Péricles Capanema
Atribui-se a Lênin a
frase: “0s capitalistas nos venderão a corda com a qual os enforcaremos”. Não
consta de seus discursos, artigos e livros. Parece, tem origem em anotações
pessoais de conteúdo semelhante, como a citada pelo pintor comunista Annekov:
“Os capitalistas trabalharão duro em seu próprio suicídio”. Terá sido escrita
na década de 1920, quando, de forma oportunista e inconsequente, numerosas
empresas capitalistas, com lucros polpudos, venderam serviços e know-how para fazer da Rússia uma
potência industrial e, logo depois, militar.
É hoje fato sem
interesse saber com certeza o que teria afirmado Lênin. Pelo contrário, tem
enorme interesse a realidade psicológica e moral para a qual sua frase aponta, o
suicídio de civilizações, o suicídio de classes, o suicídio de famílias, cujas
manifestações se sucedem tantas vezes em ambiente folgazão, irrefletido e pretensioso.
Em 7 de dezembro de
1968, Paulo VI, falando ao Seminário Lombardo, advertiu: “A Igreja se acha numa
hora inquieta de autocrítica, dir-se-ia melhor, de autodemolição. É como um
revolvimento agudo e complexo que ninguém teria esperado do Concílio, A Igreja
quase como se golpeia a si mesma”. Autodemolição é outra palavra para suicídio.
O Pontífice denuncia eclesiásticos cuja ação provoca a destruição da Igreja. O
fenômeno, universal e apocalíptico, não se detém nos muros eclesiais, desborda
e devasta a sociedade temporal, burguesia, professorado, empresários.
O suicídio (ou
autodemolição) me veio, digamos, obsessivamente ao espírito ao ver grandes
empreiteiros brasileiros relatando com espantosa normalidade o amazônico
auxílio financeiro despejado no PT que tem, entre seus fins oficiais e proclamados,
a destruição do capitalismo e a implantação de uma sociedade socialista. E como
se prestavam a intervir (não vou fugir da palavra) criminosamente em assuntos
de outros países, derramando dinheirama em campanhas de candidatos xodós de Fidel
Castro. Por exemplo, torraram dinheiro nas campanhas de Chávez e Maduro. Também
em El Salvador. E assim são coautores da miséria hoje generalizada na
Venezuela. No fim, riqueza roubada de contribuintes brasileiros financiou o
assalto ao poder de grupos ligados à tirania castrista e favorecedores de seus
interesses na América Latina.
Forneceram oxigênio direto
para ditadura cruel e implacável, asfixiada pela rejeição popular. Palavras de um deles, Emílio Odebrecht: “Chávez
tinha uma relação muito intensa com Fidel, ao ponto de fazer preços camaradas
na venda de barris de petróleo para Cuba. Ele me pediu que nós procurássemos
viabilizar um programa de um porto lá em Cuba, porque era muito importante para
os cubanos. Eu disse, olha chefe, nós trabalhamos nos Estados Unidos, um
assunto desse de dinheiro, com tudo que Cuba tem de restrição, não é fácil
viabilizar o esquema financeiro. Um pedido do senhor é algo que vou encontrar
uma forma de atender. Agora, eu precisaria que o governo brasileiro estivesse
engajado nesse projeto e também solicitasse [...] Eu não gostaria de tomar essa
iniciativa sozinho. O senhor, que tem uma boa relação como presidente Lula,
poderia ligar para ele e transmitir isso. De fato, Chávez fez a ligação. Logo
depois desse encontro, o Lula me convocou dizendo que tinha recebido um
telefonema do Chávez transmitindo o encontro que teve comigo e que estava na
linha de apoiar o programa de Cuba do Porto de Mariel”.
O
porto ficou em mais de 1 bilhão de dólares, construção da Odebrecht, pago em
grandíssima medida com capitais do BNDES. E a maior parte da pecúnia do BNDES vinha
do Tesouro. De você, contribuinte.
Perguntas
cuja resposta é o óbvio ululante. Você acha que Cuba vai pagar o empréstimo? Você
acha que PT, CNBB, MST, MTST, Pastoral da Terra, PC do B estão se importando com
o fato de que foi roubado dinheiro dos pobres daqui para financiar o comunismo?
Estão doídos porque os miseráveis brasileiros se viram privados de postos de
saúde, escolas, transporte melhor, para ajudar ditaduras opressoras dos pobres
de lá e ainda encher o bolso de políticos corruptos?
Tem mais e na mesma
direção. O PT, quando esteve no poder, promoveu deslavadamente o estatismo e não
apenas na sua vertente intervencionista. Convém recordar já que estamos tratando de empresários supostamente defensores da livre iniciativa. Pesquisa do
Instituto Teotônio Vilela, divulgada pelo diário Valor, mostrou que, entre
2003, ano do primeiro governo Lula, e 2015, saída da presidente Dilma, o
governo criou 41 estatais. Deram um prejuízo acumulado de 8 bilhões de reais.
Pagaram salários de 5,5 bilhões de reais, boa parte dos quais para o bolso de
apaniguados.
Apesar da realidade
macabra, as confissões revelam fisionomias em nada contritas pelo que fizeram, pouco
ou nada conscientes do dantesco mal que infligiram aos brasileiros. Com efeito,
desfilaram nas redes sociais e nas TVs um montão de donos de empresas e altos
executivos de fisionomia satisfeita, às vezes brincalhona.
Além de ter presente,
como prego na alma, a frase atribuída a Lênin, acima referida, fato conexo me
azucrinou: esse pessoal que aí está falando não é muito melhor nem muito pior
que a média dos altos executivos e empresários brasileiros. A mais deles, antes,
por anos a fio, vimos chusmas de colegas seus, urbanos e rurais, servindo em
postos de confiança nos governos Lula e Dilma. Ou trabalhando em cúmplice
colaboração de modo a favorecer a permanência infinda do PT no poder.
Adiante. Os depoentes
que frequentaram o noticiário há pouco em geral tiveram educação familiar
direita, cursaram boas universidades aqui ou lá fora, trabalharam em ambientes
profissionais decentes. Têm história de vida semelhante ao grosso dos homens e
mulheres que tocam a economia brasileira. Postas circunstâncias semelhantes,
alguém duvida que repetiriam, e não só eles, as façanhas pavorosas?
Inafastável, jaz no
fundo da questão um enorme problema moral e um oceânico problema de má formação.
É o mais importante do caso. “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba
com o Brasil”, lembram? Não vejo ninguém com a atenção posta no formigueiro.
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