Triunfo popular e
avisos para todos
Péricles Capanema
Na noite de domingo último o Brasil que presta respirou
aliviado. Via caminho depois das avassaladoras manifestações de norte a sul. Desta
vez, não foi como em 2013 e 2015, reivindicações de vários tipos, algumas confusas,
parte delas até mesmo contraditória. As exigências surgiram bem compendiadas no
protesto focado: Fora Dilma, fora PT.
Em curto, os manifestantes, fartos da roubalheira, queriam o PT fora do governo.
O ronco das multidões iradas ecoou longe, simbolicamente despejou a inquilina
do Planalto. Renúncia, impeachment ou cassação do mandato pelo TSE são as saídas
constitucionais. Fala-se também, ainda com pequena probabilidade de êxito, na
instauração do semiparlamentarismo (ou semipresidencialismo), em que Dilma
Rousseff se arrastaria, com poderes diminuídos, até 2018. De outro lado, o juiz
Sérgio Moro saiu das manifestações como o grande herói anticorrupção. Simplificar
no caso permitiu comunhão de sentimentos, viabilizou o impacto, deu ao Brasil a
necessária sensação de luz no fundo do túnel.
Agora o day
after, o complemento. Passado o momento da síntese acalorada, chegou a hora
da análise fria, e assim salvar a esperança.
Um primeiro ponto. Sei, a partir de agora, posso a
alguns parecer pesado, paciência; prefiro a impopularidade passageira à
desmoralização perene. Nas manifestações do último domingo o Brasil esbravejou
um basta aos corruptos. É a mais compreensível, louvável, comum e fácil das
raivas na cena pública, facilmente caminho para desastres, se for apenas madeira
para incendiários juízos precipitados. Em 1930, a grande denúncia foram os
“carcomidos”, os políticos da República Velha. Em 1964, a corrupção e a
subversão, mais a primeira que a segunda, foram as grandes denúncias. Ponho à
luz aspecto quase nunca comentado: a partir de então, pouco de sério efetivamente
se fez no campo ideológico e das mentalidades, o Brasil, na calmaria das
superfícies, pela atuação multifacética das esquerdas por seguidos lustros foi
preparado a fundo para o período da República Nova, inaugurada em 1985. O PT
surfou nesta onda. Quem não se recorda, durante anos para larga faixa do
público foi o partido da ética (O PT num róba, nem deixa robá). Neste aspecto,
o 13 de março, golpe forte na esquerda, de fato foi mais antigoverno que
antiesquerda. E seria mais tranquilizador a atenção de fundo também fixada na
ameaça totalitária, no perigo do hegemonismo, na expansão do coletivismo. Tudo
isso não vai parar, se a opinião do povo brasileiro não parar o PT.
Os protestos antipetistas do 13 último foram apenas começo
promissor, ainda muito ameaçado. Virá reação implacável, muita gente obcecada
se sente ameaçada em seus mais importantes planos. O PT tem na direção, posições
decisivas, adeptos fanatizados de seita ideológica, cuja meta é, pelo projeto
de poder, ir até seu objetivo, criar um tipo humano ateu, igualitário,
libertário. Salvo casos raros, são inamovíveis nas convicções e propósitos. Esse
grupo só se preocupa com a generalização da pobreza provocada pelas políticas
petistas, na medida em que, no momento, prejudica seu caminho para o objetivo
final. Lançará mão de todos os recursos para preservar as possibilidades de
chegar logo que possível ao alvo. Dilma Roussef certa vez disse: “Nós
podemos fazer o diabo quando é hora de eleição” E Aloízio Mercadante há pouco,
na mesma direção, sentenciou: “Em política, tudo pode”. O mais recente golpe
foi a posse de Lula no cargo de ministro-chefe da Casa Civil. As jararacas (não
é só Lula, é muito mais) vão fazer o diabo, sem escrúpulos, para virar o jogo.
Mesmo acordos com as forças oposicionistas e o desembarque de Dilma Rousseff.
A Paraná Pesquisas realizou levantamento sem critérios seletivos (só dois,
maiores de 16 anos, 56% de homens, 44% de mulheres) entre o público que protestou
na Paulista dia 13, perguntadas 1.200 pessoas das 12 às 18 horas. Voto para
presidente: Aécio 29%; Bolsonaro, 16%, Marina 12%, Caiado 4%, Ciro Gomes 4%,
Cristóvão Buarque 3%, Lula 2%, nenhum 21%. Avaliação da oposição 42% a julgam
omissa, 38% a consideram branda/passiva.
O que sai do retrato momentâneo? Um dado pisca vermelho: 80% do público
não se vê representado pela oposição. É terreno de si saudável, evidencia exigência
muito maior de energia antiesquerdista; de outro lado, facilmente podem medrar
aventureiros portadores de propostas desastrosas. Ainda se vê enorme dispersão
de opiniões. Em resumo, a exasperação popular manda avisos para todo mundo.
Entre outros, de grande importância: para a direita, falta cristalização e
enraizamento de princípios; para a esquerda, o esquerdismo triunfante na
imprensa em geral esconde conservadorismo latente. É perigoso cutucar a fera
adormecida, sobretudo com crise econômica brava. Tem caminho? Sem dúvida, depende
fundamentalmente não dos políticos, nem do Judiciário, nem da imprensa, mas do
rumo da inconformidade popular.
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