Consagrações atuais
Péricles
Capanema
Em 15 de
abril último o padre José Alves de Amorim, reitor do Santuário de Nossa Senhora
da Lapa consagrou os países de língua
portuguesa e mais de 60 santuários no mundo inteiro a Nossa Senhora da Lapa no
santuário-mãe de Nossa Senhora da Lapa na diocese lusitana de Lamego, o mais
antigo santuário dedicado a Nossa Senhora sob tal invocação.
Declarou a respeito o padre Amorim em
14 de abril: “Porque este santuário divulgou-se precisamente por esses povos e
chegou a ter presença no Brasil, em África, na Índia e a devoção à Senhora da
Lapa permanece ainda hoje em mais de 60 lugares, de uma maneira viva. Por isso
amanhã todos esses povos e santuários derivados deste são convidados para se
associarem a esta consagração. Convidamos toda a gente para se associar a esta
oração, para que Nossa Senhora da Lapa nos proteja”.
Lê-se no alvissareiro comunicado do
Santuário: “Atendendo ao momento de dor e sofrimento que a pandemia, provocada
pela Covid-19, está a provocar em todo o mundo, o Santuário de Nossa Senhora da
Lapa tomou a iniciativa de invocar a proteção maternal da Mãe de Deus, de forma
muito especial para todos os povos de língua portuguesa e, mais concretamente, para
as comunidades onde o culto secular à Senhora da Lapa continua presente. Na
impossibilidade de nos reunirmos fisicamente no Santuário-mãe, na diocese de
Lamego, vimos por este meio convidar os devotos da Senhora da Lapa, espalhados
pelos quatro cantos do mundo, a associarem-se a nós e a acompanharem-nos
espiritualmente, através das redes sociais e outros meios de comunicação”.
O convite. São solicitados à consagração os
devotos de Nossa Senhora da Lapa e os povos de língua portuguesa. Eu, aqui no
Brasil, fui convidado (o leitor também), fiquei sabendo por amigo e pela
imprensa, aceitei agradecido o apelo. Convido a quem me leia que o aceite ▬ a
fórmula da consagração está na rede, é fácil encontrá-la. São graças de Nossa
Senhora da Lapa. E o padre reitor do santuário mais antigo de Nossa Senhora da
Lapa tem títulos diante de Nossa Senhora para fazer tal súplica.
A prática piedosa das consagrações, em
especial ao Sagrado Coração de Jesus, ganhou enorme presença na Igreja a partir
do apostolado da santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), freira reclusa no convento
das visitandinas de Paray-le-Monial. Ali teve, entre seus confessores, a são
Cláudio La Colombière (1641-1682), jesuíta, também considerado dos grandes
difusores da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Consagração, reparação, esperança de
triunfo. Três
características marcaram especialmente tal prática na Igreja: consagração,
reparação, esperança de triunfo. A consagração não pode ser ato meramente
formal; supõe propósito sério de reforma de vida, é renovação das promessas do
batismo.
Antes das aparições de Paray-le-Monial
a devoção ao Sagrado Coração de Jesus não era muito difundida, não exista ainda
o conjunto das práticas ascéticas que hoje a acompanham e não era inequívoco
seu caráter reparador. Reparação pelos pecados próprios, reparação pelos
pecados familiares, reparação pelos pecados sociais. Os últimos séculos foram
de descristianização e o abandono dos preceitos de Cristo tornam congruente,
até mesmo inelutável, a atitude de reparação. Aceitar o peso da
responsabilidade prepara a leveza do perdão.
A última característica é a esperança
de triunfo. Triunfo sobre os vícios pessoais, mas também sobre a indiferença e
os pecados sociais, trazendo à terra o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus
Cristo, a ordem temporal cristã. Nosso Senhor é rei dos corações. rei da
sociedade e do Estado.
Texto expressivo. Estão nele presentes
as mencionadas três características na fórmula de consagração lida pelo reitor
do Santuário de Nossa Senhora da Lapa, o que a coloca em longa esteira
histórica. Reata com o passado piedoso, hoje tão atual; o texto não está
contaminado pela atmosfera intoxicada de relativismo e laicismo, muito
disseminada nos anos pós-conciliares que tendiam a ver tais movimentos de
piedade como anacrônicos.
Respigo alguns trechos da consagração
do último 15 de abril. Ela é pródiga em afirmações de contrição, humildade e
reparação, faz bem repisá-las: “a prece ardente que hoje contritos vos
dirigimos”; “embora réus da excelsa justiça de Deus e quão merecidos são os
castigos que sobre o mundo ingrato e impenitente se possam abater”; “nos deis
um coração e vida penitentes”. E que o Coração Imaculado de Maria se apiede de
nossos corações e nos inspire a penitência que almejamos.
O texto também é copioso nas
manifestações de consagração: “consagrar os nossos povos e Vos pedir que deles
afasteis a atual pandemia”; “ó dulcíssimo Jesus, Vos pedimos por intercessão da
Senhora da Lapa, a Quem hoje nos consagramos”.
Finalmente, rico de passagens
denotando a esperança do triunfo e afirmação do Reinado Social de Nosso Senhor
Jesus Cristo: “que sejais a Rainha daqueles que vivem obscurecidos pelos
erros”; “obtenhais para todos as nações tranquilidade e ordem, em tudo
submetidas à beleza da Fé”.
Trouxe excertos, a consagração é muito
maior. E começa com frase conhecida de grande densidade teológica: “Se foi por
Vós que Jesus Cristo, Senhor Nosso, veio ao mundo, é também por Vós que nele
deve reinar”. A consagração se coloca especialmente oportuna, lembra o
Santuário e repito “atendendo ao momento de dor e sofrimento que a pandemia,
provocada pela covid-19, está a provocar em todo o mundo”.
Colômbia. Este mesmo momento foi invocado por
iniciativa semelhante, rumo idêntico, encabeçada pela Sociedad Colombiana
Tradición e Acción, que pede ao presidente da República e à Conferência
Episcopal que consagrem a Colômbia ao Sagrado Coração de Jesus e à Nossa Senhora
de Chiquinquirá, padroeira do País. O texto do importante documento, assinado
por seu diretor, Eugenio Trujillo Villegas, suplica e lembra: “Queremos lhe
pedir com veemência, que diante da incerteza pela qual passamos, junto com as
autoridades da Igreja Católica, renove a consagração ao Sagrado Coração de
Jesus, que se fez ininterruptamente de 1902 a 1992. E também que consagre o
País a Nossa Senhora de Chiquinquirá, padroeira da Colômbia”.
Faróis. Duas iniciativas atuais e
exemplares. Empreendimentos assim, acompanhados da contrição congruente, infelizmente
muito raras, atrairiam a misericórdia divina nos presentes dias duros trilhados
por todos nós. Sua ausência, é incoercível, a lógica nos arrasta até lá,
pressagia maiores sofrimentos e tragédias. A elas nossa adesão e aplauso. São
faróis, iluminam e indicam rumos.
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