sexta-feira, 3 de abril de 2020

Cardeal birmanês ataca o Partido Comunista Chinês


Cardeal birmanês ataca o Partido Comunista Chinês

Péricles Capanema

O cardeal na linha de frente. O cardeal Charles Bo é arcebispo da arquidiocese de Yangon em Myanmar. É o primeiro cardeal birmanês, nasceu em 1948, foi bispo em 2003, cardeal em 2015, preside a Conferência da Federação dos Bispos Asiáticos.

Localização. A antiga Birmânia, hoje República da União de Myanmar, 678 mil km2, por volta de 55 milhões de habitantes, tem fronteiras com a China. Cerca de 700 mil de seus habitantes são católicos.

Declaração histórica contra o despótico PCC. O cardeal-arcebispo, cujo país tem fronteiras com a China (quase 10 milhões de km2, 1,5 bilhão de habitantes) divulgou em fins de março, a propósito da crise do coronavirus, corajosa e esclarecedora declaração contra o Partido Comunista Chinês. A declaração foi entregue à imprensa, repercutiu em particular na Europa, e encontra-se na íntegra no site da Arquidiocese. Logo no começo, afirma o Purpurado: “Vozes no mundo inteiro se levantam contra a atitude tomada pela China, em especial pelo despótico Partido Comunista Chinês, liderado pelo homem forte Xi Jinping”.

Estudos demolidores. Continua o arcebispo de Yangon: “O London Telegraph de 29 de março divulgou que o ministro da Saúde inglês acusou a China de esconder a escala verdadeira do coronavirus naquele país. James Kraska, reputado professor de Direito, escreveu na última edição do ‘War on Rocks’ A China é legalmente responsável pelo covid-19 e os pedidos de indenização estariam na casa dos trilhões (de dólares)”

Prossegue dom Charles Bo, citando estudos: “Um modelo epidemiológico feito na Universidade de Southampton concluiu que se a China tivesse agido responsavelmente, apenas uma, duas ou três semanas antes, o número de pessoas afetado pelo vírus teria sido menor em 66%, 86% e 95%, respectivamente. Sua atitude desencadeou um contágio universal, matando milhares.

O PCC é réu. Pondera o hierarca: “Quando estudamos os danos causado a vidas no mundo inteiro, precisamos buscar o responsável. Muitos governos estão sendo acusados de omissão, quando perceberam o problema do coronavirus em Wuhan. Mas existe um governo que tem a responsabilidade primeira, resultado do que fez e do que deixou de fazer, é o governo do Partido Comunista Chinês em Pequim. Vou ser claro ▬ o responsável é o Partido Comunista Chinês, não o povo da China. O povo chinês é a primeira vítima do vírus e há muito tempo tem sido a primeira vítima do seu regime repressivo”.

Mentiras disseminadas, verdades escondidas. O cardeal avança: “Quando o vírus apareceu, as autoridades chinesas censuraram as notícias. Em vez de proteger o público, e apoiar os médicos, o Partido Comunista Chinês silenciou os denunciantes. Pior ainda, os médicos que tentaram dar o alarme ▬ como o dr. Li Wenling no Hospital Central de Wuhan que advertiu colegas em 30 de dezembro ▬ foram silenciados. A polícia lhes ordenou que ‘parassem de espalhar rumores falsos’. A polícia mandou o dr. Li, oculista, ‘parar de divulgar comentários falsos’; foi obrigado a assinar uma confissão. Morreu, infeccionado pelo vírus. Desapareceram jornalistas jovens, que tentaram noticiar a pandemia. Li Zehua, Chen Qiushi, Fang Bin, parece, foram e continuam presos por informar a verdade”.

Perseguição religiosa crescente. Dom Charles Bo denuncia a perseguição crescente na China: “As mentiras e a propaganda colocaram em perigo milhões de vidas no mundo inteiro. A conduta do Partido Comunista Chinês evidencia sua natureza crescentemente repressiva. Nos últimos anos houve grave diminuição da liberdade de expressão na China. Advogados, blogueiros, dissidentes e ativistas foram perseguidos e desapareceram. Em particular, o regime desencadeou uma campanha contra a religião, da qual resultou a destruição de milhares de igrejas e cruzes e a prisão de pelo menos um milhão de muçulmanos em campos de concentração. Um tribunal independente de Londres, presidido por sir Geoffrey Nice, acusa o Partido Comunista Chinês de pela força coletar órgãos humanos de objetores de consciência”.

O PCC, ameaça para o mundo. O cardeal sobe o tom: “Durante sua conduta irresponsável e inumana da crise do coronavirus, o Partido Comunista Chinês provou que é uma ameaça para o mundo”.

Responsabilização lógica. E conclui: “Por causa de sua negligência criminosa e sua repressão, o regime chinês, dirigido pelo Partido Comunista Chinês e pelo poderoso Xi Jinping, é responsável pela disseminação da pandemia. Deve-nos compensação pela destruição que causou, pelo menos pagar os gastos dos países no combate ao covid-19. Com base em nossa humanidade comum, não devemos ter medo de responsabilizá-lo pelo que fez”.

Exemplo para ser imitado. O Purpurado desafiou perseguidores, evidenciou clareza, firmeza e coragem. É o que infelizmente falta a sem-número de dirigentes ocidentais, comodamente instalados a milhares de quilômetros de Pequim. Que sigam o exemplo do Purpurado birmanês, voz desassombrada ecoando de um país fraco e limítrofe com a China. Seu brado soa como o de guerreiro solitário resistindo investida de chusmas soldadescas. Que Deus o proteja.

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