A
esmola rara da verdade
Péricles Capanema
“Tive fome, e destes-me de comer;
tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e
vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver” (Mt
25; 35-36). Na mesma direção, poderíamos acrescentar: sedento da verdade,
ouvi-a de ti.
Pode surpreender, mas o texto me tomou o espirito enquanto ouvia
discurso aos cubanos do presidente Donald Trump, em Miami. Martelava verdades
silenciadas na imprensa e há muito evitadas pelos Chefes de Estado e até por eclesiásticos.
A patrulha as proíbe, a tirania do politicamente incorreto as sufoca na
garganta de quase todos. Contudo, indispensáveis na atualidade, em especial
para a América Latina. Recebi agradecido a esmola rara da verdade.
Vou ecoá-las, resumidamente em alguns trechos (a íntegra está na rede):
“Os exilados e dissidentes hoje aqui testemunharam o comunismo destruir uma
nação, como sempre acontece onde o comunismo é aplicado. Contudo não mais nos
manteremos silenciosos diante da opressão comunista. No ano passado eu prometi
ser uma voz a favor da liberdade do povo cubano. Os Estados Unidos divulgarão
os crimes do regime castrista e apoiarão o povo cubano em sua luta pela
liberdade. Pois sabemos que é melhor para os Estados Unidos que haja liberdade
em nosso hemisfério, seja em Cuba ou na Venezuela. Por quase seis décadas, o
povo cubano sofreu debaixo do domínio comunista. Até hoje o povo cubano é
dirigido pelas mesmas pessoas que mataram dezenas de milhares de seus próprios
cidadãos, que tentaram disseminar sua ideologia fracassada e repressiva em
nosso hemisfério. O regime castrista enviou armas para a Coréia do Norte e
provocou o caos na Venezuela. Ao mesmo tempo que prendia inocentes, acolheu
assassinos de policiais, sequestradores e terroristas. Apoiou o tráfico de
humanos, o trabalho forçado e a exploração no mundo inteiro. Esta é a verdade
simples sobre o regime castrista. Meu governo não esconderá tais fatos, não os desculpará,
não os glamoralizará. Nunca será cego para eles. Vou cancelar imediatamente o
acordo parcial feito pelo governo anterior. Anuncio agora uma nova política com
Cuba. Procuraremos um acordo mais vantajoso para o povo cubano e para os
Estados Unidos. Não suspenderemos as sanções contra o regime cubano até que
todos os prisioneiros políticos sejam libertados, haja liberdade de reunião e
expressão, partidos políticos legalizados, eleições livres sob supervisão
internacional e com data marcada. Quando Cuba estiver pronta para dar passos
concretos nessa direção, nós também estaremos prontos, desejosos e capazes de
oferecer um acordo muito melhor para os cubanos. Um acordo justo, um acordo que
faça sentido. Respeitaremos a soberania cubana, mas nunca daremos as costas ao
povo cubano”.
Não custa lembrar, quem discursava diante de uma colônia tantas vezes
incompreendida e rejeitada era o Chefe de Estado da mais poderosa nação da
Terra. Não eram apenas palavras bonitas, significavam e política de rumo novo,
promissor. O acontecimento autorizava esperança de extirpação do câncer cubano,
que infecciona a América desde finais da década de 50.
Ficou ainda mais escandaloso o apoio escancarado (rios de dinheiro do
BNDES) e tantas vezes o silêncio de numerosos governos latino-americanos à ditadura
sanguinária. Ficou ainda mais escandaloso o apoio que o castrismo sempre
recebeu no Brasil da esquerda política e da esquerda eclesiástica. Reproduzo
ignóbeis palavras de Lula: “o maior de todos os latino-americanos, comandante
em chefe da revolução cubana, meu amigo e companheiro Fidel Castro”. Lembro escandalosas
palavras de dom Paulo Evaristo Arns em carta a Fidel Castro: “O povo de seu País conseguiu resistir às agressões externas para
erradicar a miséria. Hoje em dia Cuba pode sentir-se orgulhosa de ser exemplo
de justiça social. A fé cristã descobre nas conquistas da Revolução um ensaio
do Reino de Deus”.
Volto ao início. Tive fome, e destes-me de comer. Libertar Cuba do
comunismo vai abrir o caminho para o aumento da produção, e para que o povo
deixe décadas de privação e fome. Era estrangeiro, e hospedastes-me. Hoje o
comunismo tornou Cuba estrangeira ao seu mais poderoso vizinho, estrangeira a
tantas nações, irmãs por laços de sangue, civilização e religião. O fim do
comunismo fará com que volte ao convívio normal nas Américas. Estive na prisão e
foste me ver. Com a queda do castrismo, as prisões políticas se abrirão e os
cubanos, hoje prisioneiros nas próprias casas, poderão livremente falar e
influir nos destinos de Cuba. Uno-me às esperanças dos cubanos.
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