sábado, 29 de abril de 2017

O nazismo nas escolas brasileiras


Péricles Capanema

Está passando apuros sérios amigo meu de muitos anos, filha novinha matriculada em tradicional colégio religioso. Junto com outros pais de família, também com filhos ali estudando, luta para garantir futuro de realizações e felicidade para os alunos. Terá sucesso? Tomara. A direção do estabelecimento, com apoio de professores, ignoro em que proporção, procura impor no currículo e no comportamento pedagógico a ideologia do gênero. O risco, para quem o conhece bem, alarma.

O problema é mundial, inexistindo oposições empestará colégios e universidades brasileiras. E depois a sociedade inteira. Já durante o governo Dilma angustiou os pais e opinião pública em geral. O PT e de forma particular o ministério da Educação tentaram por todas as formas impor seu ensino no Brasil. Em 2014 o Congresso Nacional rejeitou a teoria (ou ideologia) do gênero. Assembleias e câmaras de vereadores votaram planos estaduais e municipais de educação, dos quais muitos continham a obrigação de ensinar a ideologia do gênero. Em geral na ocasião venceu o bom senso, estribado no horror dos pais e nas reações da sociedade civil.

Recordando, tal ideologia, agredindo a natureza, afirma que o masculino e feminino são construções sociais; se quisermos, construções culturais. Independem do sexo biológico. A pessoa nasce “neutra”. Pode nascer fêmea, escolher ser mulher ou escolher ser homem e, ao longo da vida, modificar sua escolha. Ou nascer macho, escolher ser homem ou mulher, e também modificar a escolha inicial. Ou ainda escolher outras possibilidades, sei lá quais seriam. Gênero e sexualidade são, para cada um, realidades mutáveis. Shulamith Firestone, das mais conhecidas autoras da ideologia, afirma: “O gênero é uma construção cultural. Homem e masculino poderiam significar tanto um corpo feminino como um masculino; mulher e feminino tanto um corpo masculino como um feminino”. Vai adiante: “A meta definitiva da revolução feminista” é “acabar com a própria diferença de sexos”.

Recordo realidades conhecidas. O objetivo da educação deve ser o pleno desenvolvimento das potencialidades que dormem na criança, sondando e respeitando suas inclinações e talentos naturais. É trabalho respeitoso, delicado, sistematizado e disciplinante, como o do jardineiro que aduba, rega e poda para que a planta, os frutos e as flores cheguem a seu esplendor. O jardineiro, contudo, não agride a natureza; pelo contrário, ajuda-a, quanto mais conhecer e estimula sua índole, mais êxitos terá. O educador é um jardineiro.

A doutrina dos gêneros, com base em delírios igualitários, imagina de forma mitomaníaca um homem que não existe. E busca totalitariamente moldar o menino e a menina a seus delírios. Nesse trabalho, reprime a liberdade natural da criança de agir segundo seus instintos naturais. Oprime o direito da menina e do menino de atingir de forma enérgica e harmônica os limites das boas inclinações da natureza que lhes é própria. Brincar de boneca? De casinha? Nada disso. Fruto venenoso de imposições culturais. O novo é exigir delas jogar um futebol duro com os meninos. Resultado, forma cidadãos desajustados, despreparados para a vida, incapazes de realizar adequadamente seus necessários papeis sociais, calcados na complementaridade dos sexos. Na experimentação delirante, sem esteio em nenhum estudo pedagógico sério, tal doutrina agrava exclusões, inibindo potencialidades que favorecem o convívio e a harmonia social.

Essa mania, enraizada em alucinações ideológicas, de moldar o homem e a sociedade foi ideia obsessiva do nazismo e do comunismo nas primeiras décadas do século 20. Era o homem novo, ideal das utopias totalitárias do século passado. E para isso oprimiam impiedosamente indivíduos, famílias, grupos sociais. Estamos diante de tentativa obstinada de formar outra vez o homem novo, agora com base na utopia da ideologia do gênero. Com roupagens atraentes para incautos, assim como foram em sua época as vestimentas do nazismo e do comunismo, grassa entre nós uma das mais totalitárias, invasivas, intervencionistas e fanatizadas ideologias que a humanidade conheceu.

Falei acima, a imposição se dá pela diretoria de colégio religioso. Acrescento: católico, de antiga ordem religiosa. Seus promotores, subservientes a esse neototalitarismo moderno, esbofeteiam descarada e despreocupadamente o mais recente magistério pontifício. Respigo abaixo, entre inúmeras, advertências de Bento XVI e do Papa Francisco contra a ideologia do gênero.

Denunciou Bento XVI em discurso de 21 de dezembro de 2012 à Cúria Romana: [O Papa começa expondo a importância da família] Na questão da família, não está em jogo meramente uma determinada forma social, mas o próprio homem: está em questão o que é o homem e o que é preciso fazer para ser justamente homem. [...] Se antes tínhamos visto como causa da crise da família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente ser homem. [...] Hoje, sob o vocábulo ‘gender – gênero’, é apresentado como nova filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto até agora era a sociedade quem a decidia. Salta aos olhos a profunda falsidade desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente. O homem contesta o fato de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um fato pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: ‘Ele os criou homem e mulher’ (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstrato, que em seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza. Homem e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas da pessoa humana que se completam mutuamente. Se, porém, não há a dualidade de homem e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é própria. [...] Chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem”.

O Papa Francisco segue nas pegadas do antecessor. Advertiu em discurso aos bispos poloneses em 27 de julho de 2016: “E aqui gostaria de concluir com um aspeto concreto, porque por detrás dele estão as ideologias. Na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina, na África, nalguns países da Ásia, existem verdadeiras colonizações ideológicas. E uma delas – digo-a claramente por ‘nome e apelido’ - é o gender! Hoje às crianças – às crianças! –, na escola, ensina-se isto: o sexo, cada um pode escolhê-lo. E por que ensinam isto? Porque os livros são os das pessoas e instituições que te dão dinheiro. São as colonizações ideológicas, apoiadas mesmo por países muito influentes. E isto é terrível. Em conversa com o Papa Bento – que está bem e tem um pensamento claro – dizia-me ele: ‘Santidade, esta é a época do pecado contra Deus Criador’. É inteligente! Deus criou o homem e a mulher; Deus criou o mundo assim, assim e assim; e nós estamos a fazer o contrário. [...] Devemos pensar naquilo que disse o Papa Bento: ‘É a época do pecado contra Deus Criador’”!


A direção do colégio católico, com desprezo, jogou na lata de lixo as advertências do Vigário de Cristo atual e de seu antecessor. E trota atrás de um neototalitarismo. Penso voltar ao assunto.

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