O Brasil tem solução?
Péricles Capanema
Em relação ao Brasil, a sensação generalizada é de
barco à deriva. Em alto mar, ondas revoltas, sem curso faz tempo, vaga o navio com
o leme entortado. E pior, arrisca ficar nesse balanço, desgovernado, por muito
tempo. Assim está a Venezuela, tão querida do PT, torturada pela esquerda anos
sem fim.
O que virá após a abertura das urnas em 7 de outubro
de 2018? Teremos Câmara nova (513 deputados), Senado renovado em dois terços
(54 senadores), 27 governadores novos e um presidente da república novo (para
os últimos dois cargos, talvez segundo turno em 28 de outubro). Norte? O temor
é o desnorte.
Vejamos o pior cenário. Já se fala em Brazuela, abismo em que rolaríamos
caso Lula ou um preposto, apoiado seu, abiscoite as eleições em 2018,
acompanhado por bancadas expressivas na Câmara e no Senado. De momento não
parece absurda a hipótese. A última pesquisa Datafolha indica Lula ganhando em
primeiro e segundo turno. Venceria Bolsonaro (47% a 33%), Marina (44% a 36%),
Alckmin (46% a 32%), Dória (48% a 32%). Em uma das simulações do Datafolha para
o primeiro turno, teríamos Lula (36%), Bolsonaro (16%), Marina (14%), Dória
(8%), Álvaro Dias (4%), Meirelles (2%), Amoêdo (1%), Brancos/Nulos/Nenhum
(16%). Em sentido contrário, para completar o quadro, as principais rejeições:
Lula (42%), Bolsonaro (33%), Marina (26%), Dora (26%), Meirelles (25%). Em
geral se considera, um candidato com mais de 40% de rejeição dificilmente leva
no segundo turno. Outro ponto, começam a circular com certa estabilidade dados de
tímida recuperação econômica. Se o fato continuar até as eleições, diminuirá o
voto protesto, que de momento na maioria dos casos vai para Lula.
Curto, enorme indefinição, cenário propicio para surpresas em geral ruins.
Uma delas: Eunício Oliveira, presidente do Senado, prócer do PMDB, empresário
rico, declarou há pouco: “Se não houver um entendimento nacional, se não houver
uma aliança local que me obrigue diferente, eu sou eleitor do Lula.”
Lula pode ser condenado em segunda instância pelo TRF-4. Condenado por
órgão colegiado, comanda a Lei da Ficha Limpa, ele vira ficha-suja, inabilitado
para disputar eleições. Melhorando, representa a interpretação mais
generalizada, existem pareceres em contrário. A opinião mais comum, se o caso
for julgado pelo TRF-4 antes da eleição e Lula condenado, o ex-presidente terá
negado o registro da candidatura. Se o TRF-4 julgar o caso após 15 de agosto
(último dia para o registro de candidaturas), Lula, se condenado, tanto pode
ter o registro negado ou concorrer sub judice. Se abocanhar a eleição, correrá
o risco de não ser diplomado. Ocorrendo condenação após diplomação (meados de
dezembro), o diploma pode ser declarado nulo. Contudo, a Constituição determina
suspensão do processo para o caso do Presidente da República. Chega, né? Não
vou atormentar mais os leitores com desenlaces legais possíveis, dependentes de
sentenças dos tribunais. Uma coisa é certa, o cipoal jurídico aumenta o
atordoamento no público.
Pretenderia nestas linhas mostrar a trágica falta de
rumos da nação, passo inicial de qualquer solução. Para tentar encontrar saída útil
faz falta a ideia clara da desorientação geral na brenha de balbucios,
palpites, chutes, superficialidades e precipitações. É como acender lamparina
na escuridão.
Adiante no mesmo trilho. Faça um teste. Junte quatro
amigos ou mais e de chofre lhes pergunte o que acham da situação do Brasil. Na
barafunda, aparecerão as mais desparafusadas opiniões. A seguir, indague deles
a solução. Se alguém tirar plano da cachola, o mais provável é que todos os
outros o julguem despropositado. Mais um pouco de prosa no mesmo assunto e os
participantes, antes confusos, sentir-se-ão zonzos. Então o normal será a
mudança de tema (fuga). A conversa deslizará para o deboche, futebol, piadas,
sei lá mais o quê; ou despencará em pântano depressivo. Esse cavaco é imagem do
Brasil. O mais grave de imediato é a espantosa confusão nas cabeças. Desse mato
não sai coelho (coisa boa), podem sair cobras, lagartos, lobos.
Antes, cena imaginada; agora, fato de importância. O
Estadão noticiou que empresários de peso estavam se articulando para
influenciar as eleições de 2018. Pretenderiam pôr de pé o movimento Renova
Brasil. Por enquanto, são jantares, encontros, grupos no Whatsapp, artigos, promessas
de financiamento. Um desses empresários, que quis o nome preservado, declarou à
reportagem: “A gente fala, fala, fala. E tem hora que desanima porque não sabe
o que fazer”. Fala, fala, fala, a desorientação. E não sabe o que fazer: são os
sem-rumo. Como o Brasil todo. Mesmo sem saber o que fazer, continuam, já é
alguma coisa: “Mas estamos buscando uma solução”. Infelizmente não se encontra
solução profícua sem saber o que fazer.
Entre os empresários que estão se movimento se destaca
o apresentador Luciano Huck; virou presidenciável. Chamo a atenção, um de seus quadros
mais populares nos programas de televisão é a ajuda a pessoas que precisam. Retenham
isso, o homem tem dó dos pobres.
Pesquisa recente com a pergunta “Quem é o que mais vai
defender os pobres?” deu a seguinte resposta: Lula (29,8%), Luciano Huck
(12,0%), Bolsonaro (7,1%), Marina (6,7%), Geraldo Alckmin (0,80%). O tucano, e
outros tucanos como ele, saíram-se muito mal. Claro, a pesquisa fortaleceu as chances
de Luciano Huck. Anotem, ponto a ter sempre em vista em qualquer busca de
solução para o Brasil.
Em 28 de julho último publiquei artigo intitulado
“Compaixão cruel” em que dizia:“Ao longo dos
anos, com altos e baixos, foi comum a votação petista estar em torno dos 30%.
As porcentagens parecem indicar, a crise de corrupção e desgoverno dos governos
Lula e Dilma não erodiu grave e estavelmente a base social sobre a qual,
historicamente, apoia-se o PT. [...] Existem raízes fundas em dois ingredientes
dessa base de apoio. Parte dela é composta dos mitomaníacos da igualdade. Por
ódio à desigualdade, preferem todos pobres, miseráveis mesmo, desde que não
desiguais. Apoiam os irmãos Castro em Cuba e Nicolás Maduro na Venezuela.
Apoiariam Stalin e Mao. E votam PT no Brasil. O outro ingrediente vota PT por
que julga que o partido, ainda que lotado de ladrões e incompetentes, tem pena
dos pobres, trabalha para eles. Pessoas de bom coração sofrem com o sofrimento
dos pobres e só por isso o PT merece o voto. Não é indiferente à sorte deles.
Tal compaixão, na prática crueldade social grave, favorece a manutenção de
regimes que são flagelo para os pobres.”
Volto à estrada e martelo. Ter pena
dos pobres no Brasil, real ou ficta, é gigantesco trunfo eleitoral. No contrário,
fustigar candidato como adversário dos pobres dá votos. Se Luciano Hulk for o
candidato anti-Lula, podem esperar, virão ataques de que ele não se preocupa
com pobres, só é amigo dos ricos e vai enriquecer ainda mais os grupos
econômicos.
Pergunto: é solução? Ou, pelo menos,
representa passo no caminho da solução? Prematura a resposta. Se a candidatura
se consolidar, vai depender do programa. O apresentador publicou artigo na
Folha, generalidades vistas com simpatia pelo público, soou como começo de jogo.
Quer na política ética, compromisso, altruísmo. Quem os tiver será bem-vindo: “A renovação política
passa por eles, não importa se de esquerda, direita, centro. Tanto faz”. Tanto
faz nada. Preocupa. Importa muito ser de centro, direita ou esquerda. Pode ter
um programa estatista, libertário, favorecedor do comunismo, mas se não puser
dinheiro público no bolso, tiver compromisso com o povo e não for egoísta, está
bem? Stalin caberia dentro. O PSOL, à esquerda do PT, alardeia isso.
A exposição Queermuseum, propaganda até da zoofilia, e
as cenas blasfemas do MASP, gravíssimas ofensas a Nossa Senhora, pela
repercussão no Brasil inteiro, mostram que provavelmente os assuntos morais e
religiosos influenciarão muito as eleições de 2018. A ideologia do gênero, ideologia
xodó das esquerdas e das correntes libertárias, desperta reações fortíssimas no
público, com potencial para abater candidaturas. Frente a tudo isso, qual a
posição de Luciano Hulk e dos outros candidatos? A seu tempo, precisarão se
manifestar.
Hora de acabar. A solução de fundo supõe ▬ haverá
muita coisa mais ▬, fortalecimento da família. Maior influência da religião, moralidade
pública geral. Na prática temos desagregação familiar, religião em queda e
corrupção de alto a baixo. Nem falo aqui do recurso sério a Deus, único caminho
que nos levaria a soluções realmente salvadoras.
E de imediato? Tudo indica, lamento, teremos forte
componente populista nas eleições de 2018. Na esteira do populismo, virão
programas esquerdistas, até de natureza extremada, rota péssima para o Brasil. E
a demagogia vai correr solta para fazê-los vitoriosos. Precisam ser denunciados
e combatidos, claro. Já agora em esfera pessoal, reclamemos dos candidatos
compromissos claros favorecedores da família, da moralidade, da livre
iniciativa. Inexistindo, não terão o voto. Já é lamparina na escuridão, medida
cautelar contra maiores desastres pós-2018.
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