Tinindo nos cascos
Péricles Capanema
Quinta-feira
passada, 17 de novembro, o Supremo definiu o rito do impeachment, decisão acolhida
com satisfação pelo Palácio do Planalto. Destacou-se ali a dissidência lúcida dos
ministros Gilmar Mendes, José Antônio Dias Toffoli e Luiz Edson Fachin. Dia
seguinte, Gilmar Mendes fez gravíssimas considerações à Jovem Pan: “Lembra que
eu tinha falado de cooptação da Corte? Imagine, diante desse quadro de grave
crise de corrupção, nós vamos ficar fazendo artificialismos jurídicos para
tentar salvar, colocar um balão de oxigênio em alguém que já teve morte
cerebral. É claro, há todo um processo de bolivarização da Corte. Como se opera
em outros ramos do Estado. Ontem, nós demos mostras disso”.
Dois pontos
tocados pelo ministro: o Supremo está sendo cooptado; o outro, padece processo
de bolivarização. Cooptar é tornar alguém cúmplice de ação comum; no caso do
governo. Bolivarizar uma instituição é fazê-la agir como agem as instituições
na Venezuela, na prática funcionários submissos do partido no poder. No caso,
seria julgar como quer o PT e o governo.
Passo agora a
outras declarações, também de ministro do Supremo, de momento na presidência.
Em 2007, Ricardo Lewandowski, no auge do mensalão, falou por telefone com o
irmão Marcelo; Vera Magalhães, repórter da Folha, ao lado dele, ouviu partes do
diálogo. E publicou. A respeito da condenação dos petistas graúdos, Lewandowski
afirmou: “A imprensa acuou o Supremo. Todo mundo
votou com a faca no pescoço. A tendência era amaciar para o Dirceu”. Mesmo ele,
o mais macio com os graúdos do PT, teria sido mais brando não fosse a posição
dos meios de divulgação: “Não tenha dúvida. Eu estava tinindo nos cascos”. Ia
dar coices ainda mais favorecedores ao PT, claro. Ellen Gracie, na ocasião
presidente do Supremo, ecoou em nota o mal-estar dos demais ministros: “O
Supremo Tribunal Federal vem reafirmar o que testemunham sua longa história e a
opinião pública nacional, que são a dignidade da Corte, a honorabilidade de
seus ministros e a absoluta independência dos seus julgamentos”.
Em reta, o
temor de Gilmar Mendes é termos, como na Venezuela, ministros do Supremo,
tinindo nos cascos, dispostos a escoicear fatos, pessoas e leis para favorecer
um partido no caminho da conquista totalitária do poder.
Já sofremos a
bandalheira dos treze anos do petismo no poder. Na bolivarização. além de
aumentar a corrupção, crimes piores se tornam comuns. Os Estados Unidos
detiveram no Haiti um afilhado de Nicolás Maduro, Efraim, criado por sua esposa
Cilia Flores e a Francisco Flores, sobrinho dela, quando transportavam quase
uma tonelada de cocaína para os Estados Unidos. Efraim vivia com o casal
Maduro. Os dois detidos disseram agir a mando de Diosdado Cabello (presidente
da Assembleia Nacional) e de Tareck el Aissami, governador de Aragua. Na mesma
direção, em maio último havia sido detida no aeroporto Mirian Morandy, juíza do
Tribunal Supremo de Justicia (o Supremo de lá), quando tentava viajar com
Richard José Cammarano James, traficante conhecido. A juíza foi libertada por
ordem do governo. É o mundo da bolivarismo, com tentáculos América do Sul afora.
Tem mais. Toffoli,
presidente do TSE, advertiu dias atrás: “Entre as nossas maiores preocupações,
está a de que campanhas venham a ser financiadas por dinheiro oriundo de
narcotráfico. Não há mais pessoas jurídicas doando para campanhas, mas nós
sabemos que o mundo real busca suas alternativas". O temor é que, sem
empresas doando oficialmente, aumente o caixa 2; e aí jorre o dinheiro do
narcotráfico, pois as campanhas eleitorais continuam caras como antes. Nessa
marcha, é o futuro nacional que assoma. E nele, o Brasil que não presta,
tinindo nos cascos, vai escoicear o Brasil que presta, como a oposição hoje é
agredida na Venezuela.
Tudo isso afirmo
só com base na autoridade de Gilmar Mendes e Dias Toffoli? Valem muito, mas há
outra, maior: a realidade. Os fatos nos apedrejam.
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