O maior povo
ex-católico do mundo
Péricles Capanema
Nelson Rodrigues, meio século atrás: “Tomem nota: — ainda seremos o maior povo ex-católico do mundo”. O
escritor repetiu sua convicção diversas vezes ao longo da década de 60. Em 1960,
era de 91,3% a porcentagem de católicos no Brasil. 64,6% em 2000, dados do
IBGE.
Pensava na
frase de Nelson Rodrigues quando compulsava pesquisa de dezembro de 2016 do
Datafolha. Por ela, 50% dos brasileiros acima de 16 anos declaram-se católicos,
29% evangélicos (22% evangélicos pentecostais, 7% evangélicos batistas,
presbiterianos, metodistas, entre outros), 14% afirmam não ter religião.
44% dos
evangélicos já foram católicos. A migração de religião entre os evangélicos é
grande. Em média, os evangélicos frequentam sua igreja atual há 12 anos (têm em
média 37 anos). Os católicos, em média, frequentam há 32 anos sua igreja (têm
em média 40 anos).
Aterrador o
relativismo religioso. Apresentada pelo pesquisador do Datafolha a frase “todas
as religiões têm o mesmo valor porque todas levam ao mesmo Deus”, 81% dos
católicos concordavam com ela (64% totalmente, 17% em parte). Com tais
convicções, não existem razões de fundo para se tornar ou permanecer católico.
Apenas valem os motivos circunstanciais, volúveis como biruta de aeroporto.
Também é generalizado
o sincretismo; as pessoas compõem para uso próprio um amontoado de práticas e
aderem a princípios, umas e outros pescados em diferentes religiões.
Em época de
eleição, 10% dos católicos costumam levar em conta a opinião de seus líderes
(média brasileira, 15%; média dos evangélicos, 23%). 26% dos católicos apoiam
candidatura de líderes religiosos seus; a porcentagem entre os evangélicos é de
44%. Segundo 31% dos evangélicos, os pastores das igrejas que frequentam
orientam a votar em candidatos religiosos. Cerca da metade os segue totalmente,
9% em parte. Segundo os católicos, 14% dos sacerdotes nas igrejas que
frequentam dão tais orientações e 5% dos fiéis as seguem totalmente.
Legalização da união
entre pessoas do mesmo sexo: 68% dos evangélicos é contra, 19% a favor, 10%
indiferentes. Entre os católicos, 42% contra, 44% a favor, 11% indiferentes. Em
relação à adoção de crianças por casal homossexual, 64% dos evangélicos é
contra, 26% a favor. Entre os católicos, 56% a favor, 33% contra.
Quanto ao ensino
religioso facultativo nas escolas públicas, 85%, sejam católicos, sejam
evangélicos, acham que as crianças deveriam ser ensinadas a rezar e a acreditar
em Deus. Média brasileira: 79% a favor.
Dois pontos chamam
fortemente a atenção. Em junho de 2015, 55% dos brasileiros maiores de 16 anos
se declararam católicos. Em dezembro de 2016, 50%. Qual o motivo para tal tombo
tão rápido? Erro de metodologia? Em junho de 2015, 7% dos brasileiros se
declararam sem religião. Em dezembro de 2016, 14%. Queda muito rápida, provoca
as mesmas perguntas. Entre os 14% que se declararam sem religião, 1/3 tem entre
16 e 34 anos, sintoma de que o agnosticismo crescerá nos próximos anos.
São múltiplas as
causas da decadência católica no Brasil. Entre elas a difusão do que se chamou
o espírito do Concílio. O grande argumento pastoral dos partidários do Concílio
foi, era indispensável aproximar a Igreja do povo. Com o rumo escolhido, o povo
debandou. A respeito, Paulo VI denunciou a fumaça de Satanás que havia entrado
na Igreja após o Concílio Vaticano II, falou ainda de um espírito de
autodemolição no interior da Igreja. O gás sulfúrico de Satanás facilita o
crime, o vício e o pecado; cresta toda iniciativa para o bem. O espírito de
autodemolição mina instituições e princípios sobre os quais descansa a Igreja.
Com o apagamento do espírito religioso, decairá a moral privada e a ética
social. Mais corruptas ficarão política, sociedade e família.
Por que divulgo dados
trágicos, aliás conhecidos de tantos? De plano, permitem conhecer melhor a
realidade, sempre necessário. Winston Churchill, para galvanizar o povo inglês,
ainda isolado no mundo, contra a agressão nazista, em seu primeiro discurso ao
Parlamento e à nação mostrou o quadro trágico: “Só vos prometo sangue, fadigas,
suor e lágrimas”. Venceu e lhes deu, a mais da liberdade, a glória. É
indispensável para os católicos a reviravolta restauradora. Sem ela, Nelson
Rodrigues acertará outra de suas previsões.
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