segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A charada Vladimir Putin


A charada Vladimir Putin

Péricles Capanema

Vladimir Putin é o grande enigma entre os dirigentes políticos importantes do mundo. Advogado, antigo coronel da KGB, sucessor de Boris Yeltsin em 1999, manda na Rússia há pelo menos 13 anos e podemos ter por um tempão ainda o misterioso Putin no leme.

Qual o mistério do homem que foi agente secreto durante muitos anos? Ele tem um lado nada secreto, de um óbvio ululante. Para o russo comum, Vladimir Putin é vacina eficaz contra a insegurança, a instabilidade e o medo do desconhecido, caução de ordem que funciona. Depois de décadas de experiência socialista que triturou o país e dos anos caóticos de Yeltsin, Putin chegou para acabar com a bagunça. Quem tem medo da volta do caos ou da ditadura, agarra-se a ele, favorecido pela sua aura de autocrata sensato, uma versão de déspota esclarecido do século 21. É, pois, congruente e esperável, que Putin tome medidas de proteção da ordem pública, impedindo a ação de fatores desagregadores. Napoleão, Mussolini, Franco, em certo sentido de Gaulle, e até Stalin, tantos outros, centenas, em medida maior ou menor, jogaram esse papel no imaginário popular.

Vistos como fatores de estabilidade, são líderes políticos em geral com apoio forte onde maior é a insegurança e o medo do futuro: mulheres, idosos, pobres, jovens. São menos populares nas faixas em que é menor a sensação de insegurança e instabilidade: pessoas maduras, com boa educação e patrimônio. A autonomia pessoal as distancia muitas vezes desse tipo de salvador da pátria, facilita a distância crítica.

Via geral tal tipo de líder apela para o nacionalismo exacerbado, a pátria miticamente idealizada, geratriz, protetora e promotora da realização pessoal. Dentro de tal figurino, Putin lamenta continuamente a derrocada do império soviético, não mais considerado realização do internacionalismo proletário, mas construção geopolítica grã-russa. Nesse sentido, é visto na Rússia por muitos como continuador da ambição  multissecular dos czares, um possível restaurador da grandeza do passado grão-russo e de seus ideais de expansão. Nacionalista, ele ajuda partidos nacionalistas no entorno da Rússia, e dificulta a expansão da União Europeia, utopia supranacional, libertária e de capa democrática (assim como Putin) mas, no curto e no médio prazo, de signo contrário ao utopismo grão-russo.

Em choque, duas utopias de raiz totalitária, a Rússia de Putin e a Europa de Bruxelas. De uma banda, os povos europeus veem necessidade de se unir para fazer frente ao expansionismo do gigante que está em sua fronteira oriental e já mostrou repetidas vezes que tem sonhos imperialistas. De outra, os habitantes da Rússia julgam sensato enrijecer as defesas de seu país e formar alianças para se opor ao expansionismo da Europa unida, apoiada por trás pelos Estados Unidos. A respeito, recordam amargurados que no passado existiram trágicas agressões de coligações invasoras, uma comandada por Napoleão, outra por Hitler. Aqui a explicação do fenômeno Putin não está inteira, mas quem quiser clarear o sucesso espantoso do homem sem isso, falseia o quadro.

O passado europeu assombra o presente russo e dele se vale o enigmático Putin. E vai se aproveitar, seu futuro político depende de ele se apresentar exitosamente a seus eleitores como um misto de Napoleão, Stalin e Alexandre III.

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