quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Nos Estados Unidos, rumo na preocupação; o Brasil perdeu o norte

Nos Estados Unidos, rumo na preocupação; o Brasil perdeu o norte

Péricles Capanema

Vejam a diferença. 16% dos norte-americanos consideram o terrorismo seu mais importante problema. A porcentagem sobe para 24% entre os republicanos, desce para 9% entre os democratas e fica em 15% nos independentes. É a mais alta porcentagem em uma década. Desde 2007, estava em menos de 10%, por vezes menos de 1%. 59% dos norte-americanos consideram provável um ataque terrorrista contra os Estados Unidos nos próximos meses. 41% acham que as ameaças terroristas contra os Estados Unidos aumentaram desde 11 de setembro de 2001. Em comparação com cinco anos atrás, 39% se sentem menos seguros. A confiança do povo no governo para protegê-lo do terrorismo é a menor desde que o Gallup começou a fazer a pesquisa. Com tal fundo de quadro, mesmo que desparafusadas, tornam-se pelo menos eleitoralmente compreensíveis declarações recentes do pré-candidato Donald Trump contrárias à entrada de muçulmanos nos Estados Unidos.

Os índices refletem em parte o impacto dos recentes atentados jihadistas em Paris e San Bernardino. Mas a imagem geral é de um povo que se sente agredido, olha com desconfiança o mundo, deseja rápidas e eficazes medidas de proteção. Em reta, um povo com rumo que na caminhada vislumbra preocupado um obstáculo perigoso; não se abate, quer vencê-lo, avança contra ele.

Virando a página; no Brasil, segundo o Datafolha, para 34% a corrupção é o principal problema. Na sequência, saúde (16%), desemprego (10%), educação (8%), violência (8%), economia (5%). A sensação dominante é outra. O brasileiro se sente estonteado pelo cenário macabro da vida pública, escuta a respeito propostas inviáveis e não percebe saída factível. As outras preocupações também são imediatas: saúde, desemprego, violência, educação. Os problemas, como cachorros bravos, o assaltam. A questão urgente é escorraçar a matilha, o resto fica para depois. Mas aí se avulta barreira na aparência intransponível: não sabe como. Sem norte, patina, receia sangrar com as mordidas. No curto, cenário de filem de terror: o brasileiro saiu da estrada, entrou num lamaçal, tem cachorros mordendo o calcanhar, não sabe como voltar para ela.


Na cena macabra, em galhos bem protegidos, tem gente orientando os perdidos na lama a continuar andando pântano adentro. Um exemplo triste, Kátia Abreu, ex-presidente da CNA e ex-líder da bancada ruralista no Congresso. Faz hoje o que pode pela permanência de uma estrutura de poder inspirada por ideólogos coletivistas, inimigos do homem do campo livre e produtivo. Outros, com conduta parecida: Armando Monteiro, Afif Domingos, Cláudio Lembo. O histórico de vida os qualificava a uma presença construtiva e nobilitante entre nós. Escolheram voltar as costas para o passado. Suas ações pretéritas hoje servem de lastro para função política degradante: companheiros de viagem. Sem inocentes úteis e companheiros de viagem não haveria caminhada para o estrangulamento do Brasil desejado pela imensa maioria de seus filhos. A primeira providência no lamaçal: cabeça fria, procurar com olho vivo o caminho de volta para a estrada. E não escutar quem está gritando das árvores, bem protegidos, que o rumo é pântano adentro.

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