A revolução cultural
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Péricles Capanema
Revolução cultural, expressão muito
na moda entre gente no vento, tem raiz na Revolução Cultural chinesa da década
de 60. Foi aplicada na China de 1966 a 1968, de algum modo até a morte de Mao
Tsé-tung, 1976. A expressão chinesa significa revolução de civilização, de
outro jeito, concepções e métodos que criariam nova civilização sobre os
escombros da antiga. Tinha como característica a manutenção do fervor
revolucionário (se preferirmos, da excitação) mediante estado incessante de
luta e superação, visto como condição necessária para o triunfo da revolução
comunista na alma e na sociedade. Prometia acabar com o passado e as tradições
ainda existentes na China e, congruente, liquidar “as sumidades acadêmicas
reacionárias da burguesia e todos os burgueses ‘monarquistas’”. Ponto
importante da revolução cultural foi o realce na criação do homem comunista. E ia
por aí afora.
A Revolução Cultural jogou o país
no caos, deixou rastro de atraso e desorganização, matou mais de um milhão de
pessoas e acabou sufocada no sangue pelo próprio governo. Morreu de vez? Coisa
nenhuma. Continuou como ideário utópico inspirador. Martelo, não foi apenas
revolução na cultura, priorizava a mudança de hábitos, costumes e convicções, visava
criar sociedade nova.
A revolução cultural aclimatou-se
na terminologia de nossos dias e, fiel a sua origem, passou a designar sobretudo
a investida contra tendências e costumes conservadores, no resumido, uma forma
de ataque à sociedade tradicional. É uma revolução com tônica nas tendências,
nos costumes, na maneira de ver a vida, nas mentalidades e, certo sentido, também
nas convicções que as embasam. A revolução política estaria fora da revolução
cultural.
A revolução cultural, como
entendida hoje, é consequência lógica das teses gramscianas. Antônio Gramsci não
tratou da revolução nas tendências, falou mais sobre convicções que sobre
costumes. Sem dúvida, entretanto, foi pensador batuta da importância dos
fenômenos revolucionários na sociedade civil, cuja conquista ele priorizava em
relação ao domínio do Estado pelo comunismo. Parte do que foi produzido pelos mais
celebrados membros da Escola de Frankfurt pode também ser considerado base
teórica da revolução cultural.
Os fenômenos da revolução
cultural não são novidades, sempre foram da maior importância. Com ou sem
teoria clareadora, encharcam a vida toda e tomam toda a vida, da infância à velhice.
Fluem das características e debilidades da natureza humana vulnerada pelo
pecado. O novo é o enorme embasamento teórico que veio emergindo nas últimas
décadas.
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