Fim de vida amargo
Péricles Capanema
Desde há muitos anos a CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil) tem sido linha auxiliar do PT. O CIMI (Conselho
Indigenista Missionário), órgão da CNBB, a mesma coisa, estridência maior a
favor da esquerda. A CPT (Comissão Pastoral da Terra), também órgão da CNBB, igual,
escarcéu favorecedor do comunismo de arrebentar os tímpanos. Congruentemente,
recebiam elogios de morubixabas da esquerda, do tipo Fidel ou Raul Castro ▬ os
lobos uivavam em defesa dos pastores. E assim, dentro da Igreja, para tristeza
dos católicos, tais entidades têm presença desagregadora. São fermentos de
discórdia e fatores de exclusão, pois a maioria dos fiéis se julga rejeitada
por elas. Tais fatos se tornaram largamente anacrônicos? Aspectos do Brasil de
ontem? O quadro está se movendo.
Diante da inconformidade generalizada contra o
lulopetismo, sentimentos que elegeram Jair Bolsonaro, parte da esquerda está se
distanciando rápida e ruidosamente do PT e de Lula, buscando assim se viabilizar
eleitoralmente para os próximos anos. Seria uma esquerda em que a roubalheira,
a malandragem e a incompetência não constituiriam traços repugnantes e dominantes.
Como a tal esquerda em formação (o esboço está
no PDT, PC do B, PSB, acenos à Rede, parlamentares do PSDB e PPS) tratará a
esquerda católica, suja dos pés à cabeça, com os abraços líricos e os auxílios
efetivos que propiciou ao petismo? Todos se lembram, durante todos esses anos,
ela calou-se vergonhosamente diante do desastre econômico e da gatunagem. As
primeiras manifestações sugerem que a tal nova esquerda não faz tanta questão
de apoios na esquerda católica. A razão é simples: não quer se sujar e, com
isso, arriscar-se a perder votos.
Vejamos. Da nova corrente, o corifeu mais em
evidência é Ciro Gomes. Logo após as eleições, o antigo governador do Ceará, agindo
em uníssono com fornido grupo de políticos, pôs em prática o plano, que
envolveu muitos encontros e articulações de bastidor. Contudo o mais vistoso dele
foram as entrevistas.
Delas, comento uma, concedida ao repórter
Gustavo Uribe da Folha de São Paulo. Ali Ciro se lamentou ter sido
“miseravelmente traído” por Lula e seus “asseclas”. Comentou: “A cúpula
exacerbada do PT já começou a campanha de agressão. O lulopetismo virou um
caudilhismo corrupto e corruptor. Esses fanáticos do PT não sabem, mas o Lula,
em momento de vacilação, me chamou para cumprir esse papelão que o Haddad
cumpriu. E não aceitei. Me considerei insultado. Fomos miseravelmente traídos.
Aí, é traição mesmo. Palavra dada e não cumprida, clandestinidade, acertos
espúrios, grana”.
Acusa Lula e a cúpula do PT de falta de
caráter, de traição, de serem vendilhões, de duplicidade. E deles quer afastamento
para, óbvio, ficar próximo ao povo e ter votos. Expõe o objetivo: “Quero fundar
um novo campo, onde para ser de esquerda, não tem de tapar o nariz com ladroeira,
corrupção, falta de escrúpulos, oportunismo”.
É ataque ao plantel político que a CNBB e suas
organizações vêm favorecendo há décadas. Duas figuras aqui têm papel
especialmente simbólico: frei Betto e o ex-frei Leonardo Boff.
Deles, o que diz Ciro Gomes? Boff, primeiro:
“Eles podem inventar o que quiserem [ou seja, são mentirosos]. Pega um b.
[estrume humano] como esse Leonardo Boff. Qual a opinião do Boff sobre o
mensalão e o petrolão?”. Para o presidenciável, a mera adjacência já irá incomodar
o eleitor. Sobre frei Betto, também quis falar: “O Lula está cercado de
bajulador. Gleisi Hoffmann, Leonardo Boff, frei Betto”. O primeiro, bajulador e,
ademais, estrume humano; o segundo, bajulador sem caráter. Avisos que os quer
distantes.
Leonardo Boff, pelo contrário, anseia a
proximidade de Ciro. Declarou patético: “Precisamos de uma Arca de Noé onde
todos possamos nos abrigar, abstraindo das diferentes extrações ideológicas,
para não sermos tragados pelo dilúvio da irracionalidade e das violências”. Só
que, na opinião de Ciro, se gente como Boff e frei Betto subirem na arca, o
barco afunda.
De outro modo, políticos, como Ciro Gomes, que
desejam a imagem de esquerda limpa, inimiga de traficâncias, não buscarão apoio
em figuras como Boff e frei Betto. E, em boa medida, eles representam a
esquerda católica. Amigos de ditaduras, admiradores de Fidel, chegando ao ocaso
da vida (frei Betto, 74 anos; Leonardo Boff, 79 anos), depois de favorecer o
comunismo por décadas, na hora normal de recolher agradecimentos dos
favorecidos pelo combate indigno, recebem chibatadas de um corifeu da esquerda:
“Não quero estar ao seu lado, vocês me tiram votos e mancham a reputação”. A lógica
nos empurra até lá, tal situação respinga na CPT, CIMI, CNBB.
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