BBB, realidade macabra, nenhum show
Péricles Capanema
O BBB (Big Brother
Brasil) é um programa de televisão que mostra cenas da vida real de participantes
confinados por certo tempo. É um reality
show. A expressão Big Brother tem origem no romance 1984 de George Orwell.
O Big Brother (Grande Irmão ou Irmão Mais Velho) é o ditador que vigia o povo
24 horas por dia num estado mítico Oceânia. O idioma oficial era a “newspeak” (fala
nova) em que o expresso queria dizer exatamente o oposto. No livro, Orwell prevê
o totalitarismo sombrio que ameaçava o mundo. Não vou tratar do BBB, programa da
televisão.
Orwell foi
visionário, acertou. Vou comentar um totalitarismo moderno. Na China comunista,
especialmente mediante a ação da ZTE, estatal de telecomunicações, vem sendo
implantado celeremente o programa intitulado oficialmente (e eufemisticamente)
“construção de um sistema de crédito social”.
Em 14 de junho de 2014 o Conselho de Estado determinou medidas que o
tornaria inteiramente efetivo em 2020. Trata-se de vigilância intensa. O país
já tem 200 milhões de câmeras ligadas a programas para interconectar dados.
Terá 600 milhões em 18 meses. E informações de todos os lados alimentam os computadores
dos órgãos de segurança.
O que é o crédito
social? É um sistema de pontos (créditos), já largamente empregado na China
(chegará a um primeiro nível de perfeição em 2020). Recolhe dados continuamente
sobre cada chinês: locais onde está, renda, tempo que passa jogando games, fumante ou não, alcoólatra ou
não, multas de trânsito, velocidade do carro, rotas, atraso em pagamento de
prestações, desfalques, fraudes nos negócios, frequência em igrejas, se o vigiado
(todos) ou parentes dele manifestaram opinião contrária à linha do Partido em
comentários de sites, tanta coisa mais. E pontua a seguir. A exata metodologia de
coleta e avaliação é secreta (chamada por alguns de sistema de pontuação
psicométrica), mas todos sabem, com base em bilhões e bilhões de referências, recolhidas,
conectadas e classificadas, a contagem vai subindo ou descendo no crédito
social de cada um; e ali está seu futuro. De outro jeito, pioram ou melhoram as
perspectivas do vigiado e de sua família. Por vezes, são totalmente destruídas.
Com base nos
pontos, os filhos podem frequentar ou não escolas de elite, são concedidas ou não
passagens para trens-bala e aviões, permissão para ou veto a viagens ao
Exterior, acesso ou interdição a bons empregos, transferências, demissões, descontos
nas contas de água e luz, internet mais rápida ou mais lenta, e vai por aí
afora. Até melhoram ou pioram as possibilidades de casamento nos sites
especializados. Num segundo estágio, a pessoa entra para uma lista negra, ostracismo,
fim de qualquer perspectiva de ascensão na vida social e econômica. É forma
nova e minuciosa de controle da conduta e da vida econômica. Trata-se de um totalitarismo
sem as nuvens de agentes secretos e das brigadas de defesa da revolução, comuns
décadas atrás em países comunistas. Na prática, é um totalitarismo mais
asfixiante e mais minucioso. Aqui o BBB é realidade macabra e nenhum show.
Saio da China e
entro na Venezuela. O governo venezuelano contratou a ZTE, a estatal chinesa que
está no centro do programa do crédito social para implantar no país um sistema semelhante
ao que vem sendo posto em prática na China inteira. Só em 2017, é o que se
divulga, a ZTE recebeu 70 milhões de dólares por esse trabalho. E muitos
venezuelanos já não estão recebendo os pacotes de alimentos subsidiados, nem
remédios de órgãos estatais, por causa de pontuação que obtêm no “carnet de la pátria”.
O senador Marco
Rubio, dos mais destacados homens públicos norte-americanos advertiu a respeito:
“A China está exportando seu totalitarismo. A crescente dependência do regime Maduro
em relação à ZPE na Venezuela é apenas o último exemplo da ameaça que as
estatais chinesas representam para os interesses de segurança nacional dos
Estados Unidos”.
Não tenhamos ilusões,
é programa prontinho para ser aplicado no Brasil. Desencaixotam-no, logo que
voltem ao poder os derrotados no último pleito. Para isso, trabalha o PT, auxiliados
por inocentes úteis e companheiros de viagem. As linhas auxiliares do PT são políticos
de esquerda em partidos burgueses, PSOL e a miuçalha de partidos de esquerda, movimentos
sociais, acadêmicos e empresários de esquerda ou “progressistas”, gente assim. Em
2010, em artigo intitulado “Inocentes úteis e companheiros de viagem,
expressões banidas nas eleições de 2010”, lembrei: “O inocente útil é o que,
sem se dar conta, facilita a execução do programa, do qual ele é suposta ou
realmente adversário. Ajuda a tomada do poder por alguém que, no futuro, vai trucida-lo,
moral ou fisicamente. O companheiro de viagem é o que caminha junto até um
ponto da estrada. Ajuda o parceiro a chegar a um ponto determinado de seu
programa. O maior exemplo de companheiro de viagem e inocente útil das últimas
décadas é a CNBB. Ninguém mais que ela foi companheira de viagem e inocente útil
do programa de fazer do Brasil um país libertário e coletivista”.
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