Nova CPI da FUNAI e do INCRA: os tumores precisam ser lancetados
Péricles Capanema
Repito, já disse em outras
ocasiões, no Brasil nutrimos tumores de estimação; para piorar, tantas vezes com
temor reverencial. Enquanto não tivermos deles o horror que uma pessoa saudável
experimenta de abscesso no próprio intestino, o país permanecerá infectado.
Agora busco distante uma
ilustração aterradora, em Uganda, centro da África, quase 250 mil quilômetros
quadrados, perto de 40 milhões de habitantes, mais de 40% católicos. Agnes
Igoye hoje é uma ugandense ativista, 44 anos. Sua vida começou horripilante,
agredida por atavismos bárbaros. O pai, chefe de uma tribo da etnia Teso, na
garupa de bicicleta levou a mãe através da selva, leões rondando a trilha, até
um hospital, onde a menina nasceu no dia seguinte. Pelos costumes da etnia, não
se comemora nascimento de menina. Mulheres que não concebem meninos podem ser
devolvidas às famílias e o dote dado por elas cobrado por maridos insatisfeitos.
Situações dantescas de tumores de estimação.
Na família,
Agnes Igoye foi, em fileira, a terceira menina. A tribo queria um garoto para
herdar a chefia do pai. Este, contudo, formação católica, outra mentalidade,
não se importava, gostava muito das filhas. Teve ainda dois meninos. “Meu pai
era o filho mais velho do chefe da tribo e herdou as terras e a liderança do
meu avô. Como foi educado na escola da missão católica, tinha uma visão
diferente da dos demais. Era contra algumas tradições como, por exemplo, a
poligamia. Rompeu com os costumes, educou os filhos de forma ocidental. Todos
fizemos faculdade. Meu pai também se recusou a receber dinheiro ou bens em
troca de suas filhas para casá-las”.
Agnes Igoye fala sobre sua experiência:
“As lembranças mais duras de minha vida estão relacionadas ao Exército de
Resistência do Senhor (ERS). [O Exército
de Resistência do Senhor chegou a ter 60 mil crianças em sua frente de batalha].
Eram guerrilheiros cruéis. Eu era adolescente, tinha 13 ou 14 anos quando o ERS
atacou minha vila. Meu pai não queria abandonar os Tesos naquela situação.
Mudou de ideia quando soube que estavam sequestrando as meninas. Fomos morar em
um convento, também em Pallisa, que servia de abrigo para refugiados.
Recomeçamos a vida do zero”.
Em Uganda continua a
existir o dantesco tráfico de meninas. Agnes Igoye hoje treina funcionários
para identificar traficantes de pessoas, capacitou cerca de dois mil. Pelo
jeitão, ela já desconfia. Relata o trabalho: “Quando terminei a escola, fui
estudar ciências sociais. Comecei a trabalhar como agente na Imigração. Uma vez
um homem estava tentando atravessar a fronteira. Decidi detê-lo, foi intuitivo.
Ele era membro do ERS, procurado por matar mulheres e crianças”. No outro dia,
descobriu mulheres que seguiam o chefe do ERS. Pediu para serem tratadas como
vítimas: “Quando meus superiores me perguntaram como os identificava, falei
sobre gestos, atitudes e maneirismos. Respondi-lhes que poderia treinar outros
para fazer o mesmo. Fui então nomeada gerente de treinamentos. A partir daí,
passei a treinar policiais para detectar suspeitos”.
Agnes aponta o
objetivo do trabalho: “Na África, há todo tipo de tráfico de pessoas. Os
criminosos atraem as vítimas com promessas de emprego. Pagam a viagem delas e
depois cobram a quantia, dizendo que vão descontá-la do salário. Dizem, então,
que as vítimas não estão rendendo. Há ainda o tráfico de órgãos, de crianças
para adoção, para sacrifícios religiosos, e de meninas e meninos para servirem
aos guerrilheiros. Trabalhamos em uma campanha pelo fim do tráfico infantil em
Uganda. A ideia é informar a população. Como muitas comunidades não têm rádio
nem televisão, levamos vítimas resgatadas nas escolas, para contarem o que
houve aos alunos. São relatos de trabalho e casamento infantil (legais no
país), crianças usadas como soldados nos conflitos. O método funciona. Em 2013,
resgatamos por volta de 800 pessoas, o dobro do ano anterior”.
Por que a África acolhe tal
abominação, que faz jorrar na memória o plangor de Castro Alves? “Senhor Deus
dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade. Tanto
horror perante os céus?!” A razão, simples e trágica, está na tumoração social,
são costumes selvagens vistos com apatia onde dominam e deveras no mundo todo. Houvesse
horror lá e alhures, nada disso aconteceria. Recordo, tais crimes persistem em
parte como chaga social, em boa parte por decorrência de descolonização
imprudente e utópica, capitaneada pelas esquerdas de vários matizes.
Terminou a ilustração, agora
o Brasil, exponho escândalo tumorigênico de décadas, na raiz causas aparentadas
com as africanas, enraizados e péssimos atavismos. A Câmara dos Deputados vai
instalar, segunda vez, a Comissão Parlamentar de Inquérito da FUNAI e do INCRA.
A primeira, boicotada, teve fim melancólico em agosto último, sem relatório
final. A CPI foi criada em outubro de 2015 para investigar supostas
irregularidades na demarcação de terras indígenas e quilombolas, além dos
conflitos agrários e a relação das entidades do governo federal com ONGs. A
lista não deixa dúvidas, estamos diante de focos de agitação, roubalheira,
incompetência e malbarato de recursos públicos. Fatores de empobrecimento, torram
montanhas de dinheiro do contribuinte, que poderia ser utilizado para educação,
saúde, geração de empregos. O normal seria despertarem horror.
Leitor, um teste. Você pode
estar em qualquer lugar do Brasil. Procure o assentamento da reforma agrária
mais próximo. Qualquer um, novo ou velho, existe esta loucura no Brasil há mais
de 30 anos. Tente entrar e dar um passeio sem estar acompanhado por ninguém do
MST ou da CPT. Provavelmente, não vai conseguir, são áreas vigiadas. Se
conseguir, observe com seus próprios olhos a situação dos assentados, converse
com eles, sem ninguém do MST, CPT ou INCRA por perto. Nem de gente indicada por
eles. Aí você perceberá a realidade tétrica, ocultada cuidadosamente. Vá lá,
faça você mesmo o teste. Terra indígena demarcada? Mesma coisa. Pergunte a quem
conhece o que está acontece hoje na Raposa Terra do Sol. São tumores de
estimação.
E, repetindo os mesmos
mantras, defendendo o indefensável, continua a farândula de CNBB, MST, CPT,
CIMI, partidos de esquerda, girando em torno da vítima, o Brasil. Que a CPI
tenha lucidez e coragem para lancetar o pus. E, por fim, não deixe de aprofundar
o que, na primeira vez, declarou o general Guilherme Theóphilo, até há pouco
comandante militar da Amazônia: existem clandestinos dez mil hectares plantados
de coca na Amazônia, ademais de exploração de muitos minérios valiosíssimos, ilegalmente
enviados para o Exterior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário