A CNBB, mais uma vez,
agrava a exclusão social
Péricles Capanema
Em comunicado de 17 de maio o CIMI (Conselho
Indigenista Missionário) agrediu o relatório da chamada CPI da FUNAI/INCRA (solicitou
o indiciamento de 14 missionários), com expressões como as abaixo transcritas:
“A CPI da FUNAI/INCRA mostrou-se parcial do início ao fim dos trabalhos. Criada
e relatada por ruralistas para atender os interesses ruralistas e atacar os
povos originários. Descomprometidos com a verdade, os ruralistas tentam
criminalizar mais de uma centena de lideranças indígenas, indigenistas,
religiosos e cientistas sociais. Tentativa de retorno ao escravagismo no campo
e venda do território brasileiro para estrangeiros por parte dos ruralistas [suposto objetivo dos deputados ruralistas e
de seus apoiadores]. Chama a atenção a forma racista de os ruralistas se
referirem a lideranças e povos indígenas. Trata-se de ranço colonialista que
acentua o preconceito contra os povos originários de nosso país. Outrossim,
preocupa a onda de massacres cruéis cometidos por fazendeiros e seus jagunços
contra povos indígenas, quilombolas e camponeses Brasil afora”.
Longe da concórdia, que nasce da caridade, esse é o
tom do órgão que supostamente coordena atividades de missionários, cuja missão
é arrancar os indígenas do paganismo e conduzi-los ao Catolicismo. Labuta de
pregação, convencimento, conversão, de fato, altamente civilizatória. Tarefa de
harmonia e de inclusão.
Missão é uma coisa; trabalho efetivo, outra. Exemplo
da atividade real: intolerante, o CIMI investe contra os fazendeiros. Alguém no
Brasil acredita que exista “onda de massacres” promovidas por fazendeiros,
dirigida contra índios, quilombolas e camponeses? E que os ruralistas procuram
reinstalar a escravidão no campo e vender suas terras a estrangeiros? O órgão
unido à CNBB prejudica os pobres, ao jogá-los contra o agronegócio, que está
evitando a quebra do Brasil e a precipitação numa miséria como a da Venezuela e
Cuba, para onde nos conduzirá a ação das correntes que apoiam o CIMI, como MST,
CPT, CUT, entidades e partidos afins.
Uma entidade afim: a CNBB (para tristeza dos
católicos). Em comunicado de 22 de junho a CNBB se apressou em defender o CIMI:
“O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB,
reunido em Brasília - DF, nos dias 20 a 22 de junho de 2017, manifesta seu
total apoio e solidariedade ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI) diante
das infundadas e injustas acusações que recebeu da Comissão Parlamentar de
Inquérito, denominada CPI da Funai e Incra. O indiciamento de missionários do
CIMI é uma evidente tentativa de intimidar esta instituição tão importante para
os indígenas. Tenha-se em conta ainda que as proposições da CPI se inserem no
mesmo contexto de reformas propostas pelo governo, especialmente as trabalhista
e previdenciária, privilegiando o capital em detrimento dos avanços sociais.
Tais mudanças apontam para o caminho da exclusão social”. Assinam o documento dom
Sérgio, cardeal-arcebispo de Brasília, dom Murilo, arcebispo de Salvador e dom
Leonardo, bispo-auxiliar de Brasília, respectivamente, presidente,
vice-presidente e secretário-geral da CNBB.
O avanço social no Brasil está ligado ao estímulo dos
investimentos, tanto o público como o privado, os quais dependem fortemente de
reformas sensatas nos âmbitos trabalhista e previdenciário. Fracassando,
minguarão as aplicações, a produtividade tenderá a estacionar. Na prática, a
proposta da CNBB petrifica o atraso. E, no bojo de outras de igual inspiração, favorecerá
o retrocesso, com o agravamento da miséria. De passagem avanço social autêntico
é o que propicia, com proporção, condições para que os membros do corpo social
atinjam a plenitude de suas potencialidades e não o que favorece desnaturadas
políticas igualitárias.
Dois pontos finais a destacar. Primeiro, convém ter em
vista dados divulgados pela revista EXAME e em particular pelo dr. Evaristo de
Miranda. Existem hoje no País 584 terras indígenas, ocupam 114.699.057 ha, por
volta de 14% do território nacional. Deambulam no Brasil 869,9 mil indígenas, aproximadamente
0,42% da população. Os 0,42% povoam os 14% do território nacional a eles
destinados? Que nada. Um em cada três dos índios (36,2%) reside nas cidades, 63,8%
habitam áreas rurais. Entre os que estão fora das terras indígenas, só 12,7%
falam alguma língua indígena. Dentre os íncolas das terras demarcadas, 78,9 mil
se declaram de outra raça, dos quais 70% pardos. Dos 869,9 mil, 147,2 mil não
sabem a qual etnia pertencem. Em geral vivem em casas. Nas terras demarcadas,
2,9% moram em ocas. Nas terras indígenas, a energia elétrica chega a 70,1% dos
domicílios. 76,7 dos índios são alfabetizados em português. Resumo, o CIMI, força
do atraso, em sua ação revolucionaria, afirma defender um índio que quase não
existe mais, se um dia existiu. A maioria deles, como o brasileiro em geral,
quer é crescer na vida.
O segundo ponto registro alegre por dever de justiça. Em
nenhum momento a CNBB afirma, houve unanimidade no Conselho Permanente. Levanta
a suspeita de oposição interna mesmo que muda. A propósito, ainda, em março,
dom Odilo, cardeal-arcebispo de São Paulo, marcou distância em relação às
posições oficiais da CNBB: “Penso que de toda maneira
há necessidade de reformas tanto na lei trabalhista como na lei da Previdência.
Sim, acho que é necessário fazê-las e fazê-las bem”.
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