domingo, 15 de janeiro de 2017

O maior povo ex-católico do mundo

O maior povo ex-católico do mundo

Péricles Capanema

Nelson Rodrigues, meio século atrás: “Tomem nota: — ainda seremos o maior povo ex-católico do mundo”. O escritor repetiu sua convicção diversas vezes ao longo da década de 60. Em 1960, era de 91,3% a porcentagem de católicos no Brasil. 64,6% em 2000, dados do IBGE.

Pensava na frase de Nelson Rodrigues quando compulsava pesquisa de dezembro de 2016 do Datafolha. Por ela, 50% dos brasileiros acima de 16 anos declaram-se católicos, 29% evangélicos (22% evangélicos pentecostais, 7% evangélicos batistas, presbiterianos, metodistas, entre outros), 14% afirmam não ter religião.

44% dos evangélicos já foram católicos. A migração de religião entre os evangélicos é grande. Em média, os evangélicos frequentam sua igreja atual há 12 anos (têm em média 37 anos). Os católicos, em média, frequentam há 32 anos sua igreja (têm em média 40 anos).

Aterrador o relativismo religioso. Apresentada pelo pesquisador do Datafolha a frase “todas as religiões têm o mesmo valor porque todas levam ao mesmo Deus”, 81% dos católicos concordavam com ela (64% totalmente, 17% em parte). Com tais convicções, não existem razões de fundo para se tornar ou permanecer católico. Apenas valem os motivos circunstanciais, volúveis como biruta de aeroporto.

Também é generalizado o sincretismo; as pessoas compõem para uso próprio um amontoado de práticas e aderem a princípios, umas e outros pescados em diferentes religiões.

Em época de eleição, 10% dos católicos costumam levar em conta a opinião de seus líderes (média brasileira, 15%; média dos evangélicos, 23%). 26% dos católicos apoiam candidatura de líderes religiosos seus; a porcentagem entre os evangélicos é de 44%. Segundo 31% dos evangélicos, os pastores das igrejas que frequentam orientam a votar em candidatos religiosos. Cerca da metade os segue totalmente, 9% em parte. Segundo os católicos, 14% dos sacerdotes nas igrejas que frequentam dão tais orientações e 5% dos fiéis as seguem totalmente.

Legalização da união entre pessoas do mesmo sexo: 68% dos evangélicos é contra, 19% a favor, 10% indiferentes. Entre os católicos, 42% contra, 44% a favor, 11% indiferentes. Em relação à adoção de crianças por casal homossexual, 64% dos evangélicos é contra, 26% a favor. Entre os católicos, 56% a favor, 33% contra.

Quanto ao ensino religioso facultativo nas escolas públicas, 85%, sejam católicos, sejam evangélicos, acham que as crianças deveriam ser ensinadas a rezar e a acreditar em Deus. Média brasileira: 79% a favor.

Dois pontos chamam fortemente a atenção. Em junho de 2015, 55% dos brasileiros maiores de 16 anos se declararam católicos. Em dezembro de 2016, 50%. Qual o motivo para tal tombo tão rápido? Erro de metodologia? Em junho de 2015, 7% dos brasileiros se declararam sem religião. Em dezembro de 2016, 14%. Queda muito rápida, provoca as mesmas perguntas. Entre os 14% que se declararam sem religião, 1/3 tem entre 16 e 34 anos, sintoma de que o agnosticismo crescerá nos próximos anos.

São múltiplas as causas da decadência católica no Brasil. Entre elas a difusão do que se chamou o espírito do Concílio. O grande argumento pastoral dos partidários do Concílio foi, era indispensável aproximar a Igreja do povo. Com o rumo escolhido, o povo debandou. A respeito, Paulo VI denunciou a fumaça de Satanás que havia entrado na Igreja após o Concílio Vaticano II, falou ainda de um espírito de autodemolição no interior da Igreja. O gás sulfúrico de Satanás facilita o crime, o vício e o pecado; cresta toda iniciativa para o bem. O espírito de autodemolição mina instituições e princípios sobre os quais descansa a Igreja. Com o apagamento do espírito religioso, decairá a moral privada e a ética social. Mais corruptas ficarão política, sociedade e família.


Por que divulgo dados trágicos, aliás conhecidos de tantos? De plano, permitem conhecer melhor a realidade, sempre necessário. Winston Churchill, para galvanizar o povo inglês, ainda isolado no mundo, contra a agressão nazista, em seu primeiro discurso ao Parlamento e à nação mostrou o quadro trágico: “Só vos prometo sangue, fadigas, suor e lágrimas”. Venceu e lhes deu, a mais da liberdade, a glória. É indispensável para os católicos a reviravolta restauradora. Sem ela, Nelson Rodrigues acertará outra de suas previsões.

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