Copa do Mundo em
Helsinque
Péricles Capanema
A final da Copa do Mundo se dará em 15 de julho no
Estádio Luzhniki, em Moscou. Grandes repercussões esportivas, celebrações e
tristezas, que pouco a pouco se apagarão. Outra final, mais importante, acontecerá
um dia depois, a 1124 quilômetros dali, em Helsinque. Grandes repercussões
políticas para todos, especialmente de imediato para os europeus. O que muitos
temem, agravar-se-ão ao longo dos dias.
O Kremlin e a Casa Branca anunciaram simultaneamente, Donald
Trump e Vladimir Putin se reunirão em Helsinque, 16 de julho. Sarah Huckabee,
porta-voz do governo dos Estados Unidos, afirmou que as discussões versarão
sobre segurança. O conselheiro Acácio dificilmente melhoraria a frase. Sauli Niinistö,
presidente da Finlândia, por sua vez, garantiu que a agenda da cúpula será
discutida nas duas próximas semanas.
De fato, nos bastidores, os temas já estão sendo aventados,
há semanas provavelmente. E a cume dos dois líderes mundiais só se dará porque acerca
dos assuntos a serem divulgados em Helsinque já houve acordo substancial. E
também houve concordância, pelo menos nas linhas gerais, a respeito dos assuntos
ventilados em reserva, e que não serão informados ao público.
O encontro dos dois presidentes, o terceiro, será mais
importante, sob muitos aspectos, pela simbologia e pelo clima criado em Helsinque
palas duas superpotências. Antes haviam se reunido meio de passagem por ocasião
do G-20 em Hamburgo, julho de 2017, e durante a conferência da APEC (Cooperação
Econômica da Ásia e do Pacífico) em novembro de 2017. Agora é diferente, viagem
só para o encontro, os Estados Unidos e a Rússia vão se encontrar para tratar
dos seus mais importantes assuntos comuns.
Do local escolhido emana simbologia. Em Helsinque estiveram
junto Gerald Ford e Brejnev em 1975, do que resultou aprofundamento da détente (distensão). Ali se reuniram
também George Bush e Gorbachev em 1990, no ambiente da glasnot e da perestroika,
e ainda Bill Clinton e Boris Yeltsin em 1997. Sob vários aspectos, como em
ocasiões anteriores, o mais importante será o clima que resultará da
conferência.
E os assuntos?
Lembro a frase conhecida, atribuída ao senador Valadares, “reunião, só depois
do assunto decidido”. Já houve decisões. Na diplomacia e na política sempre foi
assim. Os negócios provavelmente tratados causam temores nas capitais europeias.
Declarações recentes do Presidente dos Estados Unidos a propósito não
tranquilizaram: “Já disse desde o primeiro dia ▬ estar bem com a Rússia, estar
bem com a China, estar bem com todos é coisa muito boa”.
Estar bem com a China, estar bem com a Rússia, já
deixa muita gente mal à vontade, pois com que subliminarmente delimita o campo
só para três grandes players. O
restante vai para o segundo plano. Ademais, hoje estar bem com a Rússia, significa
não estar bem com todo mundo. Muita gente vai ser prejudicada na política de
estar bem com a Rússia. Quem?
O caso da Crimeia está na pauta. Pelo jeito, os
Estados Unidos caminharão para acomodação, deixando a Europa isolada. Com o
tempo, a Europa tenderá também à acomodação, é a esperança de Moscou. De outro
lado, a situação da Ucrânia apresenta pontos semelhantes. Daí, como ficarão as nações
que fazem fronteira com a Rússia? Que valor têm as atuais garantias
norte-americanas relativas à efetiva independência delas?
O grande tema do encontro começa a aparecer claro: zonas
de influência. Os Estados Unidos deixarão que imerja uma ainda não oficial zona
de influência russa? Existiu na prática durante toda a Guerra Fria. Voltará?
Outros temas. O futuro da Síria. Relações entre
Pequim, Washington e Moscou. Não foi veiculado, mas existe ainda sobre a mesa o
apoio russo ao regime de Nicolás Maduro, ingerência brutal e crescente na
América do Sul. Como reagirão os Estados Unidos?
Donald Trump estará em Bruxelas em 11 e 12 de julho para
reunião da OTAN ▬ encontro de Chefes de Estado. Depois irá à Inglaterra em 13
de julho. Londres se sentiu enfraquecida em sua posição de isolar Vladimir
Putin com o anúncio da cúpula na Finlândia. A seguir, no dia 16, o presidente
dos Estados Unidos encontrará Vladimir Putin. Ele não poderá em Bruxelas reafirmar
fortemente os laços com a OTAN ▬ organização fundada para fazer frente ao
expansionismo soviético e hoje barreira contra os sonhos do grão-nacionalismo
imperialista de Putin ▬, se quiser trombetear êxitos em Helsinque. E nem é
provável que apoie a posição firme de Londres em relação ao autocrata russo. Para
chegar em Helsinque com possibilidades de triunfo publicitário, o presidente
dos Estados Unidos precisaria pôr algum bemol no endosso público aos objetivos da
OTAN e à diplomacia de Therese May em seus esforços para conter o expansionismo
russo.
Em vista das preocupações provocadas pelo quadro geral,
John Bolton, assessor para a Segurança Nacional, procurou jogar água na fervura:
“Não penso que devamos, necessariamente, esperar resultados específicos ou
decisões. É importante, depois de certo tempo sem cúpula bilateral, permitir
que os presidentes conversem sobre todos os temas que queiram, seja
privadamente ou em reunião ampliada. Seguiremos suas diretrizes depois de tais
discussões”.
Nessas circunstâncias, só fatos ▬ e não palavras ▬podem
acalmar. Daqui a duas semanas conheceremos os resultados de verdadeira final de
Copa do Mundo no âmbito político. Os divulgados. Acalmarão? Que Deus nos ajude!
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