Boff: Sérgio Moro é
pau-mandado
Péricles Capanema
O Brasil assite atônito à inusitada tentativa de
acovardar o Judiciário. Fervilham as redes sociais. Os morubixabas e corifeus
da esquerda berram a todos os ventos enodoando os juízes. O manifesto “Eleição
sem Lula é fraude” é disso claro exemplo.
Dou outros exemplos. Tuíte do ex-frei Leonardo Boff:
“Não há nenhuma escritura que mostra Lula ser dono do tríplex de Guarujá. Nunca
morou lá. Nunca dormiu lá. É condenado por ilações. Moro peca contra a virtude
principal de todo juiz: a imparcialidade. Ele só persegue e quer acabar com
ele. As ordens vem de cima. Ele é pau mandado”.
O velho demagogo começa assim o ataque boçal: “Não há
nenhuma escritura”. Bem, escritura sem registro não garante a propriedade perante
terceiros. A propriedade se prova pela matrícula (registro). Boff tem o vezo de
escrever taxativamente do que não entende e sempre em mau português. Aqui
repete o costume. Põe de lado um expediente antigo de malandros brasileiros: o
laranja. Umas das possibilidades, o tríplex da propina (é o que dizem o chefe
da OAS e outros) poderia até ficar em mãos de laranjas, nunca seria formalmente
de Lula, mas o processo foi truncado.
Desce mais: “Nunca morou lá”. Existem milhares de
donos de apartamentos que nunca moraram nos imóveis. “Nunca dormiu lá”. Dormir
num imóvel é prova de propriedade? “É condenado por ilações. Moro só persegue
[a ele]”. Mentira alvar. O magistrado condenou políticos de outros partidos,
doleiros, empresários. O inescrupuloso demagogo não se detém diante da mentira
descarada. As ordens vem [sic!] de cima. De fato, o português do enfurecido
aldabrão tem o mesmo nível da argumentação, vale nada. Ele tem alguma prova, ou
o mais leve indício, de que Sérgio Moro recebe ordens de pessoas bem situadas?
É calúnia [imputação falsa de fato
definido como crime]. “Ele é pau mandado”. A objurgatória suprime a decência
do magistrado, reduzido a condição infame de pau-mandado. No caso, Leonardo
Boff condena arrogantemente Sérgio Moro ao pelourinho da opinião pública com
base em ilações delirantes. Ele pode caluniar por ilação.
A lógica impõe, as acusações valerão para os três
desembargadores que julgarão o recurso em 24 de janeiro próximo, caso decidam,
com base nos autos, pela condenação de Lula.
Falei em campanha de intimidação. Outro tuíte na mesma
direção, agora de Emir Sader, professor aposentado da USP (é o nível a que
despencou parte da intelectualidade): “Sim, Moro, o Lula tem 9 dedos (nine,
como vc gosta de falar, no seu idioma preferido). Mas tem caráter integral
[quis dizer íntegro, provavelmente], ao contrário de vc, juizeco a serviço da
elite corrupta do Brasil”.
Pelas redes, João Pedro Stédile, líder do MST,
divulgou vídeo amedrontante. Falando no plural, citou como determinação
conjunta de 88 partidos e movimentos populares irem a Portuo Alegre de 22 a 24
de janeiro para deixar claro ao Poder Judiciário que “eleição sem Lula é fraude
e [que] impediremos qualquer retrocesso democrático [quis dizer
antidemocrático]”. O aqui soturno “impediremos” abre a porta para todo tipo de
conjeturas sinistras.
São exemplos de lideranças atiçando nas bases o ódio
contra o Judicário. Ou cede ou haverá consequências graves. Estamos diante de apocalíptico
movimento de aterrorização do Poder Judiciário, nunca havido no País. Parece
claro, seus mentores têm esperança de êxito, ainda que parcial. E também é
claro, os juízes estão pensando no que poderão sofrer não apenas eles, mas os
filhos, esposas, pais, parentes, amigos. Não será a primeira vez, é o que
sucede ao lado, na Venezuela, aconteceu em Cuba, existe na China e na Coreia,
onde governam irmãos ideológicos do PT. Roberto Veloso, presidente da AJUFE ▬
Associação dos Juízes Federais do Brasil ▬-manifestou temor generalizado na
classe quanto à segurança pessoal e quanto à segurança dos prédios públicos:
“As ameaças estão sendo públicas, não estão sendo veladas. Temos assistidos a
vídeos com ameaças públicas”.
A esperança do PT e da frente totalitária em que se
integra é, repito, pela intimidação acovardar o Judiciário. Conseguirão? Da
resposta a esta questão pode depender o futuro do Brasil. Acarneirado, com a
maioria do povo padecendo exclusão e preconceito ou altivo e independente.
Lembro a altaneria tranquila do Judiciário, mesmo
nos tempos do absolutismo real. Anos atrás escrevi artigo, “A escabrosa
desapropriação da Fazenda Limeira”, do qual pinço: “No século 18, um simples moleiro, diante da pressão de Frederico da Prússia,
rei absoluto e grande guerreiro, de expropriar sua propriedade para ali fazer
uma extensão do jardim do palácio de ‘Sans Souci’, negou argumentando
que naquela terra seu pai havia falecido e seus filhos haveriam de nascer. O
monarca absoluto insistiu, afirmando que poderia lhe tomar a propriedade. O
moleiro respondeu tranquilo com palavras singelas, cujos ecos todos os séculos
recolhem emocionados: ‘Ainda existem juízes em Berlim’. O rei desistiu, o moinho ficou no
meio dos jardins, atestando o império da lei”. Para que a lei impere, indispensável
juízes imparciais, refratários a qualquer tipo de pressão, mesmo as mais violentas.
Esperemos que, passada a presente tormenta das pressões do tipo KGB ou Gestapo,
possamos constatar o caminho da liberdade ainda aberto. Rezemos.
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