Tesouros em vasos de barro
Péricles Capanema
Legado frágil e sitiado. Valores ocidentais, expressão que está em todo lugar ▬ com
razão, pois é estuante de sentido e carregada de importância. De modo análogo, Ocidente,
de cuja vitalidade depende de momento (já há várias décadas) a preservação das mais
fundamentais liberdades e a civilização. Presenciamos apocalíptica batalha por
mentes e corações, cujo desenlace não está à vista. Derrotado o mundo
ocidental, retrocederemos para a barbárie. Barbárie coletivista.
Proteção de baluartes. Esclarecimentos são como descargas contra ataques aos
baluartes do Ocidente, agem ainda como lampejos de advertência para disparos
iminentes. Fazem falta, quanto mais dilatados e numerosos sobre o assunto,
melhor. Espero hoje ajudar, mesmo que modestamente. Dando início ao percurso, rememoro
paisagens do passado; serão perspectivas com recuo histórico, que ainda agora
influenciam fatos hodiernos. No caso, olhos observando cada vez mais longe, para
o espírito poder estar passo a passo mais perto da solução. Relembro, para alguns
talvez faça descobrir, origens do que chamamos Ocidente ▬ geográficas, culturais,
morais, políticas. Para muitos, espero, se bem feito o distanciamento, iluminará
igualmente realidades históricas, igualmente clareará conceitos, utilizados tantas
vezes de forma confusa. E, para outros, terá pelo menos oferecido material para
reflexões úteis.
Voo do açor. Trabalho
assim supõe, à vera, voo à maneira do açor, alto e vasto, antes de ir à prática
(no caso do pássaro, baixar fulminante sobre o alimento; no nosso, ir ao encontro
da solução, isto é, luzes sobre questões contemporâneas). Serão, pois, análises
a vol d’oiseau ▬ panoramas alargados e sintéticos. Cenários extensos revitalizam
assuntos; no particular, herança tão guerreada e fragilizada, sobre a qual pretendo
agora apontar farol: o Ocidente.
Criação e manutenção de dilatado espaço de convivência
civilizada. Começo. Em suas mais elevadas esperanças, pretendeu
o Império Romano (antes, mesmo rumo, a República romana) criar na Antiguidade um
espaço de convivência civilizada em que o homem pudesse buscar sua perfeição natural
▬ mais exatamente, certo modelo de perfeição humana. Crescer, enfim. Tal anelo,
pulsando na mentalidade do cidadão romano, bafejado pelo gênio latino, orientava
o Império. Deu frutos de realismo, bom senso e equilíbrio. Impulsionou a expansão
imperial; mais fundamentalmente, sob vários ângulos, alargou na Antiguidade as
áreas de convívio ordenado. Atraído por esse padrão humano, a saber, a perfeição
clássica, a “sanior pars” do Império buscava em primeiro lugar a harmonia na vida.
Harmonia no desenvolvimento e uso das potencialidades humanas, bem entendido. Entranhada
na personalidade, refletia-se a seguir em todas as esferas do agir; dominou, com
o tempo, enormes vastidões geográficas. Sem subestimar o que havia de ambição imperialista
nos romanos antigos, enfatizo aqui ponto a favor do que afirmo. Roma assenhoreou-se
das cidades gregas, contudo não as esmagou, assimilou-as, tornaram-se bússolas na
vida espiritual do Império; luz que até se afinou e ficou mais forte durante o domínio
romano. Enfim, o ideal clássico aprimorou-se com a contribuição helena. A Grécia,
derrotada, venceu na arena cultural Roma, vitoriosa. “Graecia capta ferum
victorem cepit et artes intulit agresti Latio”, a Grécia subjugada subjugou
o vencedor, constatou Horácio. Nos gregos, os romanos admiravam a língua, a arte,
a literatura, a filosofia e tanta coisa mais, do que resultou benéfica aculturação
▬ a cultura greco-romana, mescla que foi fundamental para ganhos civilizadores.
Neste caminho, sintoma expressivo do impulso dominante foi o edito do imperador
Caracala em 212, marco de humanização e de paulatina inclusão social. Latejava,
no fundo, a aspiração incipiente de, progressivamente, ir estendendo tal estado
de normalidade cívica na Terra inteira. Eram sementes da noção de bem comum
universal. Enfim, da vitalidade da referida área dependeu por séculos o futuro humano.
Romanidade sitiada, purificada e triunfante. E quando houve o rompimento das fronteiras pelos bárbaros,
foi temor disseminado de que a civilização soçobraria. Em realidade, porém, aquele
mundo, a romanidade sitiada, não acabou; permaneceu vivo, transformou-se ▬ no
âmbito dos modelos ideais ▬ em legenda mobilizadora de energias civilizatórias.
Apesar dos embates e desastres e, no meio de enormes padecimentos, houve continuidade
nas aspirações de perfeição humana e social; mais ainda, a referida ambição se apurou.
Fermento novo a levedava e aprimorava. Dali surgiu a Cristandade, de alguma
maneira, a romanidade cristã, realidade multifacética que merece redescoberta e
reencontro. Aqui está o solo em que buscam nutrimento os valores ocidentais, pendor
de manutenção entre nós das liberdades naturais; em sua concepção lídima, os reais
direitos humanos, expressão de regra mal utilizada.
Avanço decisivo, a Cristandade ▬ romanidade
cristã. Veio Nosso Senhor Jesus Cristo e a partir do
sacrifício do Gólgota o Cristianismo se espalhou; em seus primórdios sobretudo dentro
dos limites do Império. Os bárbaros adeririam à Igreja numa segunda etapa ▬ gigantesco
movimento de inclusão evangelizadora e civilizatória. Os cristãos da
Antiguidade sonhavam com um Império Romano cristianizado que em boa parte lapidasse
o que de mais excelente já oferecia aquela civilização; para eles, por falta de
outros modelos, insuperável a vários títulos. Os aperfeiçoamentos da ideia de Cristandade,
precedido pela noção de Christianitas viriam ao longo de séculos, tendo
sempre, contudo, por inspiração primeira o Império Romano ▬ legenda mobilizadora.
Cristandade em resumidas contas é permanência, amadurecimento e aprimoramento, bafejados
pela graça, do que havia de melhor nas aspirações do Império Romano. Como conceitos,
são naturalmente conexos. O Império Romano promoveu a convivência dos povos civilizados.
Fora, existiam os povos bárbaros.
Continuidade, amadurecimento, aprimoramento. A Cristandade, de igual modo, supunha convívio; era a vida
em comum de nações cristãs, compartilhando a Fé e, em especial, noção
abarcadora de bem comum ▬ maturava nos espíritos e se apurava o conceito de bem
comum universal. A coroação em 25 de dezembro de 800 em Roma de Carlos Magno (então
rei dos francos e dos lombardos) como imperador romano pelo papa Leão III foi significativa
expressão desse anelo das populações cristãs. Ali nascia o Sacro Império Romano.
Era o mesmo ideal romano, agora sacralizado pela Revelação cristã. A coroação de
Oto I em 962 renovou dito almejo. O mundo não vivia então uma idade do meio, um
“medium aevum”, cuja retomada viria lá pelo século XV. A mencionada opinião, apressada
e superficial, facilmente confunde, desinforma e dificulta esclarecimentos. "Grosso modo", era de fato a continuidade que na Europa
animava os povos e, com colossais dificuldades, melhorava-os socialmente.
Formavam-se e se apuravam hábitos de cultura e civilização, que embora hoje
minguados e até de quando em quando desnaturados, em parte palpitam no conceito
de Ocidente. Conceito delicado, seu núcleo mostra o principal, área de
civilização. Tem, a mais, nota geográfica, é a Europa, em especial a parte
ocidental, e as regiões que dela nasceram, Américas e Oceania. Mas inclui, por
exemplo, o Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Filipinas, Cingapura.
Ampliação de liberdades naturais no clima do Sacro
Império Romano Alemão. Nos povos com raízes germânicas mais vivas,
digamos assim, de forma mais intensa se efetivou o anseio de Cristandade e não apenas
quanto à durabilidade ▬ existiu, linhas gerais, o Sacro Império Romano Alemão, de
800 a 1806. Em alemão o título tem significado identificador (Heiliges Römisches
Reich deutscher Nation ▬ Sacro Império Romano da nação alemã). Ali vicejou mentalidade
de estímulo harmônico às desigualdades latentes na vida social, que fortaleceu
personalidades, famílias, grêmios, regiões. Lembrei há pouco a ampliação das
liberdades naturais; poderia igualmente sustentar, tal feitio de espírito promoveu
emancipação progressiva, alargamento de autonomias. Mais oxigênio para os
pulmões da sociedade, menos sufocação em suas aspirações de se afirmar e
expandir. Tudo isso, ressalto rapidamente, sustentado em medida importante pelo
enraizamento profundo no ethos popular do valor da common law. Mesmo as
Ilhas Britânicas, politicamente fora dos laços do Sacro Império, viviam em
proporção alta de tal oxigênio. São áreas de civilização, criam vincos e
vínculos domésticos, inclinações, sentimentos, crenças, atitudes, formas de
convívio e de considerar a existência. O que, no caso, convém ressaltar, fez
crescer, em particular, a liberdade para empreender e de se afirmar como
personalidade autônoma. Dessa forma, no referido convívio cada uma delas buscava
o aperfeiçoamento no seu espaço (e aqui o vicejar de famílias, universidades, corporações,
regiões, empresas; o crescimento pessoal, de maneira sucinta).
Florescimento das autonomias. Em resumo, por vezes apenas como germinação promissora,
progrediam as mais diversas autonomias na vida civil, condição necessária para o
crescimento pessoal. Medrou ameaça generalizada a tal rumo no mundo novo que surgiu
na alvorada da Idade Moderna. Obedecendo a aspirações opostas, foi se
agigantando nos espíritos o magnetismo do Estado-nação, com centralização crescente
(combustível do coletivismo), que comprimia as sociedades inferiores.
Loss von Rom. Fórmula conhecida e de eflúvios mefíticos, que grassou generalizada
e com aplicação a várias esferas, realça com triste felicidade uma das
principais decorrências da nova orientação dominante: Loss von Rom ▬ ruptura
com Roma. Corte trágico, que não deveria existir, por tudo o que Roma
simboliza tanto na ordem espiritual quanto na esfera temporal.
Impulso de fechamento. A obsessão centralizadora, na raiz do Estado-nação como
se formou, tem raiz no egoísmo, que nada mais é que a degeneração por excesso (inchamento)
do autêntico e benéfico amor a si, à família, às regiões e, finalmente, à nação
e ao Estado. Gerou mentalidade, tornou-se dominante, tintura mãe de
nacionalismos exacerbados e de isolacionismos demolidores.
Plenitude versus grandezas desnaturadas. O mundo que ia se apagando aspirava em especial à
plenitude, o mundo que nascia procurava a grandeza. Grandeza desnaturada, ersatz
trágico. Aqui se deve ter em conta a afirmação central do ensaio “Revolução e
Contrarrevolução, do professor Plinio Corrêa de Oliveira, o orgulho e
sensualidade estão na origem e são paixões centrais do fenômeno revolucionário.
Para ser breve, o olhar fechou-se sobre si mesmo. Cada um dos Estados buscava sua
própria grandeza considerando os Estados vizinhos, concorrentes, adversários, até
mesmo inimigos; daí a impossibilidade prática da existência da Cristandade e,
em decorrência, ficaram postas as condições que tornaram, na procura da paz, inafastável
a política do equilíbrio europeu, construída sobre terreno mole.
Crescente ameaça do retrocesso coletivista. Com passo pesado, mundo afora marchou
a centralização, sufocando autonomias. Longe estavam os dias em que se
estimulavam aprimoramentos nas diversas situações, na sociedade e no Estado,
procurando, sem embargo, ao mesmo tempo, uma unidade que os coordenasse e
protegesse, possibilitando desse modo progressos na produção e nas relações
humanas. E destarte, em regressão obscurantista, que atravessou séculos, grassou
virulento o coletivismo, em algumas ocasiões larvado, sem ousar confessar o
nome.
Negação da prevalência de direitos
anteriores e mais naturais que os relativos ao Estado. Negou-se, pelo menos na prática, que o
objetivo precípuo da vida social é o aperfeiçoamento da pessoa; e aí deve ser
especialmente protegida a família, primeiro, mais potente e mais natural caldo de
cultura para o crescimento pessoal. Do que decorre, todas as outras sociedades funcionam
de maneira subsidiária em relação à pessoa e família. Mesmo o Estado. Negar sobredita
realidade, fincada na natureza, acarreta, usualmente, criação de mitos
destruidores e queda rápida no precipício coletivista. É congruente, sucedeu ao
mesmo tempo a sobrevalorização postiça (inchada, oposta a uma maturação natural
e benéfica) dos ideais legítimos de soberania, povo, raça, nação, Estado. E até de dirigentes políticos. A fórmula de Giovanni Gentile, macabramente feliz em negar o
papel suplementar do Estado em relação à família e à pessoa, aponta rumo demolidor,
tantas vezes tomado ao longo da História: “Tudo no Estado, nada
fora do Estado, nada absolutamente contra o Estado.”
Pedra fundamental da Cristandade: o princípio
de subsidiariedade. Aqui
está embate decisivo de centenas de anos: autonomias naturais versus coletivismo.
Seu desenlace foi crucial para a vitalidade social ao longo dos séculos, é
capital hoje. Práticas enraizadas do passado marcam o rumo de fatos atuais, o
presente, cabe a nós, conscientes de seu valor, trabalhar para que moldem o
futuro. A Cristandade se firmou fortalecendo comportamentos de
autossuficiência, que geraram hábitos culturais; de outro modo, estaqueados sobre
o princípio de subsidiariedade ▬ alguns preferem complementaridade ou ainda
suplementaridade. Desconhecê-lo traz estagnação, paralisia, atrofia. Respeitá-lo,
mesmo em nossos dias, significa manter condição essencial para o rumo
ascensional ou voltar a crescer. Deixo aqui de lado o comunismo e o socialismo;
com petulância insolente estadeiam coletivismo, o oposto à subsidiariedade,
livre iniciativa e propriedade privada. Mas mesmo os nacionalismos que nos últimos
séculos surgiram, arregimentando em graus diferentes setores simpáticos a
aspectos da ordem temporal cristã, comumente, voltam as costas para o princípio
de subsidiariedade, propugnando soluções estatizantes, caminho para o
coletivismo integral. Propugnam, quando menos, em formulações simplistas e
desfocadas um Estado intumescido, caminho para decadência e desastres. Convém relembrá-lo
aqui, ele foi do modo a seguir exposto e sustentado por Pio XI na “Quadragesimo
Anno”: “Verdade é, e a História o demonstra abundantemente, que, devido à mudança
de condições, só as grandes sociedades podem hoje levar a efeito o que antes podiam
até mesmo as pequenas; permanece contudo imutável aquele solene princípio da filosofia
social: assim como é injusto subtrair aos indivíduos o que eles podem efetuar com
a própria iniciativa e indústria, para o confiar à coletividade, do mesmo modo passar
para uma sociedade maior e mais elevada o que sociedades menores e inferiores podiam
conseguir, é injustiça, grave dano e perturbação da boa ordem social. O fim natural
da sociedade e da sua ação é coadjuvar os seus membros, não os destruir, nem os
absorver. Deixe, pois, a autoridade pública ao cuidado de associações inferiores
aqueles negócios de menor importância, que a absorveriam demasiado; poderá então
desempenhar mais livre, enérgica e eficazmente o que só a ela compete, porque só
ela o pode fazer: dirigir, vigiar, urgir e reprimir, conforme os casos e a necessidade
requeiram. Persuadam-se todos os que governam: quanto mais perfeita ordem hierárquica
reinar entre as várias agremiações, segundo este princípio da função ‘supletiva’
dos poderes públicos, tanto maior influência e autoridade terão estes, tanto mais
feliz e lisonjeiro será o estado da nação”.
A trava de autogoverno dos povos
germânicos. Em linhas
gerais, nos povos germânicos houve menos recusa do princípio de subsidiariedade,
o que ali criou hábitos culturais mais arraigados e duradouros geradores de
autossuficiência e de progresso sustentável. E a prosperidade só é sustentável,
no longo prazo, se estaqueada no princípio de subsidiariedade. Amplio o escopo,
nos povos anglo-saxões. O impulso centralizador (no miolo, coletivista) aqui
sofreu uma trava, bloqueio saudável cuja ação revigorante preservou a força da sociedade
civil. E sua importância até a presente data contribui para fortalecer os traços
ocidentais em nossas sociedades.
As treze colônias tinham teor de vida
e de governo autônomos de origem europeia. A notável vivacidade da vida temporal (não estatal) no
mundo germânico, fenômeno que se repetiu de certo modo no ambiente anglo-saxão,
pela migração das populações, ao mundo das treze colônias, levando consigo seus
costumes e instituições, ali moldou profundamente a vida. Repercute extensa e
intensamente até em nossos dias. Ainda hoje, talvez não exista país no mundo
com maior conaturalidade com o princípio de subsidiariedade que os Estados
Unidos. E daí, de forma congruente, com as autonomias nos mais variados
âmbitos. Em duas palavras convém realçar a importância ímpar dos Estados Unidos
neste estudo, pois a permanência dos valores ocidentais no mundo contemporâneo
depende em proporção dificilmente exagerada da vitalidade norte-americana.
“Saiba a mesma terra que ainda está em
estado de reverdecer e dar muito fruto.” Povo
refratário aos miasmas do coletivismo. A mitologia estatista, entorpecente
de ação rápida e prolongada, nunca atraiu os Estados Unidos. E em boa proporção
esse antídoto tem origem nos costumes e instituições das populações de sangue
inglês e alemão que migraram para o Novo Mundo e ali mantiveram seus modos de
ser ancestrais. A influência enciclopedista das doutrinas dos “founding
fathers” foi posterior, aclimatou-se largamente ao solo já existente e
produtivo que, ainda hoje, é origem de boa parte da vivacidade social. Convicções e hábitos palpitam na alma
de centenas de milhões. Tem ativo potencial de restauração
social. “Saiba a mesma terra que ainda está em estado de reverdecer e dar muito
fruto”, lembrou a outro propósito o padre Antônio Vieira. E aqui suas palavras esperançosas
nos trazem à mente os obstáculos amazônicos que os inimigos das nações ocidentais
têm para esfacelar a influência delas nas décadas à frente. Muita coisa ficou.
Forma cabedal precioso, repositório de riquezas da personalidade, penhor de
futuro promissor. Situação que se manifesta, com maior ou menor vigor, no mundo
inteiro.
Liberdade e democracia. A aspiração de defesa da liberdade e
da democracia como missão universal, pulsando na alma de incontáveis
norte-americanos, sem dúvida tingida historicamente pelas doutrinas triunfantes
no movimento da independência, contudo, reitero, está enraizada em solo túmido
do apreço às autonomias; a circulação da seiva da realidade viva na sociedade no
ideal abstrato impede que se transforme em devaneio oco, fato tantas vezes
observado alhures.
O princípio da verdade real. Há mais. Existe no Direito norma de
amplíssima aplicação: o princípio da verdade real. Em incontáveis ocasiões, não
interessa ao Julgador o nomen iuris, depoimentos ou documentos: o
importante para a decisão é o que de fato existe ou aconteceu. Estamos diante
de condição parecida. Os Estados Unidos defendem em numerosas ocasiões
princípios da ordem natural, importa pouco no caso como os qualifica a
literatura política.
Obrigações universais. Tratei atrás de dois reflexos particulares
de bem comum. Sobre a época de domínio romano, lembrei “latejava, no fundo, a
aspiração incipiente de, gradualmente, ir estendendo tal situação ao mundo
inteiro; eram sementes da noção de bem comum universal”. E sobre a Cristandade,
recordei “compartilhando a Fé e, em especial, concepção abarcadora de bem comum”.
De outro modo, de um lado, o desejo de expansão paulatina de uma área de
convivência civilizada. Não era apenas desejo, constituía dever. De outro, a
preocupação de manter em área de civilização, com tendência a crescer, a
Cristandade, os princípios da ordem temporal cristã. Aqui também, não
representava apenas anelo; constituía dever. Ambos estão radicados em noção
fecunda de bem comum universal.
Manifest destiny versus isolacionismo. No caso em análise, Estados Unidos,
verifica-se situação com traços análogos; atua nos espíritos certo conceito de
bem comum universal, ainda que em geral implícito. Existe disseminada na nação a
ideia de que o país tem vocação histórica ▬ providencial até, para certos
setores ▬, de manter a liberdade no mundo. Sentinela, guardião, gendarme das
liberdades no mundo é seu destino manifesto (manifest destiny). Tal
liberdade é comumente concebida no povo não em termos doutrinários, mas nos
moldes de como lá se manifesta. Vimos, tem em certa proporção sua origem na
Europa cristã, em especial na Europa germânica e anglo-saxã.
Dever notório. Constitui à vera, sem rebuços, dever
notório, manifesto. De boa-fé, não me parece possível negar tal dever. O que
vai de encontro, diga-se de passagem, ao isolacionismo de setores do público e
da política nos Estados Unidos. Sem a ação da política norte-americana nas
últimas décadas, o mundo teria afundado rapidamente no pior dos totalitarismos
e na escravidão materialista, fato claro em especial durante o período da
guerra fria (1947-1989). O fortalecimento dos laços entre as nações livres
propiciou o contrário, ampla e generalizada prosperidade. E, desse modo, a
perenidade dos valores ocidentais no mundo contemporâneo depende diretamente da
vivacidade da noção na opinião dos Estados Unidos de que o país tem dever
histórico de ser o gendarme da liberdade. A roda da História girou e dá a
impressão de ter parado no mesmo lugar. Hoje não parece pairarem sobre o mundo perigos
muito diferentes, haja vista o feitio cada vez mais expansionista e
imperialista da China comunista e as preocupações crescentes que desperta a
política moscovita. Têm os dois adversários dos valores ocidentais entre seus
fins principais esfarrapar os laços das alianças mantidas pelos Estados Unidos.
Aqui é preciso considerar que os laços comerciais, progressivamente mais
importantes, entre o Brasil (e outros países) com a China, acarretam inevitáveis
consequências políticas. É situação a ser tratada com particular maturidade e
circunspecção, sem enfiar a cabeça na areia, como a legenda (falsamente) diz
ser a atitude do pobre avestruz em posição de perigo; de fato, a ave se afasta
velozmente do perigo com suas fortes pernas. Uma forma de minorá-las
gradualmente seria fortalecer paulatinamente os laços comerciais com a
Comunidade Europeia, Estados Unidos, Japão, Austrália. Em resumo, o papel de
gendarme dos Estados Unidos, imposto pela História, decorre, em sua base, da
solidariedade fundamental entre todos os homens. Tal dever, proportione
servata, incumbe a cada nação, a cada Estado. A cada pessoa.
Idealismo e segurança nacional. O manifest destiny levaria os
norte-americanos a, no mundo inteiro, procurar fortalecer a democracia, criar
prosperidade, propiciar condições para que os homens realizem seu potencial. Asseguraria
direitos, em especial a liberdade, garantiria a paz. E assim, os Estados Unidos
(e seu Presidente) teriam papel de gendarme internacional, qualificação
correta, embora por vezes utilizada de forma irônica. Dita situação expressa o idealismo
generalizado no País, da mesma maneira atende aos deveres da segurança nacional. Foi corretamente descrita por Harry Truman em 12 de março de 1947, quando expôs diante do Congresso
a doutrina que justificava a posição dos Estados Unidos na Guerra Fria: “Um dos
principais objetivos dos Estados Unidos é a criação de condições nas quais nós
e as outras nações sejamos capazes de ter um estilo de vida livre de coerção.
Para assegurar um desenvolvimento pacífico das nações, livres de coerção, os
Estados Unidos assumiram papel de liderança para criar as Nações Unidas. Nunca
conseguiremos alcançar nossos objetivos a menos que queiramos ajudar os povos
livres a manter suas instituições livres e sua integridade nacional contra
movimentos agressivos que procuram lhes impor regimes totalitários. Regimes
totalitários impostos a povos livres minam a paz internacional e a segurança
dos Estados Unidos. Neste momento histórico, quase todas as nações precisam
escolher entre modos de vida opostos. A escolha muitas vezes não é livre. Um
modo de vida é baseado sobre a vontade da maioria e se caracteriza por ter
instituições livres, governo com representantes eleitos, eleições livres,
garantias de liberdade individual, liberdade de expressão e de religião,
liberdade de opressão política. O segundo modo de vida tem como base a vontade
de uma minoria imposta sobre a maioria. Baseia-se no terror e na opressão,
imprensa e rádio controlados, eleições fraudadas, supressão das liberdades
pessoais. Sustento que a política dos
Estados Unidos deve ser a de apoiar os povos livres. As sementes dos regimes
totalitários são alimentadas pela pobreza e indigência. Os povos livres do
mundo olham para nós, buscam nosso apoio para manter suas liberdades.” Papel
parecido com o do Presidente dos Estados Unidos em nossa era tiveram lá atrás
os Papas medievais e o Imperador do Sacro Império ▬ guardiães e mantenedores da
ordem internacional e da paz. E papel desnaturado, contrafação monstruosa, foi
buscado por personagens como Adolf Hitler e Napoleão Bonaparte (alguns outros
também), que, é o que mais proximamente interessa aqui, esbofetearam o
princípio de subsidiariedade.
Mal-entendido deletério. Em regiões antes católicas, parte do
êxito da propaganda protestante se assentou na utilização falseada do
nacionalismo local; envenenou, com base em concepções deformadas, disposições
temperamentais. O Papa (supostamente poder romano, latino, estrangeiro, centralizador
opressor) trabalharia para eliminar direitos locais, nascidos do solo e do
sangue. Agrediria autonomias legítimas. Na realidade, o Papa era seu protetor e
estimulador, guardião delas até por disposição divina. O oxigênio delas era o
ar da Cristandade, da qual a chave de cúpula era o Papado. De mais a mais,
embora combatida pelas concepções políticas absolutistas e centralizadoras que
ganhavam força na aurora dos Tempos Modernos, caminhava e maturava nos
espíritos a noção de um bem comum universal, sob cuja égide desabrochariam as
potencialidades das pessoas, regiões e Estado. Virou-se as costas para uma luz,
cujos reflexos vitalizam, ainda hoje, os valores ocidentais.
Bonapartismo, idolatria do Estado e
crença supersticiosa na razão instrumental. Por sua influência em correntes com traços
conservadores, quadra aqui uma palavra sobre o bonapartismo e movimentos que
dele brotaram ou dele guardam as principais características. Não é raro tais
correntes manifestarem aversão aos Estados Unidos, não pelo que possa ter
aquele país de censurável, mas pelo que detém de missão histórica notória. Separa-os
certa tendência autoritária que medra com frequência nos arraiais bonapartistas, certo menosprezo por práticas democráticas usuais, o gosto exagerado pelas soluções com base no Estado (mentalidade
estatizante), a subestima das forças vivas da sociedade cujo campo de ação normal e natural é a esfera civil. Jacobinismo,
enfim. O bonapartismo, fenômeno iluminista, menoscaba direitos anteriores ao do
Estado, nega usualmente o Direito Natural, crê no poder da razão para moldar a
sociedade rumo ao progresso baseado na ciência, sob direção de homens enérgicos
e esclarecidos. O bonapartismo, com seu viés nacionalista, autoritário e
totalitário, é com frequência forma militarizada de idolatria do Estado. Representou
desde o início reação vistosa e enganosa contra coletivismos. Sua ação, vista
com objetividade, tem propiciado vezes sem conta a involução coletivista. Aparentado
com o absolutismo monárquico em muitas de suas características, entre as quais
não é raro culto descabido do chefe. Em aqui entra ponto capital do presente
trabalho: recusa o princípio de subsidiariedade, não estimula o fortalecimento
das sociedades intrmediárias entre a pessoa e o Estado.
Grandeza humana desnaturada.
Um último ponto a considerar, antes do fecho, o momento em que o açor despenca
dos céus e captura o alimento ▬ a hora de tratar de fatos contemporâneos. Colaborou
para tal processo de generalização paulatina do coletivismo o prestígio de que
gozou o ideal renascentista de homem, um super-homem de grandeza falsa,
artificial e desnaturada, exacerbação caricata da valorização da pessoa humana.
Um abismo atrai outro, o excesso em uma qualidade costuma atrair simpatias para
a carência oposta. Breve, cansou e asqueou o descomedimento antropocentrista,
sobrevalorização caricata do indivíduo. Contribuiu, em movimento pendular de
aspirações, para a disseminação da exacerbação de rumo oposto, a adesão a soluções coletivistas, que
desvalorizam a pessoa.
Panorama atual. Chegou a hora de o açor despencar dos
céus. Uma vez mais, repetindo chavão, ainda que especialmente verdadeiro no momento,
o mundo decide entre civilização e barbárie. No caso em pauta, mais
especificamente, entre avanços (aprimoramento das personalidades) e retrocesso civilizatórios
(triunfos do coletivismo). De outro modo, a vitória dos valores ocidentais ou,
no oposto, sua derrocada. A vitória do Ocidente representará continuidade de um
rumo que vem de milênios, firmou-se no Império Romano, aprimorou-se na
Cristandade, permaneceu vivo nos países que hoje constituem o Mundo Livre e que
têm os Estados Unidos como nação líder. Síntese de seu ideário, permanência,
defesa e aprimoramento das liberdades naturais para crescer e se aperfeiçoar.
Agressões externas. O modelo que funciona. Um movimento
internacionalista e imperialista é a maior ameaça ao Ocidente nos dias
presentes. Avulta aqui o Partido Comunista Chinês (PCC), seita ideológica, raiz
marxista, governo de partido único, ditatorial, com quase 100 milhões de
filiados (sinistra aristocracia de privilegiados num mar de 1,4 bilhão de
pessoas desprovidas de direitos básicos).
Modelo que funciona. A mais, apresenta-se como modelo
para o futuro. No dia 4 de janeiro de 2022 o PCC divulgou relatório intitulado
“China: democracia que funciona”. Em sua pretensão oca e petulante, o PCC garante que
é a única via: “tendo todos terminado em fracasso”. O caminho apontado supõe o
comando do PCC “garantia fundamental de liderança robusta e centralizada”. Ali
se formam lideranças “leais ao marxismo, ao Partido e ao Povo”, cientes de que
a “a natureza fundamental do Estado é definida pela ditadura democrática do
povo”, onde, é claro, “não há partidos de oposição”. Dessa forma, contra a área
de civilização ocidental, temos como oposto expansionista o embaucante modelo chinês, admirado
com entusiasmo por dirigentes de expressão dos partidos de esquerda no mundo
inteiro.
Absoluta decadência das sociedades
ocidentais contrastada com o modelo que funciona. No Brasil, a ex-presidente Dilma Rousseff ecoou, sem
despertar estranhezas em seu meio, tal admiração: “[a China] representa uma luz
nessa situação de absoluta decadência e escuridão que é atravessada pelas
sociedades ocidentais”. Outra ameaça ao Ocidente vem da Rússia de Vladimir
Putin. O antigo oficial da KGB trabalha para restaurar a importância
geopolítica do império soviético. Em abril de 2005, falando no Parlamento, afirmou
o presidente russo: “Deve ser reconhecido ▬ e eu já disse isso antes ▬ o
colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século”. É
congruente, ao lado da China comunista, o maior apoio de Cuba e da Venezuela é
o da Rússia. Não faz muito o presidente russo tratou da possibilidade de enviar
tropas e equipamentos russos (entre os quais, está subentendido, mísseis) para
Venezuela e Cuba em clara ameaça à segurança dos Estados Unidos. Qual o
objetivo primeiro? Atolar ainda mais espinhos nas costas do Estados
Unidos, enfraquecendo-os. Querem prostrar a nação e, com ela, desmoronar os
valores ocidentais que ainda animam as nações livres.
Cadeia de protetorados chineses no
horizonte. Escrevo do
Brasil, naturalmente meu cuidado se fixa em primeiro lugar sobre meu país e a
América Latina. Debaixo do olhar entorpecido de decisivos setores ocidentais, está
se formando enorme frente antiocidental na América Latina. Dela fariam parte, o
tempo rolando, México, Nicarágua, Cuba, Venezuela, Bolívia, Chile, Argentina. A
ela podem se unir proximamente Brasil e Colômbia. A região estará coalhada de governos
favorecedores da esquerda, entreguistas em relação aos interesses de Pequim (e
de Moscou). E, é certo, reitero, estarão dispostos a formar frente comum com
Pequim para erodir a influência norte-americana mundo afora, especialmente abaixo
do Rio Grande. Não se pode pôr de lado; Lula, voltando ao poder, levará
consigo, como membros da aliança vitoriosa, as mais virulentas correntes
contrárias aos Estados Unidos e favoráveis à influência chinesa.
Estados vassalos. E, assim, referidos países
favorecerão a ação do governo chinês. Caminharão, decorrência incoercível da
situação de dependência e da virulência expansionista do PCC, para colocar os
países por eles governados na efetiva condição de Estados vassalos, confessados
ou não, importa pouco ou nada no caso. Ficarão em posição parecida com a que
foi da Finlândia até o fim do império soviético, tendendo a ser a da Polônia,
Hungria ou Romênia daqueles anos de chumbo. Para tal situação, contribuirão
Rússia, Coreia do Norte, Irã e tantos outros. A prestidigitação política está
escondendo tal possibilidade, contudo óbvia. Nas sombras embora, há
em curso a formação de apocalíptica orquestração política, uma frente de
Estados latino-americanos que poderá representar o começo do fim do Ocidente, seu
declive rumo ao desmoronamento final. De forma particular, quando se tornar
claro para o público esclarecido e reativo dos Estados Unidos, o que foi
desnecessariamente perdido por ignorância, descaso e negligência.
Estados vassalos duradouros. Vladimir Putin deixou o poder? O PCC
deixou o poder? Os chavistas deixaram o poder? Daniel Ortega deixou o poder? Os
comunistas em Cuba deixaram o poder? A dinastia norte-coreana, pai, filho e
neto, planeja deixar o poder? O PRI mexicano, com seu viés de esquerda e feitio
anticlerical ficou 71 anos no poder. Quando partidos de esquerda, com os
instrumentos da administração pública nas mãos, deixaram o poder? Como regra
geral, nunca. O PT é igual a todos esses seus aliados, em doutrina, táticas políticas
e procura de domínio da opinião e das alavancas estatais. Em suma, pesa sobre a
América Latina a ameaça de um período de duradoura e vergonhosa servidão; governos
populistas de esquerda (ou diretamente comunistas), cada vez mais ditatoriais,
produtores de caos, tirania e miséria; crescentemente subservientes a Pequim. Soberania
e independência nacional, para cada um desses países, Brasil incluído, claro,
se tornarão conceitos vazios de significado real. Para a perenidade dos valores
ocidentais como presenças relevantes, oxalá determinantes, no mundo
contemporâneo, é fundamental ter tal possibilidade terrificante no centro do
raciocínio político. Só assim ela poderá ser afastada.
Campanhas de esclarecimento e
advertência. Muito
mais se deve fazer, óbvio: trata-se de trabalhar ativamente para que não ocorra
o desastre que já bate às portas; cada um, em seu âmbito, desenvolver e
participar de campanhas de esclarecimento e advertência. Agindo sem ilusões
ingênuas, evitando embarcar em propostas irrealistas, escapando com
cuidado dos cantos de sereia enganadores, enfim, sempre saudavelmente cautos,
os operários dessa tarefa de elucidação e prevenção poderão um dia merecer o
elogio de Winston Churchill aos aviadores ingleses na 2ª Grande Guerra “nunca
tantos deveram tanto a tão poucos”.
Sentinelas avançadas. Repercutindo fundo no público, limpando
olhares hoje embaçados, serão salvadores toques de corneta
no campo da luta ideológica, caso o público se disponha a agir mais
decisivamente contra as investidas. Estão em xeque incalculável acervo de
valores religiosos, culturais, morais, senso de governo na vida privada e
pública, alianças políticas, saber acadêmico, dos quais os Estados Unidos, por imposição histórica, são o
principal guardião. Legado, todavia guardado em frágeis vasos de barro. Perecerá?
Quebrar-se-ão os vasos? Será salvo e trabalhado para dar ainda mais frutos? Ninguém sabe. Uma coisa, contudo, todo sabem: a luta se dá sobretudo no
interior dos espíritos, mas seu mais importante campo de embate é
o público dos Estados Unidos.
Agressões internas. Mais insidiosos quiçá que os ataques
ao Ocidente e a seus valores realizados por Estados importantes, dirigidos por
seitas ideológicas, são as investidas que sofrem no interior dos países livres.
São gigantescas as correntes de opinião com viés libertário, concessionista, favorecedoras
do deslizar lento do Ocidente rumo a uma situação de efetivo caos social e
degenerescência moral. Encarniçadamente procuram minar o direito de
propriedade, sabotam a livre iniciativa, favorecem o crescente intervencionismo
estatal; no bruto, guerreiam a economia de mercado. São os zelotes da regressão
coletivista. Não vou me alongar aqui com considerações sobre as críticas à
decadência moral do Ocidente, mesmo que pertinentes. Exigiriam outro estudo. Em
síntese, é a correção moral o que, no mais fundo e decisivo, poderá salvar o
Ocidente e seus valores. Mas o trato circunstanciado do tema, altamente
benéfico, extrapola o escopo do presente trabalho. Para finalizar, não custa
recordar, as correntes que investem contra valores ocidentais, extremistas da
destruição, em geral contribuem para a decadência econômica e moral do Ocidente:
via de regra, são favoráveis ao aborto, à ideologia de gênero, à generalização
do divórcio, à liberalização do consumo das drogas. A mais de estatizantes no campo econômico.
Amo as ruínas do Templo. As investidas somadas contra o
Ocidente, internas e externas, de virulentas forças reduziram a ruínas
aspectos de seu poder. Importa muito, são desastres dificilmente reparáveis. O prof. Plinio
Corrêa de Oliveira, lá pelo começo dos anos 60, em conferência em Belo
Horizonte, respondendo a um objetante, teve frases que me tocaram fundo e que
agora vêm ao caso, cito de memória: “Em relação à Igreja, eu sou como o judeu
em relação ao Templo. Eu amo o Templo, amo as ruínas do Templo, e se estas
ruínas se converterem em pó, eu amarei o pó que resultou dessas ruínas.” Assim
deve ser nossa posição, mutatis mutandis, face ao Ocidente,
procurar ufana e desassombradamente manter vivos, mesmo no pó, tesouros
fundamentais para nossa sobrevivência. Presenciamos ruínas? Pode ser, em muitos
casos. Mas é dever amá-las, protegê-las, ali latejam promessas, prenunciam, se
compreendidas, vias de restauração.
Aurora. Deveria falar de ocaso, o trabalho toca
o fim, coloquei pelo contrário aurora. Lembra começo, fuga da escuridão. Com efeito, existem, mundo afora, reações vivas de
correntes conservadoras que lembram raios de alvorada e justificam esperanças
de marcha salvadora. Dentro dos vasos de barro existem tesouros. Com eles os
homens podem construir, sob o olhar de Deus, um futuro digno de suas melhores
aspirações.
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