagrado
que a maioria se arrastará até as seções eleitorais em 2 de outubro. Não há
como escapar, os vereadores e prefeitos vão ser empurrados goela abaixo do
eleitorado.
Este é um fenômeno bom? Direi, tem
lados admiráveis que justificam esperanças. A desilusão lúcida favorece
escolhas certas. Por outros aspectos, preocupa. O desinteresse pela coisa
pública e o egoísmo míope sempre levam a desastres.
Vou virar a página. Compulso pesquisa
antiga, conserva atualidade, foi responsável por ela a Associação Brasileira de
Magistrados, publicada em agosto de 2008. Entre os numerosos itens, respigo
alguns. Para 68% dos entrevistados era muito importante que o político fosse
simpático. 61% conhecia gente que aceitaria votar em candidato em troca de
vantagens pessoais. Para 42%, era obrigação dos políticos pagar despesas de
hospital e de enterro para pessoas necessitadas. A maioria achava que os
políticos deveriam arranjar emprego para quem precisasse. A situação continua
igual. De outro jeito, é comum, nós não gostamos dos políticos, mas exigimos o
auxílio estatal. É fraca a noção de que o Estado, instituição benéfica e
imprescindível, deve ter papel subsidiário em relação à sociedade. Daí a
simpatia, pelo menos em raiz, por formas de intervencionismo e estatismo. Desde
o populismo até formas extremadas de socialismo se abeberam em eleitorados
assim.
Como estava redigindo o presente
texto, por curiosidade, fui à rede para ver quem se candidata a vereador em
minha cidade natal. Deixo logo abaixo alguns dos postulantes, pessoas direitas,
respeitáveis, mas que por vezes, até injustamente, retratam a falta de
programas e nitidez ideológica presentes no Brasil inteiro (veja você também a
lista dos candidatos em sua cidade natal, não será diferente): Ganso do Padre
Libério, André do Picolé, Buzina, Antônio Pipoca, Carlinhos do Queijo, Coco do
Futebol, Fubá Pedreiro, Tigrão Motorista, Vai Vaca do JK, Novinho TBA, Fábio
Animal, Geraldo Boi do Caminhão, Geraldo Doidão, Goiaba, Baiano da Aparição,
Willian Morcego.
Em 1932, escrevendo no Legionário, o então jovem líder
católico Plinio Corrêa de Oliveira foi longe e fundo ao analisar a anarquia
mental presente no Brasil inteiro, o que impedia programas coerentes na
política e na economia: “Já que tanto se fala em renovação, seja na política,
seja nas leis, seja na economia nacional, é tempo que se cuide da renovação
fundamental de que o Brasil carece, isto é, a renovação da mentalidade pública.
Quebrada a unidade de pensamento estabelecida pela Igreja na Idade
Média, a diversidade de tendências religiosas e filosóficas foi gradualmente
tomando tal incremento, que a anarquia triunfou completamente no domínio da
vida intelectual. [...] O Brasil sofre a tal ponto das desastrosas
consequências desse mal, que é impossível constituir-se hoje uma grande
corrente de pensamento que seja capaz de se concentrar em um programa completo
de reorganização nacional. É frequente presenciar pontos de vista radicalmente
inconciliáveis defendidos por uma mesma pessoa com igual calor [...]
conservadores socialistas, os comunistas que desejariam a abolição da
propriedade e a manutenção da família, os liberais socialistas, os reacionários
liberais etc. [...] Enquanto subsistir esse caos no mundo do pensamento, será
absolutamente impossível instituir uma ordem durável no domínio da política e
da economia.”
O caos aumentou, o Brasil aqui mudou para pior. De momento só chamo a
atenção para um ponto: vamos observar bem antes de votar, sufragando candidatos
com programa bom, mesmo que sejam pouco conhecidos como o André do Picolé, o
Buzina ou o Fubá Pedreiro. Agiríamos a favor do Brasil. Serão melhores que os
doutores de PhD vistoso, propondo programas de destruição da vida familiar e
econômica.
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