Clamando no deserto
Péricles Capanema
Vez por outra sucede eu ter a sensação de clamar no
deserto. Verifico, entre surpreso e desolado, ninguém está dando bola para
aquilo por mim tido por importante. Normal, em ocasiões, errado; em outras,
certo. Isso deve acontecer com muita gente em assuntos pessoais, profissionais,
familiares, até temas de interesse nacional.
Esse de que vou falar envolve o Brasil, mais
diretamente os brasileiros que, parece, infelizmente o observam silenciosos,
confusos, ou pior, desinteressados. Vejo com horror o avanço do capital estatal
chinês sobre ativos brasileiros. De fato, são gigantescas propriedades no
Brasil passando celeremente para o governo do PC, que vai utilizá-la, mais
dias, menos dias, para seus objetivos de dominação interna e hegemonia mundial.
Sábado, 13 de fevereiro, li no Estadão, Nelson Barbosa
vai à China para reuniões em 26 e 27 de fevereiro com os ministros de Finanças
dos países do G-20. Chegará alguns dias antes, porque tem encontros já
agendados com investidores chineses. Faço uma aposta sem conhecer nem um dos
tais investidores interessados em aplicar no Brasil: a grossa maioria, se não a
totalidade das reuniões de nosso ministro da Fazenda será com representantes de
empresas estatais chinesas do setor industrial ou do setor financeiro. Sabem por
que aposto no escuro? Porque vejo claro o que é a direção petista, de doutrina
revolucionária e internacionalista. Não se importa de entregar a preço de
banana patrimônio público para estatais comunistas. A recomposição, cada vez
mais difícil, do caixa das empresas pilhadas pela cumpanherada ou do Tesouro, exaurido pelas mágicas da nova matriz
econômica, nos manietará ainda mais à China. A imprensa noticia, o déficit
somado dos quatro fundos de pensão Previ (BB), Petros (Petrobrás), Funcef
(Caixa) e Postalis (Correios) é de 46 bilhões de reais. A cumpanherada na direção deles apanhou dinheiro dos segurados e
comprou até títulos da Venezuela e da Argentina! Viraram pó, lógico. Quem vai
tapar o rombo? Servidores ativos, aposentados e o Tesouro (você, contribuinte).
O que torna, cada vez mais urgente a privatização selvagem, com especial
presença do capital estatal chinês.
Agravando as cores do quadro, ponho aqui o
testemunho de Delfim Netto (Valor, 17/2), no caso insuspeito, pois vem dos mais
valiosos apoios que os governos petistas receberam nos últimos 13 anos: “O governo finge esquecer que nos últimos 20 anos estimulou a importação
da China para controlar a inflação. Roubou-lhe [à indústria siderúrgica],
lentamente, as condições isonômicas de competição [...] Existem, ainda,
"idiots savants" que creem que a China é uma economia de mercado que
exporta ao custo marginal? Ou que seus preços de exportação vão continuar os
mesmos quando destruir seus competidores? [...] Sua mão de obra barata e sem
assistência social, permitiu a todos os governos mitigarem a sua inflação
importando da China e jogando no lixo as regras do comércio razoavelmente
moralizado que se propunha na OMC. [...] Não há como competir com a China, uma
economia basicamente estatizada, num setor com incontáveis distorções de preços
que nada têm a ver com os de mercado. Em 2003, ela produzia 220 milhões de
toneladas de aço bruto (23% da produção mundial) e em 2014 produziu 823 milhões
de toneladas (49% da produção mundial). No mesmo período, suas exportações de
aço passaram de 7,4 milhões de toneladas para 93 milhões (três vezes a nossa
produção), graças a artifícios que todos fingem não ver. Certamente, não por
conta da mítica eficiência dos seus burocratas, mas pelo efeito do subsídio
adicional visível que só em 2015 foi da ordem de US$ 10 bilhões!”
Em outras palavras,
com a conivência do governo, a indústria siderúrgica brasileira vem sendo
destruída. No final, lógico, mandaremos minério de ferro para a China e
importaremos manufaturados, como qualquer país colonial (ou colonizado). O que padece
o setor da siderurgia, sofrem outros setores. Delfim Nettto observa ainda: “Nos
últimos anos perdemos a produção de alumínio (onde nossas vantagens relativas
eram imensas) e a do níquel (onde a tecnologia era a do estado da arte).
Estamos agora a assistir, perplexos, a mesma paralisia governamental levar à
destruição o setor siderúrgico nacional”
Em 1984, a
participação da indústria manufatureira no PIB nacional estava em torno de 25%.
Em 2005, 19%. Em 2015,12%, nível do pós-guerra. É sintoma da regressão para o
status de país colônia, sujeito a regras que protegem a manufatura na
metrópole. No nosso caso, a metrópole escondida nas brumas do futuro, mas
facilmente, discernível, é Pequim. E não será a autocracia das potências coloniais
do século 19. Teremos, o caminho não interrompido, como futuro senhor potência
mundial imperialista, então talvez a primeira do mundo, dirigida por partido
totalitário, ateu, coletivista.
A marcha para a
servidão tem a colaboração das legiões de inocentes úteis e companheiros de
viagem que, por vantagens momentâneas (aqui conta bastante o governismo quase
compulsório dos que têm fome das verbas federais para gerir Estados e prefeituras),
somam-se aos que empurram o Brasil para o abismo por razões doutrinárias.
Está em jogo imediatamente
a soberania nacional. Ainda mais, nosso futuro de nação independente, cristã e
de raízes ocidentais. O que são João Batista pedia, dois milênios atrás, ao clamar no
deserto, era que endireitassem os caminhos. Atualíssimo para nós, ir no rumo
certo; para isso, de começo, recusar com coragem lúcida a submissão.
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