Francisco é um dos
nossos
Péricles Capanema
O jornal alemão Kölner
Stadt-Anzeiger em 25 de dezembro publicou reveladora entrevista do ex-frei
Leonardo Boff, conduzida por Joachim Frank, especialista em assuntos
religiosos. Como se sabe, o antigo frade foi punido, com o beneplácito de João
Paulo II, pelo então cardeal Josef Ratzinger (depois Bento XVI) por defender
doutrinas heterodoxas. Desde começos de década de 80 vive com uma senhora
divorciada, antiga auxiliar sua, mãe de seis filhos. De forma desafiante, Boff
divulgou tal união em rumorosa entrevista à Folha de São Paulo, 21 de novembro
de 1993. Por que lembro fatos conhecidos? Para mostrar a gravidade do escândalo
causado por recentes afirmações suas.
Na entrevista, reproduzida por outros órgãos de
divulgação, Leonardo Boff tranquilamente se coloca próximo ao Papa Francisco.
Não tem medo de ser desmentido ou desautorizado. Não será. Declarações assim
são antes combinadas. Ou pelo menos, ele está seguro que o Papa gostará de ser
tido próximo ao ex-frade de vida e doutrina escandalosas, corifeu da Teologia
da Libertação, propagandista do PT e amigo de Fidel Castro. Um fato entre
centenas, em 12 de março de 2016 enviou carta pública a Lula, pedindo-lhe que
assumisse um cargo oficial no governo Dilma como forma de tentar evitar a
derrocada final, da qual extraio: “Caro amigo-irmão Lula, Vc, meu querido
amigo-irmão Lula, deve assumir um cargo de ministro da República. Meus melhores
votos a vc, Marisa e a toda sua família, de minha parte e da parte da Márcia,
que muito o admiramos e amamos. Leonardo Boff e Márcia Miranda”.
Vamos a trechos da entrevista deprimente: “Francisco é
um dos nossos. Fez da Teologia da Libertação uma propriedade comum da Igreja e
a ampliou. Quem fala hoje dos pobres, fala também da terra. [...] Assim, diz o
Papa ▬ e ele então cita um dos títulos de um de meus livros ▬ precisamos ouvir
a um tempo o grito do pobre e o grito da terra. Recentemente eu mesmo ampliei a
Teologia da Libertação. Esta [a dimensão ecológica] é também o novo aspecto
fundamental da Laudato Sì”.
O radicalismo social, comento, já conhecido, agora está
vindo junto com o extremismo ecológico. Como o comunismo foi um flagelo para os
pobres, o ecologismo extremado acarretará catástrofes para todos os homens.
O jornalista pergunta: “O Papa leu seus livros”?
Resposta: “Mais ainda. Para a redação da Laudato Sì, pediu-me material. Dei
conselhos e enviei-lhe parte do que havia escrito. Ele usou. Algumas pessoas me
disseram, pensavam enquanto liam ‘Espera, isto aqui é Boff’. A propósito, o
próprio Papa me disse diretamente: ‘Boff, não envie o material diretamente para
mim’”.
O entrevistador: “Por que não”?
Leonardo Boff: “[O Papa disse]: ‘Os subsecretários o
interceptarão e eu não o receberei. Mande o material direto para o embaixador
argentino, com quem tenho boas relações, assim chegará às minhas mãos’. Um dia
antes da publicação da encíclica, o Papa mandou me ligar para agradecer a
ajuda”.
O repórter continua: “Um encontro pessoal com o Papa
está ainda fora da agenda?”
O ex-frade: “O Papa procurou reconciliação com os mais
importantes representantes da Teologia da Libertação: com Gustavo Gutierrez,
Jon Sobrino, também comigo. Eu disse a ele, pensando em Bento XVI: ‘Mas o outro
está ainda vivo. Ele não aceitaria’. Respondeu-me: ‘Não, o Papa sou eu’. Somos
bem-vindos”.
O jornalista: “Então, por que não houve o encontro”?
Leonardo Boff: “Recebi convite, já estava em Roma.
Mas, no dia, logo antes do começo do segundo sínodo sobre família em 2015, 13
cardeais [...] ensaiaram uma rebelião contra o Papa. [...] O Papa estava
furioso e me disse: ‘Boff, não tenho tempo. [...] Vamos nos encontrar mais na
frente’”.
De fato, não havia rebelião de 13 cardeais. É mais uma
falsidade de Leonardo Boff, useiro e vezeiro de frases altissonantes e de
torcer fatos, servido por uma crítica complacente, tantas vezes simpática a
suas ideias. Na mesma entrevista, Leonardo Boff divulga outras falsidades a
respeito dos quatro cardeais que apresentaram respeitosamente os hoje famosos “dubia” ao Papa Francisco: “Este cardeal
Burke, que agora, junto com o cardeal Meisner, escreveu outra carta ao papa, é
o Donald Trump da Igreja Católica [ri]. Mas, ao contrário de Trump, foi
neutralizado dentro da Cúria. Graças a Deus. [...] Estes cardeais publicamente
acusam o Papa de erros teológicos ou mesmo de heresias, é demais. É uma afronta
que o Papa não pode suportar. O Papa não pode ser julgado, é a doutrina da
Igreja”.
Os quatro cardeais não acusaram o Papa de heresia. E
não estão julgando o Papa, no sentido clássico, de que o Papa, acima do Direito
Canônico, não pode ser julgado. Fizeram juízos intelectuais sobre suas ações e
ideias e formularam perguntas. São Paulo agiu de forma parecida com São Pedro
em certa ocasião. O antigo religioso falseia os fatos, e não é a primeira vez.
Outra pergunta do jornalista: “Com todo seu entusiasmo
pelo Papa, o que dizer das reformas na Igreja, esperadas por tantos católicos”?
Leonardo Boff: “Recentemente, o cardeal Walter Kasper,
confidente próximo ao Papa, me garantiu que haverá algumas grandes surpresas”.
Meu ponto agora é, repito, esta foi entrevista apta para
prestigiar Leonardo Boff, mostrando-o próximo ao Papa Francisco. E também suas
ideias. Deixa escandalizados milhões de fiéis que vêm o Vigário de Cristo favorecendo
um promotor do comunismo, corifeu da Teologia da Libertação, condenada
severamente pelos seus dois antecessores mais próximos no Trono de São Pedro. São
filhos espirituais que, com todo direito, esperam o pão da boa doutrina. E aqui
dele são privados. Como não se recordar com tristeza da passagem evangélica?
“E, se algum de vós pedir pão a seu pai, porventura dar-lhe-á ele uma pedra?
Ou, se lhe pedir um peixe, porventura, dar-lhe-á ele, em vez do peixe, uma
serpente? Ou se lhe pedir um ovo porventura dar-lhe-á um escorpião”? (Lc, 11;
11-12).
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