quinta-feira, 17 de março de 2016

Triunfo popular e aviso para todos

Triunfo popular e avisos para todos

Péricles Capanema

Na noite de domingo último o Brasil que presta respirou aliviado. Via caminho depois das avassaladoras manifestações de norte a sul. Desta vez, não foi como em 2013 e 2015, reivindicações de vários tipos, algumas confusas, parte delas até mesmo contraditória. As exigências surgiram bem compendiadas no protesto focado: Fora Dilma, fora PT. Em curto, os manifestantes, fartos da roubalheira, queriam o PT fora do governo. O ronco das multidões iradas ecoou longe, simbolicamente despejou a inquilina do Planalto. Renúncia, impeachment ou cassação do mandato pelo TSE são as saídas constitucionais. Fala-se também, ainda com pequena probabilidade de êxito, na instauração do semiparlamentarismo (ou semipresidencialismo), em que Dilma Rousseff se arrastaria, com poderes diminuídos, até 2018. De outro lado, o juiz Sérgio Moro saiu das manifestações como o grande herói anticorrupção. Simplificar no caso permitiu comunhão de sentimentos, viabilizou o impacto, deu ao Brasil a necessária sensação de luz no fundo do túnel.

Agora o day after, o complemento. Passado o momento da síntese acalorada, chegou a hora da análise fria, e assim salvar a esperança.

Um primeiro ponto. Sei, a partir de agora, posso a alguns parecer pesado, paciência; prefiro a impopularidade passageira à desmoralização perene. Nas manifestações do último domingo o Brasil esbravejou um basta aos corruptos. É a mais compreensível, louvável, comum e fácil das raivas na cena pública, facilmente caminho para desastres, se for apenas madeira para incendiários juízos precipitados. Em 1930, a grande denúncia foram os “carcomidos”, os políticos da República Velha. Em 1964, a corrupção e a subversão, mais a primeira que a segunda, foram as grandes denúncias. Ponho à luz aspecto quase nunca comentado: a partir de então, pouco de sério efetivamente se fez no campo ideológico e das mentalidades, o Brasil, na calmaria das superfícies, pela atuação multifacética das esquerdas por seguidos lustros foi preparado a fundo para o período da República Nova, inaugurada em 1985. O PT surfou nesta onda. Quem não se recorda, durante anos para larga faixa do público foi o partido da ética (O PT num róba, nem deixa robá). Neste aspecto, o 13 de março, golpe forte na esquerda, de fato foi mais antigoverno que antiesquerda. E seria mais tranquilizador a atenção de fundo também fixada na ameaça totalitária, no perigo do hegemonismo, na expansão do coletivismo. Tudo isso não vai parar, se a opinião do povo brasileiro não parar o PT.

Os protestos antipetistas do 13 último foram apenas começo promissor, ainda muito ameaçado. Virá reação implacável, muita gente obcecada se sente ameaçada em seus mais importantes planos. O PT tem na direção, posições decisivas, adeptos fanatizados de seita ideológica, cuja meta é, pelo projeto de poder, ir até seu objetivo, criar um tipo humano ateu, igualitário, libertário. Salvo casos raros, são inamovíveis nas convicções e propósitos. Esse grupo só se preocupa com a generalização da pobreza provocada pelas políticas petistas, na medida em que, no momento, prejudica seu caminho para o objetivo final. Lançará mão de todos os recursos para preservar as possibilidades de chegar logo que possível ao alvo. Dilma Roussef certa vez disse: “Nós podemos fazer o diabo quando é hora de eleição” E Aloízio Mercadante há pouco, na mesma direção, sentenciou: “Em política, tudo pode”. O mais recente golpe foi a posse de Lula no cargo de ministro-chefe da Casa Civil. As jararacas (não é só Lula, é muito mais) vão fazer o diabo, sem escrúpulos, para virar o jogo. Mesmo acordos com as forças oposicionistas e o desembarque de Dilma Rousseff.

A Paraná Pesquisas realizou levantamento sem critérios seletivos (só dois, maiores de 16 anos, 56% de homens, 44% de mulheres) entre o público que protestou na Paulista dia 13, perguntadas 1.200 pessoas das 12 às 18 horas. Voto para presidente: Aécio 29%; Bolsonaro, 16%, Marina 12%, Caiado 4%, Ciro Gomes 4%, Cristóvão Buarque 3%, Lula 2%, nenhum 21%. Avaliação da oposição 42% a julgam omissa, 38% a consideram branda/passiva.


O que sai do retrato momentâneo? Um dado pisca vermelho: 80% do público não se vê representado pela oposição. É terreno de si saudável, evidencia exigência muito maior de energia antiesquerdista; de outro lado, facilmente podem medrar aventureiros portadores de propostas desastrosas. Ainda se vê enorme dispersão de opiniões. Em resumo, a exasperação popular manda avisos para todo mundo. Entre outros, de grande importância: para a direita, falta cristalização e enraizamento de princípios; para a esquerda, o esquerdismo triunfante na imprensa em geral esconde conservadorismo latente. É perigoso cutucar a fera adormecida, sobretudo com crise econômica brava. Tem caminho? Sem dúvida, depende fundamentalmente não dos políticos, nem do Judiciário, nem da imprensa, mas do rumo da inconformidade popular.

Nenhum comentário: