quinta-feira, 10 de março de 2016

Desinteresse mortal

Desinteresse mortal

Péricles Capanema

Dia 3 último, no Clube Homs, em evento promovido pelo IPCO, tive noite de gala, reconheço, um tanto funérea. Por que noite de gala? Pelo banquete intelectual a mim oferecido. Por que funérea? Pela mostra de situação gravíssima, de difícil reparação. E, se não reparada, significará o afundamento de grande nação, irmã nossa.

Vamos ao caso, assisti palestra de muita luz sobre a situação colombiana. E, a mais, proferida por Eugenio Trujillo, ótimo conferencista, domínio total do tema; pisava firme e rápido. O texto da palestra, o manifesto distribuído pelo expositor, da lavra da Sociedad Colombiana Tradición y Acción e do Centro Cultural Cruzada e uma carta aberta aos colombianos deveriam ser objeto da atenção séria de todos os brasileiros interessados em nosso futuro. A propósito, a conferência era para ser proferida pelo coronel Plaza Vega que, por injusta e implacável perseguição política, não pôde estar presente e mandou um vídeo. Eugenio Trujillo o substituiu.

O núcleo da exposição foi a situação futura da Colômbia, ameaçada por misterioso, universalmente publicitado, acordo de paz entre o governo e as FARC (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia), organização narco-guerrilheira. Mediante processo bafejado por grandes atores internacionais, entre os quais infelizmente o Vaticano e os Estados Unidos, a guerrilha marxista potencializada pelo comércio da cocaína está prestes a participar do poder na Colômbia, com enormes vantagens para sua expansão e domínio. A vítima? O povo colombiano. E quem estiver por perto, desinteressado da sorte do vizinho. A Colômbia tem mais de 1.600 quilômetros de fronteira com o Brasil, seus problemas, em especial drogas e guerrilha, nos afetam profundamente. Fingir que não existem, como o avestruz, não muda nada. É desinteresse mortal.

O mencionado manifesto de saída reclama transparência, direito básico dos colombianos, até aqui negado: “De fato, são tantas as omissões e contradições que emergem do segredo que rodeia esses acordos que é forçoso perguntar ao governo qual a verdade total do pactuado”. Os acordos são os acertados entre governo e FACR em Havana, sob o olhar velhaco e satisfeito do ditador Raúl Castro. A aludida carta aberta vai na mesma direção: “Exija ser escutado. Todos os colombianos queremos ser escutados”.

A explicação do manifesto, na mosca: “ Por que esconder ao País quais as concessões feitas às FARC? Pelo motivo simples que a imensa maioria dos colombianos rechaçaria tais acordos se os conhecesse”.

Em outras palavras, os acordos só vingarão, se seus termos ficarem bem escondidos, ou astutamente negados, da opinião pública do País. Há pouco o Congresso do País aprovou lei reveladora; se 13% do corpo eleitoral os chancelasse em plebiscito, estariam legitimados. O manifesto, em posição coerente, dá como inaceitável pergunta global e equívoca e exige uma pergunta sobre cada um dos seus aspectos importantes. A carta aberta vai na mesma direção, fala do perigo da pergunta capciosa e confusa no plebiscito.

Como o governo e as FARC pretendem sair da enrascada? Já se viu, enganando, ocultando os termos reais do acordo. E buscando apoios internacionais para forçar a aceitação popular. É claro, ninguém é contra a paz. O problema é o tipo de paz pactuada.

Abaixo, alguns dos pontos dos acordos cujo conhecimento exato está sendo negado ao povo. O Estado não poderá confiscar das FARC o dinheiro amealhado ao longo de décadas com o narcotráfico, sequestros, extorsões. Fala-se em bilhões de dólares; seriam jogados na luta política com efeitos devastadores. O governo afirma que os guerrilheiros entregarão as armas. Eles negam peremptoriamente. Garantem, ficarão em dejación (postas de lado); precisando as empunhariam outra vez. Sem eleições, terão assentos no Congresso. Não repararão as vítimas, milhares de sequestrados, menores roubados aos pais, muitos dos quais depois utilizados em combates e até mortos, mulheres presas, parte das quais estupradas e abusadas pelas hordas subversivas

O presidente Juan Manuel Santos contabiliza muito em seu favor suposto apoio do Papa Francisco às conversações. O manifesto com piedade varonil põe os pingos nos is: “Sobre isso é preciso dizer com veneração pelo Papa que não está entre suas faculdades pressionar ou ordenar ao povo católico que aceite em matéria temporal atos de governo ou acordos políticos que lesionem ou ponham em grave risco direitos fundamentais de grande parte da população”.


Eugenio Trujillo deixou evidente no fim de sua exposição o estado de abandono em que está o povo colombiano, empurrado para a boca do leão, com assistentes aplaudindo ou, desinteressados, pensando em outras coisas. Mas, homem de fé, deixou clara a confiança na Providência. Ela não abandonaria a Colômbia. Lembrei-me então de passagem evangélica: “E vendo aquelas multidões compadeceu-se delas, porque estavam fatigadas e como ovelhas sem pastor”.

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