Lições imprestáveis
Péricles Capanema
Amigos ficaram impressionados com temas do meu último
artigo “Exemplos inúteis”, análise de aspectos do discurso de Xi Jinping ao 19º
congresso do PCC (Partido Comunista Chinês) realizado em Pequim entre 18 e 24
de outubro. Vou continuar hoje no mesmo caminho, a trilha das lições
imprestáveis.
O líder chinês indica como políticas do PCC para a
China a aplicação desinibida de teses odiadas pela esquerda no Ocidente (sempre
defendidas por economistas partidários da economia de mercado): “Continuaremos
a encorajar as pessoas a ganhar dinheiro por meio do trabalho duro. [...]
Aumentaremos o tamanho da classe média”.
Em 2013, sob aplausos delirantes de claque petista, Marilena Chauí, uma
das ideólogas do PT, deblaterou contra o papel exercido pela classe média para
o harmônico progresso social: “Eu odeio a classe média. A classe média é o
atraso de vida, a classe média é a
estupidez. É o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante,
arrogante, terrorista. A classe média é uma abominação política, porque ela é
fascista. Ela é uma abominação ética porque ela é violenta, e ela é uma
abominação cognitiva porque ela é ignorante.”
Continua o dirigente comunista chinês:
“Trabalharemos para que a renda individual cresça em harmonia com o
desenvolvimento econômico e para que os aumentos de salário sejam proporcionais
aos aumentos da produtividade no trabalho”.
Algum partido esquerdista patrocina tal tese?
Algum sindicato? Contudo, qualquer economista pró-mercado assinaria o que anuncia
Xi Jinping: aumento de salários sem aumento de produtividade gera inflação.
Para resolver o problema habitacional na
China, o dirigente recorre à política da casa própria e ao estímulo dos
aluguéis. Isso mesmo, comprar para alugar.
No combate à pobreza, os partidários do
mercado livre associam os programas assistenciais ao estímulo da autonomia
pessoal mediante a capacitação, o que deixaria o Estado no papel subsidiário, para
desespero das correntes coletivistas. Atentem para o que diz Xi Jinping, é o que
ele faz: “Colocaremos ênfase especial em ajudar a pessoas a aumentar a
confiança em suas próprias capacidades para sair da pobreza e propiciaremos a
educação de que tenham necessidade para tal”. É o elogio ao papel supletivo do
Estado.
“Apoiaremos o desenvolvimento na área
privada, de hospitais e de setores ligados à saúde”. Claro estímulo à medicina
privada.
Na área da segurança: “Aceleraremos o
desenvolvimento dos sistemas de controle e prevenção ao crime [...] contra
quaisquer atividades ilegais e criminosas como pornografia, jogo, consumo de
drogas, violência de gangues, sequestro, fraude. Protegeremos os direitos
pessoais, o direito de propriedade privada e o direito à dignidade”. Aqui no
Brasil seria ponto destacado de plataforma de candidato da direita, alvo certo dos
ataques da imprensa engajada.
O Partido Comunista Chinês precisa criar um
país rico. Aplica receitas do estilo Ronald Reagan ou Margaret Thatcher. Por
que digo que são lições imprestáveis? Nenhum partido de esquerda, por causa do
exemplo chinês, modificará um til seu programa gerador de pobreza e sofrimento popular.
Até aqui a cara da moeda. Agora, a coroa.
Outro ponto são os objetivos últimos de tal política. Em artigo recente,
“Pasmaceira e Festança Suicidas”, falei de parte deles. Não vou aqui voltar a
eles.
PS: Observação final. Xi Jinping tem uma
filha, Xi Mingze, nascida em 1992. Estudou francês na Hangzhou Foreign Language
School. A partir de 2010, vigiada por seguranças chineses, foi aluna de
Harvard. Formou-se em 2014, vive em Pequim. Dispensa comentários.
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