Nos
Estados Unidos, rumo na preocupação; o Brasil perdeu o norte
Péricles Capanema
Vejam a diferença. 16% dos norte-americanos
consideram o terrorismo seu mais importante problema. A porcentagem sobe para 24% entre os republicanos, desce para 9% entre
os democratas e fica em 15% nos independentes. É a mais alta porcentagem em uma
década. Desde 2007, estava em menos de 10%, por vezes menos de 1%. 59% dos norte-americanos consideram provável
um ataque terrorrista contra os Estados Unidos nos próximos meses. 41% acham
que as ameaças terroristas contra os Estados Unidos aumentaram desde 11 de
setembro de 2001. Em comparação com cinco anos atrás, 39% se sentem menos
seguros. A confiança do povo no governo para protegê-lo do terrorismo é a menor
desde que o Gallup começou a fazer a pesquisa. Com tal fundo de quadro, mesmo
que desparafusadas, tornam-se pelo menos eleitoralmente compreensíveis
declarações recentes do pré-candidato Donald Trump contrárias à entrada de
muçulmanos nos Estados Unidos.
Os índices refletem em parte o impacto dos recentes
atentados jihadistas em Paris e San Bernardino. Mas a imagem geral é de um povo
que se sente agredido, olha com desconfiança o mundo, deseja rápidas e eficazes
medidas de proteção. Em reta, um povo com rumo que na caminhada vislumbra preocupado
um obstáculo perigoso; não se abate, quer vencê-lo, avança contra ele.
Virando a página; no Brasil, segundo o
Datafolha, para 34% a corrupção é o principal problema. Na sequência, saúde
(16%), desemprego (10%), educação (8%), violência (8%), economia (5%). A
sensação dominante é outra. O brasileiro se sente estonteado pelo cenário
macabro da vida pública, escuta a respeito propostas inviáveis e não percebe
saída factível. As outras preocupações também são imediatas: saúde, desemprego,
violência, educação. Os problemas, como cachorros bravos, o assaltam. A questão
urgente é escorraçar a matilha, o resto fica para depois. Mas aí se avulta
barreira na aparência intransponível: não sabe como. Sem norte, patina, receia sangrar
com as mordidas. No curto, cenário de filem de terror: o brasileiro saiu da
estrada, entrou num lamaçal, tem cachorros mordendo o calcanhar, não sabe como
voltar para ela.
Na cena macabra, em galhos bem protegidos, tem
gente orientando os perdidos na lama a continuar andando pântano adentro. Um
exemplo triste, Kátia Abreu, ex-presidente da CNA e ex-líder da bancada
ruralista no Congresso. Faz hoje o que pode pela permanência de uma estrutura
de poder inspirada por ideólogos coletivistas, inimigos do homem do campo livre
e produtivo. Outros, com conduta parecida: Armando Monteiro, Afif Domingos, Cláudio
Lembo. O histórico de vida os qualificava a uma presença construtiva e
nobilitante entre nós. Escolheram voltar as costas para o passado. Suas ações pretéritas
hoje servem de lastro para função política degradante: companheiros de viagem.
Sem inocentes úteis e companheiros de viagem não haveria caminhada para o
estrangulamento do Brasil desejado pela imensa maioria de seus filhos. A
primeira providência no lamaçal: cabeça fria, procurar com olho vivo o caminho
de volta para a estrada. E não escutar quem está gritando das árvores, bem
protegidos, que o rumo é pântano adentro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário