Filões de ouro
Péricles Capanema
Localizar filões de ouro. Minerador avisado pesquisa com critérios variados onde
estão os filões de ouro em determinada região. Faz mapeamento geológico,
prospecção geoquímica, se tem dinheiro; busca nos leitos de rios e córregos,
procura veios nas rochas, remexe rejeitos antigos, examina o fundo de minas
abandonadas, já exauridas para outros, menos vigilantes, mas não para ele. Indaga
de gente do ramo. Anseia ter a informação de todo o ouro escondido na terra, na
rocha e na ganga. Registra, cataloga, mapeia para nada dissipar. Dia desses, que
pode não estar longe, começará a exploração do metal escondido e, com sorte, ciência
e experiência ficará rico, garantindo vida decorosa para si e descendentes.
Mineração espiritual. Corta. São Pedro foi inicialmente pequeno pescador de
peixes no Mar da Galileia. Depois, chamado por Nosso Senhor, tornou-se grande pescador
de almas. Sem comparar as situações, minha pretensão de momento tem fiapos
parecidos. Pretendo prospectar filões de ouro nas almas da opinião nacional;
melhorando, a ambição de fato é apontar alguns filões, realçar o valor,
denunciar riscos. E deixar o metal bruto à disposição dos leitores para que,
havendo oportunidade, possam utilizá-lo como patrimônio útil, instrumento
assegurador de futuro tranquilo para os brasileiros.
Eleições de 2022. Tendo como pano de fundo as eleições de 2022, minha vontade
é encontrar o ouro velado nas convicções, conduta, sentimentos, mentalidade,
aspirações e rejeições do povo, em todas suas idades e condições. Só o ouro
pode salvar o Brasil. E existe perigo iminente de que ele seja desbaratado,
afundado na ganga. Breve, suma, desaproveitado.
O ouro brilhando no escuro do medo. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl 110,
10). No caso, o medo justificado ▬ salvífico ▬ tem tudo para ser a base da decisão
sábia e o começo do caminho certo. Pesquisa Datafolha, divulgada em 25 de
dezembro último, revela que 44% dos brasileiros temem que o Brasil vire um país
comunista nas próximas eleições (outubro de 2022). Esses brasileiros prevenidos
estão cobertos de razão. Receio saudável, comprova vivacidade intelectual,
captação objetiva de sintomas de enfermidade devastadora que pode abater o
corpo social. É temor corajoso de quem não se acovarda diante de perspectivas
trágicas; coloca-as, diversamente, claras diante dos olhos. Referida conduta
gera efeitos especialmente benéficos: a medicina preventiva soe ser mais barata
e mais eficaz que a medicina curativa que muitas vezes despenca para medicina
paliativa.
Temor mobilizador, combustível para avanços
rápidos. Assim, a acima mencionada postura precavida
do público tem potencial para ser medo mobilizador de energias latentes, que não
apassiva; pelo contrário, possibilita avanços rumo a progresso real, no caso, prosperidade
econômica cada vez mais geral e inclusiva. Trata-se então de vitaminá-lo. O PT tem
pavor do medo, trabalha ativamente para atrofiá-lo. Quer evitar que sua
generalização cause a esperada ação terapêutica no público, a imunidade
salvadora. Convém agora pôr na mesa fato óbvio, cuidadosamente ocultado.
Partido pintalgado de extremistas fanatizados. O PT, sem dúvida, é uma colcha de retalhos, contudo as
alas mais ardidas e atuantes, as autênticas, até hoje idolatram Cuba dos irmãos
Castro, estão enfeitiçadas pela Venezuela e idealizam romanticamente o “socialismo
real”, por décadas carrasco dos pobres da Europa soviética. São os extremistas
do atraso.
Têm programa prontos de tirania e miséria. Essas correntes ativas e disciplinadas, de influência
decisiva no petismo, de momento por razões eleitorais estão virtualmente silenciosas
e ocultadas; têm, contudo, receitas fatais para a generalização da tirania e da
miséria no Brasil ▬ perseguição aos proprietários, asfixia da livre iniciativa,
coletivismo selvagem. Tais programas, folga dizê-lo, nunca deram certo onde
foram aplicados, sempre geraram totalitarismo e infortúnios em saraivada. E os
extremistas do atraso os aplicarão implacavelmente tão logo possível, causando
retrocessos que excluirão dezenas de milhões de brasileiros das possibilidades
de maior renda, mais e melhores empregos. O petismo raiz gosta mesmo é de
cubanos tiranos, venezuelanos corruptos e soviéticos totalitários. São modelos
e ideais de referência perenes. O restante da planejada coligação lulista, para
o PT raiz, é composto de companheiros de viagem. Na coligação de momento
trabalhada por Lula, o PT raiz terá seu lugar, abocanhará naco grande. INCRA,
por exemplo, é praticamente certo, vai para ele. O MST está delirando de
alegria. Só não impõem já o programa do comunismo total por existirem filões de
ouro na alma da opinião nacional. É o que tem impedido que o triunfo
desimpedido das esquerdas asfixie esperanças, cerceie caminhos de prosperidade,
estiole possibilidades de desenvolvimento pessoal, com subsequente e forçosa
atrofia das personalidades.
Entorpecentes indispensáveis. Aqui está ponto delicado da estratégia petista, como
adormecer o público contra perigos reais, justamente temidos por ele no trajeto
rumo ao possível poder crescente da esquerda radical ▬ os extremistas do atraso.
Com agravante, a História mostra que eles se aferram ao poder, recorrendo a bem
dizer a todos os recursos para, ali encarapitados, tiranizarem o povo. Volto. O
mandachuva perdeu a curul presidencial com Bisol (1989), Mercadante (1994) e
Brizola (1998). Aprendeu.
Amortecer, adormecer, entibiar. Virou o disco. Conseguiu duas vezes nela sentar (2002 e
2006) com José Alencar, empresário rico, senador conservador. E Dilma a abiscoitou
duas vezes com Michel Temer, homem de posses e político centrista. Resumido, o
PT ganhou (embaucou) quando conseguiu entorpecer reações, migrando para o centro
e amortecendo suspicácias fundadas. Geraldo Alckmin é o José Alencar de 2022.
Ou outro qualquer será. Além de José Alencar na vice-presidência, triste papel,
o cacutu petista colocou Henrique Meirelles, banqueiro ligado aos meios
financeiros dos Estados Unidos, no Banco Central por oito anos. Outra forma de
amolecer reações.
O poder do medo. Tudo isso evidencia o poder do medo. Do lado petista,
tipo diverso de pânico, o pavor do índice alto de rejeição. Seus comandantes
sabem, o 2º turno mostrará o papel decisivo dos índices de rejeição. Estamos de
momento assistindo à repetição com figurantes novatos de show antigo que deu
certo. E que tem tudo para dar certo de novo. Na prestidigitação lulista, no
mesmo propósito de enlanguescer o horror da ameaça comunista, certamente ainda
será puxado para o proscênio economista respeitado disposto a como que, pela
presença no governo, legitimar o ataque aos fundamentos da ordem temporal
cristã, ainda vivos entre nós, por quatro, quem sabe oito, talvez mais anos. Todos
serão “contrapontos”, para lembrar o termo empregado por Lula. O morubixaba
petista tem repetido quase como mantra, não quer disputar como protagonista, concorre
para vencer. E para vencer, a rejeição não pode ser tão grande no 2º turno que
impeça a vitória. O fundamental para o tutumumbuca do PT é vencer no 2º turno, já
que só fato inesperado o tirará de lá. Abreviado, sua preocupação primeira é
baixar a rejeição. E aqui é urgente dissipar o horror do comunismo à porta,
presente na cabeça de 44% dos brasileiros, segundo o Datafolha.
Roubalheira e incompetência. Dois outros avantesmas assombram os estrategistas do
petismo: ladroagem e incompetência. Eles necessitam, também aqui, anestesiar o
público. A rejeição pode ir lá para cima se for lembrado destramente ao eleitor
o vezo petista da roubalheira desaçaimada. Está menor em 2022 a sensibilidade
contra a gatunagem que existiu entre 2013 e 2017 e foi componente grande do
antipetismo. De qualquer maneira, em especial o mensalão e petrolão ainda
assustariam o eleitorado, creio, se bem utilizados. A farra com o dinheiro
público foi algo nunca visto no Brasil. É tema que será usado, penso, de modo
especial por Sérgio Moro, herdeiro natural da simpatia do público pela Operação
Lava Jato. Bem empregado, é minha opinião, ainda rende muitos votos. Outro assunto
que pesou em 2018 foi a incompetência das gestões petistas, em especial o
período trevoso do desgoverno arrogante de Dilma Rousseff, inflação,
desemprego, teorias malucas (ainda vigentes no PT) postas em prática no âmbito
econômico. Lula procura se distancias dessa época, tentando evitar respingos
corrosivos a seu projeto eleitoral. Não foi só incompetência, houve aparelhamento
da máquina estatal, perseguições políticas, desinformação sistemática. São
flancos abertos a flechadas. Seria normal, juntamente com o medo do comunismo,
que tais ingredientes entrem na campanha publicitária e diminuam fortemente a
atual vantagem de Lula nas pesquisas. A marquetagem petista vai contra-atacar?
Claro. Terá suas armas, as empregará. O artigo não trata disso, senão
tangencialmente. Foca outro assunto, como salvar os ameaçados filões de ouro.
Só o ouro pode salvar o Brasil.
Pena dos pobres. Basta olhar o mapa da votação de
1989 até hoje; o PT vence via de regra nas regiões mais pobres do Brasil e o
candidato do PSDB (ou Bolsonaro) vence nas regiões de renda maior. Há uma
relação evidente entre o voto no PT e renda per capita baixa. De outro ângulo,
o Brasil que depende mais do Estado, vota mais no PT; o Brasil que depende
menos do Estado, vota menos no PT. O que de si caracteriza assistencialismo,
não esquerdismo. Fica a lenda, o PT é do campo político que cuida dos pobres, o
antipetismo, não. Tal fato decorre de mistificação de décadas, se não de
séculos. A esquerda tem pena do pobre, é idealista, defende-o por estar com
ele, mesmo que seja corrupta e incompetente. A direita, pelo contrário, é
insensível, não tem pena do pobre, mesmo sendo racional e competente. É esquema
velho e vem dando certo. Lula dele se aproveita, é favorecido por ele. Faltam
aqui campanhas de esclarecimento inteligente. E figuras da direita costumam não
ajudar, algumas vezes pioram as condições da luta ideológica. Entre elas, infelizmente,
o ministro Paulo Guedes; parece sentir particular prazer em dar tiros no pé. “Pessoas de esquerda têm miolo mole e bom coração. Pessoas
de direita têm a cabeça mais dura e coração não tão bom”. Uma das várias. Além
de chapadamente falsa, agressiva à realidade histórica, prejudica a causa que
supostamente defende.
O PT que manda é de centro. Pintar o PT como partido de centro
(ou de centro-esquerda, social-democrata) faz também parte da atual tática,
aliás bem antiga, harmônica com a escolha de um vice anestesiante para
“contraponto”. É deveras o vale-tudo para chegar ao poder. Em dezembro de 2006,
o chefão petista observou, em declarações amplamente difundidas e comentadas: “Quem
é mais de direita vai ficando mais de centro. Quem é mais de esquerda, vai
ficando social-democrata. As coisas vão se confluindo de acordo com a
quantidade de cabelos brancos que você vai tendo e de acordo com a
responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito. Se você conhecer uma pessoa
idosa esquerdista é porque está com problema. Se acontecer de conhecer alguém muito
novo de direita é porque também está com problema. Quando a gente tem 60 anos
está no equilíbrio porque a gente não é nem um e nem outro. Eu agora sou amigo
do Delfim Neto. Passei vinte e poucos anos criticando-o e agora o Delfim Neto é
meu amigo e eu sou amigo dele”.
Aviso de amigo. Em 14 de novembro de 2018, quase quatro anos atrás,
postei na web artigo, está lá, “Hora de observar o panorama” que continha avaliação
do quadro político e aviso, hoje bem atuais, valeria a pena rever [extratos]: “O antipetismo que determinou a
eleição de Jair Bolsonaro abriga em seu bojo variadas correntes. Alguns
exemplos em fieira. Ali se destaca o conservador em matéria de costumes, porém
apático em relação à economia muito estatizada. Boa parte constituída de gente
simples, representa enorme força eleitoral. Existe o liberal [privatista] em
economia, libertário nos costumes, comum nos setores letrados. A ele em geral
impacta pouco a ideologia do gênero, a generalização do aborto, o casamento
entre pessoas do mesmo sexo, a agenda LGBT. Temos o homem de hábitos
antissocialistas, mas que admite sociedade nivelada para seus netos ou
bisnetos. São influentes setores organizados da burocracia estatal, que com
certeza espernearão quando da aprovação das reformas que ora se anunciam. A
lista é maior, muita gente ficou de fora. [,,,] No verso da moeda, um
gigantesco contingente popular, de hábitos e até princípios conservadores,
pouco instruído, votou em Fernando Haddad por temer a perda de apoios
assistenciais, caso vencesse Bolsonaro. Com propostas e trabalho inteligente,
pode mudar o voto. Se a economia andar bem, a frente eleitoral que elegeu
Bolsonaro tem condições de se manter sem fissuras destrutivas. Caso marche mal
(e aqui pode influir muito a situação internacional, sobre a qual nada
podemos), tal frente corre risco de desagregação rápida. Paro por aqui. Quem
avisa, amigo é”.
Economia ruim, perspectivas de desagregação. Se a economia andar bem, escrevi lá atrás. Não andou, a
pandemia puxou para baixo, veio a desagregação da frente antipetista. Fui
amigo, avisei do fato, na verdade claro à frente. Aviso de novo abaixo, pode sobrevir
aumento da desorientação e fragmentação ainda maior no campo antipetista; virei
espécie de sentinela que observa o horizonte. Continuo convicto, o principal é manter
as possibilidades de luta profícua e conservar os fios de ouro, mesmo na pior
hipótese, se ocorrerem grandes êxitos da esquerda nas proporcionais e nas
majoritárias. O que significa trabalhar para que permaneçam abertas as portas
da colaboração entre as várias correntes que compõem a frente antipetista. É
urgente afastar fatores do esfarelamento, tantas vezes desnecessários, de aumento
das brigas e mágoas, em numerosas ocasiões frutas ocas por dentro e espinhentas
por fora, cujo efeito prejudicial será entorpecer ânimos, disseminar apatias, dar
azo a neutralidades e até a mudanças de lado, em particular por ocasião do 2º
turno ▬ autodemolição vista com alegria nos arraiais petistas. Aqui tenho em
vista os milhões e milhões de anônimos, facilmente tentados de desânimo.
Não sou sentinela solitária. Aliás, não sou a única sentinela, na verdade somos legião
que em graus diversos compartilha esperanças, apreciações e apreensões. Aponto
a seguir exemplo de apreensão que se generaliza. Olavo de Carvalho, recentemente
falecido (que Deus o tenha) em live recente (está no Youtube –
Conservatalk) ▬ da qual participaram figuras de destaque no bolsonarismo, entre
as quais três ex-ministros, Ernesto Araújo, Ricardo Salles e Abraham Weintraub ▬
foi pessimista sem disfarces: “Não venham com esperanças tolas. A briga já está perdida. Existe chance
de voltar a vencer? Existe uma chance remota”. Matizou sua convicção: “Existe
uma chance remota, se o Bolsonaro acordar e eu não sei como fazer o Bolsonaro
acordar”. Sustentou ainda, o contingente eleitoral que votou em Bolsonaro é
menor agora que em 2018. Foi ouvido em silêncio. O que, amplio, pode denotar
esfarelamento antipetista e traz a possibilidade, já aventada por outros, de nova
Câmara de Deputados com bancada esquerdista bem maior que a atual.
Filões de ouro. A briga já está perdida? Vamos
admitir que sim, “argumentandi gratia”, porém com adendo imprescindível, é ainda
necessário tudo fazer para conseguir a vitória e que, se ela escapar, que a derrota
seja a menor possível, guardando todas as forças. Contudo, o fundamental para o
futuro do Brasil é que não se desbaratem o que aqui estou chamando de filões de
ouro. Estão em jogo reservas morais, tesouros de educação e cultura, virtudes
domésticas altamente formadoras, dons naturais, são restos ainda vivos da ordem
temporal cristã, representam penhor de um Brasil na trilha das aspirações dos
melhores de seus filhos. Mesmo que o País tenha de passar, por “vale de trevas
e morte”, tudo poderá ser salvo, se forem preservados os filões de ouro.
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