Retratos do Brasil
Péricles Capanema
A menos de ano da eleição presidencial, não só dela,
Câmara, Senado, governadores, na bica, desembocamos na reta de chegada. Como? Deixo
alguns vislumbres abaixo. Entre 12 e 16 de outubro o Instituto Paraná Pesquisas
executou a especialidade, pesquisou em 64 cidades de Santa Catarina,
entrevistando 1.554 eleitores.
Antes dos números alguns lembretes. Em renda per capita o catarinense é o brasileiro
mais rico ou quase tanto. Estado ordeiro, boa qualidade de vida, gente
acostumada ao trabalho, em média seu habitante é mais escolarizado e informado
que no resto do Brasil. Tal perfil sociológico se repete em enormes bolsões de
Pindorama. E então, os resultados em Santa Catarina são importantes, mais valem,
todavia, como indicativos nacionais. Feitas as adaptações, a pesquisa revela propensões
País afora em gente de aspirações, nível de informação e renda, semelhantes às
dos catarinenses.
Na corrida presidencial, Bolsonaro lidera (24,6%),
seguido por Lula (18,0%), Marina (9,3%), Alkmin (8,2%), Álvaro Dias (7,0%),
Joaquim Barbos (5,8%).
Por idade. Entre 16 e 24 anos, Bolsonaro (32,7%), Lula
(17,6%); entre 24 e 34 anos, Bolsonaro (34,3%), Lula (15,0%); entre 35 e 44
anos, Bolsonaro (30,6%), Lula (15,6). De outro jeito, a aprovação a Bolsonaro
sobe acima da média do Estado e a de Lula cai para abaixo da média na juventude
e nos anos em que a pessoa é mais produtiva. Entre os idosos, a tendência se
inverte, sobe Lula e cai Bolsonaro. Para os de 60 ou mais, Jair Bolsonaro
(11,6%), Lula (21,6%). Aqui pode entrar o receio da mexida nas aposentadorias,
que o petista supostamente não faria. Agora, escolaridade. Aumenta a escolaridade,
cresce o voto Bolsonaro. Entre os de nível superior, Bolsonaro (31,1%), Lula
(10,6%). Finalmente, sexo. O apoio a Bolsonaro é maior entre homens que entre
mulheres; homens (32,8%), mulheres (20,1%).
Sob um aspecto, o levantamento mostra, sobe o voto Bolsonaro
entre as pessoas que estão pela idade com mais gana de ir para frente e crescer
na vida. Buscam ordem, segurança, correção na vida pública. Têm horror de incompetência,
bagunça, roubalheira e retrocesso, marcas do PT. Apoiariam incondicionalmente
Bolsonaro? Não. De momento simpatizam com uma imagem militar de determinação, um
comportamento, algumas convicções. Tanto mais que o deputado ainda não apresentou
programa. A maioria desse eleitorado quer privatizações e menor presença do
Estado na economia. E não são bem conhecidas as posições atuais de Bolsonaro
relativas ao estatismo e ao intervencionismo estatal.
Continuo com pesquisas, agora mais amplas e
trabalhadas. Passo a um estudo, cuja matéria-prima são investigações
(entrevistadas 1.568 pessoas no Brasil inteiro), realizado e publicado pela
Fundação Getúlio Vargas. Título: “O dilema do brasileiro: entre a descrença no
presente e a esperança no futuro”.
Algumas de suas constatações: o que mais preocupa 62,3%
dos brasileiros é a corrupção (62,3%). Supera saúde pública (49,7%), segurança
pública (44,1%), desemprego (39,4%). Para apenas 12,2% o principal problema é a
perda de valores morais. E apenas 24,8% julgam que é a educação pública. Outras
averiguações do estudo da FGV. 68,4% dos brasileiros são contra qualquer
liberalização do aborto, 10,0% a desejam. 39,2% dos brasileiros concordam que
os casais homossexuais devem ter os mesmos direitos que os heterossexuais,
31,0% são contra tal possibilidade.
Enorme descrença com a política. Rejeição de 83% ao presidente
Temer (apoio de 7,7%), rejeição de 78% aos políticos (apoio de 8,9%), rejeição
de 76% aos partidos (apoio de 7,3%). 55% não pretendem votar no candidato
presidencial em que votaram na última eleição. No Nordeste, entretanto, 58,7%
repetiriam o voto. Três entidades gozam de boa credibilidade: Igreja, apoio de
61% e rejeição de 19,5%; militares, apoio de 45,9% e rejeição de 29,6%; juízes,
apoio de 42,2% e rejeição de 32,8%.
Claro, tais fatos se refletem no apreço à democracia entre os
brasileiros. Para 44,2% deles não existe democracia no Brasil. Para 20,7%, de
alguma maneira, existe.
Volto a números coletados pela Paraná Pesquisas (agora nacionais),
relacionados com o tema em análise. Para 70,1% da população brasileira não há
diferença entre PT e PSDB. Para 26,9%, existem. Nas eleições para deputado
federal em que partido votariam? 18,2% votariam em tucanos. 14,5% votariam em
petistas. 63,7% em nenhum dos dois. Perguntados se “o sr(a) seria a favor ou
contra uma intervenção militar provisória no Brasil?”, 51,6% se manifestaram
contra, 43,1% se manifestaram a favor. Modificada a pergunta: “Caso a justiça
não puna os corruptos, o sr(a) seria a favor ou contra a volta dos militares ao
comando no Brasil?”, 50,6% se manifestaram a favor, 43,4% contra.
Sei, pesquisas são retratos momentâneos, imprecisas, têm erros de
avaliação. Sua importância precisa ser relativizada, em especial no Brasil de divisões
ideológicas fluídas, primitivismo, ignorância, desorientação dos espíritos.
Informa o site “O Antagonista”, 13% dos eleitores de Bolsonaro têm Lula como
segundo candidato; 6% dos eleitores de Lula têm Bolsonaro como segundo
candidato. De qualquer maneira, os números representam alertas importantes, mostram
quadro, ainda que esboçado, de luzes esperançosas e sombras importantes.
Somos passageiros do ônibus Brasil, trafegamos em velocidade alta em
estrada lotada de avisos de curva perigosa, animais na pista, buracos, queda de
barreira, cerração. Lá em baixo, na pirambeira, avistamos arrebentada a
jardineira Venezuela. Olho aberto, dentro de menos de ano o ônibus poderá sair
fora da estrada ou chegar a bom destino. Depende de nós.
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