Feliz Natal, votos de
festas sérias
Péricles Capanema
Anima ouvir feliz Natal. Soa agradável Natal de muita
saúde e paz. Santo Natal, expressão afável,
cada vez menos comum. Escutei sem-número de vezes votos de alegre Natal. Óbvio,
jamais me deram votos de tristes festividades natalinas.
E nem de sério Natal. Cairia estranho, poderia parecer
censura a um brincalhão. Pensando bem, nem tão estranho assim. Pelo menos uma vez,
gostaria que alguém me tivesse dito: “um sério Natal”.
Desejar feliz Natal é querer as festas em ambiente
leve. Sério Natal, que continuem presentes as graves questões que povoam a vida
de cada um de nós. Gravidade e leveza não se excluem, nunca se excluíram, complementam-se.
Leveza sem gravidade despenca para a leviandade. Gravidade sem leveza descamba
para caturrice. Sábia é a pessoa que alia leveza e gravidade. Minha ambição hoje
é alcandorar a seriedade, raiz da sabedoria, caminho para a felicidade. Se
conseguir bem, será brilhante bola vermelha na árvore da sala, meu presente de
Natal para os leitores.
Já no começo, faz falta acabar com a confusão entre
alegria e felicidade. Em geral, as pessoas querem ser vistas alegres para assim
parecer felizes. E é comum um abismo entre as duas realidades. Le bonheur n’est pas gai (a felicidade
não é alegre), frase que retumbou mundo afora, resumia o filme Le Plaisir, baseado em três contos de
Guy de Maupassant. Continuando no tema, mudo o cenário. Li, faz pouco, o mesmo
por aqui: “Sou alegre, mas não feliz”, lamento de Dadá Maravilha, o futebolista
folgazão. O mais alegre dos jogadores se vê como um infeliz.
Uma mãe que trabalha de sol a sol para pagar os
estudos da filha aplicada pode não estar alegre, mas será intensamente feliz, animada
com o cumprimento do dever e por abrir boas perspectivas para a moça. Todos
percebem, o esforço e o dever estão mais ligados à felicidade que à alegria. Enfim,
são várias as formas de alegria. A felicidade pode ser alegre, pode estar
triste, pode brilhar num rosto esgotado. Um menino brincando sozinho com um
carrinho em geral tem semblante sério e feliz. Nietzsche afirmava, o homem se
torna maduro quando reencontra a seriedade que tinha quando brincava em
criança. Temos aqui, não a procura, mas o reencontro de um tempo às vezes perdido
durante a adolescência e a juventude. O Natal autêntico tem isso, festa
familiar com nota infantil séria. A alegria natalina ▬ calma, temperante,
esperançosa, entendendo o sofrimento ▬ é átrio para entrar no palácio da
felicidade.
Sem seriedade, não alcançamos ser felizes. A alegria
contemporânea desembesta para o rumo oposto. Para esconder a infelicidade, procura
saída artificial, aparece vestida com roupagem extravagante. Basta examinar os role models atuais, celebridades do
entretenimento em primeiro lugar, a mais de outras nos mais multifários espaços
da vida humana. Inautênticos, estadeiam estilos de vida estapafúrdios, sorrisos
exagerados, risadas desatinadas. Ali pululam as drogas, o suicídio, as separações
matrimoniais contínuas, tanta coisa mais. O que são em suas representações enganadoras?
Embusteiros, alguns geniais, juntos na promoção de uma fraude.
O bem não faz barulho e o barulho não faz bem,
escreveu são Francisco de Sales, o suave doutor da Igreja. Discreta, a verdadeira
felicidade pode conviver com a tristeza, a dor, o fracasso; também com a alegria,
os êxitos, as grandes conquistas. Mas sempre se manifestará veraz. Assoma agora
à porta uma irmã da seriedade, a autenticidade, saudemo-la.
Verazes, autênticos e sérios caminhemos até a manjedoura
onde dorme placidamente o Menino-Deus. Súplices, peçamos a Ele que nos sustente
em todos os passos da peregrinação ao encontro da Felicidade infinita.
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