sábado, 22 de abril de 2017

Fornecendo a corda para o enforcamento


Péricles Capanema

Atribui-se a Lênin a frase: “0s capitalistas nos venderão a corda com a qual os enforcaremos”. Não consta de seus discursos, artigos e livros. Parece, tem origem em anotações pessoais de conteúdo semelhante, como a citada pelo pintor comunista Annekov: “Os capitalistas trabalharão duro em seu próprio suicídio”. Terá sido escrita na década de 1920, quando, de forma oportunista e inconsequente, numerosas empresas capitalistas, com lucros polpudos, venderam serviços e know-how para fazer da Rússia uma potência industrial e, logo depois, militar.

É hoje fato sem interesse saber com certeza o que teria afirmado Lênin. Pelo contrário, tem enorme interesse a realidade psicológica e moral para a qual sua frase aponta, o suicídio de civilizações, o suicídio de classes, o suicídio de famílias, cujas manifestações se sucedem tantas vezes em ambiente folgazão, irrefletido e pretensioso.

Em 7 de dezembro de 1968, Paulo VI, falando ao Seminário Lombardo, advertiu: “A Igreja se acha numa hora inquieta de autocrítica, dir-se-ia melhor, de autodemolição. É como um revolvimento agudo e complexo que ninguém teria esperado do Concílio, A Igreja quase como se golpeia a si mesma”. Autodemolição é outra palavra para suicídio. O Pontífice denuncia eclesiásticos cuja ação provoca a destruição da Igreja. O fenômeno, universal e apocalíptico, não se detém nos muros eclesiais, desborda e devasta a sociedade temporal, burguesia, professorado, empresários.

O suicídio (ou autodemolição) me veio, digamos, obsessivamente ao espírito ao ver grandes empreiteiros brasileiros relatando com espantosa normalidade o amazônico auxílio financeiro despejado no PT que tem, entre seus fins oficiais e proclamados, a destruição do capitalismo e a implantação de uma sociedade socialista. E como se prestavam a intervir (não vou fugir da palavra) criminosamente em assuntos de outros países, derramando dinheirama em campanhas de candidatos xodós de Fidel Castro. Por exemplo, torraram dinheiro nas campanhas de Chávez e Maduro. Também em El Salvador. E assim são coautores da miséria hoje generalizada na Venezuela. No fim, riqueza roubada de contribuintes brasileiros financiou o assalto ao poder de grupos ligados à tirania castrista e favorecedores de seus interesses na América Latina.

Forneceram oxigênio direto para ditadura cruel e implacável, asfixiada pela rejeição popular. Palavras de um deles, Emílio Odebrecht: “Chávez tinha uma relação muito intensa com Fidel, ao ponto de fazer preços camaradas na venda de barris de petróleo para Cuba. Ele me pediu que nós procurássemos viabilizar um programa de um porto lá em Cuba, porque era muito importante para os cubanos. Eu disse, olha chefe, nós trabalhamos nos Estados Unidos, um assunto desse de dinheiro, com tudo que Cuba tem de restrição, não é fácil viabilizar o esquema financeiro. Um pedido do senhor é algo que vou encontrar uma forma de atender. Agora, eu precisaria que o governo brasileiro estivesse engajado nesse projeto e também solicitasse [...] Eu não gostaria de tomar essa iniciativa sozinho. O senhor, que tem uma boa relação como presidente Lula, poderia ligar para ele e transmitir isso. De fato, Chávez fez a ligação. Logo depois desse encontro, o Lula me convocou dizendo que tinha recebido um telefonema do Chávez transmitindo o encontro que teve comigo e que estava na linha de apoiar o programa de Cuba do Porto de Mariel”.

O porto ficou em mais de 1 bilhão de dólares, construção da Odebrecht, pago em grandíssima medida com capitais do BNDES. E a maior parte da pecúnia do BNDES vinha do Tesouro. De você, contribuinte.

Perguntas cuja resposta é o óbvio ululante. Você acha que Cuba vai pagar o empréstimo? Você acha que PT, CNBB, MST, MTST, Pastoral da Terra, PC do B estão se importando com o fato de que foi roubado dinheiro dos pobres daqui para financiar o comunismo? Estão doídos porque os miseráveis brasileiros se viram privados de postos de saúde, escolas, transporte melhor, para ajudar ditaduras opressoras dos pobres de lá e ainda encher o bolso de políticos corruptos?

Tem mais e na mesma direção. O PT, quando esteve no poder, promoveu deslavadamente o estatismo e não apenas na sua vertente intervencionista. Convém recordar já que estamos tratando de empresários supostamente defensores da livre iniciativa. Pesquisa do Instituto Teotônio Vilela, divulgada pelo diário Valor, mostrou que, entre 2003, ano do primeiro governo Lula, e 2015, saída da presidente Dilma, o governo criou 41 estatais. Deram um prejuízo acumulado de 8 bilhões de reais. Pagaram salários de 5,5 bilhões de reais, boa parte dos quais para o bolso de apaniguados.

Apesar da realidade macabra, as confissões revelam fisionomias em nada contritas pelo que fizeram, pouco ou nada conscientes do dantesco mal que infligiram aos brasileiros. Com efeito, desfilaram nas redes sociais e nas TVs um montão de donos de empresas e altos executivos de fisionomia satisfeita, às vezes brincalhona.

Além de ter presente, como prego na alma, a frase atribuída a Lênin, acima referida, fato conexo me azucrinou: esse pessoal que aí está falando não é muito melhor nem muito pior que a média dos altos executivos e empresários brasileiros. A mais deles, antes, por anos a fio, vimos chusmas de colegas seus, urbanos e rurais, servindo em postos de confiança nos governos Lula e Dilma. Ou trabalhando em cúmplice colaboração de modo a favorecer a permanência infinda do PT no poder.

Adiante. Os depoentes que frequentaram o noticiário há pouco em geral tiveram educação familiar direita, cursaram boas universidades aqui ou lá fora, trabalharam em ambientes profissionais decentes. Têm história de vida semelhante ao grosso dos homens e mulheres que tocam a economia brasileira. Postas circunstâncias semelhantes, alguém duvida que repetiriam, e não só eles, as façanhas pavorosas?


Inafastável, jaz no fundo da questão um enorme problema moral e um oceânico problema de má formação. É o mais importante do caso. “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”, lembram? Não vejo ninguém com a atenção posta no formigueiro.

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