Meias verdades e
falsidades em local inesperado
Péricles Capanema
Em 30 de junho próximo passado dom Leonardo Ulrich
Steiner, bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, de passagem por
Roma, compareceu ao programa Em romaria –
caminhando no 3º milênio da Rádio Vaticano. Peregrinou por vários temas,
tropeçando nas ideias e nas palavras. Contudo, a entrevista num ponto foi clara,
o bispo obedeceu ao constante viés esquerdista da CNBB. Ficou clara sua
proximidade com a anterior administração petista e em consequência seu
crescente afastamento da imensa maioria dos católicos brasileiros.
Vamos por atalho direto ao que agora mais interessa. A
entrevistadora Cristiane Murray começou assim: “Dom Leonardo, é um momento
difícil para nosso país. É um momento em que um governo, democraticamente
eleito, foi afastado”. A meia verdade esconde do ouvinte que o substituto
também foi eleito democraticamente. Transparência e sinceridade, já se vê. Um
provérbio chinês afirma, a meia verdade é sempre uma mentira inteira. No caso, a
mentira inteira, insinuada nas palavras iniciais, é que a presidente Dilma
Rousseff, eleita pelo povo, foi substituída por um governo dele inimigo e da
democracia. Em continuação, Cristiane Murray canhestramente lança ao ar
supostas ligações do presidente Michel Temer com a bandalheira, cujo efeito seria
tornar ainda mais ilegítima a presente situação: “É um momento em que nós temos
aí um vice-presidente, uma questão com vários inquéritos em andamento, várias
acusações. Como qui a CNBB está avaliando este momento”?
O secretário-geral da CNBB, após ouvir sem reparos a
propaganda pró-PT da entrevistadora, dá um passo além e infelizmente falta à
verdade: “Nós temos de momento um governo interino que está governando, mas sem
a legitimidade da Constituição”.
Michel Temer, substituto legal, governa com a
legitimidade da Constituição. A seguir, dom Leonardo recai: “Do Executivo nós
não temos uma interlocução por se tratar de um governo interino, está apenas no
exercício do mandato, mas não é efetivo no sentido de reconhecido pela
Constituição”.
No mesmo rumo, o prócer da CNBB, aos tropeços, é claro
quanto à orientação da entidade: “O que preocupa mais, na realidade, é um
movimento em que nós sentimos que tem avançado cada vez mais a corrupção. Isso
nos preocupa muito. E a CNBB não deixou de se manifestar quanto a esse ponto.
Mesmo no governo atual alguns ministros acabaram caindo por declarações e por
acusações; [...] nós temos muitos deputados envolvidos por corrupção, nós temos
alguns senadores envolvidos por corrupção, nós temos no atual governo ainda
pessoas que estão sendo acusadas de corrupção, um elemento que preocupa muito é
a questão da ética, a ética na política, nós sentimos assim que o interesse
particular, o interesse dos partidos se sobrepõe ao interesse da população, ao
interesse da sociedade brasileira. Isso também nós vemos nas votações que têm
acontecido no Congresso Nacional, enquanto ainda a Dilma estava no exercício de
seu mandato o Congresso se negou a aprovar determinadas medidas e isso não em
favor da população, mas em favor de determinados partidos e criar cada vez mais
tensão que levou ao encaminhamento do impedimento. Então, esses elementos
preocupam muito a Conferência Nacional, quer dizer, nós somos brasileiros, os
bispos são brasileiros, a CNBB tem uma autoridade moral muito grande, eu sinto
isso cada vez mais, dado que a CNBB é muito procurada e ao mesmo tempo a CNBB
também tem uma palavra, agora o que nós temos insistido é combater a corrupção,
mas também temos insistido na questão do diálogo. Não se pode parar de
conversar, dialogar”.
Corretíssimo, dom Leonardo: a ética deve presidir a política.
Mas também deve existir em outros campos, até mesmo em entrevistas de rádio.
Por exemplo, evitando as meias verdades cujo efeito precípuo é ludibriar o
ouvinte pela afirmação de algo certo, mas incompleto, induzindo-o a crer que
representa a verdade inteira. Falsidades, nem se diga, são agressões à verdade.
Causa estranheza outro ponto. Para o êxito do diálogo,
na posição da CNBB, o mínimo a exigir é a isenção. A entidade, porém, brada aos
céus, tem lado. Desde décadas age como solícita companheira de viagem das
forças de esquerda no Brasil. E por isso, queira ela ou não, são os fatos, é
corresponsável moral pelos desastres medonhos dos 13 anos do PT no governo. E aí
a piora da situação dos pobres, na qual, ponto negro, 11 milhões de
desempregados.
Apesar de tudo, vamos ao diálogo, pode ajudar. Tenho sugestão.
Para começá-lo, debater qual deve ser a presença na vida privada e pública do
mandamento: “Seja o vosso falar: sim, sim; não, não; porque tudo o que daqui
passa, procede do mal” (Mt, 5,37).
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