sábado, 13 de agosto de 2016

O que parece, é

O que parece, é

Péricles Capanema

“Em política, o que parece, é”, acertou Antônio Salazar, antigo primeiro-ministro português. Mesmo rumo, Gustavo Capanema afirmava, em política a versão vale mais que o fato. Michel Temer deveria ouvi-los.

Vamos ao caso. O ministro Eliseu Padilha anunciou de passagem, em setembro o governo recriará o ministério do Desenvolvimento Agrário. O motivo fundamental, noticiaram órgãos de divulgação, é a tentativa de arvorar bandeiras sociais. Daria ao governo maior apoio popular (balela), acenaria para setores sociais que costumam se identificar com partidos de esquerda (verdade, mas dali não viria apoio). A reforma agrária seria acelerada (continuando a torrar rios de dinheiro público num programa demolidor).

Em visita ao gabinete presidencial, foi o que, semanas antes, patrocinados pelo deputado Paulinho da Força, exigiram de Temer dirigentes da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) e, ali também mimado, o ex-líder do MST José Rainha. Carlos Lopes, dirigente da FNL, declarou na saída: “Na reunião, falamos sobre a extinção do ministério do Desenvolvimento Agrário. O campo não aceitará isso. Esta foi a forma como a FNL se projetou. E ele assumiu o compromisso de construir as condições para que o MDA volte”.

José Rainha foi dirigente do MST. Em 2007 abandonou o movimento porque era (e continua) linha auxiliar do PT. Então no governo, o PT dificultava a generalização das invasões. Queria as mãos livres. O mesmo Rainha, agora inexplicavelmente paparicado como eventual apoio precioso, foi condenado a 31 anos e 5 meses de prisão por estelionato, formação de quadrilha e extorsão. Recorre em liberdade. Outro fato que precisa ser gritado dos telhados: em abril passado o TCU mandou parar o processo de reforma agrária, detectou 578 mil benefícios irregulares. Ladroagem, favoritismos, desvios de dinheiro público no meio do constante caos administrativo.

Existe no ar cheiro forte que o disparate anterior não foi eliminado, a coisa permanece igual nas linhas gerais. Pois na contramão de severíssimo e indispensável ajuste nas contas públicas, o governo Temer anuncia que, na prática, vai continuar torrando dinheiro público com uma política que em nada aumenta a produção no campo, não melhora a situação dos agricultores mais necessitados, a mais de consolidar estruturas de agitação, do tipo MST e FNL que se locupletam, política e financeiramente, com o assistencialismo estatal. Decorrência forçosa, afugentará do campo investidores temerosos das consequências do inesperado e escandaloso apoio de cima para agitadores profissionais. Tudo acontece em momento que representantes do empresariado e operadores do mercado se dizem temerosos que o governo não disponha de força política para tomar as necessárias medidas de recuperação econômica. Não adiantam a respeito desmentidos ad hoc, nem enunciados de boas intenções, desmentidas pelos fatos. O público mantém a péssima impressão anterior.

Lógico, expressaram estranheza filiados da Frente Parlamentar da Agropecuária, que congrega cerca de 200 deputados federais e senadores. Entre eles, o senador Caiado; afirmou que vai contra o discurso de austeridade do governo. Acrescentou, o MDA foi criado por Lula por questões ideológicas para contemplar setores do PT (lembro, entregue a correntes radicalizadas do PT, adversárias históricas do agro). Concluiu o senador goiano: “Talvez porque o PT e o PMDB estiveram juntos por muito tempo, essa ideia contaminou o PMDB. O Temer poderia se livrar desse tipo de contaminação ideológica”. Na mesma direção manifestaram seu desacordo os deputados Onyx Lorenzoni e Nilson Leitão, para quem é prejudicial “ceder a este tipo de pressão”.

Aqui aparece ponto indispensável das agendas da Frente Parlamentar da Agropecuária e da CNA. Tem relação não apenas com a saúde do campo, mas pode influir fortemente no futuro do Brasil. A História não as perdoará se, por comodismo, deixá-lo de lado. Não custa recordar, toda a política da reforma agrária é um dos vários tumores de estimação que intoxicam o Brasil. É politicamente incorreto apontar a bagunça larápia em que foi executada e a desgraça escancarada para todos que trouxe ao campo.

Michel Temer, faz pouco, garantiu: “As pessoas se acostumam a [achar,] quem está no governo não pode voltar atrás. Quem está no governo, se errou, não tem de ter compromisso com o erro. Somos como o JK, nós não temos compromisso com o equívoco. Portanto, quando houver equívoco, nós reveremos”.


Michel Temer precisa ouvir Michel Temer. Precisa ouvir JK. Esquecer esta bobagem (queria dizer providência demolidora) de recriar o MDA. E, finalmente, executar o programa de reconstrução nacional. É o que dele esperam os brasileiros patriotas, ansiosos de não ver desperdiçada essa ocasião, talvez única nos últimos tempos, de colocar bases para um futuro pátrio de prosperidade e grandeza cristã.

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